Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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As Provas do Colombo Português 

 

 

21. Apoio dos Judeus

 

Em Espanha Colombo foi apoiado por judeus e cristãos novos. A razão deste apoio continua a ser motivo de intensa polémica. Seria um judeu ? Um cristão novo ?

 

O facto nada tinha de extraordinário no contexto peninsular, nomeadamente para um português. O maior matemático português de todos os tempos - Pedro Nunes (1502 -1578), embora tenha vivido na corte, exercido o cargo de cosmógrafo-mor, publicado diversos livros de enorme projecção internacional, conseguiu ocultar completamente o seu passado. Nada sabemos sobre a sua família, ao não ser que nasceu em Alcácer do Sal. Só muitos anos depois de ter falecido, é que se soube que era cristão-novo, segundo declarações do seu neto num interrogatório na Inquisição.  

 

A resposta a esta questão poderia explicar muito do comportamento de Colombo, mas também da sua família (6).  

 

a) Factos Intrigantes

 

Numa época em que os judeus eram perseguidos pela Inquisição em Espanha, e os cristãos novos eram olhados como falsos cristãos, todo o cuidado era pouco para ambos.

Uma simples denúncia à Inquisição espanhola, por exemplo, podia significar ser-se espoliado dos bens ou até a morte.

 

Existem vários aspectos intrigantes na sua vida, para os quais ainda não se encontrou uma resposta consensual:

 

Ocultação da Identidade.

 Colombo e a sua família ocultaram de forma sistemática a sua origem. Terá sugerido que era de origem italiana, por exemplo, mas a verdade é que não tinha qualquer relação com a Itália. 

 

Cultura judaica.

Os seus escritos reflectem um conhecimento muito próximo da cultura judaica, em particular dos textos do Antigo Testamento. Onde a a terá adquirido ? Em Génova, a cidade mais anti-semita de Itália ? Em Espanha onde os judeus desde finais do século XIV eram brutalmente perseguidos? Em Portugal, onde no reinado de D. João II, uma boa parte da população era de origem judaica?. 

 

Colombo, como demonstrou Juan Gil (15), assumia-se como um predestinado, alguém a quem fora confiada a missão de cumprir a profecia de Isaias (versículo 65,17 ss), descobrir a "Nova Terra e o Novo Céu" que havia sido prometida aos eleitos no fim dos tempos. Cabia-lhe também a suprema obra de contribuir para "conquistar Jerusalém" e reconstruir de novo o Templo (casa) de Salomão, uma ideia herética para os cristãos. Não se cansou de dizer que o ouro que descobrira em La Hispaniola, que identificava com a Tarsis e Ofir de Salomão, deviam ser empregues nesta missão divina.

 

A sua missão divina, por estranho que possa parecer, seria inclusive esperada pela vasta comunidade de judeus e cristão-novos de Portugal e Espanha:

 

- O Libro del Alboraique, tratado anti-judaico da segunda metade do século XV, afirma que "ellos (os judeus) dizem que (o Messias) virá a Sevilha o a Lisboa" (18).

 

- A Inquisição espanhola, por volta de 1491/1492, é informada que Fernando de Madrid, já morto, acreditava "que havia de aparecer o anticristo (o Messias) na cidade de Palos que é de Sevilha" (15).

 

As cidades onde se movimenta Colombo - Lisboa e Sevilha - estão deste modo já inscritas num plano divino, muito ao gosto das comunidades de origem judaica.

 

O caso é ainda mais intrigante, quando sabemos que Isaac Abravanel , o português que financiou a parte de Colombo na primeira viagem, anuncia para 1503 a vinda do Messias (16).

 

Colombo, como vimos, em 1502, parte para a sua última viagem à América, onde descobre finalmente o Paraíso Terreal.

Está então envolvido na elaboração do Livro das Profecias, passa a usar também a sua enigmática assinatura  - Christo ferens, isto é, aquele que leva até Cristo, o Messias.

 

Os seus textos neste período, são um completo delírio religioso, passando a falar com um verdadeiro profeta. Em Portugal, o rei D. Manuel I, assume-se também como o Rei David. Mais

 

 

 

Partida para as Indias. 

Não deixa de ser estranho que o dia escolhido para a partida na 1ª. viagem (3 de Agosto de 1492), praticamente coincidisse com o dia fixado para a expulsão dos judeus em Espanha. Afirma-se que terá ordenado aos seus capitães e marinheiros para estarem nos navios até à meia noite do dia 2 de Agosto de 1492. Um dia que certamente não foi escolhido ao acaso. 

 

Apesar deste facto, como veremos, apenas um único judeu terá participado na primeira viagem. Nas restantes nenhum outro foi até agora referenciado.

 

Beth Bei.

Nas suas cartas mais intimas, as que dirigiu ao seu filho português - Diego (Diogo ) Colon - , fazia um estranho sinal no canto superior esquerdo, com duas letras em hebreu -Beth Bei.

Um sinal que na tradição marrana quer dizer "Não Esqueças as Tuas Origens". Uma saudação que o pai (Colombo) diz para o seu filho português. Que origens se tratam ? Portuguesas ? Portuguesas-Hebraicas ? (cartas: 21/11/1504 a 25/2/1505)

 

Cruz Verde

Colombo em 1492 levou consigo bandeiras com uma Cruz Verde, as quais fez questão de ostentar quando chegou à América. Mais

 

A cruz verde era no século XV o símbolo da dinastia reinante em Portugal, no entanto, em meados do século XVI tornou-se em Espanha símbolo de Cristãos-Novos (Conversos) ou mesmo de judeus. 

 

Testamento

Conhecedores das ligações de Colombo aos judeus em Portugal, os falsários italianos acrescentaram ao seu  Testamento de 1506 um Apendice onde explicitamente evocam este facto. Segundo este documento, antes de 1484, terá contraído uma dívida " a un judío que morava a la puerta de la judearía en Lisboa".  

 

O objectivo foi neste caso, parece ter sido o de lançar suspeitas de judaísmo e mostrar que em Portugal, apesar das proibições de 1496, continuava a predominar o judaísmo. Uma ideia muito difundida em toda a Europa, e nomeadamente nas Indias espanholas até ao século XVIII. Português era para a maioria dos europeus sinónimo de judeu.

 

Casa em Sevilha

 Durante a recepção que os reis de Espanha lhe fizeram, em Barcelona, Colombo pediu uma casa para a sua cunhada em Sevilha. A casa que lhe foi dada pouco depois (30/5/1493), pertencera ao judeu Bartolomé de Sevilha. 

 

Genovês sinónimo de Judeu

 

Os factos anteriores levaram muitos autores a afirmarem que Colombo era judeu, como foi o caso de Frei António de Aspa.

 

- Hernando de Talavera, prior do Mosteiro do Prado. Numa carta que escreveu a Isabel de Castela, pouco antes de 1492 afirma que Colombo era judeu. A viagem seria para encontrar alguma das 12 tribos desaparecidas (10). 

 

- Fray Juan de Trasierra. Numa carta que enviou, em Outubro de 1500,  ao Cardeal Cisneros afirma que Colombo e os da sua "nação" andavam a roubar nas indias. O frade toma-o por genovês, mas deixa entender que genovês queria então dizer judeu. (11)

 

- Fray António de Aspa. Poucos anos depois de Colombo ter falecido (1506), difundiu-se a ideia que o mesmo era judeu. Uma ideia defendida por Antonio de Aspa, frade jerónimo do Monasterio de la Mejorada, na sua «Relación de los dos primeros viajes de Cristobal Colón, sacada de las cartas y decadas de Pedro Martir de Anglería y copia de la carta que escribió al Ayuntamiento de Sevilla el doctor Thanca, sevillano enviado por el Rey Católico en el segundo viaje, en la cual se refiere lo que le sucedió y vió en el descubrimiento». 

11.1. História dos 40 genoveses.

Nesta obra, baseado numa notícia tomada de Fernández Duro(Nebulosa, p. 174), começa por afirmar que Colombo era genovês. Copia também uma frase deste autor noutra obra (Historia Póstuma, pág. 70), onde estaria escrito o seguinte: «se dice que llevo cuarenta hombres ginoveses, de su nación». Colombo teria levado 40 homens genoveses da sua nação. Acontece que em nenhuma das 4 viagens que realizou levou tantos genoveses. 

 

Frei António de Aspa que difundiu a tese de Colombo judeu, esclarece que havia mais "ginoveses" a bordo que os declarados. Esclarece também que naquele tempo, a palavra "genovês" significava em Espanha - "judeu". .

 

Frei António de Aspa vê genoveses (judeus), em tudo o que se relaciona com Colombo. Foram eles que financiaram parte da primeira viagem, com 500 mil maravides. Este dinheiro foi dado por três mercadores genoveses (judeus) de três cidades diferentes, um dos quais residia na Madeira. 

 

Genovês é desta forma sinónimo de judeu e mercador. Não deixa de ser curioso constatar que Gil Vicente, também fez a mesma associação quando usou a palavra genovês como sinónimo de mercador (8).

 

A verdade é que o nome de genovês, em Espanha no século XV, era também sinónimo de italiano, mas também de estrangeiro.

 

b) Apoios e Contactos em Espanha

Vários historiadores tem posto em evidência o apoio que alguns judeus prestaram a Colombo. Em muitos momentos da sua acção em Espanha revelam uma enorme cumplicidade com esta comunidade. 

 

1. Financiamento. Um judeu (português) e um cristão novo (aragonês) surgem envolvidos no financiamento da primeira viagem à América. 

 

Isaac Abrabanel. Português judeu, ligado aos Duques de Bragança, que fugiu para Castela em 1483. Recorde-se que o seu tio-avô - Juda Abrabanel - fora tesoureiro do Infante D. Fernando, grão-mestre da Ordem de Avis. 

 

Em 1487, após a primeira recusa da rainha de Espanha em permitir a viagem de Colombo, formou-se à volta de Diogo de Deza (D`Eça), um grupo para apoiar a ideia, entre os quais se destacava Isaac Abrabanel. Este manifestou-se desde logo disposto a financiá-la. Os historiadores tende a ignorar este facto.. 

 

Muito recentemente foram descobertos dois importantes documentos que demonstram aquilo que era previsível: - Luis de Santangel, em 1492, foi apenas o intermediário de Isaac Abravanel, o verdadeiro financiador da 1ª.viagem. Mais

 

Luis de Santangel - O cristão novo Santangel foi em Espanha um dos que financiou a 1ª. viagem à América (1492/93). Hoje não restam dúvidas que sem este financiamento, dificilmente a rainha de Espanha aceitaria autorizar a viagem. Porque o faria, quando já sabia que estava em curso a expulsão e o saque dos judeus em Espanha? Pensaria que poderia parar o processo ou estaria a tentar agradar a outros que estariam a acolher os judeus ? Nunca o saberemos.

 

 

 

2. Amigo de Cristãos Novos

 

Em Espanha, como já havia acontecido em Portugal, manteve sempre um relacionamento privilegiado com judeus e cristãos novos. 

 

Alguns dos nomes que são referidos:

 

Diego Rodriguez Cabezudo. Converso que terá cuidado do seu filho Diogo Colon duas temporadas, que em não viveu na companhia da tia Briolanja Moniz (9).

 

Beatriz Enríquez de Arana. A sua amante de Córdoba e mãe do seu filho Hernando Colón era de origem judaica.

 

Hernando de Talavera, frade da Ordem dos Jerónimos. Era de origem judaica.

 

Diego de Deza, frade dominicano. Era de origem portuguesa - judaica. Mais

 

Luis Santangel, escrivão. Cristão Novo. Participa no financiamento da 1ª. Viagem. Colombo após ter chegado a Lisboa escreve-lhe a comunicar a descoberta. A carta foi logo difundida por toda a Europa, num gesto de evidente traição aos reis espanhóis. Nem um nem outro confiavam neles. 

 

Gabriel Sánchez, tesoureiro.Cristão Novo.

 

 

3. Atitudes Típicas de um Cristão Novo

 

É sabido que os judeus convertido aos cristianismo (cristãos novos), frequentemente para melhor se afirmarem na comunidade cristã, evidenciavam-se pelas suas manifestações de religiosidade, mas também de intolerância. Envolviam-se em ataques ao judaísmo e denunciam à Inquisição desvios dos cristãos novos. 

 

Colombo não se coibiu em Espanha de lançar suspeitas sobre cristãos novos:

 

- Francisco Roldán

 

- Ximeno de Briviesca, contador real. Numa carta dirigida aos reis espanhóis lança claras suspeitas sobre a sua origem judaica  (4), e a pouca confiança que os conversos mereceriam.

 

- Juan Rodríguez de Fonseca e o seu grupo. Numa carta aos reis, datada de fins de 1499, nega a acusação de  ser um converso, lançando suspeitas sobre o grupo em que se apoiava Fonseca na administração das Indias (1493-1503) (5).

 

No final da vida, recorde-se, chegou ao ponto de apelar ao papa para afastar os espanhóis das Indias, pois os mesmos estavam a ser conduzidos por satanás.

 

 

4. Manifestações anti-Judaicas

 

Se admitirmos a hipótese de que tenha sido cristão-novo, temos que admitir que com o tempo se tornou igualmente num fanático anti-judeu e anti-muçulmano. Em 1500 escreve aos reis católicos a relembrar a sua profunda amizade com Frei Juan Pérez de Marchena,  que havia incitado os mesmos a expulsarem os judeus:

 .

Na carta que escreveu em La Hispaniola, a 3 de Fevereiro de 1500, diz aos reis espanhóis o seguinte: "Yo creo que se acordarán que aquel buen religioso frai Juan Pérez, el cual yncitó a Vuestras Altezas a otras empresas, ansí como a la de Granada y de los judíos."

 

É com enorme indiferença que refere a expulsão dos judeus, no prólogo do seu Diário de Bordo, quando diz aos reis espanhóis: "... después de haber echado fuera todos los judios de todos vuestros Reinos y Señoríos, en el mismo mes de enero mandaron Vuestras Altezas a mi...".

 

Colombo ou Las Casas, comete um enorme erro sobre a data da expulsão: O decreto da expulsão foi publicado a 31 de Março de 1492, com efeitos a partir do dia 3 de Agosto desse ano, justamente aquele em que começou a primeira viagem. O mês de Janeiro é claramente um erro, que desconhecemos se foi intencional.

 

 

5. As Indias são para os Católicos

 

A sua atitude anti-judaica, leva-o apelar aos reis de Espanha para que não consinta que nenhum estrangeiro faça comércio "ou ponha os pés nas Indias", com excepção dos católicos. Todos os judeus, muçulmanos, mas também os movimentos protestantes que estavam a surgir na Europa, e que colocavam em causa os fundamentos da Igreja Católica deveriam ser proibidos se de instalarem nas Indias (América).

 

Afirma que a sua expedição tinham apenas um único propósito: o engrandecimento e glória da religião cristã (católica), pelo que ninguém que não seja " um bom cristão deve ser autorizado instalar-se nas terras que descobriu (Diário de Bordo, 27 de Novembro de 1492).

 

Note-se que nem todos católicos que deveriam ser autorizados a frequentar as Indias, apenas aos "bons" deveria ser concedido este privilégio, quando aos restantes deveriam ser expulsos. Como iremos ver, entre os católicos os próprios espanhóis deveriam ser excluídos ...

 

Esta ideia de exclusividade  é claramente inspirada na política portuguesa do "mar fechado". A sua posição explica também a razão porque toma posse de ilhas que supostamente pertenciam ao Grande Kan, pretendendo desta forma afirmar que a religião deste mítico imperador asiático deveria ser aniquilada e os povos que a seguissem dominados e escravizados. Mais

 

c ) Apoios e Contactos em Portugal e com Portugueses

As profundas ligações de Colombo aos judeus e cristãos novos, incluindo as familiares, não estão em Espanha, mas em Portugal.

As comunidades de judeus e de cristãos novos em Portugal, na segunda metade do século XV, eram bastante numerosas. A maior parte dos seus membros procuravam relacionarem-se entre si, praticando uma forte endogamia, não apenas para preservarem as suas crenças, mas também como uma medida de segurança.

A esmagadora maioria dos portugueses que apoiavam Colombo eram de origem judaica ou estavam ligados a esta comunidade. 

Alguns exemplos:

Filipa Moniz Perestrelo, esposa de Colombo, pertencia a uma família de origem judaica, os Zarco. A sua cunhada e outros familiares portugueses que com ele viviam, em Sevilha, eram cristãos novos. Mais

D.Diogo, Duque de Viseu e de Beja. A família de Filipa Moniz Perestrelo pertencia à casa dos Duques de Viseu e de Beja. Colombo "fugiu" para Castela na sequência da conspiração que, em 1484, envolveu D. Diogo.

 

Eram intimas as relações deste duque com os judeus da familia Abravanel. Entre 1477-1480 as rendas de moradias de D. Diogo foram arrematadas por Ya Abravanel, o qual lhe emprestou também enormes somas de dinheiro. D. Manuel I, mais tarde, pagou ao seu herdeiro e neto - Henrique Fernandes Abravanel, a quantia de 800.000 reais (12).

 

Duques de Bragança. Colombo estava ligado a vários membros da Casa de Bragança, que teve na sua origem uma judia. A história não tem qualquer novidade. O mestre de Avis, futuro rei D. João I, teve um filho bastardo de uma judia - Dona Inês Pires Esteves, filha única de Mendo da Guarda ou Pêro Esteves, o "Barbadão" (2). Como muitos outros judeus, "converteu-se" ao cristianismo, mantendo-se todavia fiel às suas crenças.

 

Inês Esteves, foi a comendadeira, que governou o Convento de Santos, onde Colombo conheceu e se casou com Filipa Moniz Perestrelo.

 

Os Duques de Bragança viviam rodeados de judeus (mercadores, serviçais, etc). Uma das suas principais fontes de rendimento eram as rendas da judiaria de LisboaMais

 

Isaac Abrabanel, banqueiro judeu, natural de Lisboa. Financiador da conspiração do duque de bragança de 1483, fugiu para Castela, onde financiou a primeira viagem. Mais

Alvaro de Bragança, principal protector de Colombo em Castela/Espanha, possuía pelo menos desde 1482, estes direitos e rendas. (consultar). Um facto que se reveste da maior importância dadas as profundas ligações entre estes dois homens.

Os Melos na segunda metade do século XV possuíam todos os direitos e rendas das judearias de Alcácer do Sal, sede da Ordem de Santiago de Espada em Portugal (consultar).

Embora fosse um bragança fez questão de se fazer sepultar no panteão dos Melos, em Évora. Diego e Bartolomeu Colón tinham o apelido de Melo. Razões mais do que suficientes para sabermos da ligação dos melos aos judeus em Portugal.

Tem-se apontado muitas ligações dos melos aos judeus, mas os facto mais importantes datam somente dos finais do século XVI. Nesta altura, A Inquisição efectuou uma verdadeira caça aos cristãos-novos da vila de Melo, uma pequena aldeia na Serra da Estrela. Em três vagas distintas iniciadas, respectivamente, em 1601, 1652 e 1690, foram presos e processados perto de 9 dezenas de indivíduos. Muitos outros melos foram perseguidos pela Inquisição nas beiras no século XVII.

 

Isabel Perestrelo Enriquéz de Noronha, Marquesa de Montemor. Colombo, através da sua esposa, era parente da marquesa que vivia exilada em Sevilha. Os noronhas não tinham qualquer problema em ligaram-se a judeus e cristãos novos, mesmo depois de 1496: 

 

- Vários membros desta familia casaram-se com judeus: Isabel de Noronha, casou-se com Gonçalo Zacuto, adaíl-mor do Reino, filho do célebre judeu Abraão Zacuto (1450-1510) (2). Recorde-se que dois dias antes de Colombo embarcar para a sua 1ª. viagem às Indias (1/8/1492) recebeu o "Almanaque Perpétuo" de Abraaão Zacuto, que lhe permitiu navegar pelos astros, posicionar os navios no mar, conhecer a forma e dimensão dos oceanos e dos continentes.

 

- Os noronhas protegeram e apadrinharam também judeus, promovendo-os aos mais altos cargos nas explorações maritimas. Um dos casos mais célebres foi o que ocorreu com António de Noronha, 1º conde de Linhares e escrivão da puridade (ministro de D.Manuel I), que apadrinhou e deu o seu nome a um rico mercador judeu, que ficou conhecido por Fernão ou Fernando de Noronha, aquém o próprio D. Manuel I fez donatário da ilha que ficou com o seu nome (1506). D. João III nobilitou-o, reconhecendo o seu estatuto de fidalgo (1524), assim como o seu brasão. Recorde-se que o irmão deste judeu pertencia à Ordem de Cristo. Mais

 

Lopo de Albuquerque, cujo filho adoptivo Mendes de Segura foi o secretário de Colombo, tinha desde 1476 o senhorio sobre as judearias de Faro, Tavira, Trancoso, Marialva e outras espalhadas pelo país.  Recorde-se que Colombo, após ter vindo das Indias a última paragem que fez em Portugal foi na cidade de Faro, e só depois seguiu para Espanha. Mais

 

 

Garcia de Menezes, Bispo de Évora (1471-1484). Foi um dos principais conspiradores contra D. João II, em 1484, acabando assassinado no Castelo de Palmela, sede da Ordem de Santiago. Colombo, como vimos, esteve envolvido nesta conspiração. Não é de excluir a hipótese de, em 1480, ter participado também na expedição naval que o bispo comandou a Itália.

 

Acontece que Garcia de Menezes foi um dos principais protectores dos cristãos-novos, a que recorreram inclusive espanhóis. Em 1484, pouco meses antes da conspiração, salvou das garras da Inquisição de Sevilha uma família de conversos castelhanos (3). 

Mais

 

Alvaro de Ataíde, um dos principais conspiradores de 1484. Os Ataídes aparecem desde cedo ligados aos judeus. A partir de 1497, quando D. Manuel I, ordenou a expulsão ou conversão forçada dos judeus ao cristianismo, muitos dos que o fizeram adoptaram o apelido de Ataide.

Alexandre Ataide, judeu de nome hebraico Iussof, foi encontrado num barco que seguia para Meca, em 1510, por um dos capitães de Afonso de Albuquerque, de quem se tornou o principal conselheiro e muito amigo. Em Lisboa foi perseguido por ser cristão-novo (converso), sendo protegido por Garcia de Noronha com quem partiu para a India, de onde saiu para o Cairo (Egipto), tendo então voltado ao judaismo. 

D. António de Ataíde, Conde da Castanheira foi um dos que se manifestou vivamente, contra a instalação da Inquisição em Portugal.

O primeiro Auto-de-Fé que envolve um Ataide foi celebrado a 11 de Março de 1668, e resultou na condenação de Isidoro de Athayde, 27 anos, militar, por “crime de ser judeu”; filho de Gaspar de Athaydes. Mais

 

Se tivermos em conta os membros das várias famílias portuguesas que apoiaram Colombo em Espanha, chegamos facilmente à conclusão da forte possibilidade do mesmo ser um cristão novo (converso). Uma tese que sai reforçada se tivermos em conta o contexto da época..

 

d) Os Judeus na Península Ibérica no Século XV

Perseguições em Espanha

Na segunda metade do século XV, as enormes comunidades de judeus em Castela e Aragão viveram num contínuo terror. Na Andaluzia, em 1391 dá-se aqui uma verdadeira chacina de Judeus. As perseguições não tardam a estenderem-se a outras regiões da actual Espanha. Em 1412, no reino de Aragão os judeus são forçados a baptizarem à força. Em 1462 são ameaçados de serem excluídos das operações financeiras. Três anos depois começa a ser defendida a ideia de confiscar os bens para financiar a guerra com os muçulmanos. Em 1467 são chacinados os cristãos novos (conversos) de Toledo. Evocam-se todos os pretextos para chacinar judeus e cristão novos.

A intolerância não parou de crescer. Em 1478, inventa-se em Sevilha uma conspiração dos judeus para justificar a sua repressão. A Ordem dos Dominicanos aproveita o ódio popular para organizar uma campanha de terror.  A 1 de Novembro o papa Sisto VI, autoriza Fernando e Isabel, os reis católicos  a instaurar a Inquisição em Castela, Leão e Aragão. 

A 2 de Agosto de 1492 é dada a ordem de expulsão de todos os judeus em toda a Espanha.  Milhares de judeus são mortos e espoliados, muitos conseguem fugir mas têm que deixar para trás os seus bens.   

Fuga para Portugal 

As comunidades judaicas em Portugal, no século XV, eram particularmente numerosas. Não faltava quem no estrangeiro identifica-se Portugal como um reino de judeus, tal era o seu número. As perseguições em Castela e Aragão trouxeram para Portugal cerca de 180 mil novos judeus.

D. João II acolheu os judeus expulsos da Espanha, em 1492, protegendo-os na sua fixação  em Portugal, onde aumentaram consideravelmente as suas já enormes comunidades. Este acolhimento terá sido apenas uma manifestação de tolerância do rei,  ou a paga por um favor que os judeus estavam a fazer a Portugal, nomeadamente ao financiarem a expedição de Colom

Os reis católicos protestaram junto do papa pelo facto de um rei cristão estar a acolher infiéis (judeus). O papa que era espanhol pressiona D. João II a agir contra os judeus. A situação foi-se tornando insustentável. A morte por envenenamento de D. João II, em 1495, marca uma mudança profunda da política da Corte face aos judeus. 

D. Manuel I e os Judeus 

D. Manuel I (1495-1521) assume uma nova política face aos judeus, marcada por uma enorme duplicidade. Em teoria expulsa todos os que em 1497 não se quisessem converter ao catolicismo, mas na prática cria um sistema que lhes permite continuarem secretamente com os seus ritos e crenças. 

Afim de agradar aos monarcas espanhóis, quando quis apoderar-se do seu trono "expulsou" os judeus (24/12/1496). Esta era a condição que imposta pela sua noiva - Isabel, filha dos reis católicos e viúva de D. Afonso, filho de D. João II. Na prática obrigou-os a converterem-se ao cristianismo, dificultando todavia a sua saída do país. Os baptismos colectivos foram a solução encontrada para resolver a situação, sem grandes comprometimentos individuais.

 

Impediu todos aqueles que se convertessem ao cristianismo, fossem alvo de qualquer averiguação para se saberem se continuavam a praticar em segredo os ritos judaicos. Em Maio de 1497, decretou que por um prazo de 20 anos não houvessem inquirições aos judeus conversos. Em Abril de 1512 prolongou o prazo por mais 16 anos. Na prática, ao longo de todo o século XVI e XVII Portugal continuou a ter uma enorme comunidade de judeus que em público se afirmavam cristãos (cripto-judaismo). 

 

Protegeu os bens dos judeus e castigou de forma exemplar todos os que os violentavam. O caso paradigmático foi a forma particularmente severa como castigou todos aqueles que, instigados por frades fanatizados, estiveram envolvidos na matança de judeus ocorrida em 1506 (Lisboa). Em 1 de Março de 1507 decretou que podiam sair do reino, se assim o entendessem levando consigo os seus bens.

 

A Corte de D. Manuel I continuou povoada de judeus e cristãos-novos. As perseguições aos judeus só começaram verdadeiramente em Portugal no final do reinado de D. João III, devido à crescente influência da sua mulher - Dona Catarina (espanhola), tendo-se acentuado durante o domínio espanhol (1580-1640).

 

É neste contexto da crescente influência espanhola que a Inquisição acabou por ser autorizada em Portugal, em 1536, pelo papa Paulo III. Um facto que irá provocar a fuga para todo o mundo de muitos milhares de portugueses.

 

Os que ficaram irão criar uma cultura de duplicidades, em público dizem ou fazem uma coisa, e em privado outra. Um dos traços inconfundíveis da cultura portuguesa desde então.

 

O seu filho e sucessor - D. João III -, influenciado pela sua esposa Catarina de Austria, acaba em 1536 por estabelecer a Inquisição em Portugal, 58 anos depois da Espanha.

Um dado intrigante nesta história é que Colombo saiu de Portugal, onde os judeus eram tolerados e foi para Castela onde eram perseguidos.

 

 

 

Portugueses Vítimas da Inquisição em Espanha

 

  Carlos Fontes
   
  Nota:

(1) Consuelo, Varela - Colon y los Florentinos, p.51

(2) Pereira, Isabel Violante - De Mendo da Guarda a D.Manuel I. Lisboa. Livros Horizonte.2001

(3) A 7/1/1484, Juan de Sevilla suplicou ao bispo que o autorizasse a copiar a bula a favor dos conversos, promulgada pelo papa Sisto VI, a 2/8/1483, com o fim de obter a sua absolvição, algo que seria impensável pedir a um bispo espanhol. , Isabel Montes Romero-Camacho, La Huida de judeoconversos Sivillanos a Portugal como consecuencia de la Inquisicion, in, Estudos de  homenagem ao Professor Doutror José Marques .... UP.

(4) Las Casas, História...

(5) Colón, Textos, p.423

(6) Varela, Consuelo - El Colón Judio, in, Inquisição Portuguesa. Tempo, Razão e Circunstâncias. Prefácio. Lisboa- São Paulo. 2007, pp.305 -315 

( 7) Em finais do século XV, a esmagadora maioria dos judeus na Península Ibérica estava concentrada em Portugal. Ainda hoje, os estudos genéticos confirmam que está aqui a maior percentagem de população de origem judaica (37% no centro e sul e 16% no norte).

Apesar da Inquisição, o número dos que em segredo mantiveram as suas crenças religiosas continuou a ser muito  elevado.

Estes portugueses à semelhança dos restantes espalharam-se por todo o mundo, incluindo a Espanha e as suas colónias, onde acabaram por ser o principal alvo da Inquisição. Mais

(8) Gil Vicente, Exortação da Guerra. Tragicomédia.

(9) Gil, Juan - Los Conversos y la Inquisición Sevillana.Vol. I, Sevilla,2000

(10) Leibovici, Sarah - Christophe Colomb Juif, Paris.1986

(11) Gil-Varela - Cartas de particulares a Colón y relaciones coetáneas: Madrid .1984

(12) Tavares, Maria José Pimenta Ferro - Judeus e Conversos Castelhanos em Portugal, Anales de la Universidad de Alicant. Historia Medieval, nº. 6 (1987).

(13)

(14)

(15) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colon y su Tiempo. pp.193-250

(16) Silver, A. H. - A History of Messianic Speculation in Israel. Boston. 1959. p.116 ss. citado por J.Gil

(18) Os alboricos era o nome dado em Llerena (Badajoz), aos conversos (cristãos-novos). O Tribunal da Inquisição de Llerena destacou-se pela perseguição e morte de inúmeros portugueses. Mais

(19) Rumeu de Armas - Libro Copiador de Cristóbal Cólon, p.335

 

 

 

Continuação:

 

22. Negociante Oportuno de Miragens

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28.Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

 

 

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  Carlos Fontes
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