Carlos Fontes

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português   

12. As Indias de Colombo

 
 

Ao longo de todo o século XV os portugueses exploraram as costas das américas, situadas a Poente de Portugal. É impressionante o número de relatos que possuímos destas viagens, que muitos actualmente insistem em afirmar que são invenções de navegadores dessa época.

O poeta Diogo Brandão, no Cancioneiro Geral de Garcia Resende (publicado em 1516), dá-nos conta destas descobertas por todo o Poente (Ocidente) a mando de D. João II:

"Se  em todo o Poente se sente gram glória

por serem as ìndias a nós descobertas, 

ele foi causa de serem tão certas, 

e tão manifestas por nossa vitória."

Colombo, sem qualquer ambiguidade afirmou que antes de 1492 já havia estado nestas Indias, e sabia a distância a que as mesmas se encontravam. Não se cansou também de demonstrar a anterioridade da sua descoberta pelos portugueses. Chegou inclusive a registar relatos de indígenas locais que o comprovavam, um facto que que nunca foi devidamente assinala ( Consultar ). Ao contrário do que se afirma, nunca disse claramente que havia chegado à Asia, mas apenas a umas ilhas (Indias) próximas deste continente. Foi este "Novo Mundo", povoado de "canibais", que deu ao Reino de Castela e Leão..

a ) Viagens Portuguesas à América Central

1. Exploração das Antilhas

Não restam grandes dúvidas que os portugueses conheciam as Antilhas (nome português) antes de 1492. A chegada de Colombo às Antilhas não afastou os portugueses das mesmas, muito pelo contrário, as explorações ter-se-ão mesmo intensificado..  

É impressionante o número de expedições que estão documentadas que terão sido feitas pelos portugueses na direcção do Ocidente antes de 1492. O seu número aumenta à medida que os portugueses se aproximam do cabo da Boa Esperança (África do Sul), o que indicia um número crescente de navios que eram empurrados pelas correntes marítimas para as américas.

1.1 Referências Míticas

Deve-se ao célebre  geografo Muhammad Al-Idrisi (1100 - 1165), uma das primeiras referências a expedições maritimas destinadas a explorar o ocidente: 

"Foi de Lisboa que partiram os Aventureiros, aquando da sua expedição tendo como objecto de saber o que continha o Oceano e quais eram os seus limites, como já foi dito. Existe ainda em Lisboa, perto dos banhos quentes, uma rua que se chama Rua dos Aventureiros". Assim começa a sua descrição desta fantástica expedição feita por lisboetas em 1124. Atingiram a ilha dos carneiros, e mais a sul descobriram uma cidade povoada de homens nus, de alta estatura, pele vermelha, corpo coberto de pelos e com cabelos lisos e compridos.(34)

Algumas cartas medievais assinalam a existência de ilhas, em pleno oceano atlântico. Uma das mais interessantes, datada de 1424, é a carta atribuída a "Zuane Pizzigano", A carta tem o seu centro no Altântico e não no Mediterraneo. onde para além de um conjunto de ilhas representando os Açores, surgem a Ocidente, duas grandes ilhas (Antília, Satanazes) e duas mais pequenas ( Saya, e Ymana).  Armando Cortesão, sustentou que a carta revela o conhecimento das antilhas pelos portugueses, numa altura que os mesmos chegavam aos Açores. Os topónimos destas ilhas fantásticas estão escritos em português. Manuel Luciano da Silva, com melhores argumentos, afirma que estas ilhas se tratam afinal da Terra Nova, Nova Escócia e Ilha do Príncipe Eduardo no Canadá. Manuel Rosa, revelou recentemente que o nome do autor do mapa foi raspado, sendo colocado no seu lugar o nome de um cartógrafo veneziano... Não há todavia consenso sobre este pré-descobrimento da América pelos portugueses, por volta de 1424.

Uma das mais surpreendente referências míticas é feita pelo célebre cosmógrafo alemão Martin Behaim (Nuremberga, 1459 -Lisboa, 1507) (49), no seu globo terrestre (1492). Na legenda de ilhas situadas nas Antilhas, afirma que as mesmas foram descobertas por portugueses em 741 (33). A lenda era muito antiga, e conhecem-se várias versões na Europa. Martin Behaim, no ano que Colombo partiu para as Antilhas (América), afirma a anterioridade da sua descoberta pelos portugueses !. 

1.2. Principais Expedições antes de 1492

O Infante D. Henrique (1394-1460), segundo o navegador e cronista Diogo Gomes  de Sintra (14?? – c. 1502), mandou durante décadas as suas caravelas a procurar terras a Ocidente:

"Em tempo o Infante D. Henrique, desejando conhecer as regiões afastadas do oceano Ocidental, se acaso haveria ilhas ou terra firme além da descrição de Ptolomeu, enviou caravelas para procurar terras" (48).

As viagens dos portugueses não se limitaram a explorar as costas africanas, mas avançar desde muito cedo n direcção do Ocidente.

- Diogo de Silves, em 1427, estabelece o primeiros contactos com o arquipélago dos Açores, a meio caminho entre a Europa e a América. A regularidades das viagens para este arquipélago, nomeadamente a partir da Ilha da Madeira, permitiu a descoberta por volta de 1436 do Mar da Baga ou dos Sargaços (cfr. mapa de Andrea Bianco). Este mar foi igualmente descrito por Colombo 56 anos depois. 

- No tempo do Infante D. Henrique, por volta de 1447, " um navio partido do porto de Portugal terá ido ter por acaso às ilhas Antilhas", onde encontram cristãos. O Infante D. Henrique foi disso informado, mas não ligou ao assunto. Colombo anotou a expedição, o qual foi depois referida por Hernando Colón (cap.IX), Las Casas (Livro I, cap.XIII), por várias testemunhas nos Pleitos Colombinos e até por Antonio Galvão (Tratado dos Descobrimentos Portugueses). Principais testemunhos:

a) Antes de 1452, Pero Vasquez de Fronteira, acompanhou um Infante de Portugal (D. Fernando, Duque de Beja ?), que se dirigia precisamente para as ilhas as Antilhas (Caraíbas). Só não foi às mesmas, porque quando o Infante entrou no mar de ervas (mar dos Sargaços) enganou-se, e em vez de seguir para a direita, tomou outra direcção. Nos Pleitos Colombinos de 1532-1535, três testemunhos (alcaide de Palos - Alonso Velez Allid,  Alonso Gallego e Fernando Valiente, referem que a expedição às Indias (América) fora feita por um Infante de PortugalPedro Vasques que participou nestas expedições ajudou Colombo a convencer a tripulação na primeira viagem às Indias (América), indicando-lhe inclusive o caminho  a seguir. Os testemunhos são de tal forma precisos que dificilmente se pode assumir os testemunhos como uma fantasia. Mais

b) A expedição anterior foi narrada por Hernando Colombo e Las casas da seguinte forma: Diogo Teive (escudeiro do Infante D. Henrique) partindo da Ilha do Faial (Açores), tendo como piloto Pedro Vasques (Pero Velasco), antes de 1452, dirigiu-se directamente para a Antilha, também designada por Sete Cidades tendo navegado mais de 150 léguas para sudoeste (per libecchio). A referência ao Infante de Portugal é omitida. 

- D. Afonso V, a 29/10/1462, doou uma ilha situada a oeste-noroeste da Ilha da Madeira e das Canárias, ao seu irmão infante D. Fernando que "já mandara buscar por certos sinais que dela lhe deram" e a "queria outra vez buscar". Esta ilha foi encontrada por Gonçalo Fernandes de Tavira, quando regressou do Rio do Ouro e a avistou a nor-nordeste das Canárias. A ilha correspondia às actuais Bermudas.

- A embaixada do rei boémio George de Podebrad, nas suas visitas a cortes europeias, em 1466, regista que os portugueses tinham encontrado terras no outro lado do mar (Oceano Atlântico) (Códice de Brastilava). 

- O Infante D. Fernando, Duque de Viseu e de Beja, herdeiro desde 1460 do Infante D. Henrique estava envolvido nas explorações para Ocidente, nomeadamente  a partir das ilhas de Cabo Verde, Madeira e Açores. Prossegue as tentativas para conquistar as Ilhas Canárias, sobretudo Gomera e Hierro (Ferro) para as transformar numa base avançada para a exploração das terras a ocidente. 

Estas expedições foram prosseguidas, depois deste falecer (1470), pela sua esposa Dona Brites . A 12/1/1473, D. Afonso V doa-lhe uma ilha encontrada "atravees (Oeste) da ylha de Santiago (Cabo Verde)", a qual o infante "algumas vezes mandara buscar". Este documento demonstra que as explorações de terras a Ocidente eram correntes antes de 1470.

- D. Afonso V , a 21/6/1473,  dá como prémio pelos seus serviços em África, a Ruy Gonçalves da Câmara, uma concessão duma ilha "que ele per si ou seus navios achar". A informação é dada pelo próprio Colombo, numa nota que fez nas guardas da Historia Rerum Ubique Gestarum de Pio II. 

- Afonso Sanches, natural de Cascais (próximo de Lisboa), entre 1473 e 1484 foi recolhido por Colombo na Ilha da Madeira. Quando sentiu que estava para morrer, revelou-lhe o o segredo da existência de terra firma a Ocidente, e o caminho através de cartas de marear e das alturas. O caso é referido por Las Casas (Hist.Indias, Livro I, cap.14).  

- António Leme, da Ilha da Madeira, afirmava "tendo uma vez corrido com sua caravela longo espaço ao poente, avistara três ilhas cerca de onde andava", que se presume pertencerem ao arquipélago das Antilhas. O avistamento terá ocorrido antes de 1484. Colombo anotou esta viagem, sendo a mesma referida por Las Casas (Hist., Lib.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist., cap.IX). 

- Por volta de 1484, enquanto Colombo negociava com D. João II, a realização de uma expedição à India, o rei resolveu secretamente enviar uma caravela à explorar a rota marítima que este lhe indicou. Colombo terá ficado furioso com esta traição do rei, e esta terá sido a causa porque foi para Castela. A história é contada por Las Casas (Hist. das Indias, Livro I, cap.28).

- Fernão Domingos Arco, morador da Ilha da Madeira - "foi pedir ao Rei uma caravela para ir descobrir certa terra, que jurava que via cada ano e sempre de maneira" (carta régia, 20/6/1484). As terras situavam-se a Ocidente da Madeira, isto é, nas Antilhas. Citado por Las Casas (Hist.,Liv.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist.,cap.XI.

"Dice aqui ( em Gomera, Canárias) o Almirante que se recorda que estando em Portugal no ano de 1484 veio um (alguém) da Ilha da Madeira ter com o Rei para lhe pedir uma caravela para ir a esta terra que via, e que jurava que cada ano a via e sempre da mesma maneira. Também se recorda que o mesmo dizem nas ilhas do Açores, e estes viram-nas em rotas que fizeram, nos limites (horizonte) e de grandeza (com grandes dimensões)". (Diário, Colombo). 

- Martim Leedo, morador em Vila Franca de Xira, em 1487, recebe um soldo para ir à Ilha Perdida, situada a Ocidente.  Este facto revela que a corte portuguesa possuía navios especificamente envolvidos na exploração de terras a ocidente.  

- João Coelho, em 1487, terá explorado ilhas a Ocidente que se pensa corresponderem às de Trinidad, Tobago e as pequenas Antilhas do Barlavento.

- Vicente Dias, morador em Tavira (Algarve), segundo Colombo muito antes de 1492, quando vinha da Guiné para a Ilha Terceira (Açores), afastou-se para Ocidente e viu também terra firma. Informou a corte do facto, e conseguiu convencer um genovês - Luca di Cazzana -, a organizar uma expedição. O piloto desta expedição terá sido um dos informadores de Colombo sobre a existência de terras a Ocidente. Se Hernando Colón afirma que o piloto desta expedição portuguesa era Vicente Dias, (13), Las  Casas sugere que se trata de outra pessoa. Em todo o caso, a expedição era portuguesa, saiu e regressou a Portugal

Estes e muitos outros relatos de explorações do Atlântico pelos portugueses antes de 1492, mostram que as mesmas era feitas de forma sistemática, e continuaram a sê-lo depois das "descoberta" das indias por Colombo . 

1.3. Mapas e Roteiros

Muitos mapas que chegaram até nós dos século XV, registam a presença a Ocidente de ilhas. Embora neste domínio a imaginação pudesse ser fértil, a verdade é existem muitos relatos que expedições anteriores anteriores a 1492 que apontam para um fundo de verdade que não pode ser ignorado. Colombo, como vimos, fez continuas referências a viagens anteriores de portugueses. 

- Um dos mais célebres mapas é o de Andréa Bianco (1448), como  acima referimos, foi feito com base em informações recolhidas no sul de Portugal, aparece representado a sudoeste de Cabo Verde, a "Ixola Otinticha" (ilha Autentica), como um descobrimento português feito no ano anterior. Trata-se provavelmente do Brasil ou da Ilha da Trindad. A terra representada neste mapa está na mesma latitude e possui uma forma aproximada ao nordeste do Brasil.

O mais antigo Roteiro de Marear que se conhece feito em Portugal, data de 1480-1485. Neste Roteiro, como observou o historiador Vitoriano Magalhães Godinho, consta já a rota para chegar às Antilhas a partir da Ilha do Ferro (Canárias), fixando-se inclusive a distância: 700 milhas. Colombo seguiu exactamente este caminho e referiu a mesma distância. Este roteiro parece confirmar o encontro entre um navio português e canoas com mulheres da Indias (1482/3), sustentado por  Juan Pérez de Tudela y Bues (50).

Las Casas, na Hist. das Indias, cap. 39, de forma explicita afirma que Colombo já conhecia ou havia feito a rota entre a Ilha do Ferro e as Antilhas navegando 750 léguas, "pocas más o menos" (sic). A coincidência é total com o roteiro português de 1480-85.

1.4. Testemunhos de Colombo e dos Indigenas

Colombo registou uma profusão de indicios da presença anterior de portugueses nas Antilhas, mas também na América do Sul.

 Produtos para Troca. Diário de Bordo -11/10/1492:Contacto com os primeiros nativos nas Indias. Colombo manda abrir os baús e tiram deles quinquilharias para troca, como guizos, missangas, etc. Ele sabia perfeitamente o que ali iria encontrar eram "índios" primitivos, e não os índios da antiga e rica civilização Indiana.  

- Moedas  Portuguesas

- Brancos. Diário de Bordo -13/12/1492:Na Hispaniola (Haiti), os nativos eram mais belos do que os de Cuba e viram entre eles "duas raparigas de pele tão branca como as de Espanha". Homens brancos barbados haviam estado nesta ilha muitos anos antes (Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.14).

Os próprios indígenas da Antilhas e do continente americano relatam a presença antes de 1492 de homens brancos, barbudos, com roupas e até armamento idênticos ao usado pelos espanhóis. Alguns dos muitos testemunhos 

- "Los primeiros que fueran a descobrir y poblar la isla Hispañiola habian oído a los naturales que pocos años antes que llegasen habian aportado allí otros hombres brancos y barbados como ellos" ( 7 ).

A presença de brancos barbudos provocou medo entre os indígenas, o que gerou algum receio quando viram Colombo chegar:

- Os indigenas de la Hispaniola (Haiti) , tinham medo porque "...vendría a su país una gente con vestidos, que los dominaria y mataria" (8 ). 

- Os caciques contaram a "Cristóbal Colón y españoles" que ainda estava na memória das pessoas, o tempo em que tinham vindo à ilha "unos hombres de barbas largas y vestidos todo el cuerpo" com espadas "relucientes" (9)

O testemunho mais significativo regista-se na segunda viagem (1493/96). Em Cuba, a 27/5/1494, descobre homens brancos, vestidos de túnicas brancas. Sobre um deles, um homem "santo", diz que "era tan blanco como nosotros".

Noutras da América registam-se os mesmos relatos:

- Os caciques Yucatan e do México, quando os espanhóis ali chegaram pela 1ª. vez, estavam ainda atemorizados pelo medo que anteriores visitantes lhes haviam provocado. "Y lo más cierto era, según entendiemos, que les habian dicho sus antepassados de venir gentes donde sale el sol, com barbas, que los habían de señorar".( 10) 

- O senhor de Motecuhzna, imperador Azteca, afirmou a Hernán Cortés, que o seu avô havia recebido de homens vindos do mar, um capacete de ferro idêntico ao que os espanhóis traziam. calcula-se que isso tenha acontecido entre 1444 e 1489 (11).

Estamos perante portugueses perdidos num qualquer naufrágio, ou que foram "lançados" em Cuba, como os que eram deixados nas costas africanas para aprenderem a língua dos nativos. Pedro Alvares Cabral também deixou alguns portugueses no Brasil com idêntico objectivo.

- Índios pouco espantados. Diário de Bordo -13/10/1492. Os indígenas, como em todas as ilhas visitadas por Colombo, não se mostram espantados com os barcos, nem com os marinheiros. Pareciam já estar habituados. (Las Casas)

- Balas de canhão. A 16/3/1494 mandou construir em Cibao (Hispaniola) um forte que chamou de Forte de Santo Tomás, durante a sua construção descobriu "tres o cuatro piedras de lombarda" (balas de bombardas, canhões). 

- Lenços africanos na cabeça. 

- Destroços de um Navio. Na Ilha de Guadalupe, na segunda viagem, o próprio Colombo, na sua segunda viagem, regista a presença de vestígios de ferro pertencentes a um navio. Foi aí encontrado um pedaço de codaste (madeira que reforça a quilha do navio que termina na popa) e uma cazuela de hierro (panela de ferro), o que gerou grande entusiasmo pois mostrava que os portugueses já haviam estado nesta ilha. A distância é muito grande em relação à Hispaniola, onde se afundara a nau "Santa Maria" (1492), pelo que teria ser outro navio. (12 ). Mais

1.5 Na Rota de Colombo (1492 e 1506)

Embora por questões estratégicas, os portugueses tenham dado aos espanhóis parte da América, a verdade é que depois disso continuaram a explorar esta parte do continente americano. Portugal jogou na dificuldade da marcação da linha de estabelecida no Tratado de Tordesilhas (1494), recusando-se a realizar expedições conjuntas com a Espanha para a fixar, antes de saber quais eram os territórios que efectivamente lhe pertenciam.mais a sul (Brasil). As provas são inequívocas.

- Quando Colombo desembarcou em Lisboa no regresso da sua 1ª. Viagem às Indias (Março de 1493), D. João II mandou "prender" dois marinheiros portugueses que vinham a bordo, possivelmente para guiarem uma nova viagem às Indias. Uma viagem que existem múltiplas provas documentais em Espanha ( Mais ).   

Espiões e navios portugueses continuaram a acompanhar tudo o que se passava nas Indias (4 ), como deu conta o próprio Colombo, e assim continuou a ser durante mais de 150 anos (5).

- Uma das melhores provas das expedições portuguesas aos domínios espanhóis é o Planisfério dito de Cantino (1500) ( 3 ). A  região descoberta por Colombo é claramente isolada e sublinhado os seus proprietários: "Las antilhas del Rey de Castella'. Note-se que esta legenda excluiu o reino de Aragão e até a Espanha que havia sido criada em 1492, o mesmo fará a legenda do brasão de Colombo e o seu do filho Hermando Colón. A sintonia é total com Portugal.

Este planisfério também não deixa dúvidas que os portugueses conheciam muito melhor as Antilhas (Caraibas) e as costa das américas do que os espanhóis, basta compará-lo com o Mapa realizado por Juan de la Cosa (1508). As proporções das grandes antilhas são muitíssimo melhores, as  Bahamas aparecem muito mais ilhas e melhor diferenciadas.

No mapa de  Juan de la Cosa, na extremidade mais oriental que corresponde ao continente sul americano, assinala duas grandes ilhas - "Isla discubierta por Portugal". Os termos que utiliza para se referir a este sub-continente é precisamente o  mesmo que era usado na cartografia portuguesa do século XV: as Américas são vistas como ilhas, e como tal representadas.

A mais impressionante descrição das explorações feitas pelos portugueses na América, entre 1492 e 1500, é feita por Duarte Pacheco Pereira, o cosmógrafo e navegador que negociou o Tratado de Tordesilhas.

No final do século XV, os portugueses criaram uma base na Ilha de Andros, Bahamas (Baamas),  com a conivência do próprio Colombo. Os reis espanhóis estavam preocupados com a situação e disso o advertiram várias vezes ( 1 ) e ( 2 ). 

1.5.1 Contrabando e Pirataria

Apesar de terem cedido uma parte da América para os espanhóis, os portugueses controlaram durante mais de um século o contrabando de ouro e escravos das indias espanholas.

O próprio Colombo, em Janeiro de 1505, numa carta que escreve ao seu filho Diego Colón dá conta deste contrabando controlado a partir de Lisboa, manifestando-se inclusive prejudicado pelo negócio que estava instalado: "Del negócio que tu escribistes, creo que sea muy hacero. - Los navios de las Indias no han llegado de Lisboa. Mucho oro trujieron, y ninguno para (mí). Tan grande burla no se vido, que yo dejé 60,000 pesos fundidos. No debe sua Alteza dejar perder (este) tan grande negocio como haz"(26).  Mais

A pirataria portuguesa na América central, em particular nas Caraíbas foi sempre muito grande. Em 1503, por exemplo, os reis católicos enviam Juan de la Cosa a Lisboa para protestar pelo saque que os piratas portugueses já estavam a fazer nas Honduras, que os espanhóis acabavam de descobrir ! Não admira que entre 1580-1640, alguns dos maiores piratas da região fossem portugueses ou tivessem ao seu serviço pilotos portugueses. Eles conheciam melhor que ninguém estes mares.

b) Exploração da América do Sul 

Toda a estratégia montada por D. João II, envolvendo o próprio Colombo, pressupõe o conhecimento de terras a Ocidente antes de 1492. Os testemunhos são abundantes, não apenas de portugueses, mas também dos italianos, espanhóis e franceses.   

A descoberta do Brasil está ligada ao conhecimento pelos portugueses das correntes e ventos do Atlântico Sul, o que foi concluído em 1471. A partir desta ano sucedem-se os relatos de viagens de exploração da costa brasileira. 

Os navios que se dirigiam para sul de África, ao passaram perto da Guiné, constatam que levam muito menos tempo quando se afastavam da costa africana e navegavam perto da costa da América do Sul. Esta rota foi a rota seguida, em 1497, por Vasco da Gama.

Os navios que regressavam do sul de África, em direcção a Lisboa, eram empurrados para o Brasil. O tempo de navegação era também muito menor se navegassem perto do Brasil. Esta passou a ser a rota recomendada. (Consultar  )

- A descoberta do Brasil terá ocorrido acidentalmente, por volta de 1448. A principal prova é o Mapa de Andrea Bianco, datado de 1448, baseado em informações recolhidas e Portugal. Nesta mapa aparecem representados os descobrimentos portugueses no Atlântico sul, até Cabo Verde e o Rosso (cabo Roxo). A sudoeste de Cabo Verde e Rosso surge uma grande terra, com a seguinte inscrição: "Ixola Otinticha xe longa a poniènte 1500 mia" ( Ilha Autêntica a poente à distância de 1500 milhas). O Brasil fica exactamente a 1520 milhas a poente de Cabo Verde. A Ilha representada ajusta-se completamente à costa brasileira (39).  

- A corte portuguesa depois da morte do Infante D. Fernando, em 1470, procurou controlar as expedições para Ocidente no Hemisfério Sul, impondo crescentes limitações às expedições nessa direcção, nomeadamente de portugueses.  D. Afonso V, desde 1471, atribui ao principe e futuro rei D. João II, a responsabilidade da Guiné, proibindo em 1474 que alguém fizesse uma viagem para os mares da Guiné, qualquer que fosse o nome que dessem a estes mares(44), sem a autorização do principe. A coroa portuguesa já em 1/10/1470 havia chamado a si o monopólio de vários produtos obtidos nestas terras e mares: pedras preciosas, goma-laca e pau-brasil...

- O francês Jean de Léry que visitou o Brasil de 1556 a 1558, registou os depoimentos de antigos colonos, que lhe confirmaram que "a quarta parte do mundo, já era conhecida dos portugueses desde cerca de oitenta anos que foi primeiramente descoberta" (25). A descoberta teria ocorrido, portanto, em fins da década de 70 do século XV.

- No Tratado de Alcaçovas (1479), Portugal em troca das Canárias garante a soberania dos mares e e terras a sul deste arquipélago. No ano seguinte, nas novas negociações com Castela / Espanha  introduz no texto do tratado (Tratado de Toledo -1480) uma emenda que lhe garante também a soberania sobre as terras que ficavam a Ocidente das Canárias, isto é, o Brasil. Este facto revela, segundo o historiador espanhol Juan Manzano y Manzano que os portugueses conheciam a sua existência nesta altura.

- O historiador espanhol - Juan Pérez de Tudela y Bueso-, sustentou em entre 1482 e 1483, ocorreu um encontro entre mulheres indias, vindas de Guadalupe ou Martinica em canoas, com uma navio português, a cerca 350 ou 400 léguas a oeste da Ilha Ferro, nas Canárias. Colombo teve acesso a esta preciosa informação (50).

Pedro Vaz da Cunha, o Bizagudo, em 1487, partindo da Mina dirigiu-se para a costa do Brasil, onde terá feito o primeiro mapa das suas costas (23). Há notícia que no mesmo ano João Fernandes Andrade fez idêntica viagem.  

- João Coelho de Lisboa, também em 1487, comandou uma expedição ao Senegal, na ida ou na vinda terá aportado às Indias. A afirmação é de Estevão Fróis, em 1513, que foi preso pelos espanhóis no Haiti (Hispaniola), território que segundo o Tratado de Tordesilhas pertenceria a Espanha. 

Por não concordar com a prisão, escreveu a D. Manuel I, afirmando que estava a ocupar terras que pertenciam a Portugal: "a terra de Vª. Alteza, já descoberta por João Coelho, o da Porta da Luz, vizinho de Lisboa, há vinte anos e um". A expedição não foi em 1494, mas em 1487 conforme se comprova por documentos régios.  

Colombo, em 1498, quando se dirigiu para sul da Ilha de Cabo Verde, afirmou que ía à procura do continente que D. João II lhe falara existir a Ocidente. Esta conversa só podia ser anterior a 1488.

- Os tripulantes de um navio francês, aprisionado em 1532 quando regressava clandestinamente do Brasil, afirmam que tinham provas que os portugueses estavam estabelecidos nesta região do mundo antes de 1491 (27). 

- O espião inglês Robert Thome, informa Henrique VII, em 1527, que os portugueses antes de Colombo: "O rei de Portugal já tinha descoberto algumas ilhas que estão contra Cabo Verde, e também uma certa parte do continente em direcção ao sul, a que se chamou Brasil"  (47).

- Nos anexos à Crónica de Nuremberg de 1493, diz-se que Martin Behain, havia navegado na companhia de "Jacob Carnus de Portugal" ao sul da linha do Equador ao "alter orbis", isto é, "Outro Mundo", a que na denominação romana se designava antipodas. Colombo também se referiu ao continente que encontrou na Venezuela, como "alter Orbis", e outros depois usaram o mesmo nome para designar a actual América do Sul.

- Colombo, quando a 6 de Setembro de 1492, zarpou de La Gomera (Gomeira, Canárias) na direcção da "India" (América), é informado que três caravelas de Portugal estavam perto da Ilha de Ferro (Isla del Hierro), isto é, entre as Canárias e o continente americano, para controlarem a sua expedição, de forma a garantirem que não entrava nos domínios definidos no Tratado de Alcáçovas-Toledo (1479-80), que abrangia grande parte da América do Sul.

- O Brasil, segundo o historiador espanhol Juan Manzano y Manzano, teria sido descoberto pelos portugueses em fins do Verão ou Outono de 1493 (24). 

É cada vez mais consensual que Portugal já conhecia a existência do Brasil, antes de 1492 mas a verdade é que não tinha condições para assegurar estes vastos  territórios dadas as guerras que mantinha com Castela, nomeadamente pelo controlo do Norte de África e a costa da mina (Gana), a sua principal prioridade.  

- Afonso Gonçalves, piloto, em Novembro de 1494, zarpou na direcção do Brasil, tendo sido recompensado por carta régia de 11/6/1497 (menos de um mês antes de embarcar na armada de Vasco da Gama) (28).

- Nas negociações do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, Portugal fez mais uma vez questão de contemplar o domínio absoluto deste vasto território. A justificação dada pelos negociadores portugueses foi que os navios vindos do Cabo da Boa Esperança precisavam de espaço para fazerem manobras, daí terem exigido 370 léguas a Ocidente de Cabo Verde. A verdade era outra, como o próprio Colombo escreverá.

-

  Durante as conversações deste Tratado os reis católicos informaram Colombo que os portugueses sabiam de um continente localizado a Ocidente entre o cabo da Boa Esperança e o paralelo das Canárias, o que corresponde ao actual Brasil.

O próprio Colombo, em Agosto de 1498 (32), escreve com toda a clareza que se dirigiu de Cabo Verde na direcção do Brasil por  cinco razões:

a) A averiguar da terra firme (continente) que D. João II lhe falara existir a "austro", isto é, a Sudoeste.

b) Os conflitos durante as negociações com Castela deveram-se ao facto de Portugal, pretender assegurar a posse deste continente. Exigindo que o meridiano fosse fixado a 370 "léguas" (sic) das Ilhas do Açores e Cabo Verde.

c) D.João II tinha "por cierto" que dentro do seus limites "avía de hallar cosas y tierras famosas".

d) D.João II tinha grande empenho (inclinação) em enviar navios a descobrir a sudoeste. Os portugueses acharam inclusive canoas que saiam da costa da Guiné, que navegavam na direcção de oeste com mercadorias.

e ) A direcção para Ocidente devia ser percorrida seguindo o paralelo da Serra Leoa, calculando a latitude a partir da Estrela do Norte (estrela polar), seguindo depois para sul. Colombo viu-se impossibilitado de seguir esta ultima instrução do rei, como refere, devido ao calor que encontrou, limitando-se a seguir o paralelo  até atingir Terra Firme.  

Colombo, contraria assim a versão corrente que D. João II ( falecido em 1496) estaria apenas envolvido nas expedições em torno de Africa. Como se prova estava também empenhado em explorar o sudoeste do Atlântico, sabendo da existência de um continente nessa direcção. 

Recorde-se que a bordo da 3ª. Viagem de Colombo, na qual atingiu Terra Firme, seguiam pelo menos dois portugueses. Esta expedição violava de forma ostensiva o Tratado de Tordesilhas, só pode ser realizada com a prévia autorização de D.Manuel I, um facto ignorado pela historiografia oficial. Nas Ilhas de Boavista e de Santiago, os seus navios foram abastecidos e viveres. Rodrigo Afonso, escrivão da fazenda do rei de Portugal, ofereceu-lhe tudo o que havia na ilha da Boavista. Mais

O melhor registo histórico destas viagens para ocidente é feito pelo próprio Colombo no Memorial de la Mejorada (Julho de 1497) (31), no qual acusa D. Manuel I de ter violado o meridiano de Tordesilhas enviando expedições portuguesas em várias direcções:

a) Para a India contornando África, e ultrapassando já na altura o Cabo da Boa Esperança;

b) Para poente na direcção das Indias espanholas e sudoeste (Brasil);

c) Para norte na direcção do Polo Artico, isto é, da Terra Nova 

Colombo confirma deste modo, e de forma inequívoca, as expedições portuguesas antes de 1497, ao continente americano.

Estas expedições portuguesas para Ocidente, são alvo de uma dura critica neste Memorial, mas também na Relação da Terceira Viagem, concluído em Agosto de 1498. Colombo, afirma que D.Manuel I, ao contrário de D. João II não estaria a respeitar os limites estabelecidos no Tratado de Tordesilhas, nomeadamente a poente.

O

- Vasco da Gama, em Julho de 1497, quando partiu em direcção à India, foram-lhe dadas instruções precisas para se aproximar das costas do Brasil, mas sem aportar. O relato de um dos pilotos, o célebre "Piloto Anónimo", é muito claro ao identificar que estavam a navegar junto a terras a Ocidente, mas que não correspondiam à India, pois não tardaram em afastar-se das mesmas navegando para Oriente (Cabo da Boa Esperança). Na "Relação da Viagem", em Agosto de 1497, regista indícios muito claros de terras no poente: "indo na volta do ... a sul e a quarta do sudueste, achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a noite, tiravam contra susoeste muito rijas, como aves que iam para terra". 

- Duarte Pacheco Pereira, em 1498, é enviado por D.Manuel I para ocidente, afim de explorar a linha do Tratado de Tordesilhas, identificando as terras que cabiam a Portugal. Fez uma longa viagem de exploração não apenas pelas costas do Brasil, mas também pela Venezuela, deixando-nos um relato destes factos. O seu objectivo, segundo alguns historiadores,  parece ter sido o de identificar na costa brasileira do Amazonas, o ponto na Foz do Turiaco onde passava o meridiano do Tratado de Tordesilhas.   

Noutras passagens refere explicitamente as viagens que antes de 1495 os portugueses faziam a Ocidente, nomeadamente ao Brasil (cfr. Jaime Cortesão, A Colonização do Brasil, p.27-32).

-  Investigações recentes dão conta de uma expedição portuguesa que entre Dezembro 1498 e Maio de 1499 explorou profundamente o Amazonas, através do curso do rio designado por "Colpho Grande" até cerca de 500 milhas do mar, reconhecendo as embocaduras do Rio Pará e Tapajós. 

A descoberta foi realizada com base na análise da cartografia da época (mapas de Pesaro, Egerton Ms 2803 e Roselli, de origem portuguesa, transmitidos a Espanha e Itália por Vespucio e outros) , mas também com base em fontes espanholas (29).´

- A conhecida expedição de Diego Lepe que, em princípios de 1500, alegadamente terá tocado no território brasileiro, encontra no mesmo uma cruz colocada por anteriores expedições portuguesas (cfr. Alfredo Pinheiro Marques, Portugal e o Descobrimento do Atlântico, p.108).

- O roteiro anónimo da 1ª. viagem de Pedro Alvares Cabral à India (1500-1501), descreve a aproximação intencional da armada às costas do Brasil, de modo a oficializar a sua descoberta. Na esquadra de 12 navios seguia um pequeno navio, uma caravela, que tinha como objectivo aportar ao Brasil, e formalmente registar a posse do território e regressar de imediato a Portugal, o que foi feito.

A viagem foi iniciada com total discrição. O próprio rei D. Manuel I estava fora de Lisboa, para não levantar suspeitas. Portugal retardou o mais que pode a noticia, e só a comunicando um ano depois, quando desembarcou em Lisboa os sobreviventes da esquadra de Cabral. A corte portuguesa jogava no segredo.

- Mestre João, fisico e cosmógrafo de D. Manuel I, que  participou na armada de Alvares Cabral, na informação que prestou ao rei, indicava que o Brasil era a "Ilha Autêntica" que estava  no mapa-mundi que pertencia a Pero Vaz Bisagudo (Pêro Vaz da Cunha).

- Pero Vaz de Caminha, cronista da expedição, na sua célebre carta ao rei, refere explicitamente uma viagem anterior. Ao descrever a primeira missa em solo brasileiro, diz que Nicolau Coelho trouxe muitas cruzes, com crucifixos que "haviam ficado da outra vinda". Nicolau Coelho foi capitão de um dos navios da expedição de Vasco da Gama (1497-1499).

- O Planisfério dito de Cantino (1500-1502) mostra claramente que o Brasil já estava cartografado no ano em que Pedro Alvares Cabral o "achou". As enormes dimensões que o Brasil tem neste mapa mostram que os portugueses tinham a perfeita noção que não se tratava de uma simples ilha, mas de um continente distinto da Asia. 

Planisfério de Cantino, 1500-1502

Neste mapa surge um curioso acidente geográfico muito a poente do meridiano de Tordesilhas designado "Golfo Fremoso", o qual não aparece em nenhum outro documento estrangeiro antes de 1506. O primeiro a fazer referência ao mesmo é justamente o esboço de um mapa de Bartolomeu Colombo, feito neste ano onde regista o "Golfo Formoso". Este topónimo confirma de forma inequívoca as explorações portuguesas em profundidade pela costa setentrional das Indias espanholas antes de 1506.   A informação de Bartolomeu Colombo terá sido recolhida em Vespúcio que se mudou de Lisboa para Sevilha no final de 1504.

Uma análise mais atenta do planisfério revela outras expedições portuguesas antes de 1502, e que serviram de base à sua feitura (30).  

- Gonçalo Coelho, em Maio de 1501 é enviado numa expedição para as costas do Brasil, constituída por três embarcações, provavelmente caravelas (17). Comandou uma nova expedição entre Junho de 1503 e 1504, com seis navios, quatro nunca regressariam. A frota dirigiu-se para Cabo Verde, e atingiu ilha de Fernando de Noronha (10/8/1503), onde naufragou o navio de comando. Um grupo de navios prosseguiu o rumo para sul durante cinco meses atingido o Cabo Frio, onde construíram uma feitoria. O mapa de Maiolo (Fano, Itália, 1504) identifica o Brasil como "Terra de Gonçalo Coelho". 

Estas viagens foram durante muito tempo objecto de enorme polémica, até que foi descoberta uma acta notarial de Valentim Fernandes de Moravia, datada de 20/5/1503, integrada no códice de Peutinger, na Biblioteca de Esturgarda (35), nas quais se confirma que Gonçalo Coelho chegou à altura do pólo Antártico, a 53 graus, "tendo encontrado grandes frios no mar". Terá também chegado ao arquipélago das Maldivas ou Falkand (37). 

É possível que não só tenha chegado ao extremo sul do continente, como parece evidente pela análise do mapa de Waldseemuller, como tenha inclusive navegado na costa ocidental da América do Sul. Há vários relatos que testemunham que quando Fernão de Magalhães, em 1520, chegou ao estreito que actualmente tem o seu nome, tinha consigo um mapa da região.  

Americo Vespúcio viveu em Portugal entre 1499 e 1505, nos seus escritos divulgados por toda a Europa afirma que participou nestas expedições de Gonçalo Coelho a mando do D. Manuel I. Nunca foi encontrado qualquer registo da sua participação nas mesmas. As suas alegadas descobertas, com as quais pretendeu ocultar os feitos de Colombo, foram elaboradas com base em relatos marinheiros portugueses, com quem contactou durante os 5 anos que viveu em Lisboa. 

c) Exploração da Costa Oriental da América e a questão da Austrália

Terão os portugueses, ainda no final do século XV, terão explorado o estreito de Magalhães e a costa oriental da América ? Chegaram à Austrália no princípio do século XVI?  

- Globo de Paris, datado de cerca de1535 (Gaspar Vopelius?), de origem portuguesa. A sul do estreito de Magalhães, aparece a inscrição "Terra Australis recentemente descoberta 1499". Os mapas de Jeronimos Girava e F. Monachus, referem idêntica descoberta em 1499. 

- Mapa de Piri Re`is, datado de 1513, na mesma zona do estreito de Magalhães, tem escrito: "dos infiéis portugueses". Anota que os dias e as noites tinham 22 horas, o que revela que as expedições portuguesas estiveram perto do oceano antártico.

- Mapa de Waldseemuller, datado de 1507, onde aparece representado a costa leste do continente americano, desde a Terra Nova (Canadá) ao cabo de Horn no extremo sul do continente. No Brasil surge pela primeira vez a palavra América. No Rio da Prata, o cartógrafo colocou uma bandeira portuguesa. 

O mapa reflecte a ideia de D. João II, como afirmou Colombo, que existia a ocidente um novo continente, a quarta parte da Terra.

Análises recentes têm revelado que neste mapa, baseado em informações portuguesas, surge a primeira representação da costa oeste da América. 

Um crescente número de historiadores tem defendido a tese que os portugueses, ainda no século XV começaram a explorar as terras a sul do Brasil, e daí foram para a costa oriental da América, entrando dentro dos domínios espanhóis definidos no Tratado de Tordesilhas.

Restam poucas dúvidas que os portugueses, nas primeiras décadas do século XVI, atingiram a Austrália a partir de Timor. O que os mapas anteriores mostram é que o poderão ter feito, igualmente a partir de viagens para sul do estreito de Magalhães. Temos muitos relatos de navegadores portugueses que falam de uma terra a sul do cabo da Boa Esperança com aves coloridas, a "Terra dos Papagaios". Recorde-se que o nome de Austrália foi dado, em 1606, por um navegador português ao serviço de Espanha. Mais

A questão com que Portugal se deparou na América do Sul é a mesma que enfrentou na América do Norte: as terras que descobria, com excepção da costa brasileira, estavam dentro dos limites espanhóis do Tratado de Tordesilhas, e por esta razão  não as podia reclamar. 

d ) Exploração da Flórida ou Florida (EUA)

Desde o século XIX que se acumulam provas sobre a descoberta da Florida por portugueses. Harrisse foi o primeiro a indicar o Mapa de Cantino como uma prova desta descoberta. Alguns dos topónimos que nele aparecem mantiveram-se em mapas posteriores nos mesmo locais, o que revela a continuidade das explorações da região pelos portugueses. 

A partir das Bahamas os portugueses exploraram e cartografaram a Florida, como está também patente no Mapa dito de  Cantino (1500-1502). Desde o século XIX se tem procurado datar esta descoberta, oscilando entre 1495 e 1498, aquando da viagem de Duarte Pacheco Pereira.  

Enquanto os portugueses andavam a explorar a Florida, em 1498 Colombo dirigiu-se para Sul à procura de Terra Firma, uma região também já cartografada pelos portugueses. 

Recorde-se que os espanhóis só vieram a ter conhecimento desta região dos actuais EUA em 1513, através de Juan Ponce de León. Como vimos, os portugueses estiveram também na linha da frente da exploração terrestre da Flórida e do interior dos EUA. 

e ) Exploração da América do Norte. 

As noticias das expedições portuguesas à América do Norte datam de meados do século XV. Colombo assinala que as mesmas começaram a ser realizadas a partir das Ilhas dos Açores, mas também da Ilha da Madeira. Estas expedições deveram-se a dois motivos distintos: a pesca do bacalhau e a descoberta de uma passagem a norte para a India.

Desde o século XII do Minho saíam barcos para a pesca de baleias no alto mar. A partir do século XIV do Algarve e Alentejo partiam expedições para pesca do bacalhau na Inglaterra. Data de 1353, o tratado entre a Inglaterra e Portugal, no qual este país permite aos pescadores de Lisboa e Porto pescarem bacalhau na suas águas. 

Estes pescadores não tardaram em aventurarem-se mais para nordeste, na direcção da Gronelândia onde descobriram importantes bancos de bacalhau. Em Bristol (Inglaterra) criaram em meados do século XV, uma importante comunidade de pescadores. O porto de Aveiro passou a concentrar a maioria dos pescadores. Dali partiam para a Ilha Terceira (Açores), dirigindo-se então para o "Gulf Stream" que os levava em direcção ao Labrador - Terra Nova. Muito antes do século XVI já tinham atingido o continente americano, provavelmente à procura de bacalhau.

Em 1506 já possuíam na costa do actual Canadá, colónias fixas de pescadores, com gente oriunda principalmente da Viana do Castelo, Aveiro e dos Açores ( 45). 

A pesca do bacalhau nas costas do Canadá adquiriram tal importância que D. Manuel I, por alvará de 14/10/1506, manda cobrar o dizimo da pesca na Terra Nova nos portos entre o Douro-e-Minho. Só de Aveiro saíam cerca de 60 navios todos os anos, em 1550 foram cerca de 150 (45). Na costa leste do Canadá existem inúmeras terras e localidades que desde essa altura possuem nomes portugueses. A perda de independência de Portugal, entre 1580 e 1640, foi fatal para a continuidade destas actividades piscatórias dos portugueses no atlântico norte, uma tradição que só muito depois será retomada. 

1. Gronelândia, Labrador, Terra Nova (Terras Nova dos Bacalhaus, Canadá) 

Desde meados do século XV que os portugueses exploravam de forma sistemática o actual Canadá, como o demonstram muitos relatos.  

- Diogo de Teive (escudeiro do Infante D. Henrique) (21), por volta de 1452, fez duas viagens, uma na direcção do S.O., tendo no regresso descoberto as ilhas das Flores e do Corvo (Açores) e outra na direcção N.O. atingindo a região do actual Canadá (Terra Nova). O piloto da expedição foi Pedro Vasques  (Pero Velasco, Pero Vasquez de la Fronteira, Pietro Velasco). Os pormenores relatados da terra avistada, das correntes e variações atmosféricas são de tal modo precisos, que não restam dúvidas que da veracidade da expedição. 

Colombo registou esta expedição, o que é mencionado por Hernando Colón (cap.IX), Las Casas (cap. XIII). (14), a qual é também relatada por outros testemunhos nos Pleitos Colombinos (1532-1535).

- Muitos historiadores ingleses sustentam que um piloto português chamado Fernando, conduziu um barco de Inglaterra à Terra Nova. Esta viagem terá ocorrido entre 1460 e 1480 (36). 

- D. Afonso V, por carta régia de 19/2/1462, doa a João Vogado, as "ilhas de Lovo e Capraia" indicadas a ocidente dos Açores nos mapas da época.

- Colombo refere que membros da família Corte Real terão descoberto a Terra do Bacalhau (Tierra de los Bacallao ou Terra Nova ), antes de 1484, uma afirmação repetida por Las Casas e Hernando Colón. A primeira expedição de João Corte Real a Ocidente terá sido realizada em 1471, tendo feita outras na companhia de Alvaro Martins Homem (1473) e de Pedro de Barcelos ( 1473-1475). 

A descoberta da América terá ocorrido antes de 1474, pois neste ano João Vaz Corte Real (20) recebeu justamente como prémio por este feito a capitania de Angra (ilha Terceira, Açores), e mais tarde a da ilha de S. Jorge (1483).

No século XVI, abundam testemunhos desta descoberta. Gaspar Frutuoso, afirma que João Vaz Corte Real, em 1474, aportou à ilha Terceira vindo da "Terra dos bacalhaos" (Terra Nova). No Atlas de Vaz Dourado, carta 5ª., aparece o nome João Vaz a designar a Terra Nova (Canadá): B.de João Vaz, Terra de João Vaz. 

- D. Afonso V, por carta régia de 28/1/1474, concede a Fernão Teles qualquer ilha que ele viesse a descobrir A ocidente, uma concessão que será estendida no anos seguinte à ilha das Sete Cidades ou qualquer ilha habitada (10/11/1475). O objectivo desta expedição era prosseguir a rota do nordeste aberta, em 1452, por Diogo Teive. Este fidalgo, recorde-se, comprou aos herdeiros de Diogo Teive as ilhas das Flores e do Corvo (Açores).

As explorações portuguesas de inicio aparecem ter estado ligadas à procura de bancos de bacalhau, mas depois foram realizadas de forma sistemática para tentar encontrar possíveis passagens a norte do Atlântico para a India.

Colombo afirma também que participou numa expedição, em 1476/77,  à Groenlândia organizada pelos reis da Dinamarca e de Portugal, a pedido de D. Afonso V (D.João II, e não de  D. Afonso V). 

- Diogo Gomes (navegador do Infante D. Henrique), na relação que ditou a Martinho da Boémia (Martin Behaim) (49), em 1482, declara que os portugueses já haviam navegado pelo pólo ártico, onde haviam encontrado habitantes(41). 

- " El Memorial Portugues de 1494". Neste importante documento descoberto no Arquivo Geral de Simancas e publicado em 1994, o seu autor revela sem margem para dúvidas que os portugueses conheciam antes de 1484, não apenas todo o Atlântico Norte, mas também a Terra Nova (Canadá), onde procuravam encontrar uma passagem para a India (46). 

- Fernão Dulmo (cavaleiro e capitão da ilha Terceira) e João Afonso do Estreito, recebem por carta régia de 3/3/1486, a capitania de "uma grande ilha, ilhas ou continente, que se suponha ser a ilha das Sete Cidades, e se situaria na Terra Nova. Partiria da Ilha Terceira, durante o mês de Maio. Previam encontrar habitantes, pelo que foi estabelecido que se a resistência fosse grande, o rei lhes daria apoio na pacificação dos indigenas. A concessão fala já num continente e não apenas de ilhas.  Hernando Colón, com base em apontamentos de Colombo, regista também esta expedição.  A viagem terá ocorrido em 1487. 

A posição da Terra Nova estava já perfeitamente localizada pelos portugueses, assim como a melhor altura para fazer fazer a expedição por causa do gelo. A informação acabou por espalhar-se. Desde 1491, que os mercadores de Bristol armarem vários navios para encontrarem estas terras a ocidente (42).

- Uma carta existente na Biblioteca Nacional de Paris, anterior a 1492, atribuída por Charles de la Roncière a Colombo, assinala a ilha das Sete Cidades ( três ilhas) a noroeste do arquipélago dos Açores. Numa legenda se diz que era a esse tempo uma colónia portuguesa. A configuração das ilhas aproxima-se da Terra Nova. A sua posição coincide com a Terra Nova no mapa dito de Cantino (40). Os contornos da Gronelândia são muitíssimo mais correctos, do que os da Suécia ou Noruega. 

- João Corte Real desapareceu em 1493, em mais uma expedição à América. No ano seguinte, o seu filho Gaspar Corte Real inicia um conjunto de expedições ao novo continente para o encontrar, a última (?) foi realizada em 1500 por outros membros da sua família. 

- A célebre carta do Dr. Monetário a D. João II, datada de 14/7/1493, atribuiu a este rei a glória de ter dado a conhecer a Gronelândia, cuja costa teria explorado em mais de 300 léguas (41).

Entre 1491 e 1494 João Fernandes, o Lavrador e Pêro de Barcelos exploraram durante três anos a costa leste do Canadá, uma região que ficou conhecida por "Terra de Lavrador". Colombo no Diário de Bordo, a 7/10/1492, assinala que marinheiros dos Açores viram a Ocidente ilhas de grandes dimensões. Um facto confirmado por Alonso de Santa Maria, companheiro de Sebastián de Cabot entre 1526-1530 (43).

João Fernandes, o Labrador, logo depois de D. João II ter falecido (Out/1495), divulgou a descoberta da existência de terras a Ocidente ao rei de Inglaterra (43). Este a 5/5/1496 contrata Jean Cabot para realizar uma expedição às terras que os portugueses haviam visto a Ocidente. A expedição partiu de Inglaterra a 2/5/1497, tendo avistado a Terra Nova, levando a bordo vários portugueses, entre os quais João Fernandes. Na segunda expedição de Cabot, veio a Lisboa em Março de 1498, para recrutar marinheiros e pilotos, um procedimento que terá feito também na expedição anterior. A segunda expedição chegou apenas à Gronelândia.

D. Manuel I, numa carta régia datada de 28/9/1499, concede a João Fernandes Labrador, "morador da ilha Terceira", a capitania de qualquer ilha que viesse a descobrir na zona do Labrador, desde que não estivesse naturalmente dentro dos domínios espanhóis definidos no Tratado de Tordesilhas. O que se revelou uma impossibilidade. 

D. Manuel I, em Julho de 1508, concedia uma carta de privilégio ao filho de Pero de Barcelos, em atenção aos serviços este havia prestado a Portugal "na armação e descobrimento da parte norte". 

João Alvares de Fagundes descobre e explora a Nova Scotia, possivelmente em finais do século XV. 

d

- Em 1500 parte uma importante armada, comandada por Gaspar Corte-Real (cavaleiro da Ordem de Cristo) para a Terra Nova, tendo o seu navio desaparecido com a respectiva tripulação (16). Os sobreviventes, em duas naus, regressaram a Lisboa  trazendo consigo indios norte-americanos aprisionados. A descrição da chegada da primeira nau (8/10/1501) foi feita por um espião italiano - Pietro Pasqualigo. A segunda que chegou três dias depois foi feita por outro espião Alberto Cantino.

- Para os resgatar foi enviada outra expedição para Ocidente, com duas naus, comandada pelo seu irmão Miguel Corte-Real (cavaleiro da Ordem de Cristo) que também desapareceu em 1502. Regressou todavia uma nau, mas a que seguia Miguel perdeu-se. Em 1503 D. Manuel I enviou uma nova expedição à América para os encontrar, mas esta regressou sem o ter avistado.

Não sabemos as regiões da costa norte-americana que estas expedições percorreram, mas uma já está identificada - a Baía de Narraganset (EUA).

Até ao século XVII, muitos foram os cartógrafos que assinalavam as regiões continentais do Canadá, como a Terra de Corte Real (terra de cortereal).

Num contexto de colaboração activa com a Inglaterra, a 19/5/1501, Henrique VII numa carta de patente, inclui João Fernandes Labrador entre os três escudeiros dos Açores que estavam associados a três ingleses que projectavam descobrir terras a Ocidente (19).

O problema destas expedições é que as mesmas facilmente constatavam que os territórios que descobriam pertenciam à Espanha, de acordo com os limites definidos pelo Tratado de Tordesilhas (1494), sendo as mesmas consideradas intromissões hostis. É neste sentido que os mapas na Terra Nova, dividiam simbolicamente as terras descobertas em duas partes, colocando apenas numa a bandeira de Portugal.

No final do século XV os portugueses já tinham cartografado a costa atlântica do Canadá, incluindo-a nos seus domínios. Um facto que tem sido pouco divulgado, mas do qual existe ampla documentação, nomeadamente cartográfica.

Pormenor do mapa de Cantino (1500-1502), com bandeiras portuguesas sobre a Terra Nova (ilha) e a Gronelândia com a 

indicação que a primeira é uma "Terra do Rei de Portugal". A linha do Tratado de Tordesilhas é assinala também no mapa.

- O Planisfério dito de Cantino (1500) tem uma novidade interessante, ao cartografar a Terra Nova (Canadá), assinala tratar-se de "'Terra Del Rey de Portugall'. Num toque pitoresco regista a existência de pinheiros. A região era conhecida dos portugueses já no século XV, como muitos outros documentos históricos o confirmam.  O planisfério assinala também a Groenlândia, com uma bandeira portuguesa. 

- Mapa de Pedro Reinel (?-1542), em 1504,  cartografa as costas atlânticas do Canadá, identificando-as como portuguesas.

- Planisfério de Nicolo di Caverio ( c. 1505). Baseado em informações recolhidas em mapas portugueses, em particular no Mapa de Cantino, continua a assinalar a presença dos portugueses na Florida, no Norte dos EUA, Canadá e na Gronelândia. 

- Mapa de Kunstmann III (Bib. Augsburgo), feito em 1506, por um cartógrafo de Lisboa. Mostra claramente o Canadá com o nome de "Terra de Cortte Riall" (Terra de Corte Real). O mapa segue a mesma estrutura do mapa realizada por Pedro Reinel (c.1504).

- Mapas de Waldseemuller, realizados em 1507, com base no planisfério de Caverio e outras fontes portuguesas. A bandeira de Portugal volta a ser colocada na região da Gronelândia e do Canadá, procurando desta forma legitimar involuntariamente a sua posse.

Os cartógrafos dos tempo, com excepção de alguns espanhóis, eram consensuais na atribuição da descoberta da Terra Nova, em 1491-1494,  aos navegadores portugueses, em particular a João Fernandes, o Labrador.

Os navegadores portugueses no inicio do século XVI já tinham explorado toda a costa leste do EUA, assim como do Canadá.  Carlos V quando pretendeu cartografar a América não hesitou em recorrer ao serviço dos portugueses, eles conheciam muito melhor a América do que os espanhóis. Mais  

2. Enigmas da Baía de Narraganset (EUA)

A região sul da Terra Nova, mesmo em frente dos Açores foi certamente explorada pelos portugueses, como revelam os muitos vestígios que aí tem sido encontrados. 

- Pedra Gravada - Dighton Rock (Fall River). Em 1853, Seth Eastman descobriu perto de Fall River uma pedra com inscrições. Apesar das mutilações posterior foi possivel, em 1918, identificar a data de 1511, depois Miguel Corte Real e em 1960, símbolos portugueses e o brasão de Portugal. Mais

- Torre - Newport Tower ( Newport Island). Na mesma baia de Narraganset há um monumento que continua a ser objecto de enorme polémica, pois trata-se da primeira construção em pedra feita no continente americano por europeus. Mais

- Forte de Ninigret - Fort Ninigret (Rhode Island). Vestígio de um forte onde foram encontrados canhões, espadas e outros materiais datados dos século XV. Mais

- Outros vestígios enigmáticos (Esqueleto de um homem com armadura (Fall River) , Indios brancos, Lendas locais, palavras portuguesas usadas pelos indios, etc). Mais

De acordo com o Tratado de Tordesilhas (1494), como dissemos, estas terras pertenciam a Espanha, e nesse sentido Portugal limitou-se a fazer o seu reconhecimento. As partes que ficavam de fora desta linha definida pelo Tratado, como o Brasil e parte da Terra Nova foram obviamente reclamadas por Portugal. 

f ) Portugueses Perdidos

Milhares de portugueses nunca voltaram das viagens de exploração, muitos morriam em naufrágios ou em combates, outros ficaram retidos em terras distantes sem meios para regressarem. Existem muitos relatos dos séculos XV e XVI de vestígios que foram encontrados destes portugueses. 

Um exemplo:

O cronista João de Barros afirma que, em 1525, uma armada de Castela, quando navegava da costa da Guiné para a costa do Brasil, encontraram numa ilha despovoada, chamada S. Mateus (Fernão de Noronha?), inscrições portuguesas, datadas de 1438, em duas arvores ( 6 ).  

A partir do século XVI torna-se muito popular a literatura sobre estes portugueses perdidos ou mortos por naufrágios, devido ao aumento da percepção do fenómeno. Colombo já havia chamado à atenção para o facto das descobertas terem custado a vida a metade da população portuguesa. O valor é certamente exagerado, mas revela bem a dimensão do drama.

g ) O Problema Português 

Os muitos exemplos que referimos são apenas referentes a expedições para ocidente no oceano Atlântico, mas permitem perceber um dos grandes problemas que Portugal enfrentava: a dispersão planetária.

A chegada à India em 1498 vai implicar a curto prazo uma mudança estratégica na expansão. Era fácil perceber que um pequeno país não tinha recursos suficientes para manter um Império planetário, e nesse sentido se começou a ser discutir a questão das regiões do mundo que importava dominar, largando mão das restantes. 

A dispersão planetária era fatal para a sobrevivência do Império marítimo, para além de consumir enormes recursos humanos e económicos para o manter. Uma questão que irá se colocará com especial acuidade, durante o reinado de D. João III (r.1521-1557), num altura em que os portugueses já haviam chegado às Molucas (1512), China (1513), Timor (1515), Austrália (1522) e ao Japão (1542). 

As inúmeras expedições realizadas pelos portugueses cedo se tornaram num preciso capital de informações, que suscitavam a cobiça de outros reinos europeus. Nas Cortes, como a de 1481, o povo pedia ao rei para proteger dos estrangeiros a informação, afastando os estrangeiros das expedições. A política seguida com maior eficácia foi a do sigílio em matéria de documentos oficiais. Os cronistas do reino muito pouco ou quase nada referem sobre os descobrimentos, de modo a não darem preciosas indicações à concorrência (22). É neste contexto que Colombo se tornou numa das fontes históricas fundamentais sobre os descobrimentos portugueses.

A ideia que a América constituía um enorme continente, " a quarta parte" da terra não era nova entre os cosmógrafos portugueses, mas foi consolidada com as explorações de 1500-1501 ao extremo norte e sul do continente americano. Américo Vespúcio, em 1503, atribui a descoberta a D. Manuel I. A fim de evitar o saque dos territórios pertencentes a Portugal (Brasil e Terra Nova), mas também possíveis conflitos diplomáticos com a Espanha, este rei proibiu com a pena de morte a divulgação das cartas de marear e mapas destas expedições. 

A informação acumulada por cosmógrafos, cartógrafos e navegadores portugueses resultante das suas expedições pelo mundo passou a valer fortunas, e nesse sentido os mesmos passaram a ser contratados em grande número por reinos como a Espanha, França, Inglaterra e depois a Holanda. Milhares de roteiros e mapas portugueses estão hoje espalhados por todo o mundo, cujo inventariação completa está ainda por realizar.

  Os Historiadores Portugueses e o Descobrimento da América antes de 1492 

A histografia portuguesa dos descobrimentos, com raríssimas excepções, continua a funcionar segundo a lógica do Tratado de Tordesilhas (1494): Apenas está preocupada em estudar os antigos domínios de Portugal, em especial no Oriente, omitindo ou ignorando tudo aquilo que os portugueses fizeram em domínios espanhóis. A esmagadora maioria nem sequer consulta, por exemplo, as fontes espanholas sobre as expedições portuguesas.

 

Carlos Fontes

  Notas:

( 1) Verdera, Nito - Cristóbal Colón. El Libro de las Falacias e Relación de Quatro Verdades. Libreria Nautica Robison. Madrid. 2007. Verdera confirmou esta descoberta em documentos existentes na biblioteca do Capitão Navarro Custín, em Miami, uma das maiores colecções de obras sobre o Descobrimento da América. Este historiador espanhol confirma que os portugueses em 1500 já haviam chegado à Flórida.

( 2 ) Valentini, P. J. - “LOS PORTUGUESES EN LA RUTA DE COLON”, obra publicada em 1888. Este historiador norte-americano foi o primeiro a sustentar esta tese, baseado na análise do célebre Mapa de Cantino.

( 3 ) Trata-se de uma cópia de um mapa português, datado de 1500, e que foi levada para Itália por um espião italiano que se conseguiu infiltrar na Corte de D. Manuel I e aí subornou cartógrafos, um expediente em que eram mestres.

(4 )  "Nesse tempo (1493) chegaram avisos das Indias (América) com notícias mais largas, das que Colon havia referido, pelo que os reis católicos mandaram segunda vez os mesmos embaixadores (Pedro de Alaya e Garcia de Cardenas) a el-rei D. João, e dando-lhe audiência os recebeu com pouco agrado, e depois de várias propostas se retiraram", in, Historia Genealógica da Casa Real Portuguesa,1737, vol.III,pag.68

(5) Durante a ocupação de Portugal pelos filipes (1580-1640), corsários e piratas portugueses estabeleceram-se nas Antilhas onde se dedicavam a atacar os domínios espanhóis e a ajudar franceses, holandeses e ingleses também a fazê-lo. 

(6) João de Barros, Ásia, Década I, Livro II, cap. 2.

(7 ) Las Casas, Historia de las Indias, Tomo I, cap.XIV

(8) Hernando Colón, Historia del Almirante, cap. LXIII.

(9).Lopes de Gomera, História General de las Indias, Tomo I, cap.XXXIII.

(10)  Bernal Diáz del Castillo, Historia Verdadera de la Conquista de la Nueva Espana, Tomo I, Cap. XIII.  

(11)Bernal Diáz del castillo, ob.cit. Tomo I, cap. XCI. 

(12 ) Hernando Colón, História del Almirante, cap. LXIII. .

(13) Hernando Colón, História del Almirante, cap. IX  Ver  Juan manzano y manzano sobre o assunto.

(14) Consultar: Jaime Cortesão, a Expansão ...., pp.187-221.

Vitorino Magalhães Godinho, Documentos sobre a Expansão Portuguesa. Vol. III, p. 339-346. Jaime Cortesão, A Viagem de Diogo Teive e Pero vasquez de la Fronteira ao banco da Terra Nova, in, Arquivo Histórico da Marinha, vol. I, etc.

(15) Hernando Colon, ob.cit. cap.IX

(16) A 12 de Maio de 1500, D. Manuel I prometera-lhe a capitania ou a Terra Firme que Gaspar Corte Real descobrisse desde que as mesmas estivessem dentro dos limites portugueses do Tratado de Tordesilhas. Harrise, publicou uma das obras fundamentais sobre estas explorações: Les Corte-Real et Leurs Voyages au Nouveau-Monde. 

(17) Consultar: Américo Vespúcio - Lettera; Relação do Piloto Anónimo; carta de Giovanni Affaitati a Piero Pasqualigo; mapa de Maggiolo (datado de Fano, 8 de Junho de 1504) no qual se encontra inserida, sobre a representação do território brasileiro, a legenda Terra de Gonsalvo Coigo vocatur Santa Croxeetc.

(18) Consultar: crónica de D. Manuel de Damião de Góis;  Américo Vespúcio-  Quatuor Americi Vesputti Navigationes (1507);

(19) Arquivo dos Açores, Vol.IV, p.450 

(20 ) Os corte reais eram os alcaides-mor de Tavira (Algarve).

(21) Diogo de Teive era casado com Maria de Vargas de Guzman, filha de um fidalgo sevilhano. Foi como dissemos escudeiro do Infante D. Henrique e armador de navios.

(22) Jaime Cortesão, A Política do Sigilio nos Descobrimentos. Lisboa.1960

(23 ) consultar carta de João Coelho a D. Manuel I (1500).

(24) manzano y manzano, Juan - Colón y su Secreto. El Predescubrimiento. Madrid. 1989. 2ª. edição. Ediciones de Cultura Hispánica.p.280. Esta obra procura demonstra não apenas que os portugueses conheciam a América, mas a sua existência, mapas, roteiros foi passada a Colombo.    

(25) Jean de Léry - Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil.Paris.1578. Citado por Mascarenhas Barreto, vol.I.p.247

(26) Carta reproduzida por Navarrete,ob.cit., vol. I, 1858, p.496-497

(27) Em 1532 uma esquadra portuguesa aprisiona junto a Málaga a nau Pellerine do barão de Saint-Blancard, que regressava de Pernambuco. Os tripulantes deste navio francês afirmam que os portugueses habitavam esta região do Brasil havia "quarenta anos ou mais", isto é, antes de 1491.cfr. Jordão de Freitas, História da Colonização do Brasil. Errata e Comentários do vol. III, pp.392-393, observação ao final da nota 351 da 151.

(28) Sousa Viterbo, Trabalhos Nauticos Portugueses. Sec. XVI e XVIII.Lisboa. 1898 parte I, p.337

(29) Artur Davis, O Capitão Maranhão no Amazonas em 1498, in Abertura do Mundo. Estudos de História dos Descobrimentos Europeus. Homenagem a Luis de Albuquerque Vol. II, Lisboa.1987. p.11-12.

(30) Pereira, Moacyr Soares -O Novo Mundo no Planisfério da Casa de Este o "Cantino". sep. da Revista da Universidade de Coimbra. Coimbra 1990. (vol.XXXV.Ano 1989.pp.271-308).

(31) Cristobal Colón, Textos y Documentos Completos, p.333-340:

- "rey don Manuel  ... ha mandado navegar en india, por la parte de Guinea, y en Scitia (Ásia), por la parte Poniente y al Setentrión (Norte) allende el dicho límite ou raya (meridiano do Tratado de Tordesilhas)."

- "o sereníssimo rey don Manuel non guardó el asiento, así como fasía el rey don Juan, su anteçesor, porque ha navegado allende el Cabo de Boa Esperança en Arabia, Persia e India, por el caminho de Guinea, y a navegado al Setentrión y pasado la raya de la parte Poniente".

O texto está repleto de referências a navegações portuguesas antes de Julho de 1497 em direcção a Ocidente, isto é, o continente americano.

(32) Relacion de la Tecer Viaje, in, Textos, 388

(33) A legenda é a seguinte: "No ano de 741 depois do Nascimento de Jesus Cristo, quando toda a Espanha foi invadida pelos de Africa (muçulmanos), então a ilha denominada Sete Cidades, aqui figurada, foi povoada por um arcebispo do Porto de Portugal, com outros seis bispos e cristãos, que de Espanha fugiram em barcos, e ali viveram com os seus animais e os seus haveres". 

(34) Ibn Fathima, parece corroborar esta informação, quando diz que uma expedição vagueou pela costa da Africa Ocidental, a sul do Cabo do Bojador (cfr. Visconde de Santarém, Recherches sur la Priorité ...., p. LXXXVII

(35) A. Fontoura da Costa - Cartas das Ilhas de Cabo Verde, de Valentim Fernandes (1506-1507). Lisboa. Agencia Geral das Colónias, 1939. 

(36) Dic. Hist. Desc. Port. , Dir. Luis de Albuquerque, Vol. II, p. 1026

(37) Consultar também: Jaime Cortesão, Colonização do Brasil, pp.283-293.

(38)

(39) Cortesão, Jaime - Os Descobrimentos pré-colombinos dos portugueses. Lisboa.IN/CM.pp.160-167

(40) Charles de La Roncièrie, La Carte de Cristophe Colomb, Paris.1924, não tem dúvidas este mapa revela o segredo do descobrimento da Terra Nova pelos portugueses. Um segredo a que Colombo teve acesso.

(41) Bensaude, Joaquim- L`Astronomie nautique au portugal...

(42) Herrisse, Jean et Sebastian Cabot. Paris.1882

(43) Alonso de Santa Maria, no seu "Islario General", escreve: "Fue dicha tierra del Labrador porque dio della aviso y indicio um labrador de las islas de los Açores al Rey de Inglaterra, cuando él la envió a descubrir por António ( em vez de João) Gaboto, piloto inglês y padre de Sebastián Gaboto, piloto mayor que fue de vuestra magestad", Manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris,p.295.

(44) Bensaúde, Joaquim - L`Astronomie Nautique au Portugal ...p.271, publica a carta.

(45) Cordeiro, Luciano - La Tradicíon del Hombre Blanco; America y los Portugueses", in, Actas del Congreso de la Sociedad de Americanistas, Madrid. 1875, T.I.,p.233 

(46) El memorial portugues de 1494. Una alternativa al Tratado de Tordesillas, ed. Istvan Szaszdi Leon-Borja and Katalin Klimes-Szmik (Madrid: Testimonio, 1994; pp. 178). 

O autor (um português anónimo) desmonta vários mitos sobre a terra. Não confunde as Indias de Colombo com a India. Está convicto que se pode encontrar uma passagem a nordeste para a verdadeira India, um projecto em que os portugueses estavam envolvidos.

(47) Jack Beeching, Ed. - Richard Hakluyt - Voyages & Discoveries. London.Penguin Books.1972, p.50

(48) Relação de Diogo Gomes, in, Collecção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos Açores, de Manuel Monteiro Velho Arruda. Ponta Delgada. 1932, p.9

(49) Martin Behaim era casado com Joana de Macedo, irmã do 2º. donatário das ilhas do Faial e Pico, Josse de Hurtere, marido de Isabel Corte Real, irmã de Gaspar e Miguel Corte Real.

(50) Juan Pérez de Tudela y Bueso - Mirabilis in Altis - Estudios Critico sobre el Origem y significado del proyecto descubridor de Cristobal Colon. CSIC. Instituto "Gonzalo Fernandez de Oviedo". Coleccion Tierra Nueva e Cielo Nuevo. T. XI. Madrid. 1983.

 

Continuação:

13. Ameaça Permanente  14. Espionagem 15. Missão Espanhola 

16. Nobre em Fuga  17. Lugares em Espanha 18. Descobridores e Conquistadores 

19. Castelhanos 

20. Portugueses em Espanha.  21. Apoio de Judeus

22. Negociante Oportuno de Miragens

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28. Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

Provas de Colombo Espanhol

Provas do Colombo Português

 
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