Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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31. Regresso da Segunda Viagem às Indias

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Colombo no regresso da sua primeira e segunda viagem às "Indias" (América), depois de se ter dirigido para os Açores, dirigiu-se directamente para Portugal continental. Está ao serviço dos reis de Espanha, mas os primeiros a serem informados são os portugueses...

Se em Março de 1493 desembarcou em Lisboa, na segunda viagem atracou em Odemira, na costa alentejana, a 8 de Junho de 1496.

 

Odemira / Vila Nova de Milfontes 

Odemira foi reconquistada aos mouros por D. Afonso Henriques (1166). Em Odemira, assumiu uma enorme importância na defesa do litoral alentejano, e na fronteira do "Reino do Algarve". Ciente deste facto, D. Afonso III  (1256), deu-lhe o primeiro foral e concedeu o foro de cavaleiro ao seu alcaide (4).

O seu primeiro foral foi-lhe dado por . Constituiu um verdadeiro enclave real, dentro dos vastos territórios da . Foi uma das terras que, durante a crise de 1383/1385, tomou partido por D. João I, mestre da Ordem de Aviz.

Ao longo da costa alntejana, depois do rio Sado, destacava-se pela sua importância o rio Mira, na navegável até Odemira (2), o permitiu que se constitui-se como um importante meio de transporte e via de comunicação para o interior do Alentejo. O porto de Odemira, por volta de 1319 já é destacado pela sua importância, fazendo transportes outros reinos, como a França. Ao longo das suas margens foram surgindo muitas actividades, com a moagem através de moinhos de maré, pescarias, transportes de mercadorias, etc.

3.1. Ordem de Santiago de Espada

A Ordem de Santiago, como dissemos, dominava toda a costa a sul do Tejo, possuindo entre muitas outras terras Palmela, Setúbal, Alcácer do Sal, Santiago do Cacém, Sines e Odemira.

D. João II foi grão mestre de Santiago, e à qual pertencia grande parte da família de Colombo. Mais

Foi D. Afonso II que doou Odemira à Ordem de Santiago de Espada. Esta em 1245 deu o seu castelo ao bispo do Porto - Pedro Salvadores. O almirante Manuel Pessanha, a 24/9/1319, recebe a vila e o castelo de Odemira, bem como o Reguengo de Algés, entregue a título de feudo hereditário. Entre 1329 e 1352, Odemira, volta pela última vez, à posse dos santiaguistas.

Ao longo dos séculos os domínios da Ordem na região foram sendo desagradados para darem origem a outras concelhos:

Santiago do Cacém, deu origem ao concelho de Sines. Este concelho, por sua vez, foi desmembrando no concelho de Milfontes (1486) (8). Este último deu origem ao de Colos ou Collos (1499) (7) e depois ao concelho do Cercal.

 

3.2. Porto de Corsários

Vagando o cargo de almirante-mor do reino, por morte de Nuno Fernandes Cogominho, D. Dinis, resolveu modernizar a marinha de guerra. É nesse sentido que contrata, em 1317, o genovês Manuel Pessanha (Emanuele Pessagno), como almirante. Dou-o lhe, em 1319, a vila e os Castelo de Odemira.

Uma das principais funções e de rendimento do Almirante era justamente a pirataria e o coros. Odemira torna-se numa das principais bases de corsários de Portugal. Pessanha era justamente especialista na guerra com galés que assaltavam os navios que passavam ao longo da costa. O contrato então firmado exigia que o mesmo tivesse constantemente ao seu serviço 20 genoveses experientes na guerra com galés. Perto de Milfontes (Odemira) existe uma povoação cujo nome - "galeado"-  evoca estas actividades de saque e de guerra.

Odemira, como vimos, entre 1329 e 1352 voltou à Ordem de Santiago. A 8/6/1357 Lançarote Pessanha, filho de Manuel Pessanha e de Leonor Afonso recebeu Odemira. Face às complicações amorosas em que se envolveu, em 1361, viu-se obrigado a refugiar-se em Castela. D. Fernando, em 1371, confiou-lhe de novo Odemira, em virtude da sua acção no bloqueio de Sevilha. No entanto, durante a crise de 1383-85, foi assassinado no Castelo de Beja, em virtude de ter tomado o partido de Castela.

O seu filho - Manuel Pessanha - , ainda fez uma intervenção militar de algum relevo contra os castelhanos em 1384 (6).  Foi o último acto de uma familia de almirantes e senhores de Odemira de origem genovesa.(9)

Apesar desta base de corsários em Odemira, a povoação situada junto à foz do rio Mira - Milfontes - foi várias vezes atacada por piratas. Na segunda metade do século XV sofreu um devastador saque por piratas argelinos. D. João II refunda-a em 1486, e em 1495, foi elevada à categoria de vila.

D. Manuel I volta a impulsionar o seu repovoamento, dando-lhe novo foral, já com o nome de Vila Nova de Milfontes (1512), dando aos colonos importantes privilégios. Os piratas continuaram a assolar esta povoação. Em 1590, por exemplo, foi atacada por corsários que a destruíram. Anos depois foi construído o Forte de São Clemente (1599 e 1602).

3.3. Nobreza

Várias familias nobres, para além da família Pessanha tinham ligações muito fortes a Odemira e à sua região. Poderá estar, numa delas, a chave para descobrir a razão  porque Colombo, em 1496, no regresso da América escolheu intencionalmente aportar a esta povoação.

- Gama

Estevão da Gama, pai do célebre Vasco da Gama (5), cavaleiro da Ordem de Santiago, homem de confiança de D. Fernando (10), Duque de Beja-Viseu, de D. Afonso V e de D. João II, foi capitão e alcaide-mor de Sines (1478), senhor de Colos (Odemira), comendador santiaguista do Cercal (1478).

Pertencia à casa dos duques de Beja-Viseu e à ordem de Santiago de Espada, embora a sua familia estivesse tradicionalmente ligada à Ordem de Avis.

Alguns historiadores têm colocado a hipótese de Estevão da Gama ter estado envolvido na conspiração de 1484, a mesma em que Colombo, aparentemente, participou. A verdade é que depois desta data, deixa de constar na documentação. D.João II, para assegurar o controlo da região, em Maio de 1485 visita Odemira, e inicia pouco depois a desagregação do concelho de Sines.

Colombo ao dirigir-se para Odemira, em 1496, estaria a ir ao encontro dos seus cúmplices?  

- Braganças e Monizes

Odemira foi doada a Sancho de Noronha,  comendador-mor da Ordem de Santiago de Espada.

O casamento da sua filha e herdeira do título, traduziu-se na transferência de Odemira para os braganças, na pessoa de  Afonso de Bragança, 1º. Conde de Faro e 2º. Conde de Odemira.

Este conde esteve envolvido, em 1483, na conspiração contra D. João II. Fugiu para Espanha onde manteve, como o seu filho e sucessor Sancho de Noronha ( 3º. Conde de Odemira),  uma ligação intima com Cristovão Colombo. 

Sancho de Noronha era casado Francisca Pereira da Silva, filha de Diogo Gil Moniz, vedor da Fazenda do Infante D. Fernando, Duque de Viseu e de Beja, e de Leonor da Silva, filha de Rui Gomes da Silva e de Branca Almeida, tutores de Filipa Moniz Perestrelo.

Recorde-se que, em 1502, Colombo dirigiu-se a Arzila para socorrer os portugueses que se encontravam cercados pelo rei de Fez, entre eles estava Pedro Moniz da Silva, primo de Filipa. Mais

Alvaro de Bragança e Odemira. O historiador A. Alberto Gonçalves, em "Portugal e a sua História", editada no Porto, em 1939, afirma que Alvaro de Bragança foi alcaide-mor de Odemira e que fundou, no lugar do "Espinhaço da Cabra", um convento franciscano, autorizado por uma bula do papa Júlio II. Desconhecemos as fontes documentais destas afirmações.

O Convento de Santo António (franciscano), protegido pelos Condes de Odemira, foi fundado em Odemira, apenas em 1513, nove anos depois de Alvaro de Bragança ter falecido.

 

3. 4. Comunidade Judaica

Em Odemira, tal como em Sines, Santiago do Cacém, Colos ou Cercal existia, no século XV, uma importante comunidade de judeus.

A Condessa de Odemira - Maria Henriques de Noronha - tinha, em 1495, como feitor um judeu: Jacob Rubio ou Ruivo.

No ano em que Colombo visita a vila, vindo da América, D. Manuel I decreta a "expulsão" dos judeus de Portugal.

Entre os muitos judeus que se recusaram a converterem-se ao cristianismo, conta-se Damião de Odemira. Fugiu para Itália, onde publicou um dos primeiros tratados do mundo de xadrez, um jogo que D. João II era um verdadeiro mestre. 

 

3.6. Estadia de Colombo em Odemira

Colombo, no regresso da sua segunda viagem às "Indias" (América), depois de se ter dirigido para os Açores, veio directamente para a costa do Alentejo com duas caravelas (India e Niña), tendo aqui chegado a 8 de Junho de 1496.

Hernando Colón (Hist. Colón, cap.LXIV), revela que embora os pilotos estivessem completamente perdidos, Colombo sabia muito bem onde estava e para onde se dirigia, e fez mesmo questão de o anunciar na noite anterior. Preparou o navio para a chegada a terra "moderó la furia de las velas."

Entrou no Rio Mira (1), passou por Milfontes, povoação criada por D. João II, no ano anterior (Outubro de 1495), quando aqui passou a caminho de Monchique (Algarve).

Colombo subiu o rio Mira na direcção de Odemira, cujo condado foi reconstruído por D. Manuel I justamente na Páscoa deste ano (1496).

Terá passado dois ou três dias entre Milfontes e Odemira, pois só no dia 11 de Junho de 1496 chegou a Cadiz.

A grande incógnita está em saber o que andou aqui a fazer, com quem se encontrou, que informações transmitiu aos portugueses, etc.

  

Milfontes. Povoação, junto à foz do Rio Mira, pertenceu aos domínios da Ordem de Santiago de Espada ( a Ordem a que pertencia a família de Colombo). 

Carlos Fontes

  Notas:

( 1 ) Odemira fica a 35 léguas do cabo de S. Vicente. Hernando Colon refere explicitamente Odemira. Muitos autores sobre esta local desenvolvem histórias mais ou menos romanceadas:,Samuel Eliot Morison - "Cristovão Colombo, Almirante do Mar-Oceano", , Lisboa. DN.1962. pág. 289 (existem edições mais recentes).

(2) O rio Odemira era navegável até à vila de Odemira. No "censo" de 1532, informava-se que podiam entrar nele caravelas até 60 tonéis, com água cheia. Os navios ficavam todavia a cerca de uma légua de Odemira. Apesar do assoreamento a navegabilidade manteve-se até ao século XVII.

(3) Quaresma, António Martins - Odemira Histórica. Estudos e Documentos. C.M. Odemira. 2006

(4) Soledade, Arnaldo - Sines, Terra de Vasco da Gama. 2ª. Edição. C.M. Sines. 1982

(5) Vasco da Gama entrou para a ordem de santiago de espada em 1480.

(6) Nova História militar de Portugal Vol. 1, p.338

(7) Quaresma, António Martins - Colos. Contributo para a sua história. C. M. Odemira. 1999

(8) Quaresma, António Martins - Vila Nova de Milfontes. J.F. Milfontes.2003

(9) D. João I, a 2/6/1385, ainda entregou a vila a Manuel Pessanha. Quando este faleceu, passou Odemira para Lourenço Anes Fogaça  (15/2/1387), tendo-se mantido nesta familia até 25/1/1440. Em 1446 passou para Sancho de Noronha.

(10) Estevão da Gama, em 1468, ao serviço do mestre de Santiago e de Cristo - o Infante D. Fernando -, andou em  Anafé (Marrocos) numa acção de espionagem. Disfarçou-se de vendedor figos secos do Algarve.

 

 

 

Continuação:

 

32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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