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Carlos Fontes

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português   

8. Português do Seu Tempo 

 
 

a ) Espírito Profético

Colombo tinha uma visão profética das descobertas?. Esta é uma questão incontornável quando se estudam os seus textos. Em Janeiro de 1486 apresenta-se aos reis católicos com um objectivo preciso: chegar à China (Cataio) navegando para Ocidente, e aí arranjar dinheiro e aliados na Ásia para puder recuperar a cidade santa de Jerusalém e restaurar o Templo de Salomão (Sião)

A partir de 1492 assume-se claramente como um "predestinado" para cumprir esta importante missão de derrotar os muçulmanos, libertar Jerusalém e difundir o cristianismo. No final da vida assumia-se já como um messias, anunciado em antigas profecias.

Depois de ter sido preso e expulso das Indias (1500), resolve escrever um livro - o "Libro de las Profecias"- destinado a ser lido pelos reis católicos.

O título completo da obra é um autêntico programa ideológico: "Libro o colección de auctoridades, dichos, sentencias y profecías de la recuperación de la sancta ciudad y del monte de Dios, Sión, y acerca de la invención y conversión de las islas de la India y de todas las gentes y naciones, a nuestros reyes hispanos.» Na margem esquerda superior do fólio 1, surge a seguinte nota: «Profecías que juntó el Almirante Don Cristóbal Colón de la Recuperación de la sa. Ciudad de Hierusalem y del descubrimiento
de las Indias, dirigidas a los Reyes católicos.»

O manuscrito que chegou até nós, datado de 13/9/1501 a 23/3/1502, está escrito por várias mãos. Em Março de 1502 confiou-o ao padre italiano Gaspar Garricio, a quem lhe havia atribuído a tarefa de descobrir citações e profecias que se ajustassem à sua condição de predestinado. Nunca reviu o texto, como era sua intenção fazê-lo. Era constituído por 84 fólios, tendo desaparecido 14 fólios, e alguém escreveu na margem do fólio 77 que eram as melhores profecias.

Trata-se de um texto ideológico que procura fundamentar a sua posição de "predestinado" para cumprir uma profecia sagrada: a reconquista de Jerusalém e a construção de um Império Universal cristão para os reis católicos.

1. Rivalidade com D. Manuel I ?

O modelo ideológico que Colombo procura construir em Espanha é claramente decalcado daquele que os monarcas portugueses, em especial D. Manuel I,  construíram para  justificar as conquistas e os descobrimentos marítimos.

Colombo não consegue disfarçar a sua rivalidade com D.Manuel I, o Duque de Beja, mestre da Ordem de Cristo que ascendeu ao trono de Portugal a 27/10/1495.

D. Manuel I, nas palavras dos cronistas do tempo ascendeu ao trono em circunstâncias que pareceram de "mistério e de profecia", "havendo então muitas pessoas vivas que antes dele eram herdeiros, os quaes todos depois faleceram, para ele vir a herdar", nas palavras de Garcia de Resende.

O nome de D. Manuel, era inspirado nas Escrituras, como os cronistas também afirmam. Foi escolhido pelo facto do seu nascimento ter ocorrido no dia do Santíssimo Sacramento quando a procissão passava à porta da sua casa, na própria altura do parto. Cristovão Colombo também adoptou um nome com idênticas conotações sagradas ("aquele que leva Cristo" e "membro de uma irmandade").

D. Manuel, como escreve Paulo Pereira (33), tornava-se assim no Emmanuel das profecias, nome que significa em hebraico "Deus connosco", e que era também o nome do nascituro ("aquele que há de nascer") que messianicamente assinalava a libertação de Jerusalém, segundo as palavras de Isaías. A conquista de Jerusalém era um dos grandes objectivos de D. Manuel I, para a qual procurou chamar outros reinos europeus, como a Espanha, a fim de participarem numa grande cruzada (35).

D.Manuel I recebeu uma educação franciscana, impregnada das ideias de Joaquim de Fiore (36).Os seus pais, mas também a irmã (a rainha Dona Leonor) manifestaram particulares devotos do ideário franciscano (45). D.Manuel no seu testamento fez questão de assinalar que tinha uma especial ligação à Ordem Terceira de S. Francisco, ao mosteiro da Conceição de Beja e ao de Jesus de Setúbal. Mandou que as missas em sua memória fossem em mosteiros observantes (franciscanos), deveria ser sepultado, sem cerimoniais, num túmulo em campo raso, etc. (41). Colombo foi sepultado, como vimos, numa igreja franciscana.

Antigas profecias já anunciavam que seriam os portugueses, e em particular D. Manuel, a descobrirem o caminho maritimo para a India (37). Colombo, por sua vez, afirma que a descoberta das Indias já estava vaticinada na Bíblia(38):

"Del nuevo cielo y tierra que decía Nuestro Señor por sant Juan en el Apocalipsi [21,1], después de dicho por boca de Isaías [65, 17], me hizo mensajero y amostró aquella parte (Bartolomeu de las Casas, Historia de las Indias, I, 181)

D. Manuel I fez-se representar como rei David, por exemplo, na inicial do intróito ao 1.º domingo do Advento, no Missal Rico, de Santa Cruz de Coimbra (39). Colombo identificou-se igualmente com o rei David (38).

Os ideólogos da corte de D.Manuel, como Duarte Galvão, exaltavam a sua figura como o de homem providencial, construtor de um Império Universal. O título de imperador seria o que mais lhe convinha, diz-lhe o vice-rei da India Francisco de Almeida(40).

Muitos estrangeiros tomavam o rei como o rei santo que iria reconquistar Jerusalém (34). Foi neste ambiente profundamente impregnado de profetismo que nasceu Bandarra, o célebre sapateiro de Trancoso, cujas profecias tem alimentado farta literatura ao longo dos séculos.

Como é sabido, Colombo pertenceu à Casa dos Duques de Beja-Viseu, encontrou-se com D.Manuel I em março de 1493, no regresso da sua primeira viagem à America. Fruto de uma rivalidade cujos reais motivos desconhecemos, acusa o rei no Memorial de la Mejorada, em 1497, de não estar a cumprir o que D. João II havia planeado.

2. Livro das Profecias

A "obra" de Colombo apoia-se nos profetas do Antigo Testamento, no Apocalipse, mas também em autores medievais como Santo Agostinho, Joaquim de Fiori, Nicolas de Lira, Pedro de Aliaco ou o rabi Samuel Jehui de Marrocos. Há três ideias básicas que estão estão presentes ao longo do "livro das profecias":

      - A história da humanidade tem um sentido escatológico. O mundo teve um início e terá um fim, por Deus determinado no começo dos tempos. Após se terem concluído 7 mil anos sobre a sua criação ou 7 idades, viria um Anticristo, a que seguiria o regresso de Cristo. O tema era corrente em Portugal, nomeadamente nos cronistas oficiais como Fernão Lopes (c.1378-1459 ?). 

As diferenças variavam em função dos cálculos efectuados sobre a duração das 7 idades do mundo, o que depois se traduzia em diferentes datas para o Apocalipse ou fim do mundo, e a vinda do Messias ou de Cristo: 

Abraão Zacuto, judeu português, amigo de Colombo e do rei D. Manuel I fixou o dilúvio para 1524 e a vinda do Messias para 1525; 

António de Beja, frade jerónimo, com o apoio de Dona Leonor, publica em 1525, um duro ataque contra os astrólogos, pois tinham previsto um grande dilúvio para os dias 4 ou 5 de 1525, devido a um "ajuntamento de alguns Planetas em ho signo de piscis". 

Colombo declarou que o mundo acabaria em 1656; Outro judeu português, Diogo Pires (? -1531) fixou a data para 1666;  Fernão Lopes, no século XV, afirmara que seria em 2156; etc. 

D. Alvaro de Portugal, o grande amigo de Colombo em Espanha, fez-se sepultar em Portugal numa Igreja dedicada ao autor do Apocalipse - o Convento de São João Evangelista, em Évora. Na capela-mor onde se encontra o seu túmulo estão representados os três passos das "Revelações" do Apocalipse de S. João, sendo o tema central o triunfo da Igreja sobre a Besta do Apocalipse. A mesma obsessão que Colombo manifesta nas suas profecias.  

      -   Todos os homens e nações tem um destino na terra que terão de cumprir. O próprio Colombo considera-se a si mesmo um predestinado, atribuindo a descoberta das Indias a um plano divino, o mesmo se passava com todos os reis de Portugal, sobretudo a partir da 1º. Dinastia.

     -  O destino da Humanidade confunde-se com o destino do cristianismo: preparar a vinda de Cristo, recuperar a terra prometida (Sião) e restaurar o Templo de Salomão, criando o Império do Espírito Santo. A Fé é o verdadeiro motor da história.

Esta visão evangelizadora contrasta com a lógica de conquista e saque que espanhóis tinham das Indias. A barbárie não teve aqui limites. Os cerca de 300 mil indios existentes nas Antilhas, em 1492, foram exterminados em menos de 50 anos. Só no século XVI é que os espanhóis iniciarem a sua evangelização.   

Tem sido salientado que Colombo comunga de uma doutrina cristã muito próxima das ideias de Erasmo de Roterdão, ao negar por exemplo que o "Espírito Santo" fosse monopólio de qualquer seita, incluindo a cristã. Trata-se de uma posição favorável aos conversos, mas também muito próxima da ideias defendidas pela Congregação de São João Evangelista, protegida por D. Alvaro de Bragança, amigo de Colombo.    

O profetismo em Portugal tinha a suas raízes mais profundas numa visão apocalíptica do tempo que remontava a Aprígio de Beja (séc.VI), um dos primeiros comentadores do Apocalipse. Uma temática alimentada pelos comentários do Beato de Liebana (sec. VIII) , estudados, por exemplo, nos Mosteiros do Lorvão e de Alcobaça.

Foi também influenciada pela mentalidade messiânica da vasta comunidade de judeus existente no país.

No século XV, esta corrente apocalíptica muito viva na sociedade portuguesa atingiu o seu apogeu na obra "Apocalypesis Nova - Nova Apocalipse" (29), do franciscano português - João da Silva Meneses, mais conhecido por beato Amadeu da Silva ou de Portugal (1427?-10/8/1482) (30), cuja irmã - Isabel Beatriz da Silva e Meneses - comungava de ideias similares. 

b ) Espírito de Cruzada

As ideias proféticas de Colombo, nomeadamente o seu espírito de cruzada constituíam a base da ideologia que justificava as explorações marítimas e conquistas portuguesas. O objectivo ideológico era recuperar Jerusalém e combater os muçulmanos em África e no Oriente. 

Colombo reflecte a mentalidade que existia em Portugal no século XV e que se prolongou até finais do século XVI. Estamos perante uma pessoa que estava intimamente ligado à Ordem de Santiago de Espada, à Ordem de Cristo ou mesmo à Ordem de Aviz, e que compartilhava da  ideologia do Estado português sobre a Expansão.

- As crónicas do século XV de Fernão Lopes, Azurara, Duarte Galvão atribuem a Portugal uma missão providencial.  

Crónica de 1419 (42). Trata-se da primeira história de Portugal, escrita 4 anos depois da conquista da cidade de Ceuta aos mouros no Norte de África. A expansão é aqui apresentada como uma missão divina anunciada no século XII ao 1ª. Rei de Portugal - D. Afonso Henriques. O "Milagre de  de Ourique" narrado na Crónica era a "prova". O primeiro rei de Portugal foi escolhido por Deus para levar a cabo uma obra que faria os portugueses transcenderem-se na sua condição humana. Cabia-lhes combater os infiéis, difundir o cristianismo e criarem um Império cristão (a Cidade Santa de Jerusalém no mundo).

Crónica D. João I. Fernão Lopes chega ao ponto de afirmar que com a geração de Avis, que iniciara a expansão para África, o mundo entrara na sua sétima e última etapa do tempo.   

- As principais ordens militares, como a Ordem Militar de Cristo (sucedânea dos Templários) ou a Ordem Militar de Santiago de Espada exaltavam o espírito profético, repetindo os grandes temas da ideologia do Estado. 

O Convento do Carmo, onde foi sepultada a esposa de Colombo - D. Filipa Moniz Perestrelo  - não escapava a este ideário profético. Pertencia à Ordem dos Carmelitas, foi construído em Lisboa no século XV pelo Condestável do Reino D. Nuno Alvares Pereira, onde ingressou e adoptou o nome de frei Nuno de Santa Maria

Esta ideologia expandiu-se sobretudo do  reinado de D. João I, tendo atingido a sua maior expressão no período de D. Manuel I

0Atribuída a Gil Vicente. 1506. Inscrição: 0. MVITO. ALTO. PRI(N)CIPE. E. PODEROSO. SE(N)HOR. REI. DÕ. MANVEL.I. A . MANDOV.  FAZER. DO OVRO. I .DAS.PARIAS. DE. QVILOA. AQVABOV. E.CCCCCVI

A Custódia de Belém foi feita com a primeira remessa de ouro vinda do Oriente,  no mesmo ano que Colombo morreu em Espanha. 

Simboliza a missão evangelizadora de Portugal, tendo no cimo a Pomba (Colombus em latim) do Espírito Santo.

Colombo não se cansa de enaltecer esta obra dos portugueses que implicava enormes sacrifícios, e que segundo ele consumira mesmo grande parte da população.  

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  c) Astrologia

O Livro das Profecias revela que Colombo era um cultivador da astrologia, não vendo nisso qualquer contradição com o cristianismo. 

O seu envolvimento com a astrologia, levaram-no a datar os acontecimentos em função de elementos astrológicos. Fez coincidir os principais acontecimentos da sua vida, com o número sete e os seus múltiplos. Colombo afirma, por exemplo, que andou 14 anos (2x7) a servir D. João II antes de ir para Castela. Aqui andou 7 anos a tentar convencer os reis católicos a apoiarem a sua ideia. etc. As suas conhecidas visões ocorrem de 7 em 7 anos (Natal de 1492 e Natal de 1499). O Diário de Bordo, da primeira viagem, está submetido a estas crenças astrológicas.

1. Numerologia.  Se o número 7 era de especial significado para Colombo, não o era menos para os reis de Portugal. D. Afonso V tinha o número 7 como sagrado (cfr.Damião de Góis, cap.L); As armas de Portugal durante  reinado de D. João II têm frequentemente 7 castelos, em torno de um quadrado.

2. Reis Astrólogos. Como é sabido todos os reis da dinastia de Aviz eram amantes da astrologia, mas não eram os únicos (1 ). 

- Alvaro Gonçalves Pereira, pai de D. Nuno Alvares Pereira era astrólogo sabedor destas matérias (3), predizendo o futuro, nomeadamente dos seus filhos. 

- Os reis e infantes da Dinastia de Avis eram particularmente dados à astrologia. O Livro da Montaria, elaborado a mando de D. João I dá-nos conta dos tratados de astrologia que na corte eram estudados. As expedições marítimas do Infante D. Henrique eram decididas após prévias consultas astrológicas. Isaac Franco era um dos astrólogos deste Infante. O rei D. Duarte, no Leal Conselheiro dá-nos conta das suas preocupações astrológicas, ao ponto de mandar que Diogo Afonso Mangancha estudasse as permissões da Igreja Católica sobre esta matéria (1433-1438). Este mesmo rei tinha como físico e astrólogo David Guedelha ben Jachia, cuja família se dedicava também à astrologia. D. Afonso V continuou a ter como astrólogo o mestre Guedelha, que chegou ao ponto de sugerir alterações em decisões de Estado ( 4 ). D. João II vivia rodeado de astrólogos, ao ponto de se fazer representar com um deles. D. Manuel I que tomou como símbolo a esfera dos astrólogos, era particularmente inclinado à astrologia judiciária, segundo vários cronistas. Antes das decisões sobre expedições marítimas eram consultados astrólogos. Entre os que trabalharam para a Corte conta-se os Diogo Mendes Vizinho (morador em Lisboa), e depois deste morrer Thomas de Torres, Çacoto (morador de Beja), Abraão Zacuto e outros. A astrologia e a astronomia andavam na época intimamente ligadas.

Na conspiração de 1484, e que determinou a fuga de Colombo para Castela, esteve envolvido um astrólogo que convenceu o Duque de Viseu - D. Diogo - que a conspiração teria êxito e que ele seria o próximo rei de Portugal.

3. Astrologia e Nautica nas Descobertas. Os astrólogos tiveram em Portugal uma importância decisiva na navegação, pois o longo do século XV, em colaboração com os navegadores, criaram instrumentos e tábuas que permitiram a navegação astronómica nas descobertas, como o Regimento da Estrela do Norte e o Regimento do Sol.

 

d ) Devoções

1 ) Espírito Santo.  

O culto do Espírito Santo foi introduzido em Portugal, no século XIV, por Isabel de Aragão e D. Dinis, os quais patrocinaram a criação em Alenquer de um convento com esta evocação. Isabel de Argão, recorde-se, era neta de Manfredo Hohenstaufen, protector dos joaquinistas.

Nas festividades portuguesas, o Espírito Santo é apresentado como o Imperador do Mundo. O culto difundido pelos franciscanos adquiriu durante o século XV uma enorme difusão em Portugal continental, mas também nos Açores e Madeira e depois por todas as suas possessões ultramarinas.

Nas próprias Canárias, em 1504, os portugueses estão directamente envolvidos na construção e posterior engrandecimento do Convento do Espírito Santo, na cidade de La Laguna (Tenerife) (7)   

Em Portugal no final do século XV contavam-se 75 cidades, vilas e aldeias cuja matriz tinha o Espírito Santo como seu orago. Existiam cerca de 80 hospitais e albergarias com uma capela que lhe era dedicada (9). Calcula-se que existissem também mais de um milhar ermidas e capelas em conventos e Igrejas desta evocação (8). 

Os descobrimentos foram na época apresentados como uma inspiração do Espírito Santo. 

Duarte Pacheco Pereira atribui os próprios descobrimentos henriquinos à inspiração do Espírito Santo: "...ho Infante Don Anrrique... o qual alumiado da graça do spirito santo e mouido por divinal misterio, em muitas grandes despesas da sua fazenda e mortes de criados seus naturais portugueses mandou descubrir..." (6 )

Desde o Infante D. Henrique que as confrarias de mareantes de Lagos, Tavira e Porto tinham como patrono O Espírito santo. Em Lisboa tinha inicialmente como patrono S. Francisco, mas em 1455, irmanou-se com a confraria do Espírito Santo, adoptando este nome. Os reis eram membros desta confraria. 

O Infante D. Henrique no seu testamento mandou que fosse perpetuamente rezada uma missão a Santa Maria e a comemoração fosse a do Espírito Santo. As Igrejas que teriam esta obrigação eram muito significativamente as de Alcácer do Sal, Restelo, Cabo de S. Vicente, Ceuta e em todas as que existiam além-mar.   

Duas das ordens militares muito ligadas Colombo deram uma enorme importância a este culto: 

 a ) Na região de Tomar, onde ficava a sede da Ordem da Ordem Militar de Cristo (antiga Ordem dos Templários) o culto do Espírito Santo ainda hoje está muito vivo nas tradições populares.

b ) Em Alcácer do Sal, antiga sede da Ordem de Santiago de Espada, este culto despertava igualmente uma enorme devoção:

Um dos mais importantes edifícios de Alcácer do Sal era o Hospital do Espírito Santo, na qual existia uma capela com "uma imagem de pedra dourada, representando Cristo, colocado acima estava uma um retábulo pequeno, de portas, tendo uma imagem de Santiago, na outra   um crucifixo e no meio o Espírito Santo a descer sobre os apóstolos". (2 ) 

 Na maioria das povoações alentejanas onde viviam personagens ligadas a Colombo existiam capelas dedicadas ao Espírito Santo. 

Os exemplos podiam multiplicar-se por grande parte de Portugal, em especial às localidades onde existiam importantes comunidades de judeus e cristãos-novos. 

2) São João Baptista e São João Evangelista

A 19/11/1493 descobriu a atual ilha de Porto Rico, dando-lhe o nome de São João Baptista (San Juan bautista). No ano seguinte, atribuiu o nome a outra ilha de São João Evangelista, actual ilha dos Pinos, a sul de Cuba.

D. Alvaro de Bragança, Dona Leonor de Lencastre e D. Jorge da Costa, três das personagens portuguesas às quais teve uma ligação muito especial, tinham como referência fundamental ambos os santos.

O primeiro financiou em Évora, a construção do Convento dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (Lóios), onde se fez sepultar. A Rainha promoveu o culto de ambos os santos, criando os seus paços em Lisboa, junto ao Convento dos Lóios. D. Jorge da Costa, pertenceu a esta congregação.   

3 ) São Fernando 3

Colombo tinha uma crença muito arreigada em São Fernando. Rezava e fazia promessas a este santo. Não restam grandes dúvidas que se trata do Infante Fernando (1402 -1443 ), conhecido por Infante Santo. São Fernando era o sexto filho do rei João I de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre. Era mestre da Ordem de Aviz, cujo símbolo era uma Cruz Verde

Envolve-se numa cruzada contra os mouros no Norte de África. Em 1437 participa numa expedição, comandada pelo Infante D. Henrique. Esta revelou-se um desastre, e para evitar a chacina dos portugueses é negociada a sua rendição, sendo dado como penhor o Infante Santo, sob a promessa de mais tarde libertarem Ceuta. Esta cidade nunca foi entregue aos mouros, o Infante não foi libertado e acabou por morrer nas masmorras de Fez (Marrocos). 

D. Afonso V, em 1471, conseguiu trazer os seus restos mortais para Portugal, tendo-os depositado no Mosteiro da Batalha, ao lado dos pais e irmãos, na Capela do Fundador. 

Colombo assistiu certamente a estes acontecimentos que tanto impressionaram a sociedade portuguesa do seu tempo. Recorde-se que Colombo, quando aportou às Indias (América) mandou erguer duas bandeiras com uma Cruz Verde, o símbolo da Ordem de Aviz e de Portugal no século XV.

Alguns autores associam estes São Fernando a um rei -  Fernando III  (Século XIII) - que uniu as coroas de Castela e Leão. Morreu em Sevilha (1252) e foi canonizado santo em 1671 pelo Papa Clemente X.

4 ) Nª. Srª. Conceição

Colombo tinha uma especial devoção por Nossa Senhora da Conceição, especialmente enquanto "virgem". Deste facto nos dá conta o seu filho Hernando Colón. Na verdade a segunda ilha que descobriu fez questão de lhe dar o nome de "Concepcion", isto é, "Conceição". Em 1495 construiu um forte com este nome, perto da cidade de Vega (Republica Dominicana). Pretendeu erigir na Hispaniola (R.Domicana/Haiti), uma igreja dedicada a esta virgem para servir como panteão da sua familia. A igreja veio a ser edificada pelo seu filho Diego (português).

Em Mouger (Huelva/Sevilha/Espanha), um dos portos usados por Colombo, existe uma Igreja dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição. Basta todavia uma simples pesquisa para se verificar que o mesmo foi introduzido por uma portuguesa familiar de Colombo, a Marquesa de Montemayor (ou de Montemor-o-Novo), que fugiu para Castela em 1483.

Nas cidades em que Colombo é frequentemente associado, como Génova ou Sevilha, no seu tempo não existia qualquer igreja consagrada a Nª. Srª. da Conceição. Em Portugal, pelo contrário no século XV abundavam, nomeadamente em Lisboa, mas sobretudo nas terras alentejanas onde dominava a Casa de Bragança, como a cidade de Beja

Na época em que viveu em Castela/Espanha, Colombo assistiu também à acção de uma portuguesa em prol do culto desta virgem. Isabel Beatriz da Silva e Meneses (Ceuta, 1424-Toledo, Agosto de 1492), nascida em Ceuta, onde seu pai foi comandante da fortaleza, após ter vivido em Campo Maior (Alentejo) foi para Castela em 1444 como dama da rainha Isabel de Portugal, esposa do rei João II de Castela. Era irmã, como dissemos, do beato Amadeu de Portugal (30).

Isabel Beatriz da Silva, depois de uma episódio envolvendo Dona Isabel de Portugal, mãe de Isabel, a Católica, cria em Toledo uma Ordem religiosa dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição (Ordem das Concepcionistas Franciscanas) , aprovada em 1491 pelo Papa Inocência VIII.

O culto de Nossa Senhora da Conceição tornou-se num dos símbolos da Casa de Bragança, e nomeadamente de Vila Viçosa. Os reis desta dinastia fizeram questão sempre de o assinalar: Em 1646, D. João IV, decretou que esta virgem fosse a padroeira de Portugal. Em 1819 , D. João VI, fundou em Vila Viçosa (Portugal) a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição.

Nossa Senhora da Cinta, Alcácer do Sal (Alentejo)

5 ) Nª.Srª. da Cinta

Colombo terá feito a primeira e única referência a esta devoção no dia 3 de Março de 1493, no regresso da 1ª. viagem, no meio de uma tempestade, quando prometeu ir em peregrinação a Santa Maria de Cinta. Las Casas que compilou o seu Diário, onde aparece esta referência, afirma que se trata de um santuário em Huelva. Como já anteriormente dissemos, na sede da Ordem de Santiago, em Alcácer do Sal (Portugal), na Igreja de Santa Maria dos Mártires, existe uma imagem de grande devoção, denominada Santa Maria da Cinta. A Imagem, datada dos finais do século XIV ou princípios do século XV ainda se encontra na mesma igreja onde desfrutava de enorme devoção.  

A sua iconografia é muito simples: a virgem segura o menino num braço e com o outro aponta para a cinta (cinto). O menino segura numa mão, uma pomba, símbolo do Espírito Santo. Ao seus pés surge um cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada. O escudo com uma cruz (espada ) no meio tem duas vieiras (simbolo dos peregrinos), um cordeiro místico e um pequeno brasão (Silveiras? Mascarenhas ?). 

Em Huelva, no santuário dedicado à mesma virgem a imagem que aí se encontra é muito posterior, sendo a sua iconografia também muito diferente de Nª. Srª. da Cinta. 

Acontece que o retábulo primitivo que data do século XV, muito mutilado e repintado, tem uma inscrição escrita em português que revela que o retábulo terá sido mandado fazer por um português. Está escrito o seguinte: (Mandou) (F)AZER ESTA OBRA FERNANDO PINTO. ACABO(U) (NO ANO ...). (47).

Fotografia do retábulo do Santuário de Nuestra Señora de la Cinta, em Huelva (Espanha) com a inscrição em português (47). Não deixa de ser curioso que a virgem segure uma romã, um símbolo muito usado pela rainha Dona Leonor de Lencastre e durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521).

Colombo ao evocar Nossa Senhora da Cinta estaria provavelmente a fazer a um culto muito popular em Alcácer do Sal (Portugal), que os portugueses estavam a tentar também difundir em Huelva na segunda metade do século XV.

Quem era o português Fernando Pinto?

No século XV existia em Huelva e Palos uma importante família, cujo principal membro - Fernando Afonso (Alonso) Pinto foi  condenado em 1496 por heresia (49). Uma acusação que a Inquisição espanhola fez a milhares de portugueses que viviam Espanha e nas Indias espanholas, e que resultou no confisco dos seus bens e na morte de largas centenas. Mais

Acontece que este Fernando Afonso Pinto era o proprietário da caravela Pinta (48), que sob o comando de Pinzon fez primeira viagem às Indias.

Las Casas na compilação que fez do Diário de Colombo, alterou claramente o texto de modo a estabelecer uma relação da viagem com Huelva. Não deixa de ser estranho que no mesmo paragrafo faça referências a Lisboa e não a qualquer outra localidade da Andaluzia. A referência a Huelva está deslocada do texto, parece ter sido um acrescento. 

6 ) Sta Maria de Gaudalupe

Tudo leva a crer que Colombo fosse devoto de Santa Maria de Guadalupe. No regresso da 1ª. viagem, próximo dos Açores, quando ocorreu uma forte tempestade, foi sorteado a bordo quem iria em peregrinação a "Santa Maria de Guadalupe" no caso de se salvarem. Na segunda viagem às indias deu o nome de Guadalupe a uma ilha. A verdade é que não há registo que alguma vez tivesse estado em Guadalupe, na extremadura espanhola.

Esta virgem era a padroeira dos resgatados, reféns ou cativos, sendo portanto de particular devoção pelos marinheiros devido aos perigos que continuamente corriam não apenas de naufragarem, mas sobretudo de serem capturados por corsários e piratas. 

Um dos problemas é saber a que Igreja/capela/ermida a que se estaria a referir, tanto podia ser em Portugal, como em Espanha. Mais

7) Sta Maria do O

Na 1ª. viagem, no dia 18 de Dezembro de 1492, fez questão de anunciar o dia de Santa Maria do O. Este culto estava amplamente difundido em Portugal no século XV. Foi instituído pelo Concílio X realizado em Toledo (656), onde estiveram presentes San Frutuoso de Braga (Portugal), San Eugenio e San Ildefonso. Surge igualmente associado a Nª. Srª. da Esperança, o culto que Pedro Alvares Cabral levou para o Brasil (1500).

8 ) Nª. Srª.do Loreto

Não foi apenas uma peregrinação a Guadalupe que foi sorteada nos mares dos Açores, foi também uma a  Nª. Srª do Loreto (5). A passagem no Diário de Bordo parece ser uma invenção de Las Casas, de forma a introduzir o papa nos escritos de Colombo. 

É possível que tenha falado de Loreto, mas as hipóteses são várias em Portugal:

 - Nossa Senhora do Loreto (Juromenha, concelho do Alandroal, Alentejo). Segundo a tradição Juromenha foi conquistada por D. Afonso Henriques, tendo dado o castelo a D. Gonçalo Viegas, filho de Egas Moniz (antepassado da sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo).  O "Santuário Mariano" (século XVIII), afirma que este rei tendo ouvido a história de Nossa Senhora do Loreto (Itália), deu a esta terra alentejana o seu nome. No início do século XIII, os castelos de Juromenha e do Alandroal passaram para a Ordem de Aviz, cuja Cruz Verde, Colombo tinha como símbolo na sua bandeira pessoal ( consultar).

- A capela de Nª. Srª. o Loreto, existe na freguesia medieval de Lisboa com o mesmo nome, cujos florentinos  transformaram depois numa Igreja.

 - O Convento de Nossa Senhora do Loreto, em Santiago do Cacém. Este convento foi fundado por D. Catarina

de Noronha, esposa de Pedro Pantoja, comendador e alcaide-mor desta vila e donatário de Tavira. Trata-se de um nobre de origem castelhana, oriundo de Toledo, tomou o partido de Portugal contra Isabel de Castela, na guerra da sucessão do trono de Castela (1475-1479). 

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e ) Franciscanismo

Muito se tem escrito sobre o seu franciscanismo (32), nomeadamente sobre a sua possível filiação na Ordem Terceira de S. Francisco, muitos a dão como uma certeza. Exemplos: Em Palos ou Sevilha manteve sempre próximo muito dos franciscanos. Fez-se sepultar num convento franciscano em Valladolid (1506).

As raízes desta ligação aos franciscanos tem que ser procuradas em Portugal, onde Colombo durante 14 anos procurou convencer D. João II a realizar a viagem que depois fez ao  serviço dos reis de Espanha. 

Colombo tinha em Portugal fortes ligações familiares à Ordem Terceira de S. Francisco. Em 1480, quando ainda vivia em Portugal, faleceu em Guimarães, com fama de santidade, Constança de Noronha, duquesa de Bragança, familiar da sua esposa. Esta duquesa desde 1460 vestia o hábito desta ordem religiosa, e com ele se fez sepultar. 

Em Sevilha o seu amigo e protector - D. Alvaro de Bragança, foi  criador do convento franciscano de Santa Maria de Jesus (clarissas). A rainha Dona Leonor, a grande reformadora das clarissas (46),  também fez questão se encontrar com Colombo, quando este regressou das Indias (América), num convento franciscano (Santo António da Castanheira).

A explicação desta ligação é todavia mais profunda:

Os franciscanos estiveram envolvidos desde a primeira hora nos descobrimentos portugueses, este envolvimento constitui um traço peculiar da expansão portuguesa  (43). Esta era a sua fonte de inspiração e mundividência.

Frei João de Xira, por exemplo, foi quem pregou em Lagos a santa cruzada, antes dos portugueses partirem a conquista de Ceuta (1415). Frei Aymano, igualmente franciscano, foi o primeiro bispo de Marrocos e a seguir de Ceuta. Os primeiros conventos fundados nas terras que eram conquistas ou descobertas eram todos franciscanos: Convento de Ceuta (1415), na Ilha da madeira (1440), ilha de Santa Maria (1446), Angra na Ilha Terceira (1452), Vila da Praia (idem, 1471), Tanger (marrocos, 1472), etc, etc.

Frei Henrique de Coimbra, que integrava a expedição de Cabral, celebrou a primeira missa, em 22 de Abril de 1500, logo que os viajantes aportaram numa enseada, a que deram o nome de Porto Seguro (Brasil).

O culto dos "mártires de marrocos" (franciscanos, séc.XIII) foi recuperado no século XV, como uma arma ao serviço do expansionismo português: A canonização deste martires ocorreu em 1481 (papa Sisto IV).

A influência dos franciscanos na corte  e principais casas da nobreza portuguesa era enorme. A maioria dos confessores reis e rainhas da primeira e segunda dinastia eram franciscanos, seguidos a larga distância dos dominicanos (44).

A literatura produzida durante a Dinastia de Avis, como o Leal Conselheiro de D. Duarte foi profundamente influenciada pelo ideário dos franciscanos.

1. Rabida e Cartuxa de Sevilha

Uma das primeiras pessoas que Colombo procurou em Castela, foi um frade franciscano português - Frei João Peres (ou António de Marchena). no Convento de la Rábida, em Huelva.

Em Sevilha foi relacionou-se de imediato com os franciscanos da Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas - , cujo altar-mor foi oferecido por D. Afonso V, rei de Portugal. Neste convento, ainda em 1498, professava um parente da sua esposa - Frei Rodrigo Móniz. Mais

2. Ordem Terceira de São Francisco

Colombo fazia parte da Ordem Terceira de São Francisco, destinada a leigos, que podiam ser casados, mas que se sujeitavam a regras muito rigorosas. 

Em Portugal vários reis e rainhas fizera parte desta Ordem Terceira de S. Francisco. A rainha "Santa Isabel" (c.1270-1336), mulher de D. Dinis, depois da morte do marido, vestiu o hábito da Ordem Terceira e com ele foi sepultada. O rei D. Afonso V pretendeu tomar o hábito franciscano no Convento do Varatojo

A rainha Dona Leonor (14), mulher de D. João II, também fazia parte desta ordem, fazendo-se representar com o seu hábito no célebre quadro Panorama de Jerusalém, existente no Convento da Madre de Deus (Lisboa), fundado por esta rainha em 1509. Entre os muitos nobres que pertenceram no século XV a esta Ordem, conta-se o primeiro Duque de Bragança.

A rainha Dona Leonor com o hábito da Ordem Terceira de S. Francisco. Pormenor do quadro Panorama de Jerusalém (1509-1517), oferecido pelo seu primo o imperador Maximiliano I.

Os franciscanos portugueses foram os grandes difusores das ideias proféticas de Joaquim de Fiore. Este abade cisterciense, numa reinterpretação do Apocalipse, dividiu a historia da Humanidade em três Idades, correspondentes às três figuras da Santíssima Trindade. 

A Primeira era a do Pai, a do Antigo Testamento e Temor; a Segunda era a do Filho, o Novo Testamento ou da graça, e que corresponde à época que vivemos desde o nascimento de Cristo; a Terceira, será a do Espírito Santo ou do Amor, em que todos atingirão a iluminação divina.  O Amor triunfará, assim com a luz, abolindo-se toda a autoridade entre Deus e os seus filhos. A Nova Jerusalém será constituída pelos pobres, fora da Igreja.

A Idade do Espírito Santo seria precedida pela vinda do Anticristo.  

3. Floreto de Sant Francisco

A profecia de Joaquim de Fiore foi largamente divulgada na Península Ibérica, a partir de 1450, através de um texto anónimo chamado "Floreto de Sant Francisco" e que depois publicado em Sevilha (1492) (11). A rainha Dona Leonor patrocionou a sua publicação (19).  

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O Floreto é composto por 4 partes e 195 capítulos. No capitulo XIII, onde aparece a célebre profecia, diz-se que apenas duas ordens do cristianismo -  a "Columbina" (Franciscanos menores) e a "Corvina" (Dominicanos). A  primeira ordem seria aquela que conseguiria converter à fé todos os gentios das terras conhecidas e das ignoradas, preparando deste modo a Idade do Espírito Santo. Uma terceira ordem havia de surgir quando estivesse para aparecer o AntiCristo, era a ordem dos "Vestidos de Sacos", que segundo a profecia duraria pouco tempo. O aparecimento da Ordem Terceira de São Francisco anunciava desta forma que o fim dos tempos estava próximo.

Cristovão Colombo, que leu o Floreto de Sant Francisco, provavelmente  ainda em manuscrito, comungava das ideias proféticas veiculadas na Ordem Terceira de S. Francisco

No regresso da sua primeira viagem, dirigiu-se para a Ilha de Santa Maria nos Açores, aportando em Fevereiro de 1493, ao local onde os franciscanos criaram o primeiro convento neste arquipélago. Em Portugal continental, assistiu a uma missão com D. João II, no convento franciscano de Nossa Senhora das Virtudes. Dirige-se a seguir para outro convento franciscano na Castanheira, como veremos, para se encontrar com a Rainha Dona Leonor, protectora dos franciscanos.

Depois de regressar da 2ª. Viagem, a 11/6/1496, andava pelas ruas de Sevilha vestido com um "saco", o hábito dos místicos franciscanos da Ordem Terceira (18). A partir de 1501, como vimos, procurava descobrir os sinais da vinda do AntiCristo.

Em Fevereiro de 1502, pede ao papa para afastar a Espanha da evangelização das Indias, porque estava a ser conduzida por Satanás, o Anticristo. Pede ainda para que lhe seja concedida a direcção desta nova cruzada, e a possibilidade de escolher aqueles que nela participariam (16). Colombo afirma-se como alguém possuído de uma missão divina. Numa carta aos reis espanhóis, em 1501, evoca uma (falsa) profecia de Joaquim de Fiore, na qual este diz que haveria de sair de Espanha aquele que iria converter os gentios e reconstruir o Reino de Jerusalém celeste (17). 

A explicação para esta crença de Colombo, está em Portugal, e envolve a rainha Dona Leonor e um frade português chamado Fr. Afonso da Ilha (da Madeira ?). A teia de relações ainda não está totalmente investigada, eis algumas pistas:

No Convento de Xabregas, em 1493, um frade franciscano - Afonso da Ilha -, encadernou um exemplar do Floreto de Sant Francisco, que havia sido adquirido em Sevilha e fora pago pela mulher do escrivão dos livros de D. João II  (13). 

O livro foi depois oferecido ao convento de Santo António da Castanheira, pelo vigário de observância, Fr. João da Póvoa (15), franciscano, confessor e testamenteiro de D. João II. Foi neste convento que Colombo se encontrou a 11 de Março de 1493, com a rainha Dona Leonor. O confessor do rei, os frades e freiras do Convento de Xabregas e da Castanheira, assim como D. João II, a rainha e o próprio Colombo parecem todos comungar das mesmas ideias proféticas de Joaquim de Fiore. Mais

Estas ligações não terminam aqui. Em 1543, na cidade de Medina del Campo, foi publicada um livro - "Tesoro de Virtudes" -, da autoria de um frade franciscano português chamado "Fr. Alonso da Ilha". Nesta obra faz-se a apologia de uma missão profética dos franciscanos nas Indias espanhola. O livro foi dedicado a um enigmático português (Francisco Pessoa) da corte da imperatriz Isabel de Portugal

A evangelização do Novo Mundo, nesta perspectiva franciscana assumia assim um visão profética, apocalíptica. No entanto, foi apenas em 1516 que foram para as Indias espanholas - Venezuela - o primeiro grupo de franciscanos ligados a este ideário. Os resultados foram desastrosos. Em 1524, partiu para o México um novo grupo de 12 apóstolos franciscanos, e os resultados desastrosos continuaram. 

Em Portugal, os franciscanos desde a primeira hora estiveram envolvidos nos descobrimentos, inspirados nestas ideias proféticas.

O Franciscano Gaspar Gorrício 

Desde 1497 que cresciam em Espanha as acusações contra Colombo. No Vaticano, o papa Alexandre VI (espanhol), procura controlar também as movimentações de Colombo. Os espanhóis terão sido os primeiros a atacar afastando os frades franciscanos portugueses que o apoiavam. 

Gaspar Gorricio, frade franciscano italiano oriundo da cidade de Novara, foi enviado para Espanha, tendo-se instalado na Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas. A partir de 1498, surge como o principal confidente de Colombo.

- Apoia Colombo em questões teológicas e corrigindo textos de modo a evitar problemas com a Inquisição. As ideias heterodoxas de Colombo eram um sério problema, numa Espanha dominada pela intolerância e a Inquisição. Um dos trabalhos que Colombo lhe deu foi o de reunir profecias biblicas e de outros padres da Igreja para que pudesse escrever um longo poema sobre o assunto (Livro das Profecias).

- Apoia Colombo nas mentiras que este fazia à Corte espanhola, como está bem patente na correspondência que trocaram. 

a )  A primeira carta que Colombo lhe escreveu data de 12 de Maio de 1498 e é uma das suas primeiras mentiras partilhadas. Estava então no porto de Sanlucar de Barrameda, toda a história que inventa serviu-lhe para se reabastecer de modo conveniente de modo a poder entrar com grande aparato na Ilha da Madeira (Portugal) e visitar a Ilha de Porto Santo, e depois expulsar das suas explorações pessoas incomodas que seguiam na expedição. Nesta ilha foi recebido com grande entusiasmo, tendo-se demorado o mais que pode.  

b )  Outro dos seus embustes partilhados está na carta 20-25 de Maio de 1502, quando se dirigiu para Arzila para defender os portugueses que estavam cercados pelos mouros, afirmando orgulhoso ao padre - "fui o primeiro" a socorre-los !.

c) Apoio Colombo, quando este procura garantir a transmissão dos seus privilégios ao seu filho Diogo, envolvendo o  Ufficio di San Giorgio (1502).  

O padre Gaspar Gorricio continua a ser um enigma, pois as mistificações que tem sido alvo não permitem ver com clareza as suas posições. Ele próprio dá conta da duplicidade, quando escreve - "Carro de las Vidas, é a Saber, de Vida Activa y Vida Contemplativa" (Sevilha,1500). 

A situação acabou por se tornar explosiva, pois os frades representando diferentes interesses não tardaram a entrar em guerra entre si. Por volta de 1500 os franciscanos espanhóis e franceses, tentam afastar a concorrência, e acusam Colombo de estar a criar obstáculos à evangelização nas Indias e se mostrar  indiferente perante a ladroagem dos estrangeiros, em particular dos genoveses. Colombo e os seus irmãos são presos em Outubro de 1500.

A esta contestação dos franciscanos não era alheia a reforma da Ordem que estava a ser conduzida pelo Cardenal Gonzalo Jiménez de Cisneros (1436-1517). A Espanha procura controlar o saque das Indias. 

Colombo terá procurado que Gaspar Gorricio, ligado ao Vaticano, interferisse a seu favor junto do Papa. A sua situação era dramática:  - não confiava em frades espanhóis nem franceses, mas também não podia apelar aos frades portugueses, pois seria desde logo acusado de traidor.

Apesar da sua ligação ao franciscanismo, Colombo não atribuiu nenhum nome a ilha ou lugar, que sugerisse qualquer ligação a esta corrente cristã. A interferência dos franciscanos espanhóis, italianos e franceses desagradaram-lhe tão profundamente que até o santo foi esquecido. Mais.

f ) Jerónimos (Ordem de S. Jerónimo, Hieronimo...)

Colombo relacionou-se também de forma muito particular com os frades jerónimos. Aponta-se em especial o seu modo de vida e devoções. 

O seu contacto mais intenso com estes frades é provável que tenha ocorrido em Córdova, cujo convento dos jerónimos foi fundado por um frade português. A devoção a Nª.Srª. de Guadalupe ter-lhe-á chegado através destes frades, cujo principal mosteiro em Castela lhes estava confiado. 

Em Sevilla, a sua parente - Marquesa de Montemor-o-Novo (conhecida por marquesa de montemayor ou de Portugal), foi a grande benfeitora do Convento de Santa Paula, pertencente à ordem dos jerónimos. Em 1498 Colombo mudou-se para a calle Francos, para junto do Palácio desta marquesa, frequentado pela sua cunhada e filhos.

A verdade é que vários jerónimos espanhóis aparecem também no caminho de Colombo, em geral para o tramarem:

Frei Hernando de Talavera, prior do Monastero de El Prado, confessor de Isabel, a Católica (1476), foi o primeiro frade Jerónimo com que se debateu em Castela. Em Janeiro de 1486 a rainha mandou-o examinar o projecto de Colombo, nomeando para tal uma comissão de astrónomos castelhanos. Apesar do financiamento ser desde logo assegurado por Isaac Abravanel, o frade dá-o por irrealizável (primavera de 1487). Questões diplomáticas impediam na prática qualquer decisão sobre o assunto. O projecto só teve ordem para andar, depois do falecimento do principe D.Afonso (18/5/1475-13/7/1491), filho de João II e genro de Isabel, a Católica. 

Os reis católicos receberam-no, no regresso na sua primeira viagem, no Mosteiro de San Jerónimo de la Murtra (Catalunha). Na sua segunda viagem, em 1494, levou consigo frade jerónimo - Ramón Pané -, para aprender a língua dos nativos. O frade foi obrigado a viver um ano no Forte da Magdalena. Colombo mandou-o depois para junto do cacique Guarionex, mas pouco avançou na lingua. Só aprendeu de facto alguma coisa quando Colombo regressou a Espanha, e o frade foi viver para junto de outro cacique, Mabiatué. Em 1498 entregou-lhe relação (22), que constitui um notável documento sobre as crenças e os costumes de povos das Antilhas que foram entretanto exterminados.

Durante o acidentado vice-reinado de Diego Colón, foram enviados três frades da ordem de S. Jerónimo para o substituírem no governo de Santo Domingo. Não tardaram a prosseguir a política de extermínio dos indigenas e importação de escravos africanos (23). A 10/1/1519, escreveram a Carlos V que os autorizasse a incrementarem, sem restrições, a importação de escravos africanos, sob o pretexto que a varíola havia morto um terço dos indios.  

Ainda no inicio do século XVI, um frade jerónimo - António Aspa -, do Convento de la Majorada, sustentou que Colombo era judeu. Esclarece ainda que chamar alguém de genovês, queria dizer que o mesmo era judeu.

Em Portugal não lhe faltavam também ligações aos frades jerónimos. D.Afonso V e o Duque de Beja - D. Manuel (futuro rei) protegeram de forma muito especial esta Ordem religiosa. D.Afonso V, em 1448, conseguiu autorização papal para criação da Província Portuguesa da Ordem de S. Jerónimo. D. Manuel I, uma autorização para a criação de 20 conventos!  

Alguns conventos e igrejas carregadas de significado: 

No Restelo (Lisboa), D. Manuel I, mandou construir um mosteiro para os frades jerónimos, no mesmo local onde Colombo, em Março de 1493,  chegou da sua primeiro viagem às Indias (América). O mosteiro não foi todavia para comemorar este feito, mas sim a descoberta do verdadeiro caminho para a India por Vasco da Gama. 

No Cabo de São Vicente, tantas vezes referido por Colombo nos seus escritos, existiu antes de 1506 um Convento dos Frades de S. Jerónimo.

Em Alcáçovas (Alentejo), onde foi assinado o Tratado de Alcáçovas, os Paços dos Henriques foram profundamente alterados para darem origem a uma Capela dedicada a S. Jerónimo. 

Em Évora, a primeira iniciativa para a criação do Convento Jerónimo do Espinheiro, data de 1420. Pedro de Noronha, bispo de Évora, conseguiu do uma autorização do papa para o fundar (24). Pedro de Noronha, como já dissemos, era familiar de Cristovão Colombo. O Convento acabou por só ser criado em 1457. Foi nele que ocorreram as Cortes de 1481,na sequência das quais se desencadearam as conspirações de 1483 e 1485, que levaram Colombo a Castela.

Em Coimbra, o Convento de São Marcos, desta ordem religiosa, foi fundado pela mãe de Filipa de Melo, esposa de Alvaro de Bragança, protector de Colombo, parente e amigo de Juan da Silva, Conde de Cifuentes. O panteão dos Silva encontra-se neste convento. 

A relação de Colombo com os frades jerónimos portugueses, é muito diferente daqueles com que se confrontou em Castela e Aragão.

g) Judaísmo 

Não restam dúvidas que Colombo tinha uma forte ligação ao judaísmo. Nas suas cartas aparecem frequentes elementos que apontam para esta ligação. Os seus inimigos, assim como os falsários italianos sugerem que se trata de um cripto-judeu.  

Esta ligação podia não ser de raça, mas foi certamente obtida através de um contacto  muito próximo com os judeus. Um facto que o afasta também da possibilidade de ser genovês. Na verdade, uma das cidades mais anti-semitas de Itália era justamente Génova. Desde o século XII que os judeus estavam proibidos de permanecerem na cidade mais do que três dias. Um dos nomes pejorativos dados aos judeus era justamente o de "genoveses". Chamar a alguém de genovês era o mesmo que dizer que ele era judeu.

Portugal ao longo de todo o século XV e XVI foi o país do mundo que contou com maior percentagem de judeus na sua população. Um número que aumentou consideravelmente, em 1492, quando foram expulsos de Espanha. 

1 ) Os judeus foram largamente protegidos por monarcas como D. Afonso V ou D. João II, amigo intimo de Colombo. Estavam largamente difundidos pela sociedade portuguesa, ocupando postos chave na corte, nos negócios maritimos, navegações e estudos nauticos.  Muitos portugueses que iam para Espanha, nesta época, eram apontados como os judeus. Ainda no século XVII desta fama não se livravam tal era o número de judeus existentes em Portugal.

Apesar da expulsão no tempo de D. Manuel I, a maioria dos judeus optou por ficar no país, tendo-se convertido ao cristianismo ou adoptado práticas cripto-judaicas.

2 ) Colombo estava ligado à Casa de Bragança, uma ligação que os seus descendentes fizeram questão de manter e reforçar. Acontece que a Casa de Bragança desde o seu inicio esteve sempre ligada aos judeus, inclusive na sua origem. Os duques estavam rodeados de judeus que lhes prestavam os mais variados serviços, nomeadamente o de banqueiros. Uma das suas principais fontes de receitas era justamente o rendimento obtido na judearia de Lisboa. D.João I, a 20/8/1385 doou a D. Nuno Alvares Pereira o "serviço Real dos Judeus da cidade de Lisboa e seu termo", o qual pouco depois doou estes rendimentos à Casa de Bragança, que apenas os deixou de receber quando em Dezembro de 1496, D. Manuel I "expulsou" os judeus. 

3 ) A única esposa legitima de Colombo - Filipa Moniz Perestrelo - era descendente de judeus convertidos ao cristianismo, tratava-se portanto de uma conversa ou cristã-nova. Não é de estranhar que tivesse posições coincidentes com as dos cristãos-novos sobre as relações entre cristãos e judeus.

Na região de Portugal em que viveu, estudos genéticos recentes revelaram que 37% da população portuguesa tinha origem judaica. Um dado ilustrativo do peso que o judaísmo tinha no país naquela época.  

 

h ) Nobre-Mercador, Escravatura e Ouro

A conquista e o saque foram justificados por Colombo como meios de obter recursos para resgatar Jerusalém, um  argumento inúmeras vezes usado ao longo da história por cristãos e judeus, para justificarem todo o tipo de barbaridades. 

A sua posição é comum à grande número de nobres portugueses envolvidos nos descobrimentos marítimos, onde religião, conquista e comércio andavam interligados.

Quando chega às Antilhas a sua primeira preocupação foi avaliar a tecnologia dos "indios" (indigenas), de modo a poder calcular a sua capacidade de resistência ao seu domínio e escravatura. Avaliar os locais onde podiam ser construídos armazéns, fortalezas e portos, deixando assinalados no Diário de Bordo muitos destes locais. Ao mesmo tempo foi fazendo o levantamento do potencial económico de tudo o que observou: indios, arvores, plantas, frutos, pescarias, metais, etc.

As "conversas" com os "indios" não tinham outro objectivo senão descobrir potenciais fontes de negócio, em particular, saber onde se podia encontrar ouro. Chega a proibir as trocas de outros produtos entre os marinheiros e os indios, não fossem estes pensar que estariam interessados noutra coisa senão no ouro.

1. Escravatura

Colombo que andara no tráfico de escravos (Diário de Bordo, 12 de Novembro de 1492), quando chegou às Indias fez logo questão de registar que as populações que encontrou podiam ser facilmente dominadas, isto é, reduzidas à escravatura. Não se cansa de afirmar o seu enorme valor económico como mercadorias, indicado potenciais mercados para exportação.

Se no princípio ainda descreve os indios como "bons selvagens", rapidamente abandona este discurso.  A inovação na argumentação de Colombo consistiu em mostrar que os indios das Caraíbas eram canibais. 

O argumento do canibalismo servia na perfeição para justificar a escravatura dos indios, sendo a sua captura legitimada pelo conceito de guerra justa.

No Diário de Bordo, a 23/11/1492, dá conta que foi informado por indios que havia em "Bohío", muito perto do local onde se encontrava: "gente que tenía un ojo en frente, y otros que se llamaban caníbales, a quien mostraban tener gran miedo. Y desque vieron que lleva este camino, diz que no podían hablar porque los comían y que son gente muy armada."

Volta a referir-se à existência de canibais nas Caraíbas a 27/11/1492. No dia 17/12/1492 conclui que os canibais eram " gente del Gran Can". Volta a referir-se-lhes a 17 e 23/12/1492, para a 13/1/1493, declarar que as ilhas das caraibas viviam num grande terror devido aos canibais que nelas existiam. 

Colombo encontrava aqui uma justificação para reduzir à escravatura todos os indios das Caraíbas, pois não passavam canibais ou seus descendentes ( 27). Havia que os capturar caso contrário os europeus e os indios potencialmente evangelizados acabariam devorados.  

No regresso da sua primeira viagem, trouxe dez indios (25), mas só seis chegaram vivos à corte espanhola, e não tardaram em serem vendidos como escravos.

A partir da 2ª. viagem às Indias (1493), sobretudo quando chegou às Indias Bartolomeu Colon, começa a desenvolver-se um intenso tráfico de escravos das Antilhas para a Europa.

Em Fevereiro de 1494, apanhou cerca de 1.600 Indios na Hispaniola, depois de várias fugas e matanças, acabou por conseguir enviar para Castela através de António Torres, em quatro navios, mais de 500 escravos, dos quais perto de 200 morreram a bordo. Cuneo escreveu um retrato impressionante da diversão que constituía apanhar e matar estes indios. Andrés Bernaldez, garante que os indios tinham uma "boa idade", isto é, "entre os 12 e os 35 anos, mais ou menos" (cap.CXXX) (31).

Em Junho de 1496, quando regressa da sua 2ª. viagem, trás consigo mais um carregamento de escravos, que Hernando Colón descreve como potenciais canibais.

A 23/4/1497, com a permissão real, funda um morgadio (mayorazgo) em Vega Real, na Hispaniola, impondo um sistema de prestações pessoais aos indigenas, que na prática os transformava em seus escravos.

 Em 1498, escrevia aos reis católicos que projectava vender aqui 4.000 escravos por ano, esperando obter uma renda superior a vinte milhões de maravedís.

Outras  das inovações de Colombo, irá consistir em usar os indios como "moeda" de pagamento ou recompensa de serviços. Um sistema que se desenvolve de forma acelerada a partir de 1499.

Em vez pagar ordenados em falta ou distribuir comida pelos colonos dava-lhes indios. Os que regressavam a Espanha, não podiam levar o ouro que haviam extraído, mas tinha a possibilidade de levar consigo indios para venderem.

Esta distribuição de indios pelos espanhóis acabou por dar origem às célebres "encomiendas". As terras atribuídas aos colonos vinham acompanhadas de indios para as trabalharem e servirem os seus donos, vivessem ou não nas colónias. Em 1511, por exemplo, Hernando Colon recebeu uma "encomienda" de 300 indigenas na Hispaniola, cujos rendimentos da sua exploração recebia em Espanha.

Em 

Ter-se-á afastado Colombo das suas ideias proféticas ? 

Face aos quadros mentais actuais existe uma total incompatibilidade entre cristianismo e escravatura, o que não é verdade até ao século XVIIII ou mesmo XIX.  

Miguel Angelo, por exemplo, na capela de Sistina no Vaticano, louva a obra dos portugueses no "resgate" que faziam dos africanos. 

As conquistas portuguesas em África foram equiparadas a cruzadas em 1442 (Bula Illius Qui), o papa autorizou-os também a reduzirem perpetuamente a escravatura de todos os africanos a sul dos Cabos Não e do Bojador em 1552 (Bula Dum Diversas). A única condição que lhes impôs foi a de continuarem a "guerra justa" contra os infiéis, e procurarem converter ao cristianismo os escravos negros trazidos para Portugal.

O tráfico de escravos era uma prática corrente nesta altura, abençoada pelo próprio papa, e que não escolhia condições, credos, religiões ou nacionalidades. 

A argumentação de Colombo é no fundo IGUAL à que os negreiros portugueses faziam na altura, e que será objecto de uma profunda crítica no século XVI por parte de Fernão de Oliveira.

A verdade é que Isabel, a católica, em 1500, ficou assustada com o negócio da escravatura desenvolvido por Colombo, mandando que algumas centenas de escravos indios estavam em Castela  fossem de novo mandados para as Indias. O negócio continuou a prosperar em Castela e nas Indias.

Em 1508 já a corte espanhola autorizava a escravização dos indios lucaios (lucayos), e em 1511 autorizava a captura de todos os indios caribes. O resultado foi o extermínio destes indios.

Lisboa e Sevilha eram os dois principais mercados de escravos indios das Indias espanholas destinados à Península Ibérica (26)

Os resultados desta brutal exploração dos indios, nomeadamente na Hispaniola, traduziu-se em poucos anos na sua quase completa extinção (27).

Não deixa de ser significativo que o ponto comum a todos os italianos ligados a Colombo, ser o facto de terem uma longa experiência no comércio de escravos, como era o caso de Juanoto Berardi, Simón Verde, Piero Rondinelli ou Affaitati. Mais

2. Ouro

Colombo tinha uma verdadeira obsessão pelo ouro. É elevadíssimo o número de vezes que esta palavra aparece nos seus escritos. No seu Diário de Bordo, entre 13/10/1492 e 4/3/1493 refere 127 vezes a palavra ouro. Nas obras que possuía é manifesta a sua preocupação em assinalar todos as terras e locais onde se dizia existir "ouro" ou pedras preciosas, como é bem patente nas anotações que fez na obra Ymago Mundi de Pierre d`Ailly. 

O ouro é a salvação para tudo, quer seja para resgatar Jerusalém dos muçulmanos ou para entrar no paraíso:

"El oro es excelentissimo; del oro se hace tesoro, y con el, quien lo tiene, hace cuanto quiere en el mundo, y llega a que echa las ánimas al paraíso", Colombo, Carta da Jamaica, 1503 (28).

Este facto, maliciosamente, tem sido atribuído uma forte influência judaica. Trata-se de uma obsessão não apenas características dos judeus, mas também dos portugueses do século XV. Não nos podemos esquecer que o próprio Colombo assistiu à construção da Fortaleza de S. Jorge da Mina (Gana), onde o ouro, mas também os escravos seriam abundantes.

A Europa, como sabemos, vivia na altura uma enorme escassez deste metal, o que afectava o desenvolvimento do comércio internacional. Um factor que terá contribuído para a enorme importância que atribuía a este metal, ao ponto de afirmar que com ele tudo se conseguia, inclusive entrar no Paraíso...

Colombo revela saber identificar com precisão os locais onde poderiam existir ouro. Um dos primeiros locais que identificou, como potencialmente ourífero, foi significativamente comparado com a foz do rio Tejo, junto a Lisboa, onde durante largos séculos foi extraído ouro das suas areias.

O problema é que não encontrou ouro nas quantidades que afirmava existir. Não nos podemos esquecer que para conduzir a Espanha ao logro das Indias, de início só poderia dizer que o negócio valia a pena, porque as Indias eram ricas em ouro e pedras preciosas, pérolas. Um discurso que se viu obrigado a manter ao longo dos anos.

A fim que nenhuma pepita pudesse fugir-lhe das mãos, montou um brutal sistema para o extrair onde ele pudesse ser encontrado:

- Os indigenas eram obrigados a trocarem ouro por todo o tipo de quinquilharias sem valor. Estava sujeitos pesados tributos em ouro. Em 1495, todos os indígenas que tivessem mais de 14 anos, tinham que pagar este tributo em ouro, cuja parte que pertencia à corte só era entregue a cada 3 anos, ficando entretanto à guarda de Colombo;

- Os colonos estavam proibidos de terem ouro, ou fazerem qualquer compra com este metal. Morriam à fome, apesar de terem consigo ouro. Eram frequentemente multados, de modo a extorquirem-lhes todo o ouro que pudessem ter. Mais  

Perante a continua escassez de resultados, queixava-se que a culpa era da falta de mineiros competentes e da preguiça dos espanhóis. Paralelamente vai dizendo que, o principal ouro das Indias era a abundância de indios para escravizar.

Foi este saque desenfreado de ouro que, segundo Andrés Bernaldez (1450 - 1513) (31), que o moveu a descobrir e esteve na origem da sua prisão e dos irmãos em 1500 (cap.CXXXI).

Modelo de Colonização

A hábil propaganda que Colombo fez das terras que descobriu a Ocidente, a partir do século XVI irão provocar uma verdadeira corrida ao "Novo Mundo" por parte de franceses, ingleses, alemães e depois holandeses. O que é que esperam encontrar?

Duas coisas essenciais: Em primeiro lugar ouro, muito ouro. A seguir, animais selvagens, com a aparência humana (indios), mas que na realidade são ferozes canibais. Se a procura do ouro acabou a maioria das vezes numa completa desilusão, o discurso do canibalismo, legitimou o extermínio dos povos nativos da América.

O cura de Los Palacios - Andrés Bernaldez (31) -, explicitou o outro argumento legitimador do extermínio dos povos indigenas: a questão da sua utilidade. Se os conversos (cristãos novos) deviam ser exterminados porque viviam da usura e desprezavam a agricultura, com mais razão se deviam exterminar os povos bestiais, preguiçosos e maus para trabalhar que Colombo encontrara nas Indias (cap. CXXII).

Andrés Bernaldez, estava de acordo com Colombo num outro ponto fundamental: - o que verdadeiramente interessava era o ouro que se podia obter.

As palavras e o exemplo de Colombo serão inúmeras vezes evocados pelos colonizadores europeus da América.

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Beatificação de Colombo

Apesar deste comportamento contraditório de Colombo, no século XIX, não deixou de surgir um forte movimento a que reclamou a sua beatificação. O processo foi conduzido próprio Vaticano, envolvendo dois papas: o papa Pio IX e Leão XIII, que não se coibiram de contribuir para a mistificação e falsificação da biografia de Cristovão Colombo. Mais

Os italianos emigrados nos EUA, com o apoio do Vaticano e dos Cavaleiros de Colombo, conseguiram igualmente que o dia 12 de Outubro fosse consagrado como feriado nacional, o que veio depois também a acontecer em Espanha e nas suas antigas colónias americanas. Mais

Carlos Fontes

  Notas:

( 1 ) Dicionário de História Religiosa de Portugal. Dir. Carlos Moreira de Azevedo. Vol.A-C. Entrada "Astrologia".

( 2 ) Maria Teresa Lopes Pereira, Alcácer do Sal na Idade Média, pag.104.

(3)  Fernão Lopes,Crónica de D. João I

( 4 ) Rui de Pina, Crónica de D. Afonso V

(5) Santuário de Loreto (Itália), segundo uma lenda medieval, guarda as paredes da "Casa" onde morou Nossa Senhora em Nazaré na Galiléia. 

(6 ) Esmeraldo Situ Orbis, p.14. Colombo utiliza as mesmas ideias para se referir aos descobrimentos portugueses.

(7) Juan Manuel Bello León, 

(8) Cortesão, Jaime - Os Descobrimentos Portugueses. Vol. I. p.174

(9) Muitos dos hospitais do Espírito Santo, com Dona Leonor, foram transformados em Misericórdias.

(10 ) O culto do espírito santo ocupa uma lugar central nas crenças de Colombo. A associação aos albuquerques é mais uma vez a chave para identificar outros portugueses que eram financiados pelos reis católicos. Em Portugal o culto iniciou-se na via de Alenquer, mas também era muito popular entre os cristão-novos, pelo seu carácter imaterial.

  Igreja do Espírito Santo, situada junto ao rio Alenquer, foi mandada construir, em 1300, por Rainha D. Isabel de Aragão, esposa do Rei D.Dinis, que aqui também viveu.  À Confraria do Espírito Santo de Alenquer pertenceram nos séculos XV e XVI, entre outros:

- D. Leão de Noronha (1510-1572) - parente da Marquesa de Montemayor, exilada em Sevilha. Recorde-se que o seu irmão - Leão Henrique de Noronha está sepultado no panteão familiar nesta cidade mandou criar no Convento de Santa Paula. Foi a grande protectora da familia de Colombo nesta cidade ( Consultar ). 

- Afonso de Albuquerque

 - D. Isabel de Lencastre (1432 - 1455), filha do Infante-Regente D. Pedro, Duque de Coimbra e de sua mulher a princesa D. Isabel de Aragão, Condessa de Urgel, filha do rei Jaime II de Aragão. Casou em 1447 com o seu primo direito D. Afonso V.

- D. Manuel, rei de Portugal

- Damião de Góis (1501-, o grande humanista português. Natural de Alenquer onde viria a morrer, assassinado pela Inquisição.

Nas beiras as referências a este culto são uma constante entre os cristãos-novos.

(11) Ulibarrena, Juana Mary Arcelus - La Profecia del Abad Joaquim de Fiore en Cristobal Colón, in...

(12)  A obra conserva-se na BNP (Inc.539).

(13) Paiva, José de Freitas - Fr. Afonso da Ilha, OFM: Partilha de Nome ou de Identidade?, in Via Spiritus, I, (1994), pp.209-212.

(14) A Rainha Dona Leonor desde criança que estava ligada aos franciscanos. Os Paços Ducais do seu pai, foram construídos em Beja, mesmo ao lado do convento franciscano, que se tornou no panteão da sua familia. Dona Leonor financiou a construção de vários conventos franciscanos, dirigiu a reforma da Ordem de Santa Clara, etc. Financiou também a publicação de várias obras espirituais, mas também de navegação.

(15) Fr. João da Póvoa dirigiu desde o inicio o Convento do Varatojo, criado por D Afonso V, em resultado de uma pelo êxito das suas conquistas em África. Frei João da Póvoa foi sepultado na capela de S. Francisco, Convento de Nossa Senhora da Conceição (Matosinhos), do qual foi um dos principais impulsionadores.

(16) Colon, Cristobal - Textos y documentos ..., p.479/480

(17) Carta a Los Reyes (1501), in, Cristobal Colon, Textos y ..., p.448.

(18) Não sabemos se o seu filho Diego Colon pertenceu à Ordem Terceira de S. Francisco. Está todavia confirmado que o seu neto - Luis Colón y Toledo -, não apenas pertenceu a esta como fez questão de ser sepultado no Convento franciscano de Orán (Argélia) para onde fora desterrado. Foi tresladado depois por Diego de Portugal y Colón de Toledo (filho de D. Jorge de Portugal), para a Capela de Santa Ana, no Mosteiro dos Reis de Sevilha, donde saiu para S. Domingo para outro convento franciscano. Note-se que neste processo não interferem genoveses, mas apenas portugueses ou seus descendentes.

(19)

(20) Marques, João Francisco - Franciscanos e Dominicanos confessores dos reis portugueses das duas primeiras dinastias, in, Rev. Fac. Letras -Linguas e Lit., Porto.1993.

(21)

(22) Ramón Pané, entregou entre Agosto de 1498 e 1500,  Colombo um manuscrito intitulado: "Relación sobre las Antiguedades de los Indios, las cuales con diligencia com hombre que sabe la lengua de ellos, las recogido por mandato del Almirante". O manuscrito foi utilizado por Angleria, Fray Bartolomé de Las Casa e Fernando Colón, que o incluiu no capítulo 61 na "biografia" do seu pai. Os originais perderam-se.

(23) Diego Colón foi alvo de enormes acusações. O cardeal Jimenez de Cisneros e Adriano de Utrecht (futuro papa Adriano VI), enviaram, em 15151, a Santo Domingo 3 frades jerónimos na qualidade de governadores, com eles seguia Bartolomé de las Casas, na qualidade de "procurador dos Indios". Os frades jerónimos não tardaram em mandá-lo de regresso a Espanha. 

(24) Sugestões bibliográficas de Leonor Ferraz de Oliveira, in, Medievalista, Ano 5, Número 7, 2009:

Anselmo Braamcamp Freire, As sepulturas do Espinheiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901; Idem, O Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, Archivo Histórico Portuguez, 1905; Cândido A. Dias dos Santos, Os Jerónimos em Portugal: das origens ao fim do século XVII, Porto, 1980, p.21-22, 24; Gabriel Pereira, “O mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro”, in Estudos Eborenses, Évora, 1, 2ª ed. integral, 1947, p. 13-29; Maria Hortense N. Vieira Lopes, “O convento de Nossa Senhora do Espinheiro em Évora: ensaio de interpretação histórica e artística”, Junta Distrital de Évora: boletim anual de cultura, Évora, 6, 1965, p. 83-157, etc. 

(25) Mira Caballos, Esteban - El Envío de Indios Americanos a la Península Ibérica: Aspectos Legales (1492-1542), in, Stud. His., Hª. Mod.., 20, pp. 201-215, Universidad de Salamanca. Uma excelente sintese da questão.

(26) Caballos, Esteban Mira -Indios y Mestizos en la España Moderna. Estado de la Cuestión, in, Boletim Americanista, ano LVII, 2007, pp.179-198.

(27) A bibliografia sobre Colombo e os canibais das caraibas é muito extensa. Alguns títulos:

- Blaney, Lucy - Colón y el Caníbal, in,Divergencias. Revista de estudios linguísticos y literarios. Vol. 6, nº.1, Verão de 2008.

- Sanguily, Manuel; Ignacio de Armas, Juan - La Fábula de Los Caribes. Um clássico de 1884

- Forbes, Jack D. - Colombo e Outros Canibais. Antigona. Lisboa.1998

(27) Cook, Noble David - Una Primera Epidemia Americana de Viruela en 1493?, in, Revista das Indias, 2003 vol. LXIII, nº.227.pags. 49-64

(28) Karl Mar, glosou esta afirmação de Colombo, dando-a como exemplo da nova mentalidade da modernidade capitalista: "Coisa maravilhosa é o ouro! Quem do ouro é dono, é senhor do que quiser. Com ouro, até se fazem entrar as almas no paraíso", Capital, T. I, Vol. I.  

(29) Beato Amadeu da Silva - Apocalypsis Nova - Nova Apocalipse. Edição crítica, fixação do texto, tradução, introdução e notas de Domingos Lucas Dias. Universidade Aberta. Lisboa. 2004.

(30) João da Silva Meneses ou beato Amadeu de Portugal, era irmão (da santa) Beatriz da Silva. Filhos de Gomes da Silva de Isabel de Meneses, filha bastarda de Pedro de Meneses, conde de Vila Real e 1º. Governador de Ceuta. Gomes da Silva, da diocese de Coimbra, foi escudeiro de D. João I. Participou na conquista de Ceuta (1415). Foi conselheiro de D. Duarte e D. Afonso V. Foi alcaide de Campo Maior e Ouguela.

João da Silva Meneses frequentou o paço real de D. Duarte, onde segundo uma lenda se afeiçoou por Dona Leonor, irmã de D. Afonso V, casada em 1452 com Frederico III da Alemanha.

Ingressou primeiro no Convento de Nª. Srª. de Guadalupe (Castela), e a seguir na Ordem dos Frades Menores. Vestiu o hábito de Ubeda, passou por Genova, Florença, Perúsia (1453) e Assis. Em Roma tornou-se confessor do papa Sisto VI. Fundou a congregação amadeista, que em 1568 já contava com 39 conventos em Itália e Espanha.

(31) Andrés Bernaldez - História de los Rey Católicos. D. Fernando y D. Isabel. Granada. 1856

(32) Sobre o franciscanismo de Colombo, consultar: Millhou, Alain - Colón y su mentalidad mesiánica en el ambiente franciscanista español. Valladolid.1983; Herrera, José Sánchez - Los Movimientos Franciscanos Radicales y la Misión y Evangelización Franciscana en America, in, Congreso de Historia dos Descubrimiento (1492-1556), Actas. Tomo IV, madrid, 1992. Ver também a excelente critica de Mérida, José M. - Los franciscanos y Colón: mitos y misión franciscana y su influencia en los descubrimientos indianos., idem; etc.

(33) Pereira, Pereira - Enigmas. Lugares Mágicos de Portugal. Idades do Ouro. Circulo dos Leitores.pp20-23

(34) Soares, Maria Luisa de Castro - Profetismo e Espiritualidade de Camões a Pascoaes.Coimbra. 2007

(35) As cartas de D.Manuel ao cardeal cisneros, intermediário dos reis espanhóis, constam do "Catalogo de los codices españoles de la Biblioteca del Escorial, por Migueléz, Madrid. T. I, p.228. Foram publicadas e comentadas por Brochado, Costa - A Espiritualidade dos Descobrimentos e as conquistas portuguesas. Brotéria, 40 (1945), pp.25-42

(36) Oliveira e Costa, João Paulo - D.Manuel I, 1469-1521. Lisboa. 2007

(37) Castanheda, Fernão Lopes - Historia do Descobrimento e Conquista a India pelos Portugueses. Vol. I., Livro I, cap. XXVIII, narra a curiosa profecia de Sibila, descoberta em colunas em Cascais. Brinca também com o facto dos italianos andarem a dizer que haviam sido eles os primeiros a descobri-las...

(38) Azcárate, Juan Luis de León, EL «LIBRO DE LAS PROFECÍAS» DE CRISTÓBAL COLÓN (1504): LA BIBLIA Y EL DESCUBRIMIENTO, in, RELIGIÓN Y CULTURA, LIII (2007), 361-406

(39) Peixeiro, Horácio Augusto - Retrato de D. Manuel na Iluminura, in, revista de história da arte nº5 - 2008

(40) Thomaz, Luís Filipe (L`idee Imperiale Manueline, in, La Decouverte, le Portugal et l `Europe . Actes du Colloque. Paris. Centre Culturel Portuguais.1990), sistematizou de forma notável este projecto imperial de D. Manuel.

Primeiro intitulou-se Senhor da Conquista (domínio sobre os territórios muçulmanos), depois Senhor da Navegação e do Comércio  ( exclusividade portuguesa de circulação no Indico), o que o poderia levar a assumir-se como Imperador do Oriente, se conseguisse destruir o Islão e reconquistar Jerusalém, então sob o domínio dos maometanos. Para atingir este objectivo, procurou contactar Prestes João, envolveu-se em projectos de conquista da Terra Santa (1506-7), acções militares em marrocos, etc.  

(41) Braga, Paulo Drumond; Braga, Isabel M. D. - As Duas Mortes de D.Manuel: o rei e o homem, in, Rev. Penélope, nº.14. Dez. 1994.

(42) Moreira, Filipe Alves - Crónica de Portugal de 1419. Fontes, Estratégias e Posteridade. Faculdade de Letras do Porto. 2010.

(43) Sobre a ligação dos franciscanos aos descobrimentos portugueses, desde o inicio do século XV, consultar:

- Cortesão, Jaime, "O Franciscanismo e a Mística dos Descobrimentos", in Seara Nova, n.° 301, 1932 (O franciscanismo e a mistica dos descobrimentos / Jaime Cortesão. [S.l. : s.n., 1950.)

- Franciscanismo, descobrimentos e missionação / Humberto Carlos Baquero Moreno. Braga : [s.n.], 1973.

-  O franciscanismo em Portugal : actas / Seminários O Franciscanismo... ; org. Fundação Oriente. Lisboa : F.O., 1996

etc.

(44) Marques, João Francisco - Franciscanos e Dominicanos confessores dos reis portugueses das duas primeiras dinastias, in, Rev. Fac. Letras-Ling. e Lietratura. Porto. 1993

(45) Rosa, Maria de Lurdes - Do «santo conde» ao mourisco mártir: usos da santidade no contexto da guerra norte-africana
(1415-1521), Discurso proferido no simpósio internacional »Novos Mundos – Neue Welten. Portugal e a Época dos Descobrimentos« no Deutsches Historisches Museum, em Berlim, 23 a 25 de Novembro de 2006

(46) Ivo C. de Sousa - A Rainha D. Leonor e a Experiência Espiritual das Clarissas Coletinas do Mosteiro da Madre de Deus de Lisboa (1509-1525), in, Via Spíritus, I (1994).

(47) Gómez, Juan Miguel Gozález - Pinturas Murales del siglo XVI en el Condado de Niebla; idem, Restauracion del Mural  de la Virgem de la Cinta de Huelva, in, Actas XI Jornadas de Andalucia y America.

(48) Gould, Alicde B. - Nueva Lista Documentada de los Tripulantes de Colon en 1492. Madrid 1984, p.186

(49) Liañez, Laureano Rodriguez - Moguer y Palos en la epoca del descubrmiento ..., in, Actas XI Jornadas de Andalucia y America, pp. 169-170.

17)  

Continuação:

9.  Cavaleiro de Santiago? 

10. Segredos de Estado 11. Navegador Experiente

12. As Indias de Colombo

13. Ameaça Permanente  14. Espionagem 15. Missão Espanhola 

16. Nobre em Fuga  17. Lugares em Espanha 18. Descobridores e Conquistadores 

19. Castelhanos 

20. Portugueses em Espanha.  21. Apoio de Judeus

22. Negociante Oportuno de Miragens

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28.Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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As Provas de Colombo Italiano

As Provas de Colombo Espanhol

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  Carlos Fontes
 
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