Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo, português ?

 

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As Provas do Colombo Português

 

 

40. Descendentes de Colombo

 

Em Itália nunca foram encontrados descendentes de Colombo o navegador, mas apenas burlões, os quais logo no  século XVI foram desmascarados em tribunal. Os falsários italianos não se deram por vencidos e continuaram a sua obra de mistificação. Uma tradição que chegou até aos nossos dias. 

 

 

a) Herança de Colombo

 

Colombo entre 1497 e 1506 procurou por todos os meios  que o seu filho Diego Colón (português) herdasse os seus títulos e privilégios.

 

Em 1501 alimentou a esperança de obter esta garantia, a troco de avultados rendimentos que se mostrou disposto a pagar a um banco genovês. O fracasso destas negociações, como reconheceu em 1504, deixaram-no furioso e ainda mais preocupado com o futuro do seu filho. 

 

Após a sua morte, em 1506, Diego Colón só a muito custo conseguiu ser nomeado vice-rei das Indias (1509), sendo obrigado a casar com uma parente do rei espanhol. 

 

Os problemas não cessaram, pois para manter os privilégios do seu pai teve que mover vários processos contra a Corte Espanhola. Uma parte substancial da sua fortuna foi consumida nestes judiciais.

  

Quando Diego Colón faleceu, em 1526, o problema voltou a colocar-se. A coroa espanhola recusou atribuir a herança ao seu filho - Luis de Colón y Toledo (1522-1572), neto de Cristovão Colombo. 

 

A argumentação era quase sempre as mesma: 

 

1) Colombo enganara intencionalmente a Espanha, conduzindo-a para um falsa India ( o que Vasco da Gama  comprovou ser verdadeiro);

 

2) Colombo era português, um espião ao serviço dos do seu país. Por este motivo não merecia nem privilégios, nem títulos, mas apenas a forca como todos os que com ele colaboraram.

 

Dona Maria de Alba y Toledo, mulher de Diego Colon, que havia herdado o titulo de vice-rainha procurou por todas as formas passá-lo ao seu filho, menor de idade. 

 

A sua estratégia começou por tentar armá-lo Cavaleiro da Ordem de Santiago, o que significava o reconhecimento oficial da sua nobreza e a limpeza de sangue judaico.

 

A Corte Espanhola exigiu-lhe que provasse que Colombo era nobre e não plebeu. Esta era uma das condições exigidas para  pertencer à Ordem de Santiago de Espada quer em Espanha, quer em Portugal. Não foi dificil apresentar provas como Colombo era um nobre. 

 

O problema estava em identificar a origem da nobreza de Colombo, dado que não podia afirmar a sua nacionalidade portuguesa. A questão a origem italiana de Colombo voltava a colocar-se, como uma saída

possível.

 

O problema da nacionalidade portuguesa assumiu particular gravidade em relação a Diego Mendez de Segura, secretário de Colombo e do seu filho Diego. Em 1517, viu os seus bens confiscados sob a acusação de ser português. Um problema que só ficou resolvido em 1532, quando este resolveu inventar uma história, segundo a qual os seus pais seriam castelhanos, mas em 1476 abandonaram-no em Portugal...  

 

A vice-rainha sabia de tudo isto, e através testemunhos forjados conseguiu convencer o Tribunal que Colombo era de origem nobre e não plebeia. Na verdade era pacifico demonstrar que Dominicus Colombo, o tecelão de Génova, não podia ser o pai de Colombo (Cristoval Colon).

 

O problema é que não conseguiu provar em Tribunal que Colombo não era português. Havia provas mais do que evidentes que desmentiam a possibilidade do mesmo ser italiano. O seu próprio filho ilegitimo - Hernando Colón - foi a Itália várias vezes à procurar de possíveis familiares e em nenhum lado os encontrou. O processo acabou por se arrastar em tribunal.  

 

A única saída que a família Colombo encontrou foi negociar com a Corte, abdicando dos Privilégios de Vice-Rei e governador nas Indias (Sentença de 28 de Janeiro de 1536, do Conselho das Indias).

 

Em compensação D. Luis de Colon continuou a usar o título, agora honorífico de Almirante das Indias, recebendo o título de Duque de Verágua (1537), com um senhorio territorial de 25 léguas quadradas. Foi agraciado com marquesado da Jamaica  (1537) e respectivo senhorio da ilha (1). Entre as muitas compensações que a família recebe, o filho menor de Maria de Alba y Toledo é armado cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada (1537). Luis Colon, em 1557, recebe ainda o título de Duque de la Vega, na Ilha de Santo Domingo, com carácter honorifico.

 

 

c ) Luis de Colon y Toledo, bigamo

 

Acontece que este neto de Colombo, era uma pessoa pouco recomendável, mulherengo e sempre endividado. Acabou por ser acusado de bigamia (2), acabou preso, em Agosto de 1563, sendo desterrado para Orán (Argélia) onde viria a falecer.

 

Banido de Espanha e endividado, Luis de Colon y Toledo, não tardou a cair nas mãos de burlões. Em 1471, vende aos italianos o manuscrito do seu tio com a história de Colombo, seu avô. O pretexto foi a tradução da obra, ainda inédita, para italiano, e a sua posterior edição. Os italianos, como é sabido, trataram de fazer desaparecer o manuscrito, para puderem fazer as alterações ao texto da "História del Almirante" que mais lhes convinha.

 

A morte de Luis de Colon, em 1572, produz um vazio na sua sucessão. A sucessão foi assegurada, quando Filipa Colon (c.1550-25/11/1577) se casou com Diego Colon (?-28/1/1578), mas ambos faleceram 6 anos depois sem sucessão.  

 

d) "Pleitos" do Ducado de Verágua (1578-1608) 

 

Após a morte de D. Dieogo começou um verdadeiro assalto à herança de Colombo, onde valeu tudo, incluindo forjar documentos ou fazer desaparecer autênticos, como o seu Testamentos de 1502 e retiradas  páginas noutros. 

 

Nesta corrida, surgem: 

 

- Francisca Colón de Toledo, filha de Cristóbal Colón de Toledo, cujo processo foi prosseguido pela sua filha Guiomar Colón de Toledo e a sua neta Ana Francisca.

 

- Juana Colón de la Cueva, e seu filho Carlos Colón de la Cueva y Bocanegra, marquês de Villamejor.

 

- Luisa de Carvaja, como mãe de Cristóbal Colón, falecido.

 

-  María Colón, monja professa no Mosteiro de San Quirce.

 

- Luis de Ávila Colón, filho de Luis de Ávila e de María Colón de Toledo. Em virtude de ter falecido deixou como pretendente o seu filho Diego Colón de Larreategui.

 

- María Ruiz Colón de Cardona, casada em primeiras nupcias com Juan de Cardona, e depois com Francisco de Mendoza, ambos marqueses de Guadalest e almirantes de Aragão. 

 

- De Itália surgiram também dois aldrabões, que a seu tempo, trataremos.

 

A luta pela posse do Ducado de Verágua e o Marquesado da Jamaica foi entre 1477 e 1608 particularmente feroz. O caso mais ilustrativo foi protagonizado pelos Marqueses de Guadalest e Almirantes de Aragão, que chefiavam uma quadrilha de ladrões em Aragão (3).

 

Em 1577, o almirante Juan de Cardona, mandou raptar duas monjas de um Convento de Valência. O seu objectivo era eliminar candidatas concorrentes. Foi mandado executar, o que não se concretizou, por haver. Em 1483, em pleno centro de Valência é morto,  num combate com outro bando de criminosos.

 

O novo almirante Francisco de Mendonza (1545-1590) era tão criminoso como o anterior. Envolve-se também em falcatruas para se apoderar da documentação de Colombo, de forma a poder falsificá-la. O Testamento de 1502 foi roubado por Gaspar de Zárate mando do almirante e da sua mulher. 

 

Descobertos foram julgados em Tribunal, a 3 de Março de 1588, o Almirante ficou preso na sua casa e Gaspar de Zárate foi parar aos cárceres reais. O Testamento de 1502 acabou por desaparecer.

 

Face a tantas vigarices, o Tribunal tem dificuldades crescentes em apurar quem são o legítimos herdeiros de Colombo.

 

 

d ) Burlões Italianos

 

Esta confusão apresenta-se como uma excelente oportunidade para os burlões italianos entrarem na  corrida para apanharem a herança de Colombo. Em Itália, como era de esperar, aparecem uma "multidão" de burlões, exibindo documentos falsos explorando as suas alegadas alegadas origens milanesas, genovesas, etc.

 

Como é sabido, Colombo quando foi para Castela, para ocultar a sua identidade portuguesa, serviu-se das "raízes" italianas da sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo - cujo avô paterno (Filipe Perestrelo), em 1380, mudou-se de Piacenza (Itália) para Lisboa.

 

Colombo limitou-se a seguir uma prática corrente na nobreza na época, adoptando como suas as raízes familiares da sua esposa, cujo estatuto era seguramente mais elevado. Filipa tinha muitos seus seus parentes exilados em Castela, especialmente em Sevilha. 

 

Acontece que Piacenza, pertencia no século XV, ao Ducado de Milão, confiando a Norte e Oeste com esta Província da Lombardia e a sul com a da Lingúria.

 

Não é de estranhar, com veremos, que muitos "testemunhos" do século XVI afirmem que Colombo era de Piacenza, da familia dos Perestrelo, de Milão, Lombardia ou mesmo da Liguria. Não era ele que tinha esta origem, mas o avô paterno de Filipa Moniz Perestrelo. 

 

1. Baldassare Colombo (Baltasar Colombo)

 

O mais conhecido dos burlões italianos foi Baltasar Colombo, senhor de Cuccaro, em Monferrato, província de Alessandria, região de Piemonte, mas  residente em Génova

 

Apareceu em Espanha, em 1583, reclamando a fortuna e os títulos de Cristovão Colombo. Dizia-se seu parente, embora não soubesse dizer em que grau. Trazia consigo uma alegada cópia de "Testamento de Colombo" de 1498, no qual Colombo supostamente afirmaria que era de Génova, e mandava que se mantivesse sempre uma casa e uma linhagem na cidade. Estes e outros pormenores do Testamento ajustavam-se perfeitamente às suas pretensões.

 

As contradições e mentiras eram tantas que o documento foi considerado falso. O burlão não conseguiu sequer provar se era parente  próximo ou afastado de Colombo, e acabou lançar ainda mais confusão em todo o processo.

 

1.1. Genovês sinónimo de Italiano, estrangeiro, judeu ou mercador

 

Baltasar Colombo sustentou que os espanhóis cometiam um grave erro histórico, pois chamavam genoveses a todos os estrangeiros, ainda que fossem de outras nações.

 

Afirmar-se que Colombo era genovês significava apenas que era estrangeiro em Espanha, mas nada se dizia quanto à sua nacionalidade. Podia ser de qualquer estado de Itália, como de qualquer outra região da Europa. Podia ser judeu ou um simples mercador. Um facto constatado por muitos outros na época. Mais

 

1.2. Colombo não era genovês

 

No final do século XVI e princípios do seculo XVII, Baltasar Colombo e a corte espanhola reuniram um impressionante conjunto de testemunhos que confirmavam que Colombo não era de Génova.

 

Baltasar Colombo afirmou que o apelido de Colombo era inexistente em Génova antes de aí ter chegado - Dominico Colombo, o alegado pai de Cristovão Colombo. O seu procurador Gabriel de Sandoval foi muito claro na exposição que fez no Consejo das Indias, ao apresentar provas que demonstravam que na cidade de Génova jamais nascera alguém que se chamasse Colombo ou Colón.

 

Provou que os Anais da cidade de Génova não registavam o nome e os feitos realizados de Cristovão Colombo, pela simples razão que o mesmo não era oriundo da mesma.

 

Apresentou uma importante testemunha - Cipión Cánova -, que declarou o seguinte: "Que ha sido más de catorce años continuos abogado público en la dicha ciudad de Génova y en todo el dicho tiempo no ha visto, ni leído, ni oído decir que la familia, apellido y casa de los Colombo sea ni haya sido natural y propio de la dicha ciudad". 

 

Um manifesto publico, promovido pelo Duque de Mantua, a pedido do rei espanhol Filipe II, procurou descobrir em Génova uma familia ou pessoas com o apelido Colombo, mas ninguém apareceu.

 

Na mesma altura, 11 testemunhas italianas que viviam na corte espanhola negaram que tivessem existido em Génova alguém com o apelido Colombo ou Colon. A maioria eram procedentes de Monferrato, entre as quais se contavam o doutor Annibal, embaixador de Mantua, Juan Bela, embaixador de Saboya e o Bartolomé Peggio, embaixador de Veneza. Eram da mesma opinião outros naturais ou vizinhos de Génova, como o principe de Palermo Nicolao Grimaldi de 83 anos (5).

 

O próprio Senado genovés, numa carta ao embaixador de Madrid, Juan Bautista Doria, reconheceu que Cristovão Colombo como “no nativo de Génova” (não natural de Génova) (4 )

 

A neta de Colombo, Dona Francisca de Colon, perante este burlão, afirmou que "Colon e Colombo não eram da mesma família, pois se o fosse o seu pai - Diego Colon -, não deixaria de o dizer. O Colombo-navegador não tinha qualquer relação com os supostos Colombos de Génova, e provavelmente nada com Itália. 

 

Face a estas e muitas outras provas, o Testamento do "Mayorazgo de 1497", onde supostamente Colombo afirma que nasceu em Génova só podia ser uma falsificação. É também evidente porque Colombo ou os seus irmãos NUNCA se referiram à sua suposta família genovesa.

 

Em relação à naturalidade de Cristovão Colombo, a única posição consensual era que não havia nascido em Génova.

 

O que é que este burlão pretendeu provar: A família de Colombo era originária da Lombardia. Mais

 

2. Bernardo Colombo

 

Em 1588 surge um novo burlão italiano - Bernardo Colombo, natural de Cogoleto, perto de Génova. O documentos que apresentou para se candidatar à herança de Colombo foram considerados também falsos pelo Tribunal. A vigarice continuava.

 

Apesar de todos os esforços, os italianos nunca conseguiram descobrir um único descendente da família de Colombo-Navegador, em Itália. 

 

 

d ) Legítimos Herdeiros

 

As trafulhices dos alegados descendentes italianos de Colombo foram todas facilmente desmascaradas em Tribunal, e nenhum crédito lhes foi atribuído. 

 

A única pessoa que acabou por ser declarado herdeiro de Cristoval Colón foi um português - Alvaro de Portugal, filho de uma neta de Colombo (Dona Isabel Colon). As suas únicas ligações familiares que possuía eram com Portugal, as restantes eram puras invenções.

 

Continuação

 

Carlos Fontes

  (1) O ducado de Verágua cedo se revelou um desastre. A hostilidade dos indigenas. O seu irmão Francisco Colón morreu em "acções de pacificação" (extermínio). Acabou por renunciar ao senhorio territorial a troco de uma renda anual.

(2) Em 1546 casou-se com Maria Mosquera y Pasamente, em Santo Domingo. Sem se ter divorciado, fê-lo também com Luisa de Carvajal e Ana de Castro Osório. Teve outras mulheres e filhos extraconjugais.

(3) Pérez, Joseph - Historia de España, p.194

(4) Carta del Senado genovés al embajador en Madrid, Génova 5-XI-1583, en Juan Cerdá, Mallorca, ¿cuna de Colom? La Palma: Imprenta Hispania , 1968.

(5) Chocano, Guadalupe, Los Colón .... 2006

 

 

 

Continuação:

 

41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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