Carlos Fontes

 

 

     

Cristovão Colombo era (mesmo) Português ?

 

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17. Lugares em Espanha

 

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Córdoba

Depois de ter ido para Huelva, em 1485, foi para Cordoba? A questão não é consensual. Hernando Colon e Las Casas referem a sua presença em Córdoba junto da corte dos reis católicos.

 

A explicação mais obvia é outra: Em 1484, os reis católicos enviaram dois embaixadores a Portugal, para apurarem a situação resultando da conspiração do Duque de Beja-Viseu e terminou numa nova vaga de matanças e perseguições. Um dos embaixadores era Gaspar Fabra, cavaleiro aragonês, o outro Iñigo Manrique de Lara, bispo de Córdoba (1485-1496) e ouvidor da Audiência Real de Valladolid. Se Colombo evocasse a sua qualidade de perseguido do rei português, certamente obteria apoio por parte do bispo de Córdoba. Mais

 

D. João II, em Julho de 1485, enviou a Córdoba um embaixador - Fernando da Silva Meneses - a solicitar aos reis católicos para que deixassem de dar apoio aos exilados portugueses que haviam ido para Castela, pedido que foi recusado. O facto parece revelar não apenas a presença da corte na cidade, mas sobretudo a preocupação de D. João II com um novo exilado português...Mais

 

O que terá levado a fixar-se durante algum tempo em Córdoba ? - A passagem da Embaixada portuguesa que se dirigia a Roma, em Julho/Agosto de 1485, poderá ser uma explicação, mas não é a única.

A verdade é que D. Alvaro de Bragança, os Duque de Medina Sidónia e de Medinaceli, em Maio de 1486, criaram as condições para que Colombo se encontrasse pela primeira vez com os reis católicos. 

Fernando saiu da cidade a 15/5/1486, mas Isabel demorou-se ainda algum tempo. Não sabemos o que combinaram. A única decisão que conhecemos é que o assunto foi transferido para uma comissão sediada em Salamanca.

Isabel, nesta mesma cidade mandou, em Maio de 1487, que Colombo passasse a ser pago pela corte. 

Não está apurado quando Colombo decidiu ir viver Cordoba, apenas sabemos que aí arranjou uma amante da qual teve um em 1488 um filho ilegitimo ( Hernando Colón ). 

 

 

Igreja de São Pedro (Iglesia de San Pedro)

 

São Sisenando, o padroeiro da cidade de Beja, sede do Ducado de Beja-Viseu, nasceu nesta cidade, numa casa junto à Igreja de S. Salvador. Foi depois estudar para Córdova, nas célebres escolas da Basílica de San Acisclo. No ano de 851 foi martirizado pelos mouros. A suas relíquias encontram-se, em Córdova, na arca dos mártires na Igreja de São Pedro. 

 

A razão principal da ida de Colombo para Córdova, parece-me ser a relação especial que muitos cordoveses tinham com Portugal, a Dinastia de Aviz, e em particular com D.Afonso V:

 

a) Henriques de Villafranca de Córdoba

Beatriz Fernandez de Angulo, senhora de Villafranca (Córdoba), amantizou-se com Enrique II de Castela. O  filho de ambos - Fernando Henriquez (c.1365-1438)- veio para Portugal , tornando-se o primeiro senhor de Alcaçovas.

Esta povoação alentejana, junto aos domínios dos Duques de Beja-Viseu, está ligada a muitos acontecimentos relacionados com Colombo. O neto do primeiro senhor de Alcaçovas - Henrique Henriques, 3º. senhor desta povoação - casou-se com a Dona Filipa de Noronha, filha do 2º. Donatário do Funchal, a cuja família pertencia a esposa de Colombo.

b) Família Sousa de Portugal

 

A 3 de Janeiro de 1482, esta família cordobesa de origem portuguesa, fez questão de na capela funerária que possuíam na Mesquita-Catedral de Córdoba (4), escreverem numa coluna que os seus antepassados estavam ligados à família real de Portugal (D.Afonso III), mas também à de Castela (Enrique II).

  

D. Pedro Afonso de Sousa foi o primeiro Sousa a ir para Castela, terá acompanhado D. Afonso IV, na batalha do Salada (1340). Não se terá todavia fixado. O primeiro que o fez foi o seu filho Vasco Alfonso de Portugal, na companhia do seu tio Juan Alfonso de Albuquerque (5). Terá acompanhado a rainha Dona María de Portugal, esposa de Alfonso XI de Castilla. Casou-se em Castela com uma Carrilho, e tornou-se num dos grandes proprietários de Córdoba, ascendendo a Alcaide y Justicia Mayor de Córdoba, Señor de Castil-Anzur (Puente-Genil) (1366), etc.

 

 A sua filha Joana Afonso de Sousa amantizou-se com Henrique II. Destes amores nasceu um filho, Henrique de seu nome. Foi esta Sousa que se tornou no primeiro Duque de Sidónia, senhor de Cabra. 

 

A Vasco Afonso de Sousa sucedeu-lhe outro filho - Diego de Sousa (?-1413),a que lhe sucedeu, por sua vez, Juan Alfonso de Sousa, que fundou o Mayorazgo de Rabanales, foi Alcaide do Castelo de Bujalance e do Alcazar de Córdoba, assim como Justicia Mayor e Veinticuatro de Córdoba (morreu em 1479).

 

O Duque de Medina Sidónia, primeiro Conde de Cabra era um Sousa, assim como foram os senhores de Alcalá e Morón,etc (18). Os Sousa, que reclamavam ainda em 1482 a sua origem portuguesa, eram a principal família de Córdoba.  

 

No século XVII, Vasco Alfonso de Sousa, fez questão de mandar imprimir em Córdoba, um "Panegyrico Historial Genealógico de la familia de Sousa", onde são apresentados os três ramos da sua família: os Zarcos, os Bragança e os Coutinho. Como é sabido, a esposa de Cristovão Colombo pertencia também aos zarco (6).

 

 

d) Fray Vasco Martinez de Sousa

 

O principal convento de Córdoba foi fundado por um português. Vasco de Sousa, frade Jerónimo, natural de Portugal, depois de uma viagem a Itália, fixou-se em Toledo, regressou a Portugal onde fundou o Convento da Penha Longa (Sintra). Foi depois para Castela, fixando-se em Córdova, onde fundou, em 1405, o Mosteiro dos Jerónimos, em Valparaíso. O bispo D. Fernando Gonzalez Deza, de origem portuguesa, deu-lhe todo o apoio (7). 

 

Não existem provas que Colombo tenha alguma vez visitado Gaudalupe, mosteiro de frades Jerónimos, mas seguramente visitou este mosteiro, onde existiria uma imagem desta virgem.  

 

Convento de S. Jerónimo, Córdova. Fundado por Vasco de Sousa

 

e) Convento Franciscano de Arrizafa (Arriçafa, Azurrafa)

 

Devido á ação e exemplo de Vasco de Sousa, constituem-se na primeira metade do século XV vários conventos de feição ermita, como o de Arrizafa.

 

O frade português Juan Peres de Marchena, em 1485, estava neste Convento (8). Pouco depois foi para o Convento de la Rabida, onde entre o Outono de 1491 e a primavera de 1492 se encontrou de novo ( ? ) com Colombo.

 

A presença de portugueses neste convento, no século XV, não está estudada. No século XVI foram já registados pelo menos dois.

 

f) D. Afonso V

 

- Afonso de Córdova, em meados de 1462, por encomenda de D. Pedro, condestável de Portugal e mestre da Ordem de Avis, produziu um escrito onde advogava a aproximação de Portugal de Castela e Castela, intitulado: Comemoración breve de los muy insignes y virtuosos varones qu fueron desde el magnifico rey don juan I hasta el muy esclarecido rey don alfonso quinto. Um texto de propaganda da linhagem portuguesa de Avis. D. Pedro, como veremos, veio a assumir pouco depois o trono de Aragão, opondo-se a João II de Aragão.Mais

 

- O Livro Vermelho de D. Afonso V (1471), entre as várias cidades do mundo que são referidas, destaca-se Córdova. (Saul António Gomes, ob.cit.,p.150). quando, em 1475, se casa com Dona Joana, a Excelente Senhora, proclama-se também rei de Córdova. (idem,p.352).

- Isabel de Portugal - Joana, a Beltraneja . Foi nesta cidade que Dona Joana de Portugal se casou com Enrique IV de Castela (1455). A sua filha - Dona Joana, a Beltraneja - foi impedida de ascender ao trono de Castela por Isabel, a Católica, lançando Castela numa guerra civil. 

Os nobres de Cordoba, ligados aos marqueses de Villena, salientaram-se na defesa da causa da sobrinha de D. Afonso V e depois sua esposa.

g ) Nobres de Córdoba

- Condes de Portocarrero (Portocarreiro em português). Familia portuguesa do norte de Portugal, fugiu para Castela depois da batalha de Aljubarrota. Deram origem aos Condes de Medellin ou Medelin. Foram um dos principais apoios da causa de Dona Joana e de D. Afonso V à sucessão ao trono de Castela. Estavam ligados a nobreza portuguesa e às Casa de Medina Sidónia e de Medinaceli.

- Casa de Aguilar, senhores de Cordoba. Alfonso de Aguilar (ou Alonso de Aguillar), alcaide mayor de Córdoba, casado com uma filha dos Marqueses de Villena, com parentes em Portugal, colocou-se no inicio da guerra da sucessão (1475-1479) ao lado de Dona Joana e de S. Afonso V.  

Os Aguilar (Aguiar), eram nobre de origem portuguesa que tiveram um papel destacado na batalha do Salado (1240), assim como na conquista da Andaluzia. Fernando III, de Castela, deu a um dos seus membros, o português - Gonzalo Yánés de Dovinal - o senhorio de Aguilar de la Fronteira. Estes Aguiar ligaram-se em Castela a outra família de origem portuguesa os Portocarreiro (Portocarrero em castelhano). 

- Condes de Cabra. Embora tomassem o partido de Isabel, a Católica, contra D. Afonso V, estavam também aparentados com a nobreza portuguesa. O primeiro era filho de uma portuguesa e o filho do 2º. Conde, casou-se com uma portuguesa - Margarida de Lemos, filha dos senhores de Trofa, dama da rainha Isabel (portuguesa), esposa de D. Henrique IV de Castela.

Por razões que ainda desconhecemos, Colombo recebeu o seu primeiro sepultamento na capela dos Condes de Cabra, em 1506, no convento de S. Francisco em Valladolid.

h ) Perseguições de Judeus e Cristãos-Novos 

Estando Colombo ligado aos judeus e aos cristãos-novos de Porugal, aparentemente Cordoba era o pior dos sitios que poderia escolher em Castela. A sua população salientou-se no século XV pela sua feroz perseguição e matança. Ainda estava na memória colectiva a matança de 1473, onde os conversos foram barbaramente assassinados. A explicação para este facto está na posição que alguns nobres tiveram perante estas chacinas:

- Luis Portocarrero salientou-se pela defesa que fez dos conversos. 

- Alfonso de Aguilar, em 1473, pegou em armas e procurou protegê-los ( 1 ).

Estes nobres estavam ligados a Portugal, onde tinham parentes, nomeadamente na família da esposa de Colombo - Dona Filipa de Perestrelo (conversa, Cristã-Nova).

Em resumo: Havia em Castela, para Colombo, lugar mais seguro e repleto de ligações a Portugal ? !

Tribunal do Santo Ofício de Córdoba

 Os portugueses foram das principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício de Córdoba. Uma perseguição que lhes foi movida até ao fim da Inquisição em Espanha. Mais

Carlos Fontes

  Notas:

(1) Salvador de Madriaga, ob.cit, pág.155; Ver também: Pilar Vilela Gallego y Antonio José García Sánchez en el número 33 de Ah (Andalucía en la Historia).-El Converso de la Cruz del Rastro y el Museu Arquológico (Juan Rodríguez de Santa Cruz).

(2) Alonso de Aguilar era irmão de Gonzalo de Aguilar y Fernandez de Córdoba, conhecido por "el gran capitán " (1453-1515)

(3) Ignacio de Medina Sidónia, Una Nueva Aproximación a las Armas Presentes de Don Henrique de Castilla, Primeiro Duque de Medina Sidónia, in, Anales de la Real da Academia Matritense de Heraldica y Genealogia, VIII (2004-I), IX (2005-2006).

Miguel Muñoz Vázquez, «Casa del hijo del Rey don Enrique II», Boletín de la Real Academia de Ciencias, Bellas Letras y Nobles Artes de Córdoba núm. 83, año 1962

(4) Maria Angeles, Jordano Barbudo -Linages de Córdoba en las Capillas Funerárias Medievales de la Mezquita-Catedral, in, Meridies,V-VI (2002), pp.155-170

(5) Juan Alfonso de Albuquerque (1305-1354) era neto de D. Dinis.  Conde de Albuquerque, senhor de Azagala, Codosera, Alconchel, Medellin, Meneses e Tiedra. Alferes do rei Alfonso XI, rei de Castela e Leão (1333-1336), conselheiro maior de Castela entre 1350-1353, durante o reinado de Pedro I, que o mandou envenenar. 

(6) A Biblioteca Nacional de Portugal publicou em online esta edição.

(7) Carvalho, J. A. de Freitas - Das Origens dos Jerónimos na Peninsula Ibérica: do franciscanismo à Ordem de S. Jerónimo - o Itinerário de Fr. Vasco de Portugal, in, revista da Faculdade de Letras, Porto. 1984 , p.9-151

(8) Manzano y Manzano, Juan - Fray Antonio de Marchena, principal depositario del gran secreto  colombino, inActas II Jornadas de Andalucia y America...

 

 

 

 

 

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