Carlos Fontes

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português   


11. Navegador Experiente

 
 

Na maioria das biografias Colombo começa por ser descrito como um navegador experiente, com sólidos conhecimentos matemáticos, geográficos e nauticos, para depois terminar como um louco obstinado, um navegador desorientado que confundia as Antilhas com a India.

Embora soubesse exactamente o que procurava, a rota a seguir e a distância a que ficavam as Indias, estava permanente a mentir aos espanhóis sobre as mesmas, obrigando inclusive outros a fazê-lo

Estamos perante um experimentado navegador que nunca se cansou de dizer que os mares que estava a percorrer já eram conhecidos dos portugueses. A sua missão não era a de descobrir um "Novo Mundo", mas de o dar a Castela.

Os relatos das suas viagens, em particular a compilação do seu Diário feito por Las Casas, apesar de todas as adulterações são claros sobre a sua origem, formação, experiência e conhecimentos.

A ) Duques de Viseu-Beja

A fuga de Colombo para Castela, em 1485, coincide com a conspiração da Casa Ducal de  Beja-Viseu que durante largas décadas promovia os descobrimentos em Portugal.  O Infante D. Henrique foi, por exemplo, o primeiro Duque de Viseu. O Infante D. Fernando, 2º. Duque de Viseu e 1º. Duque de Beja promoveu as expedições para Ocidente, expedições que foram prosseguidas e incrementadas pela sua esposa Dona Beatriz.

Esta casa ducal salientou-se pelo facto de ter esquadras de navios que se dedicavam ao corso-pirataria, nomeadamente no Mediterrâneo.

Na conspiração de 1484,surge também envolvido também o Almirante-Mor de Portugal,  Pedro de Albuquerque. O simples acto de Colombo surgir em Castela associado a esta conspiração, deu-lhe logo um enorme crédito aos seus alegados conhecimentos nauticos. As suas principais referências nauticas estão todas ligadas a nautas dos Duques de Viseu-Beja, um facto transcendente significado.

B ) Família de Almirantes, saber nautico

Colombo, em 1501, escrevendo aos reis de Espanha afirma que  foi em idade "bem tenra" que começou a andar no mar. O seu filho Hernando Colón ouvira-lhe dizer que tinha começado a andar no mar aos 14 anos. Afirma igualmente que não era o primeiro almirante da sua família (15). A hipótese de uma origem portuguesa é a única que permite sustentar esta afirmação.

Em Espanha, os reis católicos não têm dúvidas do seu saber. Numa carta que lhe escrevem, a  5 de Setembro de 1493, pedindo-lhe para definir com urgência a linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas, atestam o seu saber nautico: "porque sabemos que disto sabeis vós más que outro algum". Colombo, contudo, nunca lhes deu a resposta ao pedido que faziam, de modo a deixá-los nas mãos dos negociadores portugueses.

C ) Navegação pelos Astros e a Nova Cartografia

Quando se iniciou as explorações marítimas de forma sistemática, no inicio do século XV, o melhor método para determinar a posição de um navio no mar, era através das distâncias estimadas pelos pilotos e a direcção magnética fornecida pela agulha de marear. As primeiras cartas portuguesas -  os portulanos (7) - , eram construídos com base na informação recolhida desta forma.

Á medida que nas navegações avançavam pelo alto mar, os portulanos e o método de localização foram-se tornando insuficientes, carecendo de uma verdadeira revolução neste domínio. Um problema que se agravou com a descoberta e povoamento dos Açores (1427), mas sobretudo quando o Cabo do Bojador foi ultrapassado (1434). Os navegadores portugueses descobriram que no regresso era melhor levar o navio para o largo, afim de contornar ventos e correntes contrárias, e depois navegar para norte, em direcção aos Açores, e daí para Lisboa, tirando partido da circulação dos ventos.

Estas viagens pelo alto mar exigiram um novo método de localização dos navios baseado na navegação astronómica (8) e uma nova cartografia - os mapas planos (9) .

Deve-se ao Infante D. Henrique o desenvolvimento da navegação pelos astros. Não deixa de significativo que entre 1440 e 1450, lhe sejam conhecidos 5 médicos, os quais, como é sabido, eram simultaneamente astrólogos (22).

Localização do Açores no Oceano Atlântico  

A prova irrefutável destes conhecimentos nauticos foram as viagens regulares que a partir de 1427 os portugueses passaram a fazer aos Açores, situados em pleno Atlântico, entre a América e a Europa. Semelhante façanha só poderia ser possível caso os navegadores soubessem localizar com exactidão onde ficavam estas ilhas algures no imenso oceano.

Colombo no regresso da sua 1ª. viagem, em 1493, revela não apenas saber as ilhas dos Açores, mas também determinar a posição do navio em relação às mesmas e a Portugal. Só este facto explica porque no seu regresso, em vez de se dirigir para as Canárias tomou a rota dos Açores, o que voltou a fazê-lo na sua 2ª. e 4ª. viagem. Na 3ª. não o fez porque veio preso às ordens de Bobadilha.

Onde aprendeu a navegar pelos astros? Alguns historiadores ignorantes dos conhecimentos dos tempo, atribuem-lhe esta descoberta, que na verdade eram fruto de um trabalho de investigação sistemática que se fazia em Portugal desde o tempo do Infante D. Henrique, como alias o próprio reconhece.

1. Método de Observação dos astros.

Durante muito tempo a navegação astronómica era feita pelos portugueses, com base na determinação da latitude da estrela polar, dando origem ao Regimento da Estrela do Norte ou Estrela Polar. A primeira informação concreta da utilização de um quadrante para observar a altura da Estrela Polar, como forma de identificar o local onde se navegava, consta de um relato de Diogo Gomes, numa viagem ao largo das Ilhas de Cabo Verde, entre 1455 e 1460. O método continuou a ser aperfeiçoado. 

Em 1485, os cosmógrafos portugueses já estavam a investigar a determinação de latitudes pela altitude meridiana do sol. Sete anos depois (1492) já utilizavam um método de navegação astronómica por diferenças da altitude, ou por altitudes locais. Duarte Pacheco Pereira deixou-nos um relato impressionante como este trabalho foi realizado de forma sistemática, na década de 80 do século XV, ao longo da costa Africa. Os progressos não pararam.

Colombo acompanhou não só estes progressos na navegação astronómica portuguesa, mas revelou várias vezes, em especial em 1492 e 1498 que seguia o Regimento da Estrela do Norte:

Nas notas que registou de observações efectuadas na Guiné, demonstra de forma inequívoca a utilização já deste método.

No Diário de Bordo, em várias passagens, como nos dias 17 e 30 de Setembro de 1492, revela não apenas a sua utilização, mas a própria terminologia que utiliza é portuguesa.

Na Relação da Terceira Viagem (cfr.Textos, p.376) descreveu com todo o detalhe a aplicação deste método. Todas as suas descrições das suas viagens, as contínuas observações nocturnas, revelam que era o seu método predilecto de orientação.  

Eva Taylor que estudou profundamente a questão, afirma que a versão do Regimento da Estrela do Norte que seguia corresponde à de um texto arcaico de regras da marinharia portuguesa, incluído no Reportório dos Tempos, de Valentim Fernandes 11)..

2. Variação Magnética

Colombo fez anotações, onde aparentemente regista as variações da agulha magnética da bússola, utilizando termos portugueses para referir este fenómeno: "Nordestar" (variar no sentido nordeste), "noroestar" (variar no sentido noroeste), etc.  A descoberta destas variações foi particularmente estudada pelos nautas portugueses, pois era fundamental para a navegação em alto mar.

Na terceira viagem, com base em informações recebidas de Portugal, sugere já a existência da linha ágono que se encontra a 100 léguas dos Açores. Esta linha permitia aos marinheiros portugueses uma orientação precisa num eixo norte-sul.

Se Colombo regista a variação das agulhas, mostra-se todavia incapaz de explicar as observações que realiza. Os três navios no dia 17 de Setembro de 1492, chegaram a um ponto na terra onde se pode ver a "rotação" diurna da Estrela Polar, fenómeno que não é visível nas latitudes do Mediterrâneo. Deste modo, os marinheiros encontram a Estrela Polar inicialmente de um lado do norte, e depois obtém o norte do outro lado orientando-se pela bússola. Começaram por atribuir a causa desta variação a avarias das bussolas, mas Colombo atribuiu a variação ao movimento da própria Estrela do Norte: "La causa fue porque a estrella que haze movimiento" (Diário, 17/9/1492); "También en anocheçiendo las agujas noruestean una cuarta y en amaneçiendo están con la estrella justo, por lo cual pareçe que la estrella haze movimiento como las otras estrellas, y las agujas piden siempre la verdad."(Diário, 30/9/1492).

Também neste domínio os progressos dos portugueses foram impressionantes, atingindo o seu apogeu, em 1515, com a publicação do Tratado sobre a Bússula, do piloto João de Lisboa, onde indica com precisão que a linha ágono passava entre as ilhas de Santa Maria e São Miguel nos Açores, prosseguindo ainda pelos Cabos da Boa Esperança e Frio, nos derradeiros limites da África Austral.  As pesquisas não pararam por aqui (6). 

3. As Léguas e Milhas de Cada Grau

É impressionante o rigor dos cálculos efectuados pelos portugueses das dimensões da terra, o que lhe permitia saberem com precisão a posição de terras e navios nos oceanos.   

Esta questão tem levada muitos a pensarem que Colombo era um ignorante e por isso foi facilmente manipulado por D. João II 

Duarte Pacheco Pereira, um dos negociadores do Tratado de Tordesilhas (1494), calculou que cada grau da Terra correspondia a 18 léguas, errando portanto em 4,5 km. Qualquer cosmógrafo ou navegador português do tempo conhecia estes valores.

Os historiadores ficam confusos quando analisam o valor do grau, da légua e das milha de Colombo. O erro é enorme, quando comparado com o que os portugueses sabiam no tempo. Em relação a Duarte Pacheco Pereira, seu contemporâneo, cometia um erro enormíssimo ao dizer que um grau correspondia apenas a 14 léguas, um erro portanto de 84 quilómetros. O problema é que apesar de usar valores tão disparatados, nunca errou nas distâncias, nem o seu irmão quando em 1493 foi para as Indias com base nos seus cálculos. Se pensarmos que estava a confundir os espanhóis, tudo faz sentido (consultar) .

Ao contrário do que se tem procurado divulgar, Colombo sabia calcular com enorme precisão a posição em que se encontrava. Seis exemplos:

- No regresso da sua 1º. viagem,  15 de Fevereiro de 1493, a Niña estava aparentemente perdida no Oceano Atlântico. As opiniões eram desencontradas sobre algo que surgiu no horizonte: " Alguns decían que era la Isla de Madera; outros que era La Roca de Cintra, em Portugal, junto a Lisboa." (...) "El Almirante, por navegacion, se hallaba estar con las islas  de los Azores, y creía que aquella era una dellas; los pilotos y marineros se hallaban ya con tierra de castilla". Colombo era única que soube calcular a posição no oceano, e identificar a Ilha açoreana.

-  Colombo calculou a 27 de Fevereiro de 1493 (Diário de Bordo) que a Ilha de Santa Maria nos Açores estava a 231 léguas de Lisboa (c. 6 km por légua). Esta distância, como Manuel Rosa provou, era justamente indicada por Valentim Fernandes no seu Livro de Marco Paulo (20), mas também a que o Infante D. Henrique menciona na doação da Ilha Terceira a Jacome de Bruges em 1450 (21). 

- Apesar dos cálculos completamente errados que apresentou em 1493 aos reis espanhóis, o seu irmão Bartolomeu Colon, com base nas informações que lhe prestou, foi directo ao seu destino nas Antilhas. 

- Durante a 2ª. viagem, em 1494, escreve que a 14 de Setembro, estando na "Isla Saona", no cabo Oriental de La Hispaniola (Haiti) observou o eclipse da Lua, calculou que a distância entre o local onde se encontrava e o Cabo de São Vicente em Portugal eram de 5,5 horas (real: c.5 fusos horários) (Livro das Profecias). (Textos, p.454) 

- No regresso da 2º. viagem, nova situação de desorientação a 8 de Junho de 1496. Colombo afirmou que estavam ao largo da costa de Portugal, junto a Odemira, por isso durante a noite fez amainar as velas "por miedo al peligro de tierra". Todos se riram, uns diziam que estavam no canal da Flandres, outros perto de Inglaterra, os menos equivocados diziam que estavam perto da Galicia. Colombo estava mais uma vez certo, e até sabia que Odemira (Vila Nova de Mil Fontes), D. João II tinha um reforçado as guardas contra  pirataria (5 ).

- Na 4ª. Viagem , a 29 de Fevereiro de 1504,estando na Ilha de Jamaica, no porto de S. Gloria (St. Ann's Bay), no meio da Ilha na parte setentrional, houve um eclipse da Lua, devido ao sol ainda não se ter posto, não o pode observar completamente. Calculou que  distância entre a Ilha da Jamaica e a Ilha de Calis (Cadiz), em Espanha, era de 7 horas e 15 minutos . Calculou também, que o referido porto ficava a 18º. N (real: 18º 12` N). (Livro das Profecias) (Textos,455). A cópia do Livro das Profecias que nos chegou revela que foi feita por muitas mãos diferentes.

A verdade é que Colombo sabia que as dimensões da Terra era muito maiores do que as que procurava convencer os espanhóis. Um exemplo:

- Em 1488 esteve em Lisboa para assistir à chegada de Bartolomeu Dias do Cabo da Boa Esperança, num navio que trazia também Duarte Pacheco Pereira. Tomou então nota que Bartolomeu Dias de Lisboa até ao Cabo ( na actual África do Sul), percorrera 3.100 léguas, o que só por si ampliava consideravelmente as dimensões da Terra. O erro neste caso era por excesso, e não por defeito.

3.2. A Explicação do Enigma 

Colombo teria sido intencionalmente enganado por D. João II ? Jaime Cortesão não tem dúvidas em afirmá-lo, apontando um dado importante. Em 1489 Henricus Martellus publica uma mapa com estas mesmas medidas, as quais lhe terão sido fornecidas pelo Bartolomeu Colón . Mais

D. João II neste caso manobrou Colombo para que o mesmo conduzisse os espanhóis par um logro - a falsa India -, dando-lhe medidas muitos reduzidas da Terra, mas também indícios da existência de terra a Ocidente, mapas, etc.  O seu irmão, morador em Lisboa, teria sido igualmente instrumentalizado levando para o estrangeiro estas informações. (12).

Esta teoria não tem, todavia em conta, os conhecimentos que Colombo, por vezes, demonstra nos seus cálculos. A única explicação plausível que é o mesmo estava feito com o rei de Portugal para iludir os espanhóis.

Mapa- mundi de Henricus Martellus (1489). As posições da Ilha do Idolo, Mina e cabo da Boa Esperança correspondem as que Colombo afirma que lhe foram transmitidas em Lisboa por José Vizinho e Bartolomeu Dias, na presença de D. João II. No entanto, a distância entre a Europa e a Ásia é mínima. 

Colombo foi enganado ? Os cosmógrafos portugueses estavam equivocados ? Ou tudo não passou de um embuste para enganar os espanhóis ?   

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A perícia de Colombo serviu-lhe para enganar os espanhóis. O Diário de Bordo da 1ª. viagem é revelador da forma como actuava. Para a tripulação apresentava uma versão dos cálculos, no seu Diário registava outra. Mentia quando lhe convinha mentir, dizia a verdade sempre que isso fosse conveniente. O rigor dos seus cálculos (quando lhe interessava) eram impressionantes.

A tese que Colombo era um ignorante e nada aprendera com os portugueses do seu tempo, é um perfeito disparate como o demonstrou Manuel Rosa. Torna-se num verdadeiro absurdo se tivermos em conta que a sustentou até morrer (1506), isto é, 7 anos depois de Vasco da Gama ter chegado da verdadeira India, e 4 viagens às Indias e inúmeras observações, estudos, etc. 

Tudo seria verdade, se Colombo não estivesse permanentemente a mentir aos espanhóis. O valor do grau que lhes disse durante as negociações foi sempre aquele que repetiu ao longo dos anos, para não ser acusado de estar ao serviço dos reis de Portugal.  

3.3. Léguas e Milhas de Cada Grau de Colombo

Qual o valor que atribuiu a cada légua ou milha?  É dificil de saber, dada a forma sistemática como baralhava os dados aos espanhóis. A única coisa que pode dizer é que uma légua equivalia a 4 milhas. 

Equivalências do Grau, Léguas e Milhas

Colombo Grau equinocial Léguas -Milhas Léguas -Metros

14 Léguas  1/6 (56 milhas e 2/3) (2) (10)

 1 L = 4 milhas (2)

?

Bartolomeu Dias

16   2/3 léguas (4)

.1L = 4 milhas

?

José Vizinho

17  1/2  léguas

.1L = 4 milhas

?

Duarte Pacheco Pereira

18 léguas (106, 560  km) (3)

1 L = 4 milhas

1 L= 5920 metros

Fins do século XV em Portugal

17  1/2  léguas

..1L = 4 milhas

.1 L= 5.555 a 6.600 metros (9)

Regimento de Munich (c.1509) (26)

17  1/2  léguas

.1L = 4 milhas

?

Regimento de Évora (c.1517) (26)

17  1/2  léguas

.1L = 4 milhas

?

Reportório dos Tempos (1ª.ed.1518) (26)

16  1/3 léguas

.1L = 4 milhas

?

Pedro Nunes, Francisco Faleiro

16  1/3 léguas

..1L = 4 milhas

?

Valor corrente em Portugal no século XVI

17  1/5  (25)

..1L = 4 milhas

 1 L = 5.920 m (7)

1 L = 6.195 m (8)

Valor Actual

18,75 Léguas (60 milhas) -111 Km

 1L = 3,2 milhas

 1 L = c.6.000 m

Fontes: 2- Diário de Bordo (1492-1493); 3 -DPP, Esmeraldo Situ Orbis; 4- Luís de Albuquerque, A Arte de Navegar; 7- Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985;(9- Jorge Couto, A Construção do Brasil. Lisboa, Ed. Cosmos, 1998. p.141; 10- Relação da Segunda Viagem; 25 - Mapa dito de Cantino; (26) A.Teixeira da Mota - Bartolomeu Dias e  Valor do Grau Terrestre, Lisboa, 1961.

O valor da légua não era em todas as latitudes o mesmo, dada a esfericidade da Terra. No século XVI, a 18º equivalia a 6.195 metros; 20º. a 5.555,56 metros; 25º. a 4.444,44 metros.

Perplexidades

Os historiadores ficam baralhados quando compararam as distâncias que Colombo que percorreu em léguas, com o valor que supostamente as mesmas teriam. A única conclusão a que se chega é que o valor real de cada légua só pode ser muito diferente do que tem sido dito. 

A única forma de ultrapassarmos este problema, é segundo Manuel Rosa, obtermos o valor aproximado da sua légua, com base na relação entre as léguas que afirma ter percorrido e as distâncias reais. Os valores que têm sido encontrados, enquadram-se dentro dos valores máximos usados pelos navegadores portugueses na época.

Distância Percorrida Léguas apontadas por Colombo  Distância real equivalente em km   Valor da Légua
Canárias ao Haiti (1ª. Viagem) 

850

5.612 Km

 6.602 m

Ilha de Santa Maria (Açores) a Lisboa  (1ª. Viagem)

231

1.430 Km

6.190 m

D ) Conhecimento dos Ventos e Correntes do Atlântico

A navegação à vela pressuponha um conhecimento dos ventos e correntes marítimas, cujo conhecimento Colombo manifesta conhecer em 1492, não apenas sobre o Atlântico Sul, mas também do Norte. 

1. Volta da Guiné ou da Mina

A investigação destas correntes pelos portugueses começou logo no inicio do século XV. Em 1415 foi enviada às Canárias, uma expedição, sob o comando de Fernando de Castro,  a qual quando regressou se deparou com uma forte corrente. O infante D. Henrique tratou logo de estudar a sua origem, tendo promovido diversas expedições, como a de Gil Eanes em 1416. O objectivo era não apenas chegar à Guiné, mas descobrir a rota para regressar, o que implica o conhecimento dos ventos e correntes na região. Os portugueses esperavam encontrar na Guiné grandes riquezas.

O problema, como é sabido, foi primeiro ultrapassar o Cabo Não (Cabo Chaunar, Cabo Nun, Cabo Noun ou Cabo Nant), considerado o limite inultrapassável das navegações europeias e árabes. Em 1417 os navios do Infante D. Henrique já o haviam atingindo um novo mítico limite - o Cabo do Bojador (37º. N) - a partir do qual se estendia o "mar tenebroso". Um enorme número de navios portugueses afundaram-se neste ponto, pois ao navegarem muito perto da costa embatiam contra uma "restinga de pedra que entrava pelo mar adentro (18).

Durante 12 anos (1420-1432), os navios do Infante procuraram descobrir a forma de o ultrapassar  o Cabo do Bojador e voltar em segurança a Portugal. A solução era afinal, como vimos, era os navios à vela ou as galés seguirem uma rota ao largo do referido Cabo, e depois no regresso entrarem pelo alto mar até atingirem ventos e correntes favoráveis no Atlântico, o que os podia levar até à ilha da Madeira ou aos Açores (19). Gil Eanes acabou por ser o rosto desta descoberta colectiva (1434). Foram 12 anos de estudo e de vidas humanas até se encontrar a rota segura entre Portugal e a Guiné. A partir daqui os portugueses aventuram-se cada vez mais pelo alto mar, como forma de vencerem correntes e ventos contrários junto à costa africana.

As descobertas ao longo da costa ocidental de África, foram revelando novas correntes e ventos. Fruto destes conhecimentos acumulados, em 1446, os portugueses chegaram à Guiné. Em 1460 tinham atingido a Serra Leoa (7º, 2/3), no ano em que o Infante D, Henrique faleceu.

Em 1470 João de Santarém e Pedro Escobar chegavam a São Tomé, em pleno Equador e pouco depois à Mina (Elmina, golfo de Benim, Ghana). No regresso para Lisboa, estes navegadores depararam-se com correntes contrárias que os atiravam para Oeste, isto é, para as costas do Brasil.

Aponta-se o ano de 1471, como a data em que o conhecimentos dos ventos e correntes marítimas no Atlântico Sul já estão plenamente consolidados, sendo denominados por Volta da Guiné ou da Mina. Os navegadores vindos do sul passaram a fazer uma volta pelo meio do Oceano e só depois rumavam para Portugal.

A segunda descoberta foi quando começaram a constatar, na mesma época, que navegando de Lisboa para o sul do Atlântico era preferível fazê-lo pelo largo, junto à costa do Brasil e só depois curvar para Oriente. Anos depois, os guias de navegação para a India passaram a recomendar esta rota junto ao Brasil.

Jaime Cortesão, com base numa extensa documentação, demonstrou que os navegadores portugueses do século XV, sabiam que  um navio à vela na zona equatorial e meridional, que a partir de Cabo Verde se arrojasse para sul, conseguindo que fosse atravessar a zona das calmarias, desde que caísse na corrente equatorial e na zona das gerais de S.E., era com toda a probabilidade arrastado para as costa do Brasil (13).

- Vasco da Gama, em 1497, fará também esta volta dirigindo-se primeiro para os ilheus de S. Pedro e S. Paulo no meio do Oceano Atlântico, entre o Brasil e África (29°22' long. O; 0°56' lat. N, a cerca de 1300 km da costa brasileira e 1500 km da costa da Guiné), e só depois dos avistarem rumou então para Oriente para atingir o cabo da Boa Esperança.

Foram três meses em pleno mar alto, sem ver terra, nos quais Vasco da Gama conduziu sem engano a sua armada até à ponta de África. Esta precisão na navegação implicava um prévio conhecimento não apenas dos ventos e correntes de todos o Atlântico Sul, mas também da posição exacta do Cabo da Boa Esperança. 

- Duarte Pacheco Pereira, notável navegador e cosmógrafo, em 1498, fez uma viagem de reconhecimento da costa brasileira, assim como da região onde passava o meridiano do Tratado de Tordesilhas (1494) que dividia os domínios entre Portugal e de Espanha.

"Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza (D. Manuel I) mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados.". in Esmeraldo de Situ Orbis" (1505-1508).

Este cosmógrafo foi um dos que negociou e assinou este Tratado em nome do rei de Portugal. Na sua obra Esmeraldo revela que conhecia perfeitamente as correntes e os ventos do Atlântico Sul, em particular a volta que os navios faziam junto ao Brasil. Refere, no capítulo 3º do Livro III, que esta travessia pelo largo, era conhecida dos portugueses no tempo de D. João II (faleceu em 1495). Indica no capitulo 2º, do mesmo livro que as primeiras viagens pelo largo terão ocorrido no tempo do Infante D. Henrique (faleceu em 1460), quando os portugueses atingiram a Serra Leoa.     

- Colombo, em 1498, depois de ter ido à Ilha da Madeira, dirigiu-se para as Canárias e a seguir para Cabo Verde, rumou para sul, até se encontrar no paralelo da Serra Leoa, entrou na zona das calmarias, dirigiu-se então para poente e foi parar à Ilha da Trinidad, junto à Venezuela, que pertenciam aos domínios espanhóis, acordados no Tratado de Tordesilhas. Conforme o próprio afirma, seguiu uma rota que lhe havia sido dita por D. João II, o qual lhe garantiu que existia a sul um continente (Textos, 370 e segs.) 

Recorde-se que esta viagem só foi possível, porque D.Manuel I a autorizou. Colombo navegou na Madeira e em Cabo Verde nos domínios portugueses, tendo em ambos recebido apoio dos representantes deste rei que lhe forneceu igualmente a informação para esta viagem. D.Manuel I foi neste ano jurado, em Toledo, herdeiro do trono de Espanha.  

B

Carta dos ventos e correntes marítimas do Atlântico. O seu conhecimento pelos portugueses por volta de 1471 permitiu-lhes descobrirem o Brasil e as Antilhas (Caraíbas) muito antes de 1492.

A - No Verão ; B- No Inverno. 

As setas a preto indicam a direcção dos ventos. As vermelhas as correntes. Fonte: Damião de Peres.

2. Volta dos Sargaços 

O conhecimento das correntes e ventos do Atlântico Norte terão sido obtido pelos portugueses ainda na primeira metade do século XV, quando começaram a navegar de forma regular para a Madeira, Canárias e os Açores. 

Em 1436 já informam Andréa Bianco da existência do mar de Sargaço, ou mar da Baga, o qual o incluiu no seu mapa. O nome é significativamente português. Este mar estava no centro de um conjunto de correntes e ventos que formam uma movimento circular, como é bem patente nas gravuras acima publicadas.

Os navios que partiam de Portugal e se dirigiam para sul apanhavam as correntes norte africanas que os atiravam para as caraíbas, sob o impulso das correntes equatoriais. Uma vez nas Caraíbas, a melhor forma de regressar a Portugal era apanhar as correntes do golfo que os atiravam para norte na direcção dos Açores onde apanhavam outras correntes vindas do norte que os conduziam para Portugal.   

Colombo utilizou precisamente estas correntes e ventos para chegar e regressar das Indias (1492/1493) e em 1498 para atingir a Terra Firme (continente americano).

Daí a sua preocupação em reunir toda a informação possível nomeadamente sobre a Guiné, onde afirma que foi muitas vezes ao serviço dos reis de Portugal.

E ) Tecnologia Naval

Os avanços realizados pelos portugueses no estudo dos ventos, correntes marítimas e navegação pelos astros foi acompanhado por um extraordinário desenvolvimento da tecnologia nautica. A navegação através de galés, muito apropriada no Mar Mediterrâneo revelou-se insuficiente no Oceano Atlântico e em particular no alto mar. Mais 

Houve necessidade de criar um navio capaz de aproveitar ao máximo os ventos, capaz de efectuar longas e demoradas viagens em alto mar, mas também junto à costa e explorar as embocaduras dos rios. Os portugueses, após logos anos de pesquisa, por volta de 1440, tinham criada a caravela latina.

A caravela latina era um navio com cerca de 25 metros de comprimento, 7 de largura e 3 de calado. Podia ter 1, 2 ou 3 mastros, com um convés único e uma popa elevada. A tripulação era mínima, cerca de 20 pessoas, para as capacidades do navio.  A vela (triângular) permitia-lhe navegar com escassos ventos e à bolina ( em zizague contra o sentido dominante dos vento), entrando em zonas de águas pouco profundas. Á medida que as explorações marítimas avançaram tornou-se necessário criar navios com maior capacidade de armazenamento, melhorassem o aproveitamento dos ventos e fossem adaptados a situações guerra naval.

A caravela redonda, surgiu em finais do século XV, foi outra criação portuguesa. Tinha 4 mastros, 2 com velas redondas nos da proa e velas latinas no restantes. As velas eram em formato trapezoidal, adquirindo a forma "redonda" quando enfomadas pelos ventos. Aproveitavam os ventos largos, atingindo grandes velocidades. Foi o primeiro navio criado para a guerra no alto mar, sendo muito usado na defesa da costa, do estreito de Gibraltar, das ilhas da Madeira e dos Açores. Era também muito usada como cargueiro em viagens de grandes distâncias. A capacidade destas caravelas mais do que triplicou no século XVI, atingido os 180 tonéis.

As travessias oceânicas levaram os portugueses a desenvolverem mais dois navios de maiores dimensões, as naus e os galeões. As naus era usadas, como cargueiros em viagens muito longas, nomeadamente nas travessias oceânicas. Os galeões, surgiu no tempo de D.Manuel I, era um navio de guerra, que só esporadicamente era usado no transporte de mercadorias.

Colombo manifestou sempre uma enorme predilecção pelas caravelas portuguesas. Nas cartas que escreveu lamentou-se frequentemente da má qualidade dos navios feitos em Espanha, o que lhe provocou constantes problemas nas viagens que realizou.

Na primeira viagem levou duas caravelas - a Pinta e Niña - , mudando nas Canárias as velas de latinas para redondas. O terceiro navio era uma nau que afundou nas Antilhas.

Na segunda viagem (1493-1496) dos 17 navios que partiram, passados alguns meses a maioria já tinha regressado a Espanha. Os que Colombo usou nas suas explorações eram caravelas.  Foi também com caravelas que fez as suas explorações na terceira e quarta viagem, a última.

F ) Caminhos e Práticas Conhecidas

Uma das melhores fontes de informação para saber das viagens que os portugueses fizeram antes de 1492 à América são justamente os documentos de Cristovão Colombo. Não apenas descreve viagens feitas antes de 1492 à América, como regista indícios e vestígios em solo americano que o confirmam. 

1. O Segredo de Frei João Peres de Marchena (português) 

Vários biógrafos de Colombo afirmam que em Julho de 1491, este frade contou a Isabel,a Católica um segredo que a fez mudar de opinião em relação à realização da 1ª. viagem à América. As suas hesitações desapareceram nesse dia. Qual foi o segredo ? Colombo ter-lhe-ia revelado que já teria ido à América com os portugueses ou estes lhe haviam contado que já lá tinham estado. Recorde-se que Colombo esteve em Lisboa em 1488, em conversações com Bartolomeu Dias e outros navegadores. O que terá então sabido ? Que no regresso estes navegadores ou outros terão passado pelo Brasil ? A ideia que os navegadores portugueses já tinham estado em ilhas a Ocidente estava muito difundida na época, e foi mesmo usada no século XVI por alguns espanhóis para afirmarem que Colombo não foi o primeiro a chegar à América. Por esta razão, diziam que ele mentira porque sabia que não estava na Índia, mas numas índias (ilhas) no Atlântico (Antilhas, Caraíbas).

2. A Minuta das Capitulações de Santa Fé

No dia 17 de Abril de 1492, Frei João Peres de Marchena (português e representante de Colombo) e Juan de Coloma (jurista, representante dos reis católicos), elaboram uma proposta de acordo jurídico quanto aos privilégios que lhe seriam dados.  Nessa minuta não se fala na Índia, mas nas Índias. O mais interessante da minuta é que nela Colombo afirma que já descobrira as Índias, e a nova viagem que iria fazer era para oficializar a descoberta, dando satisfação aos reis: "las cosas suplicadas é que vuestras Altezas dan y otorgan a D. Cristóbal  Colon, en alguna satisfacion de lo que ha descubierto en las mares Oceanas, y del viaje que agora, com el ayuda de Dios, ha de hacer por ellas en servicio de vuestras Altezas". Repetimos: a descoberta já fora feita, a viagem que ía ser feita era para dar as Indias aos reis católicos. ( 1 )

Na Acta Jurídica, elaborada no dia 30 de Abril de 1492, desapareceu esta afirmação que as Indias já haviam sido descobertas, pois a mesma seria o reconhecimento jurídico que as mesmas já haviam sido descobertas por Portugal.

Recorde-se que todo este processo de negociações entre a Corte Espanhola e Colombo, era dirigido um português: D. Alvaro de Portugal, Governador da Justiça e depois presidente del Consejo Real de Castilla. 

3.Rota para Ir

 Antes de iniciar a sua 1ª. Viagem, em 1492, num momento de particular hesitação da tripulação, um piloto português - Pedro Vasquez  - intervém para dar o seu testemunho. Em 1452 andara ao serviço do Infante D. Henrique, numa expedição comandada por Diogo de Teive, escudeiro do dito Infante, tendo avistado terra firma a Ocidente dos Açores. Nesta sua intervenção apontou a rota que deviam seguir para atingir as Antilhas, o que iriam encontrar (mar dos Sargaços) ,etc.

Tendo como referência a posição geográfica dos Açores e das Canárias, qualquer navegador sabia determinar a zona Oceano onde ficava o mar dos Sargaços. Depois era só avançar para Oeste, quer os marinheiros da Ilha da Madeira, quer os dos Açores, garantiam que havia terra a Ocidente. Foi esta a rota seguida por Colombo.

Diário de Bordo - 14/9/1492:Colombo recorda as palavras do português que lhe havia dito antes de partir: quando encontrasse sargaços estava perto da Índia. Ao vê-los não tinha dúvidas que já estava perto. Toda a tripulação que fora avisada pelo português, assim também o pensava. A agitação a bordo era enorme. Olhando para o mar começaram a ver ervas, troncos, caranguejos mortos, etc.

4. Gomeira nas Canárias

Colombo na sua primeira viagem (3/08/14921492- 15/3/1493), depois de sair de Palos, dirigiu-se para o arquipélago das Canárias, mas mais especificamente para a Ilha de Gomera (Gomeira). O episódio tem sido pouco estudado (2 ), pois o mesmo releva a sua enorme ligação a Portugal. 

No trajecto entre Palos e as Canárias desengonçou-se o leme da "Pinta", comandada pelo espanhol Martin Alonzo Pizon. No dia 11 Agosto estando em frente à Ilha da Grã Canária (Gran Canaria), onde se situava a capital das Canárias (Real de Las Palmas), resolveu separar-se de Pizon, enviando-o à ilha para consertar o leme.

A sua atitude é aparentemente incompreensível, dado que seria na capital que poderia obter maior apoio para a sua expedição oficial. A verdade é que Colombo evita a todo o custo dialogar com as autoridades espanholas. Incomodava-o visitar Real Las Palmas, por isso resolveu separar-se de Pizon e dirigir-se para as duas ilhas mais afastadas do arquipélago: Tenerife e Gomera (Gomeira).

A escolha destas ilhas, como veremos,  revela a sua clara intenção de navegar apenas em rotas já conhecidas e controladas por portugueses. Real das Las Palmas, evoca-lhe tristes recordações, por isso resiste em aportar a esta ilha. Mais

5.Aves.

Diário de Bordo -  7/10/1492: Colombo observa o percurso da aves e a partir do mesmo traça o caminho para as ilhas que procuravam. Recorda que fora assim que as ilhas dos Açores haviam sido descobertas. Foi o que fez ! "...sabia o Almirante (Colombo) que a maioria das ilhas que tem os portugueses descobriram-nas pelas aves". "Por isto o Almirante acordou em deixar o caminho do Oeste e pôr a proa (da caravela) em direcção Oeste-Sudeste". Foi desta maneira que descobriu as "Índias", a América  (Diário, Colombo).

A observação das aves para descoberta de ilhas, está amplamente documentada no Diário de Colombo, compilado por Fray Bartolomé de las Casas ( o original desapareceu).  

6. Utilização de Mapas e Roteiros Emprestados

Algumas das suas "descobertas" revela claramente que estava a guiar-se por mapas e roteiros que lhe haviam dado.  

No Diário de Bordo, a  25/9/1492, Pinzon encosta à nau de Colombo para discutirem os mapas que este lhe havia emprestado, onde figuravam ilhas naquelas parte do mar. (Las Casas)

7. Distâncias Precisas

Nos dias 9 de Outubro de 1492, a tripulação recusa-se a prosseguir viagem, pois está descrente da existência de terras a Ocidente. Colombo afirma faltavam apenas de três dias para as encontrar, o que se confirmou. Simples coincidência?

O mesmo irá acontecer, em 1498, quando descobrir "Terra Firme", o continente americano.

Embora a Ilha da Trindade, a 31 de Julho de 1498, ainda não tivesse sido "descoberta", Colombo não deixou de registar que ficou espantado por levar mais tempo do que o previsto para a encontrar. "yo  al cabo de diez y siete dias, los cuales nuestro Señor me dió de prospero viento, martes 31 de Julio, a medio dia, nos mostró tierra, e yo la esperava el lunes antes", como escreve na carta sobre a 3ª. viagem.  O Roteiro que estava a utilizar tinha uma distância mais curta. 

8. O Segredo da Rota de Regresso

Após ter descoberto as Indias, Colombo não regressa pela rota já conhecida, mas dirige-se para os Açores, numa rota aparentemente desconhecida. 

Na verdade Colombo sabia exactamente a rota que devia seguir, embora não a quisesse revelar. Os cálculos que afirma ter feito estão completamente errados, e são mais uma vez incompreensíveis.

 No dia 30/10/1492, em Cuba, afirmou que estava a “quarenta e dois graus norte da linha equinoxial”. No dia 2/11/1492, volta a escrever :“Nesse local [não muito longe do anterior], nessa noite, o almirante fez o ponto com o auxílio de um quadrante e achou que estava a quarenta e dois graus da linha equinoxial”. 

Trata-se de uma informação falsa, destinada a demonstrar aos reis católicos que estava muito acima do paralelo definido no Tratado de Alcaçovas-Toledo (27º na realidade) (12).

Apesar de afirmar que se encontrava a 42º N, e estar portanto numa latitude superior à das Canárias (Grã Canária, 27º 56`N), Cádiz (36.32N), Palos (37° 14' N) ou mesmo de Lisboa (38º 43`N), no regresso a Espanha avançou ainda mais para norte. Um aparente absurdo.

De forma intencional procurou atingir os Açores, aportando à Ilha de Santa Maria (37º 43' N). No dia 20/2/1493, dirigiu-se sem êxito para a Ilha de S. Miguel (37º 44' N), avançando ainda mais para norte. A latitude destes lugares, era bem conhecida no tempo. Colombo não estava equivocado, sabia exactamente o que estava a fazer.

Esta decisão de se dirigir para norte a partir das Caraíbas demonstra que conhecia perfeitamente as correntes de todo o Atlântico. Ao longo do percurso de regresso mostrou sempre que sabia a posição e as distâncias a que se encontrava. Perto dos Açores os pilotos sentiram-se perdidos, mas Colombo indicou com precisão a ilha açoriana de que estavam próximos. Nada do que fazia tinha qualquer novidade. O seu Diário de Bordo é muito elucidativo a este respeito.  

Colombo na 1ª. e 2ª. viagem seguiu sempre a mesma rota. Começou por ir às Canárias, mas no regresso das "Índias" (Antilhas) dirigiu-se para os Açores. Na primeira viagem dirigiu-se directamente para Lisboa. Na segunda dirigiu-se para Odemira (Vila Nova de Mil Fontes). Em qualquer das viagens o ponto de chegada a Portugal foi intencional, fazendo questão de se demorar vários dias. Em Lisboa, 8 dias e em Odemira, 2 ou 3.

Na 3ª. viagem não foi às Canárias, tendo-se depois dirigido para a Madeira e Cabo Verde, a seguir foi explorar o tal "continente" que D. João II lhe falara. O regresso das Antilhas, com os seus irmãos foi outro, porque estava preso pelos espanhóis (Outubro de 1500)

Na 4ª. viagem dirigiu-se primeiro para Arzila para defender os portugueses, e no regresso voltou de novo pelos Açores, mas de forma muito discreta.

Rota seguida por Colombo na 1ª, 2ª. e na 4ª.Viagem às Índias. A sua escolha teve sempre em conta as correntes e ventos marítimos do Oceano Atlântico conhecidas desde a primeira metade do século XV pelos portugueses.

9. Existência de um Novo Continente

Colombo, como vimos, fez questão de assinalar várias vezes que os portugueses já conheciam a existência de um vasto continente no outro lado do mar (consultar). Evocou o testemunho o próprio rei D. João II. Os reis espanhóis, em 1493, escrevem-lhe a comunicar idêntica convicção. Duarte Pacheco Pereira, um dos negociadores portugueses do Tratado de Tordesilhas, em 1498 fez uma viagem ao outro lado do Atlântico identificando aquilo que viu como um novo continente (14). 

Actuando ao serviço de D. João II, Colombo em 1493 propôs aos reis espanhóis, uma linha que dividia o mundo, contemplando uma parte da América do Sul para Portugal.

Processos judiciais

No século XVI a familia de Colombo vê-se envolvida em diversos processos judiciais, onde várias testemunhas que com ele viajaram afirmam que o mesmo era português e que já conhecia a terras que descobrira: "Pleyto con la Corona" (1512/1515), "Pleyto de la Prioridad" (1532), no qual os filhos do Capitão Pinzón não tem dúvidas em afirmar a sua nacionalidade portuguesa e o seu conhecimento de terras a Ocidente e que as mesmas não eram a Índia.  

Carlos Fontes

  Notas:

( 1 ) Salvador de Mariaga , Vida del .... Os comentários deste autor são pertinentes, mas o mesmo revela uma enorme perplexidade em encontrar uma explicação racional para facto.

( 2 ) Santiago, Miguel - Colon en Canarias, In, Anuario de Estudios Atlanticos, nº.1. Ano 1955. Patronato de la "Casa de Colon". Madrid - Las Palmas.

( 3 ) Beatriz de Bobadilla, nasceu em Medina del Campo. Era filha de Juan de Bobadilla (caçador-mor da reis de Castela) e de Leonor Alvarez de Vadillo. Era sobrinha de Beatriz de Bobadilha, a célebre marquesa de Moya. Muito jovem andou amantizada com Fernando, o Católico. Em 1481-1482, por imposição de Isabel,a Católica, foi obrigada a casar-se com Hernán Pereza (~1460-1488), senhor da Ilha de Gomera. Com o seu marido destacou-se pela forma barbara como oprimia e escravizava a população guanche. Ficou viuva em 1488. Voltou a casar-se em 1498, com Alonso Ferandez de Lugo, adelantado das Canárias, que se salientou também por exterminar os guanches e os vender como escravos.

Tudo leva a crer que Colombo conheceu Beatriz Bobadilla antes de finais de 1484, quando fugiu de Portugal. 

Recorde-se que Beatriz Fernández de Bobadilla, esposa de Andrés Cabrera, Marquesa de Moya, terá tido um caso amoroso com D. Alvaro de Bragança, nobre português que se exilou em Castela em 1484, como veremos.

( 4 ) É enorme a influência portuguesa nas ilhas de Tenerife e Gomeira. Muitas localidades foram fundadas e colonizadas por portugueses. Na  evangelização tiveram um papel destacado. Em 1456, por exemplo,  o papa Calixto III louva a evangelização do franciscano português Estevão de Loulé nestas ilhas.    

(5 ) Hernando Colon, Historia del Almirante, cap. LXIV.

(6) Francisco Faleiro, no seu Roteiro transmitiu a ideia a Fernão de Magalhães. A Ideia foi contudo demonstrada como falsa, por D. João de Castro (1538), quando descobriu o magnetismo terrestre no Cabo das Agulhas. 

(7) Portulanos. Guias nauticos que descreviam detalhadamente o litoral e os acidentes geográficos, registando a toponímica. Difundiram-se a partir de finais do século XIII/ princípios do XIV.

(8) A navegação astronómica foi um processo gradual. Não restam hoje dúvidas que desde finais do século XIV, os portugueses, sabiam como o fazer de forma muito rudimentar e aplicaram-no nas suas explorações marítimas. Os grandes avanços deram-se todavia no século XV, podendo ser assinaladas duas fases:

a) Numa primeira fase , as alturas da estrela polar eram usadas apenas estimar os deslocamentos norte-sul, relativamente a uma posição de referência;

b) Na segunda fase, durante a 2ª. metade do século XV, introduziram-se as tabelas de efemérides e fez-se uma simplificação do quadrante e do astrolábio. Com estes meios tornou-se possível determinar a latitude no mar com grande rigor;

(9) Mapas planos. Nestas cartas os meridianos e paralelos são aproximadamente retilineos, equiditantes e perpendiculares entre si. Em sintese, estes mapas são construídos com base numa estrutura geométrica previamente definida. Ao ignorarem a curvatura da terra, provocam grandes distorções nas distâncias, nomeadamente junto ao Equador. Um exemplo típico de um "mapa plano", contruído com base em observações astronómicas, é o planisfério dito de Cantino (1502)

(11) Taylor, E.G.R. - The Navigating Manual of Columbus, in Bolletino Civico Instituto Italiano, Anno I, Num. I, 1953, p.32-43. A este 

respeito consultar também Luis de Albuquerque,  Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses. Mem Martins. Publicações Europa-America. s/d. 3ª. edição 

(12)  Cuba (Havana), recorde-se, situa-se a 23º 08' N, o que claramente ficava dentro dos domínios de Portugal.

(13 ) Cortesão, Jaime - A Colonização do Brasil, p. 27 e segs.

(14 ) Colombo, em 1498, afirma que encontrou um Continente, mas dois anos depois diz foram apenas ilhas.

(15) O cargo de Almirante Mor em Portugal, foi criado por D. Diniz, em 1317, sendo atribuído a título hereditário ao genovês Manuel Pessanha.

No século XV, encontramos as seguintes famílias cujos membros foram almirantes mor de Portugal:

- Pessanhas. Manuel Pessanha (Paçanha, Peçanha, Pezagno), 1º. Almirante Mor, desde o seu inicio que se integrou na sociedade portuguesa, perdendo rapidamente a sua ligação a Génova. O seu filho - Lançarote Pessanha (1320-1384, 3º. Almirante), foi demitido por D. Fernando I, devido à forma incompetente e cobarde como atuou no cerco de Lisboa feito por Henrique II de Castela (1373). A população de Beja assassinou-o, em 1384, quando tomou o partido de Castela contra os portugueses, liderados por D. Nuno Alvares Pereira.

O título de almirante acabou por ser herdado por membros de outras familias, normalmente através de casamentos com descendentes dos ditos peçanhas:

- Meneses

João Afonso Teles de Meneses (1310-1381), 4º. Conde de Barcelos e 1º. Conde de Ourém, tornou-se o 4º. Almirante mor; Pedro de Meneses (c.1370-1437), devido ao seu casamento com Genebra Pessanha, foi o 7º. Almirante Mor.

- Melos

Rui de Melo, casado com a segunda filha de Carlos Paçanha, em 1453, foi nomeado almirante mor. Era cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique, fronteiro mor do Algarve, etc..

- Castelo Branco

Nuno Vaz de Castello Branco, por ser filho de Catarina Paçanha, neta do almirante Carlos Paçanha,  em 1467, foi nomeado almirante mor.

- Albuquerques

Pedro de Albuquerque, sem nenhuma ligação directa aos Pessanhas, em 1484, foi nomeado almirante mor.

- Azevedos.

Lopo Vaz de Azevedo (1430-1501), filho de Izabel Vaz Peçanha, irmã do almirante mor Nuno Vaz de Castelo Branco, tornou-se o 11º. Almirante Mor (29/3/1485), dando origem a uma longa linhagem de almirantes na familia azevedo. Era cavaleiro da Ordem de Aviz.

A que família de almirante se dizia descendente Cristovão Colombo? Todas estas familias podiam afirmar, ainda que remotamente, serem originarias de Génova e de almirantes genoveses.

cfr. Vasconcelos de Saldanha, António - O Almirante de Portugal: Estatuto Quatrocentista e Quinhentista de um cargo medieval. Coimbra. 1988

(16) Casaca, J. - A Légua Náutica Portuguesa do Séc. XV ao Séc. XVII. Memória Nº 5, da Sociedade de Geografia de Lisboa.2005.;  idem, O Palmo Craveiro e as antigas unidades de comprimento. Edição LNEC. Lisboa. 2006

(17) 

(18) Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo, cap. 22

(19) Relação de Diogo Gomes. Documentos sobre a Expansão Portuguesa, Edições Gleba, vol. I, p.24

(20) O Livro de Marco Paulo conforme a impressão de Valentim Fernandez, feita em Lisboa 1502, Publicações da Biblioteca Nacional, Lisboa 1922 

(21) História Insulana de Padre António Cordeiro, 1716, Liv. VI, Cap. II, pg. 9 

(22) Cortesão, Jaime - Expansão dos Portugueses no Período Henriquino. Obras completas. Portugalia Editora. Lisboa. p. 55 e segs

 

Continuação:

12. As Indias de Colombo

13. Ameaça Permanente  14. Espionagem 15. Missão Espanhola 

16. Nobre em Fuga  17. Lugares em Espanha 18. Descobridores e Conquistadores 

19. Castelhanos 

20. Portugueses em Espanha.  21. Apoio de Judeus

22. Negociante Oportuno de Miragens

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28.Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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As Provas do Colombo Português

As Provas de Colombo Italiano

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  Carlos Fontes
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