Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português

 

 

30. Mentiroso e Desleal

 

A maioria dos historiadores estão de acordo num ponto: Colombo mentia de forma premeditada e sistemática aos reis espanhóis. 

 

Não deixa de ser revelador que, entre as obras que leu, aquela que lhe mereceu mais comentários nas margens - As Vidas Paralelas de Plutarco. Os temas que lhes despertaram maior interesse foram os augúrios, a adivinhação, os esconjuros  e sobretudo, a questão da importância do engano como instrumento de actuação. Anotou todos os exemplos de actuações astutas de políticos ou de estratégias militares. Um facto que revelador da sua preocupação com a questão. 

 

Entre 1485 e 1492, a sua principal preocupação foi forjar dados sobre as dimensões da terra, de modo a tornar credível o seu projecto de chegar à India navegando para Ocidente. Manifestou desde logo um comportamento dúplice, enquanto negociava e era pago pelos reis espanhóis, correspondia-se e servia o rei de Portugal.

 

Durante a primeira viagem às Indias (América) (1492-93), o seu objectivo parece ter sido o de enganar a própria tripulação, aniquilar todos aqueles que o pudessem colocar em causa, nomeadamente sobre o que havia descoberto. Depois a história inicial continuou a ser mantida, com algumas ligeiras modificações. Usou todos os meios para a difundir internacionalmente, numa atitude de profunda deslealdade para com os reis espanhóis.

 

Depois de 1497, quando Vasco da Gama partiu para a verdadeira India, sente que em breve irá ser descoberto. Prepara então a sua defesa, apoiando-se em Alvaro de Bragança, nomeadamente para confirmar os seus privilégios. Adquire diversas obras, de autores como Claudio Ptolomeu, para emendar ou rectificar cartas, Diários de Bordo e outros documentos que o pudessem comprometer. Vários  documentos terão sido forjados, nesta altura, para darem cobertura à continuação das mentiras iniciais, e muitos outros destruídos.

 

Na sequência da sua prisão e dos seus irmãos, em 1500, entra num processo de mentiras sistemáticas, servindo-se de todos os meios para dar cobertura à fraude a que tinha conduzido os espanhóis. Está em jogo a sua sobrevivência, numa altura que é acusado de traição e de estar ao serviço de um principe estrangeiro (português). Recorre, por exemplo, a Pedro Martir de Anghiera para divulgar a sua biografia, em latim, com base dados que lhe fornece. A mentira continua.

 

 

A ) Actor

 

Uma das características mais interessantes de Colombo era a sua capacidade de encarnar personagens de modo conseguir iludir a corte espanhola.

 

Um dos exemplos mais brilhantes da sua arte ocorreu no verão de 1496.

 

Neste ano, regressou das Indias a 11 de Junho, tendo para apresentar aos reis espanhóis resultados desastrosos. Os seus inimigos não o poupavam. Esperando uma má recepção, quando desembarca resolve assumir o papel de vítima, aparecendo vestido com o hábito de S. Francisco, com o respectivo cordão para se auto-flagelar (31). Para mostrar o seu empenho na evangelização dos indios, mandou que dois deles fossem baptizados, a 29 de Junho de 1496, no Mosteiro de Santa Maria de Gaudalupe (32), oferecendo ao mosteiro uma lâmpada de prata e várias jóias de ouro. Actos próprios de um cristão piedoso e desprendido das riquezas do mundo.  Mais discretamente, em Sevilha, foram postos à venda os escravos, ditos "canibais", que trouxe das indias ...

 

Ainda neste verão resolve dirigir à corte que estava em Burgos para falar com os reis. O papel de frade franciscano foi rapidamente substituído pelo papel de um glorioso almirante das Indias.

 

Para poder representar este papel condignamente, ainda em Sevilha, a 20 de Julho, manda que Cristobal de Torres, venda uma enorme quantia de ouro (33). Dirige-se então para Valladolid (9 de Agosto). Nesta cidade, 12 de Agosto, ordena a Carvajal que venda outra enorme quantia de ouro. Apenas no princípio de Setembro resolve partir para Burgos. O que andou a fazer tanto tempo em Valladolid? A resposta é simples: a comprar roupa ! 

 

Em Burgos, onde permanece entre a primeira quinzena de Setembro de 1496 e 10 de Maio de 1497, assume-se como um membro da alta nobreza, aparecendo com um riquíssimo colar de ouro...

 

Nas negociações com a corte espanhola sobre os seus privilégios, o seu representante era D. Alvaro de Bragança...

Apesar do enorme desastre que tinha sido o seu governo das Indias, tudo o que pediu lhe foi concedido (34) .

 

Depois de regressar a Sevilha, faz questão de mudar a residência para a calle dos Francos, para ficar ainda mais perto com Violante Moniz Perestrelo, das casas da Marquesa de Montemor-o-Novo e de D. Alvaro de Bragança. Sem esta retaguarda portuguesa em Espanha era impensável conseguir iludir tanta gente. Mais

 

Esta radical mudança de papéis, ilustra a sua incrível capacidade para tornar credíveis, os mais disparatados absurdos com que conseguiu convencer durante anos a corte espanhola. 

 

Messias

 

Depois que Vasco da Gama partiu para a India, em 1497, Colombo percebe que mais ano menos ano o logro a que havia conduzido os espanhóis seria descoberto.

 

A partir daqui procurou afirmar-se como um "predestinado" cuja missão era espalhar o cristianismo por outros povos do mundo, ainda que tal pudesse implicar inúmeros sacrifícios de vidas humanas.

 

É provável que muitos dos seus escritos anteriores tivessem sido retocados e emendados, depois de 1497, nomeadamente o Diário de Bordo, para apresentar esta dimensão divina.

 

Introduz a ideia da ocorrência de um "milagre" na narrativa dos acontecimentos mais marcantes em que está envolvido: a chegada Portugal depois do naufrágio (1476), o contacto com D. João II, a entrada no porto de Lisboa (Março de 1493), etc.. 

 

No Diário de Bordo, a 14/10/1492, afirma que os indios de Guanahaní os descreveram como tendo vindo do céu e davam "gracias a Dios" por semelhante milagre. Os primeiros indios que os viram foram chamar outros dizendo: "Venid a ver los hombres que vinieron del çielo, traedles de comer y de bever".  Foi portanto como figuras celestiais que foram recebidos e tratados quando chegaram às Antilhas (América).

 

Esta dimensão divina da sua missão, como dissemos, aumenta de intensidade quando Vasco da Gama parte para a India. Na Terceira Viagem (1498), descobre a entrada para o Paraíso Terreal.

 

Na carta que envia a Joana de la Torre, ama do principe juan (1500), assume-se como um escolhido pelo próprio Deus: "Del nuevo çielo y terra que dezía nuestro señor por Sant Juan en el Apocalipsu, depués de dicho por la boca de Isaías, me hizo mensajero y amostró aquella parte."

 

No Livro das Profecias (1500/2), num discurso delirante, apresenta-se o escolhido por Deus para realizador antigas profecias (34). 

 

Assumindo-se como o imperador de um novo reino cristão, pede ao papa Alexandre VI para expulsar os espanhóis das Indias (Fevereiro de 1502), pois eles são maus católicos. Não fosse a cobertura que Alvaro de Bragança lhe deu estaria em maus lençóis...

 

A "Relação da Quarta Viagem" (Jamaica, 7 de Julho de 1503), por exemplo, é um discurso de típico um tresloucado. Equipara-se a figuras bíblicas como Moisés ou David, assumindo-se como um Messias (enviado) a quem Deus aparece e fala quando se sente ameaçado pelos espanhóis. A sua autoridade advém-lhe directamente de Deus, não de qualquer rei.

 

Cristovão Colombo apropria-se do discurso messiânico, muito difundido nos reinos da Península Ibérica, não apenas para afirmar a sua autoridade (sobrenatural), mas também para combater os reis espanhóis, retirando-lhes qualquer legitimidade sobre as Indias Ocidentais (América). 

 

 

 

B) Mestre na arte da mentira e da ocultação

 

Durante 7 anos Colombo andou a mentir aos reis espanhóis, tentando convencê-los a promoverem a primeira viagem às Indias (América). Depois continuou a mentir-lhes de forma sistemática.

 

1. Dimensões da Terra

 

A base de todas as mentiras aos espanhóis estava o problema das dimensões da Terra. Tirando partido da ignorância dos reis espanhóis (Isabel e Fernando) sobre as mesmas, começou por convencê-los que o grau do meridiano ou da equinocial tinha  56  milhas e 2/3, indicados por Alfragano, e alegadamente confirmado pelos cosmógrafos portugueses. 

 

O logro consistiu em nunca lhes dar uma indicação precisa sobre  o valor da milha que estava a usar: a milha de Alfragano ou a milha Romana (Italiana)? 

 

É provável que durante as negociações tenha utilizado o valor da milha romana, que correspondia a mil passos ou seja 1.480 metros. A dimensão da circunferência da Terra, é desta forma reduzida em 25%. Ptolomeu imaginava a Terra muito maior !.

 

A distância entre a Europa e a China (Cataio) era desta forma consideravelmente reduzida. O oceano que as separava tornava-se num pequeno mar facilmente atravessado

 

Foi com base neste valor que, em 1493, combinado com D. João II, sugeriu um novo de Tratado de Partilha do mundo com os portugueses. A linha meridiana que apresentou aos reis espanhóis e que lhes criou a ilusão que os seus domínios no mundo passariam a abranger toda a Ásia e incluindo grande parte de África até ao meridiano do Cabo da Boa Esperança. 

 

Colombo irá manter ao longo dos anos esta ambiguidade sobre o valor da milha que utilizava, o mesmo o fará a sua família. 

 

Fernando Colon, em 1524, foi chamado a pronunciar-se sobre a quem é que pertenciam as ilhas Molucas, se a Portugal ou à Espanha. Como se nada tivesse passado desde 1492, apresentou a Carlos V, um memorial cujo título diz tudo sobre o seu conteúdo:

 

"Declaracion del derecho que la Real Corona de Castilla tiene à la conquista de las provincias de Persia, Arabia é Indias, é de Calicut é Malaca, con todo lo demás que, al Oriente del cabo de Buena Esperanza, el Rey de Portugal, sin titulo ni derecho alguno, tiene usurpadas, fecha por D. Hernando Colón, hijo del primer Almirante de las Indias, y dirigida a S. C.C. magestad el Emperador nuestro señor, año de 1524".

 

Passados 32 anos sobre a primeira viagem às Indias (América), um dos filhos de Colombo continuava a afirmar que a Terra tinha as reduzidas dimensões com que o seu pai havia enganado os reis católicos. 

 

Enquanto isto acontecia, o filho primogénito - Diego Colón -, entregava secretamente ao rei de Portugal informações reunidas por Colombo sobre o assunto.      

 

Este caso ilustra a forma como Colombo e a sua família mentiam descaradamente aos espanhóis, actuando de forma coordenada com os reis de Portugal.

 

 

2. Cálculos Contraditórios

 

Se nunca esclareceu qual era  o valor da milha que utilizava, uma coisa é certa: os seus cálculos sobre a latitudes estão completamente errados.  

 

Os cálculos que afirma ter feito na Guiné, Serra Leoa ou na Mina, pecam todos por defeito. 

 

Os cálculos que apresentava sobre os Cabo da Boa Esperança ou a Islândia, pecavam todos por excesso. Colombo pretendia neste caso passar a ideia da sua enorme distância..

 

Para credibilizar as suas falsidades, repetia frequentemente que os seus cálculos estavam de acordo com os dados obtidos por cosmógrafos e navegadores portugueses, como José Vizinho ou Bartolomeu Dias, a que acrescentava que os mesmos haviam sido verificados por D. João II. Na verdade, nenhum português no tempo, nomeadamente José Vizinho, podia concordar com semelhantes valores. 

 

2.1. Medições na Guiné

Nas suas célebres notas em livros escreve o seguinte:

- "O Rei de Portugal enviou à Guiné no ano do Senhor de 1485 mestre José, seu físico e astrólogo, para observar a altura do Sol em toda a Guiné, o que fez e comunicou ao dito Sereníssimo Rei, estando eu e outros presentes a 11 de Março. Ele achou que a ilha dos Ídolos estava afastada do Equador 5 graus (0 ?) minutos, o que verificou com o maior cuidado. Mais tarde, o mesmo Sereníssimo Rei enviou ainda e muitas vezes fez observadores a outros lugares da Guiné (...) e encontrou os respectivos resultados sempre de acordo com mestre José, o qual considerava como certo que o castelo da Mina estava sob o Equador" ( 7). 

Estes cálculos estão errados. O valor real da latitude é muito superior. Na realidade a Ilha dos Idolos está a 9º. 30´ latitude Norte. O Forte da Mina não está na perpendicular do Equador, mas a 5º. 05´ Norte. Duarte Pacheco Pereira,  no Esmeraldo Situs Urbis  calculava 9º N. e 5º N respectivamente, um erro desprezível. 

Colombo, parece não saber calcular a latitude pela Estrela Polar, embora o afirme, e de não saber usar a altura do sol para determinar a latitude, apesar de o dizer. Será que naquela latitude perdeu a Estrela Polar ?  A explicação só pode ser outra, uma vez que ele menciona outras fontes de informação, como o mestre José Vizinho. 

- "Nota que navegando muitas vezes de Lisboa para o sul da Guiné tracei (na carta) a estrada percorrida, como é uso entre pilotos e marinheiros. Tomei igualmente muitas vezes a altura do Sol pelo quadrante e por outros instrumentos e observei que os resultados concordavam com os de Alfragano, isto é, que cada grau correspondem a 56  2/3 milhas e que se deve ter confiança nesta medida. Podemos dizer que a circunferência da terra sob o Equador é de 20.400 milhas. Ao mesmo resultado chegaram mestre José, médico e astrólogo, e outros especialmente encarregados desse trabalho pelo Sereníssimo Rei de Portugal. isto poder ver qualquer que meça nas cartas de marear, do Norte para Sul, no Oceano e para além das terras, por linha recta por exemplo da Inglaterra ou da Irlanda até á Guiné" (8).

Analisaremos, mais abaixo, a questão do valor de cada légua ou milha.

2.2. Medições no Cabo da Boa Esperança

Bartolomeu Dias é uma figura fundamental nos apontamentos de Colombo:

 

- Numa nota marginal escrito no seu exemplar da Imago Mundi de Pedro d`Ailly, afirma que no ano 1488, chegara a Lisboa Bartolomeu Dias, que havia navegado até 45º abaixo do Equador. Verificou com o navegador português légua a légua a distância percorrida.

 

Colombo volta a errar, mas desta vez por excesso. A distância real do ponto mais a sul de África é de 36º 21` latitude sul. O seu objectivo era mostrar que era um erro chegar à India contornando África, como pretendiam os portugueses.  Desta forma protegia esta rota.

- "Nota que em  88 (1488), no mês de Dezembro, regressou a Lisboa o capitão de três caravelas que o Sereníssimo Rei de Portugal enviara à Guiné a descobrir terras - Bartolomeu Dias - e participou ao próprio Sereníssimo Rei que navegara 600 léguas para além do já conhecido, sendo 450 para Sul e 250 para Norte, até a um promontório a que dera o nome de cabo da Boa Esperança, que supomos ser Agesimba, tendo nesse lugar, que dista de Lisboa 3100 léguas, verificado por astrolábio achar-se a 45º além do Equador. essa viagem desenhara-a e descrevera-a ele, de légua em légua, numa carta de navegação para que o Sereníssimo Rei por seus próprios olhos tomasse conhecimento. A estas coisas estive presente." (10)

Colombo reafirma uma vez mais o seu acesso à informação obtida pelos cosmógrafos e cartógrafos portugueses, sancionada pelo próprio rei. Neste caso os dados estão errados mas por um enorme excesso:10 graus. Duarte Pacheco Pereira calculava a posição do cabo da Boa Esperança em 34º. 30´, e encontra-se de facto a 34º. 21´ lat. S.. O erro neste caso é mínimo. 

Este alegado erro de Colombo, faz parte da sua estratégia de enganar os reis católicos, aumentando desmesuradamente a distância até ao Cabo da Boa Esperança, mostrando a enorme dificuldade que os portugueses tinham em pretenderem atingir a India contornando África.

 

2.3. Medições nas Antilhas e no Atlântico

 

Mestre na arte da mistificação, nunca forneceu aos reis espanhóis medidas exactas, os dados contraditórios são uma constante.  

 

Durante a 1ª. Viagem, registou cinco observações que pecam todas por excesso: Em Cuba, a 30/10/1492, 2/11/1492 e 20/11/1492, registando sempre 42º Norte (real - 21º 30`). No Haiti, a 13/12/1492, no dia a seguir ao solstício de Inverno, obteve 34º Norte (real- 19º 35` N). No dia 3/2/1493, no regresso, tentou mas não conseguiu fazer calculos da latitude em que se encontrava. 

 

Perante a dimensão destes erros nos cálculos, historiadores como Morison não tem dúvidas em afirmar que Colombo era um completo ignorante, não tinha qualquer conhecimento das estrelas, nem sequer sob o ponto de vista estético...

 

A verdade é que Colombo afastou deste modo as Indias que havia descoberto da linha do Tratado de Alcaçovas-Toledo (1479/80), que passava pelo paralelo de La Gomera (28ºN). Com estas informações era também impossível aos reis espanhóis localizarem as referidas ilhas (8). A confusão estava instalada.

 

A partir daqui começou a ter um um novo problema: - Não era possível continuar a manipular continuamente as informações geográficas, pois os espanhóis acabariam por perceber o embuste. Nesse sentido, foi alterando os seus próprios calculos, mas sempre com enormes erros.

 

Na Relação da Segunda Viagem, em 1494, estando na Ysavela (Haiti), calculou que estava a 26 N (real = 19º  

57`), persistia na mentira. Afirma também que La Gomera, nas Canárias, ficava a 26º. 30`(Real: 28° 01').(Textos, 249), um calculo que era dificil de justificar.

 

Durante a 3ª Viagem, em 1498, quando percorreu domínios de Portugal, com a autorização de D.Manuel I, registou quatro observações, todas elas erradas, mas seguindo a lógica anterior.

 

- Partindo das Canárias, quando chegou a Cabo Verde, verificou que latitude da Estrela Polar variara entre 5 e 15 graus. O valor real percorrido foi 7 e não os 10 que indica. Colombo aumentou deste modo a distância que separava as Canárias de Cabo Verde.

 

- A partir do paralelo da Serra Leoa (4), que calcula situar-se a 5 graus (Real: 9º N), avançou para Ocidente, verificando que nesta latitude a altura da Estrela do Norte, variava entre 5 e 10 graus segundo Las Casas, e entre 6 e 11 de acordo com Hernando Colon ( Cap.LXVI). Esta variação, levou-o à conclusão que estava a bordejar uma elevação em pleno Atlântico - o Paraíso Terreal (consultar). Ao chegar à Foz do Orenoco, a entrada do Paraiso, calculou que estava a 5º N (real:09°15'N). 

 

Estes valores são muito inferiores aos reais, situando estes territórios muito a sul, numa região que de acordo com Tratado de Alcaçovas-Toledo (1480) pertenceriam a Portugal. A distância entre o Orinoco e Cuba, por exemplo, era segundo Colombo de 37 graus, mais do dobro do valor real ! 

 

 

3. Fundamentos da Mentira

 

A maioria dos historiadores está convencida que Colombo era um charlatão e ignorante em matéria de cosmografia, pois imaginava a Terra muitissimo mais pequena do que ela é, não colocando a hipótese do mesmo estar a mentir.

 

Basta termos em conta os seus cálculos da distancia entre o Equador e  Cabo da Boa Esperança, para chegarmos à conclusão que sabia que a terra era muitíssimo maior do que se afirma. 

 

A esmagadora maioria dos historiadores, ao recusarem a ideia que ele estava intencionalmente a enganar os reis espanhóis,  entraram num completo delírio. Vejamos as possíveis fontes de informação que Colombo se teria servido nos seus delírios geográficos: 

 

Aristóteles.  Em De Caelo, dá como provável que as Indias estivessem muito perto das Colunas de Hercules. Diz-nos que haviam matemáticos que calculavam a circunferência da Terra em dez vez 10.000 estádios.  

 

- Marino de Tiro (séc.I). Afirmava que desde as costas ocidentais da Península Ibérica até ao final do oriente, por terra, haviam 225º., e que em direcção a oeste, por mar, a distância era só de 135º. Na realidade, a distância de Lisboa a Shangai, por terra é de 130º., mas medida para ocidente, por mar é de 230º. 

 

- Claudio Ptolomeu (90-168 d.C). A principal autoridade entre os cosmógrafos no século XV. No seu Guia Geográfico (Almagesto, em árabe) afirma que metade do mundo era ocupado pela crosta terrestre num continuo Europa-Ásia, atribuindo  a África um reduzida dimensão. 

 

Atribuiu ao equador terrestre - círculo máximo - o valor de 16.177 milhas nauticas atuais, equivalentes a 29.957,4 km, em vez dos 39.999,9 na realidade. A circunferência da terra ficava reduzida um terço.

O grau terrestre era de 62,5 milhas italianas (1 milha = 1.477,5 m, equivalente a 0,8 milhas nauticas actuais).

 

Plolomeu modificou os cálculos de Marino de Tiro, considera que de Lisboa ao Oriente eram sensivelmente 180º. para cada lado. O meridiano "0" no seu mapa passa pelas ilhas Canárias.

 

- Alfrayran (Alfragano) (Século IX), geografo muçulmano, na sua célebre obra (Elementos de Astronomia), corrigiu os calculos de Ptolomeu. Reduziu as milhas de grau para 56  2/3, mas aumentou o valor de cada milha para 1.973,50 metros actuais. A circunferência da Terra passou a corresponder a 20.400 milhas, isto, é a 40.259.400 metros. O erro foi reduzido para 251.880 metros, mas agora por excesso. 

 

- Toscanelli. A distância entre Lisboa e Quinsay, na China, é reduzida para 130º, isto é, a distância seria de 8.125 milhas italianas. O valor do grau é de 62,5 milhas italianas.

 

- Pedro de Ailly. Na sua célebre obra - Imago Mundi - afirma que o grau da terra no equador é de 56 2/3 milhas italianas, o que dá um circulo máximo de 20.397, 6 milhas italianas, equivalentes a 30.137,4 km. Reduz, portanto, as dimensões da terra em um terço, como Ptolomeu.

 

Outro dado importante é que o cardeal considera que o mundo é composto de 6 partes de terra e uma de mar. Uma ideia que é corroborada pelo profeta Esdras, no seu pseudo-biblíco Livro IV, cap.6, no qual diz que "seis partes do mundo são terra seca e uma de água". Neste sentido, o continente euro-asiático abrangeria 300º e o Oceano que separa as costas europeias da India teria apenas 60º.

 

Baseado nesta informação, é fácil perceber, como demonstrou Manzano, que o Oceano que separa Lisboa da India, teria no máximo 2.914 milhas italianas, isto é, 2.331 milhas nauticas actuais, equivalentes a 728 léguas. A India, o Japão ou a China ficariam a poucos dias de viagem de Cabo Verde ou dos Açores.

 

Aparentemente Colombo serviu-se destes cálculos baseados em Esdras e em Pedro de Ailly para convencer os reis espanhóis.

 

Colombo não se cansa de afirmar que Ptolomeu estava errado, que a Terra era muitíssimo maior do que o geografo de Alexandria imaginava. Concorda, como vimos, com os cálculos de Alfragano, os quais diz que foram confirmados pelos cosmógrafos portugueses.

 

Dá conta da enorme extensão do Oceano Atlântico, mas para espanto de muitos historiadores afirma aos reis espanhóis que o grau da Terra tinha apenas 56 e 2/3 milhas, isto é 14 léguas. O perímetro da Terra no equador era de apenas 20.400 milhas.

 

 

Quais as suas fontes de Informação ?  

 

A esmagadora maioria dos historiadores tende a associar Colombo a Ptolomeu, o que é um manifesto erro. A sua principal referência, como o próprio afirma é Alfragano e os cosmógrafos portugueses.

 

Embora mentisse descaradamente ao reis espanhóis, a verdade é que afirmou de forma muito clara que seguia Alfragano e não com Ptolomeu. Disse também que se apoiava nos cosmógrafos portugueses, e não nos de qualquer outra nação.

 

O problema é que os cosmógrafos portugueses, discordavam de Alfragano e atribuíam ao grau um valor diferente. Como é sabido, por volta de 1494, atribuíam ao grau três valores: 16  2/3 léguas (Bartolomeu Dias), 17 léguas 1/2 (José Vizinho) e 18 léguas (Duarte Pacheco Pereira). O seu valor do grau em léguas é apenas comparável a Alfragano.

 

Qual o valor da milha?

 

A maioria dos historiadores como dissemos, afirmam que utilizava a milha romana ou italiana (1.477, 50 metros), o que tem conduzido a um verdadeiro absurdo. O mundo de Colombo era, neste caso, muito mais pequeno do que o imaginado por Ptolomeu.  

 

A verdade é que nenhum dos seus textos sustenta a ideia que usava o valor da milha italiana. As suas palavras vão noutro sentido, quando afirmou que concordava com os calculos de Alfragano confirmados pelos cosmógrafos portugueses.

 

Usaria a milha portuguesa ? O problema é saber qual milha. Os navegadores portugueses a fim de calcularem as léguas percorridas no mar, e corrigirem as distorções nos seus calculos nas diversas latitudes, criaram o chamado Regimento das Léguas, no qual se fixou valores diferentes para a chamada légua portuguesa

  • Légua de 18 ao grau, equivalente a 6.172,4 metros (milha: aprox. 1.543,1 metros)
  • Légua de 20 ao grau, equivalente a 5.555,56 metros (medida oficial da légua marítima)
  • Légua de 25 ao grau, equivalente a 4.444,44 metros (milha: aprox. 1.111,1 metros).

Os valores da légua e da milha de Colombo no equador (7.894 m e 1973,5 m) são indubitavelmente os Alfragano, embora matematicamente sejam coerentes com os valores da légua portuguesa (5).

 

Henry Vignaud sustenta os cálculos do perímetro do mundo de Colombo são uma mistificação, para iludir os reis espanhóis. Alguns historiadores tem chamado à atenção para a possibilidade das suas célebres notas, serem todas  posteriores a 1494 quando se tornou evidente que não chegara à India. Ele sentiu-se na necessidade de falsificar documentos para justificar as suas afirmações anteriores, nomeadamente que no outro lado do Atlântico, a 33 dias, estava a China (Cataio).

 

Pierre Chaunu atribui os múltiplos erros de Colombo a uma causa desconhecida, mas recusa a ideia que tivesse concebido um mundo de tão reduzidas dimensões.

 

Não restam dúvidas que ele tinha uma noção exacta  das distâncias reais dimensões da terra ( Consultar ), no entanto 

quanto começou a ser desmascarado, fez-se passar por um místico ignorante, no que se mostrou um verdadeiro mestre. 

 

C) Duplicidades

 

Em 1486 foi recebido pelos reis de Castela e Aragão. A partir de Maio de 1487 passaram-lhe a dar uma tença pela ideia que lhes apresentou e que passou a ser estudada de atingirem a India navegando para Ocidente. 

 

Enquanto estava ao serviço de Castela, Colombo não fiou quieto, escreveu a D. João II, rei de Portugal. A carta que o rei lhe dirige em Março de 1488 revela que este lhe andava a prestar serviços importantes em Castela, ao ponto deste elogiar o seu engenho e o tratar por "especial amigo". 

 

O seu irmão Bartolomeu Colon também não esperou pelo desfecho das negociações. Em 1488 saiu de Lisboa, e dirigiu-se para Inglaterra e depois para França, a fim de aliciar os respectivos monarcas a avançarem primeiro que o castelhanos, levando consigo inclusive um mapa-mundo

 

Esta duplicidade foi sempre uma constante nas relações entre a família Colombo e os espanhóis.

 

 

     

 

D ) Mentiras sobre a Primeira Viagem (1492/3)

 

Durante séculos os espanhóis consideraram Colombo um mentiroso. A sua estratégia é absolutamente notável na forma como conduziu a Espanha para um logro monumental.

 

 

1. Equívocos da India

 

Colombo jogou com as expectativas e ignorância dos reis de Espanha em matéria de geografia. Eles pretendiam atingir a India antes dos portugueses, e ele deu-lhe não uma, mas várias "Indias".

Neste sentido jogou com o equivoco entre India (na Ásia) e "Indias"no meio dos "mares oceanos" ligadas à India. A verdade é que os reis espanhóis ficaram convencidos que ele ia para a India, e não para as Indias.

 

- Nas Capitulações de Santa Fé (1492), escreveu que iria descobrir ilhas e terras a Ocidente. Após o regresso da 1ª. viagem, em Março de 1493, afirmou que as Indias que encontrara constituíam a região mais a leste da própria India. Foi a forma que encontrou para continuar a mentira.

 

Nas cartas que enviava aos reis espanhóis, nunca deixou todavia de afirmar que estava cada vez mais próximo da India. A 5/7/1503, escrevia, por exemplo, que estava a "diez jornadas" do Rio Ganges (Relação da 4ª. Viagem, Ilha da Jamaica).

 

O passaporte que lhe foi entregue pelos reis espanhóis dizia que enviam o "nobre Christofurus Colon" aos "Mares da Oceanos às partes da Índia" (30/4/1492)

 

- A carta de credencial dirigia-se ao "Principe Sereníssimo" (reis e principes da famosa India), não aos indios analfabetos das Antilhas que encontrou.

 

- Era portador de "cartas régias de recomendação para o Grão-Can e para todos os potentados da India e qualquer outra região que viesse a descobrir" (cfr.Las Casas).

 

- O título que lhe é conferido estava à altura de tão elevada missão: "Almirante do Mar Oceano" (30/4/1494).

 

Os reis espanhóis estavam convencidos que partira para a India, e não para umas ilhas no Oceano Atlântico. Ao longo dos tempos manteve sempre a ambiguidade entre a India e as Indias. A confusão não era dele, mas de quem o ouvia que assim o interpretava. Ainda hoje há historiadores equivocados com esta questão.

 

 

2. Produtos para trocar com os ricos principes da India

 

Que indios esperava encontrar Colombo ?  Os indianos que esperava encontrar não eram certamente pessoas bem vestidas vivendo em palácios requintados, mas apenas indios miseráveis, nús, canibais vivendo em palhotas e dedicando-se a actividades recolectoras (desconheciam a agricultura). Nesse sentido levou consigo baús cheios de guizos, missangas de vidro e outras coisas sem valor.

 

Os habitantes que tinha a certeza que iria encontrar pouco se distinguiam daqueles que conhecera na costa ocidental de África, com os quais desde o inicio o compara. É significativo que os primeiros que conheceu e descreveu, o tenha feito utilizando palavras portuguesas de origem africana.

 

As Indias que deu aos espanhóis eram pouco rentáveis face às elevadas expectativas que havia criado. O principal negócio eram escravos, madeiras (pau brasil) e algum ouro. A exploração e escravatura desenfreada dos indios levou ao seu completo extermínio nas Antilhas. A consequência disto tudo foram as continuas rebeliões e revoltas para matar o estrangeiro (Colombo), assim como os seus cúmplices.

 

A mudança do em velame das embarcações, na 1ª. Viagem, mostra que ele sabia exactamente o que ia encontrar. Dois dos seus navios tinham panos redondos, muito adequados para viagens comerciais, rotas conhecidas e ventos favoráveis de través ou de popa. O outro navio, a "Nina", tinha panos latinos, triangulares, excelentes para explorar costas desconhecidas e bolinar em ângulos apertados contra o vento (14). Quando saiu das Canárias mandou mudar o velame da Nina para panos redondos, revelando que sabia muito bem os ventos que iria encontrar e, deixando claro os objectivos comerciais da sua viagem.  

 

 

3. Evangelização

 

Las Casas pretendeu difundir a ideia que Colombo era um enviado de Deus para difundir o cristianismo num novo continente. Que povos pretenderia evangelizar ? Os cristãos convertidos por São Tomé ?  

 

Na sua primeira viagem à India resolveu não levar qualquer padre. Os indianos que esperava encontrar pertenciam a tribos mais primitivas do que aquelas que conhecera em África. Por isso levou consigo homens capazes de os dominar e reduzir à escravatura

 

Com o tempo deixou de falar em evangelizar os indios e passou a dedicar-se ao tráfico de escravos, o único "produto" verdadeiramente rentável nas Indias. Mais

 

Depois do enorme extermínio que esta "evangelização" provocou nas indias espanholas, a Igreja católica acordou para o problema. O papa Pio V condenou a Espanha, por nada haver feito para evangelizar os indios. Filipe II viu-se obrigado a nomear a célebre Junta Magna (1568), para responder às exigências papais (36). Morto o papa tudo continuou na mesma, como no tempo de Colombo.

   

 

4. Viagem até à India

 

Os investigadores sempre tiveram dúvidas sobre a rota efectivamente seguida na 1ª. Viagem às Indias (Ásia), onde afirma que a partir da Ilha de Ferro (Canárias) navegou sempre para Oeste até Guanahaní. Trata-se de uma efectiva impossibilidade. Se o tivesse feito, por exemplo, ser-lhe-ia impossível medir as distâncias percorridas, dado que na altura não se conseguia fazê-lo com base na longitude.

 

Uma análise minuciosa do Diário de Bordo, revela que o mesmo foi falsificado por três mãos diferentes, com objectivos diferentes(28):

 

-Colombo alterou-o de modo a ocultar que havia navegado numa zona que pertencia a Portugal, segundo o Tratado de Alcaçovas-Toledo (1479/80), vigente em 1492; D João II, em Março de 1493, chamou-lhe à atenção deste facto.

- Hernando Colon modificou o texto para introduzir referências a Cataio (china), Cipango (Japão) e ao Grã Khan de modo a enaltecer o seu pai.

- Alguém que procurou defender os seus direitos, alterou aspectos comprometedores.

 

Por este facto, nada bate certo na sua rota para as Antilhas: correntes, ventos, aves, destroços encontrados, peixes, etc.

 

Muitos são os indícios que ao contrário do que afirma, depois da Ilha do Ferro, não terá navegado directamente para Oeste, mas se dirigiu na direcção do arquipélago de Cabo Verde, para apanhar as correntes favoráveis e os alísios de NE, que especialmente nessa época do ano sopram com suficiente força para o levarem até às Antilhas. Foi por este motivo mudou as velas da caravela Niña de latina para redonda, mandando  fazer o mesmo à Pinta nas Canárias.

 

As aves que afirma terem avistado (andorinhas do mar e rabo-de-palha), entre a Ilha de Ferro e as Antilhas não se afastam mais de 25 léguas da terra.

 

Afim de não o acusarem de estar a mentir, registou no seu Diário de Bordo que quando saiu das Canárias, foi avisado que uma esquadra portuguesa composta por 3 navios o esperava sul da Ilha Gomera, tendo-se visto obrigado a rumar para Oeste e Sudoeste, e só depois para Noroeste.

 

O cura de Los Palacios - Andres Bernaldez - que, em 1496, hospedou Colombo na sua casa e com ele analisou as viagens que entretanto este fizera, não se deixou enganar.  Escreve que na primeira viagem, Colombo foi a Cabo Verde, e partir deste arquipélago navegou para Ocidente, tendo ao fim de 32 dias encontrado terra (35). 

 

 

Na realidade, a partir das Canárias rumou na direcção de Cabo Verde, tendo atingido esta latitude, deu uma volta a Sul e rumou para Noroeste, indo parar às Bahamas, aproveitando as correntes e os ventos já conhecidos dos pilotos portugueses.  Esta rota, como vimos, aparece já descrita num Roteiro português anterior a 1485.

 

 

 Distâncias percorridas pela "Santa Maria" (26)

 

Colombo partiu de La Gomera a 6 de Setembro de 1492, numa viagem que calculara em 750 léguas. No dia 8 de Setembro, encontrou bom vento do nordeste (o alíseo) e tomou a rota do Poente, conseguindo andar nesse dia 9 léguas.  Das Canárias às Bahamas percorreu 1.100 léguas, ou seja, 6.660 km, em 34 dias, um valor muito alto, mesmo tendo em conta os erros propositados de Colombo. Estes valores podem-se facilmente se explicados se tivermos em conta que o mesmo rumado a sul em direcção a cabo Verde, e só depois a Noroeste. 

 

Dia

Léguas

Km

 Dia

Léguas

Km

8 de Setembro 9 54 26 31 186
9 49 294 27 24 144
10 60 360 28 14 84
11 40 240 29 24 144
12 33 198 30 14 84
13 33 198 1 Outubro 25 150
14 20 120 2 39 234
15 30 180 3 47 282
16 39 234 4 63 378
17 50 300 5 57 342
18 55 330 6 40 240
19 25 150 7 28 168
20 8 48 8 12 72
21 13 78 9 31 186
22 30 180 10 29 354
23 22 132 11 50 300
24 15 90

Totais

 1.100  6.660
25 21 (26) 126

 

Na segunda viagem, percorreu apenas cerca de 750 léguas, em 20 dias, a partir da Ilha do Ferro, seguindo também a rota do roteiro português de anterior a 1485.

 

A sua preocupação em esconder dos espanhóis esta rota, levou-o na 2ª. viagem a impor algumas medidas de segurança. Os pilotos deviam apenas limitar-se a seguir a sua nau, e só em caso de se perderem eram autorizados a consultar a rota que constava num envelope fechado (13).    

 

5. A distância até à "India

 

No dia 2 de Novembro de 1492, calcula que desde que saiu da Ilha do Ferro (Canárias) até o Cataio (China), percorrera 1.142 léguas. Uma distância que correspondia aos seus calculos iniciais: 750 léguas até a Cipango (Japão) e depois cerca de 382 léguas até ao continente asiático. Estamos perante mais uma mentira.

 

Colombo anunciou que levara apenas 33 dias da Europa à Ásia. 

 

Trata-se de uma distância demasiado curta, mesmo para um geógrafo pouco habilitado na época.

Uma distância tão pequena pressuponha um globo terrestre minúsculo, o que contradizia todas as evidências.

As explorações sistemáticas que os portugueses faziam, desde o século XIV, das costas africanas, mostravam que as dimensões deste continente eram muito maiores do que os geógrafos antigos pressuponham. Tal facto implicava, só por si, ter que ampliar as dimensões da Terra (2). Colombo, para convencer os reis espanhóis, fez justamente o contrário do que as evidências mostravam.

 

6. Latitude da "India". 

 

No seu Diário de Bordo, por duas vezes (30/10 e 2/11/1492) regista os cálculos que efectuou sobre a latitude de Cuba. O valor que encontrou foram 42 graus norte. O valor real é de 23º 08' N (Havana). O erro é enorme, incompreensível para qualquer navegador experiente. Las Casas, chega mesmo a colocar a hipótese de se tratar de um erro, mas confirma este era o valor registado pelo Almirante.

 

A prova que estava a mentir aos reis espanhóis, dando-lhes uma falsa localização das Indias, foi quando no regresso em vez de rumar para sul, dirigiu-se ainda mais para norte.  

 

7. O que encontrou na "India" 

 

Colombo não se furtou a descrever inúmeras coisas que viu ou lhe foram contadas que existiam nas terras que descobriu, que confirmavam tudo aquilo que os antigos diziam que existia na India. O delírio foi total.

 

 Para além de seres fantásticos, como sereias, cinocéfalos, canibais, ilhas de amazonas, homens com rabo, animais exóticos, descreve uma enorme variedade de produtos, tais como a almástica (lentisco, almecegueira, aroeira), aloés, pimenta, ruibrabo ou a noz moscada, tudo em grande abundância. Com pouco trabalho e em pouco tempo, qualquer um poderia tornar-se rico (22).

 

- No dia 4/11/1492, um português que ía a bordo da caravela de Martin Alonso de Pinzón, depois de ter ido a terra viu indios com 2 grandes molhos de canela, e trouxe alguns pedaços para bordo. Colombo, segundo Las Casas, não parece ter concordado que fosse canela, tendo mostrado todavia aos indios canela e pimenta que tinha abordo. Estes confirmaram a sua existência a sueste do local onde se encontravam. Mostrou também ouro e pérolas e, uma vez mais, estes confirmaram a sua existência, indicando inclusive o local onde as poderiam encontrar. O objectivo era convencer os espanhóis que estavam na India, e conseguiram-no.

 

Contudo, aquilo que Colombo soube que existia em grandíssima quantidade era ouro e pedras preciosas. O ouro era tanto que em pouco tempo, os reis de Espanha se tornariam os mais poderosos do mundo. Ele chegara muito perto das minas de ouro de Ofir, celebradas pelo rei Salomão. Semelhante riqueza não podia deixar ninguém indiferente.

  

- No regresso da 1ª. Viagem, numa carta aos reis católicos, datada de 14 de Março de 1493, afirmou que havia tomado na India uma grande cidade, com comércio  florescente e inúmeras actividades lucrativas, etc.

 

Para aguçar o apetite afirma que vinha do Cipango (Japão) e dos vastos territórios dependentes do Gran Can, qe supostamente ainda dominaria o Cataio (China).

 

O próprio papa Alexandre VI cai no logro, e numa bula de 17 de Abril de 1493, menciona "as pérolas preciosas, o ouro, a prata e as especiarias". 

 

O cenário que pintou convenceu os monarcas espanhóis e até o papa. O logro foi perfeito.

 

Durante a 1º. Viagem Colombo abandonou nas Antilhas 39 tripulantes, entre os quais se contavam os espiões dos reis espanhóis. Livre destas testemunhas incómodas, Colombo pode mentir à vontade sobre o que vira na "India".

 

8. Enganava toda a tripulação, pilotos e capitães 

 

Las Casas na sua relação do Diário de Bordo de Colombo, assinala que a partir de 10/9/1492, constatou duas coisas:

 

- Está permanentemente a mentir à tripulação sobre as distâncias percorridas. O seu objectivo seria não desanimar a mesma, fazendo-a crer que haviam navegado menos do que tinham feito.  

 

- Confundia deliberadamente os pilotos e os capitães de modo a que os mesmos não soubessem onde estavam, nem mais tarde pudessem retornar às terras descobertas (cf. Diário de Bordo, 19 de Fevereiro de 1493). A acusação é gravíssima e não deixa margem para dúvidas sobre as suas intenções.

 

Ao longo dos anos como um verdadeiro espião português, continuou a mentir aos espanhóis.

 

 

9. Antecipação do Regresso

 

Colombo, no Diário de Bordo, a 19 de Outubro de 1492, escreve que tencionava regressar por volta de Abril de 1493. A razão é simples: Ele já sabia, por viagens anteriores ou informações obteve em Portugal, que neste mês estariam passado a estação das tempestades no Atlântico Norte.

 

A verdade é que no dia 8 de Janeiro de 1493, contra tudo o que antes dissera anuncia que iriam regressar de imediato para darem a noticia da descoberta. No dia 9 de Janeiro escreve que tinha encontrado o que procurara. O que o fez mudar de planos?

 

O historiadores italianos afirmam que ele tendo descoberto ouro em quantidade (?), nada mais lhe interessava nas Indias, e por essa razão resolveu antecipar o regresso.

 

A razão era outra. No final de Novembro de 1492 Martin Pinzon separou de Colombo e andou a explorar sozinho, isto é, sem controlo, uma das ilhas. O "Almirante do Mar Oceano" percebeu claramente que poderia ser descoberto por Pinzon. Era óbvio que não estavam na Ásia, nem nos domínios do Grande Khan. Tudo não passava de um logro.   O risco era enorme se continuassem a fazer novas explorações. Perante esta possibilidade de vir a ser descoberto, resolve antecipar o regresso da expedição, aventurando-se no Oceano Atlântico Norte numa altura do ano de tempestades.   

 

 

10. Percurso de regresso

 

No regresso, em vez de se dirigir para Espanha veio para Portugal informar D. João II da missão e combinar os passos seguintes. Durante 10 dias permaneceu em Lisboa e só depois partiu para Cádiz (Espanha), mas teve tempo para parar na cidade portuguesa de Faro (1 dia).

 

- Colombo percebeu que mais tarde poderia ser acusado de traidor. Esta estadia em Lisboa, onde chegou a 4 de Março, comprometia-o. Nesse sentido escreveu duas cartas aos reis espanhóis, onde fazia crer que havia regressado pelas Canárias (onde não fora), omitindo o rumo que tomara. As datas das cartas são as seguintes: 

 

- A 1ª. está datada de 15 de Fevereiro de 1493, constando na mesma que foi redigida numa caravela nas ilhas Canárias.

 

- A  2ª. tem uma data posterior  - 14 de Março -, e afirma que estando nas ilhas Canárias, ocorreu uma tempestade que o levou ao "porto maravilhoso" de Lisboa. Nesta altura Colombo já havia saída da cidade (a 13 de Março).

 

Estas cartas escondem a mentira que ele julgava poder veicular dado que pensava que a outra caravela se havia perdido nos mar dos Açores.

 

10.1. Chegada a Lisboa

 

Para tornar mais convincente a tempestade do dia 4 de Março, afirma que nunca haviam visto um inverno com tantas tormentas como aquele. Haviam barcos retidos à quatro meses no porto, 25 naus da Flandres perderam-se devido às tempestades, etc. Trata-se de uma enorme aldrabice, cujo único objectivo era do de justificar a sua vinda directa dos Açores para Lisboa..

 

 

 

E ) Deslealdade 

 

Colombo nunca confiou nos espanhóis. Quando descobriu a "India" (1492), no regresso veio primeiro para Portugal e a partir de Lisboa comunicou para toda a Europa a sua descoberta. A datação da carta começa um com uma falsidade  - "15 de Fevereiro", nas Canárias, quando na realidade estava no mar dos Açores. A data que acaba por colocar é 4 de Março, em Lisboa. Las Casas, escreveu que terá sido enviada de Lisboa, a 14 de Março de Março, dando a entender que foi escrita depois da conversa de Colombo com D. João II.

 

Fez questão de assinalar que se tratava de uma expedição ao serviço dos reis de Espanha, de forma a comprometê-los, e que a descoberta estava devidamente documentada, um aspecto em que se mostrou exímio.

 

Como se dirigia a um público ilustrado e não ignorantes em geografia, como os reis espanhóis eram, afirmou que havia descoberto o caminho marítimo para as Indias e não para a India. Indicou também a distância e a direcção fazendo desta forma um convite a outras potências europeias para que disputassem a sua posse aos espanhóis, sendo a carta divulgada rapidamente através da imprensa. 

 

- Só em 1493 foram publicadas 11 edições da carta que enviou para toda a Europa, abrangendo a Espanha, Itália, França, Suíça e os Países Baixos. 

 

Os primeiros a saberem da sua "descoberta" ao serviço de Espanha não foram os espanhóis, mas portugueses. A partir de Lisboa, num golpe de génio, informou pessoas  bem posicionadas na Europa e só em último lugar os reis de Espanha. 

 

Colombo não apenas mentia aos espanhóis, mas também lhes escondia as terras que havia descoberto. Em 1493 recusou-se a dar a posição exacta das Indias, numa altura que este país negociava com Portugal o Tratado de Tordesilhas, deixando os negociadores espanhóis nas mãos dos portugueses. 

 

 

 

F ) Obrigou Outros a Mentir

 

Colombo não apenas mentiu como exigiu que outros o fizessem. Durante anos os espanhóis estiveram convencidos que Cuba fazia parte de um Continente. Porquê ? 

 

Na Segunda Viagem, sem ter explorado completamente a Ilha de Cuba, a 12 de Junho de 1494, obrigou a tripulação de três caravelas (Niña, San Juan e Cardera) a jurar por escrito que a mesma fazia parte da Ásia. 

 

As penas eram cruéis para quem depois dissesse o contrário: "les puse pena de dies mil maravedíes por cada vez que lo que dixere cada uno que después en ningún tiempo el contrario dixese de lo que agora diría, e cortada la len gua; e si fuere grumete o persona de tal suerte que le daría ciento açotes y le cortaría la lengua."

 

Colombo não se limitou a ameaçar todos aqueles que vo pudessem desmascarar, proibiu alguns do que o podiam fazer  de saírem da ilha La Hispaniola.

 

Um traidor italiano - Miguel de Cúneo, de Saona -, afirma nas suas cartas que Colombo, em Fevereiro de 1495, não deixou regressar a Espanha o "abad de Lucerna", porque o mesmo defendia que Cuba era uma ilha e não parte do continente asiático (24).  

 

 

G) Impede a Comunicação com os Nativos

 

Seguindo uma prática aprendida com os portugueses, trouxe consigo na primeira viagem sete indios com o objectivo de os usar depois como interpretes.

 

Na segunda viagem, Colombo levou consigo o indio Diego, como interprete, para poder comunicar com os indios de Cuba, mas procurou logo impedir que o mesmo falasse com os espanhóis de modo a limitar-lhes o acesso à informação. O frade Bernardo Buil foi um dos que se lamentou, e foi vítima, desta sua manobra (20). Acabou por regressar a Espanha denunciando a forma como Colombo o impedira de fazer a evangelização dos indios.

 

 

H ) Apostilhas, Memorial, Cartas

 

A partida de Vasco da Gama para a verdadeira India, em 1497, deixa Colombo numa situação numa dificil situação, pois a breve trecho acabaria por ser desmascarado. Nesse sentido, como vimos, Alvaro de Bragança, negoceia o seu Morgadio (1497). Paralelamente, começou a ser falsificar e a produzir documentos que visavam mostrar que tinha agido de boa fé quando propôs aos reis espanhóis atingir a India navegando para Ocidente..

 

1. Apostilhas

 

Os historiadores que têm estudado as célebres apostilhas (glosas) de Colombo, descobriram três coisas inquestionáveis:

- Pelo menos 4 pessoas terão escrito os comentários que lhe são atribuídos (Colombo, Bartolomeu Colon, Hernando Colon e o Padre Gaspar Gorrício). Bartolomeu terá escrito grande parte inclusive destes comentários. Estamos perante uma obra de várias pessoas, embora seja sistematicamente atribuída apenas a uma; 

 

- Os comentários estão escritos num latim irrepreensível, revelando um domínio muitíssimo superior ao que Colombo manifesta da língua espanhola, onde introduzia frequentes palavras portuguesas. Face a este panorama, alguns historiadores, afirmam que os comentários à margem dos livros foram escritos e revistos por latinistas, e depois copiados por Colombo !

 

- A (quase) totalidade dos seus comentários foram claramente ante-datados, isto é, foram feitos depois de 1497, mas escritos de modo a passarem por ser anteriores a 1492. As obras anotadas, como demonstrou Juan Gil, foram quase todas adquiridas depois de 1497, numa altura que Colombo era acusado de ser uma fraude em termos geográficos. Neste ano foi recebido em casa de Andrés Bernal, cura de los Palacios, que lhe demonstrou em publico que ainda lhe faltavam mais de 1.200 léguas para atingir o Cataio, na China (22)ao contrário do que ele supunha. Sem resposta, desmascarado publicamente, Colombo tratou depois de munir-se de obras de autores clássicos e da Igreja que pudessem tornar credíveis os seus delírios.

 

Não foi apenas o livro de Marco Polo que foi anotado depois de 1493, foi também o de Plínio, Pio II e quase todas as outras obras onde aparecem apostilhas marginais (23).  Os textos atribuídos a Colombo e ao seu irmão Bartolomeu Colón - diários de bordo, apostilhas, cartas e outros documentos-, estavam em permanente retificação, nunca eram dados por concluídos, de forma a ajustá-los aos interesses do momento. As falsificações eram constantes.

 

1.1. Diários de Bordo

 

O Diário de Bordo da primeira viagem que foi forçado a entregar aos reis católicos, não passava de um simples resumo, que não permitia orientar nenhum navegador até às Indias. Colombo, como se tudo isto não bastasse, tratou de o corrigir ao longo dos anos.

 

No princípio insere uma "cópia" de uma suposta carta aos reis católicos, onde deliberadamente comete erros grosseiros na  cronologia três distintos acontecimentos, dando a entender que tinham ocorrido todos no mês de janeiro de 1493: A rendição de Granada (2 de Janeiro), as Capitulações de Santa Fé (17 de Abril) e a expulsão dos judeus  (31 de Março). Estes erros cronológicos, sem dúvida intencionais, continuam a alimentar a imaginação de muitos historiadores (39). 

 

Juan Gil (7), analisando os comentários ao Livro de Marco Polo, obtido através de um espião inglês (John Day), demonstrou que Colombo só o consultou entre fins de 1497 e Agosto de 1498.

 

Esta leitura permitiu-lhe retocar (emendar) o seu Diário de Bordo da primeira viagem (1492-3), assim como aperfeiçoar as suas mentiras sobre a India. O seu objectivo, nesta altura, foi dar cobertura a tudo o que afirmara sobre a India apoiando-se em Marco Polo e em escritores da antiguidade clássica. Alterou também, como vimos, a rota que seguiu para as Antilhas.

 

O caso mais curioso de falsificação de um "Diário de Bordo", é todavia, "Relación del tercer viaje"(1498-1500), no qual Colombo faz gala em mostrar-se um grande humanista, revelando uma profunda erudição.

 

Face à quantidade de autores citados, torna-se evidente que não poderia ter levado a bordo um tão grande número de obras, nem sequer teria tempo para as consultar. Tudo leva a crer que depois de 1504, tenha emendado e acrescentado a relação da terceira viagem (25).

 

 

 

1.2. Outras Falsificações

 

O estudo das apostilhas, por Juan Gil (7)  permitiu descobrir que as mesmas foram usadas para Hernando Colon e o Padre Gorrício para mentirem à Corte Espanhola.

 

O primeiro afirmou na sua biografia de Colombo, que o mesmo iniciava sempre os seus escritos com : "Jesus Cum Maria Sit Nobis in Via". Trata-se de uma completa falsidade. Apenas em 2 documentos oficiais e em 2 apostilhas (Marco Polo e Plínio) isto acontece. Estes documentos foram exibidos como prova num processo movido contra a Corte Espanhola, para autenticar uma doação de Colombo ao seu filho.  

 

Na intensa campanha que realiza para justificar o logro a que conduzira dos espanhóis, apoia-se em pensadores da própria Igreja. Facilmente se consta que muitas das suas citações são falsas: Santo Agostinho, por exemplo, é citado como um milenarista, posição que o próprio bispo de Hipona condenava.

 

 

2. Memorial

 

O conhecido Memorial de la Mejorada (Julho de 1497), atribuído a Colombo, afirma que seguia um plano de D. João II, mas infelizmente interrompido devido à morte do rei (1495). As suas palavras são mais do que nunca enigmáticas. Fica no ar a ideia que o Tratado de Tordesilhas tinha uma agenda secreta, que deixara de ser cumprida.

 

A culpa do que estava a acontecer era do novo rei de Portugal, D Manuel I. Porquê ? Porque havia mandado navios para Ocidente, quer para as Indias espanholas, quer para sul (Brasil, Duarte Pacheco Pereira ?), quer ainda para Oriente contornando África (Vasco da Gama). Desta forma, Colombo atribui a outros a razão do insucesso das Indias espanholas.

 

3. As Cartas de Toscanelli

 

Hernando Colón, no Cap. VIII, na biografia do seu pai, publica três cartas em latim de Toscanelli, sendo que duas delas são dirigidas a Colombo, uma das quais transcreve uma terceira carta, datada de 1474, dirigida a um cónego de Lisboa. Nestas cartas, o cosmógrafo florentino, defende a ideia de que a partir de Lisboa a India ficava a uma curta distância, bastava navegar para Ocidente. 

 

Historiadores como Henry Vignaud, demonstraram que estamos perante mais uma fraude, feita depois de 1497 para enganar os reis espanhóis, neste caso com a intervenção de Bartolomeu Colon. 

 

4. Destruição de documentação ? 

 

Como é sabido, não existe um único documento original de Colombo anterior a 1498, o que  possuímos são apenas cópias do que supostamente escreveu. 

 

Os falsários italianos terão destruído uma parte significativa, de forma a terem maior liberdade para produzirem as cópias que bem entenderam. No entanto, não é de excluir a hipótese da própria família de Colombo, terem participado nesta destruição sistemática da documentação original, afim de mais facilmente a puderem modificar.  

 

 

 

I ) Delírios 

 

O objectivo da primeira viagem de Colombo, em 1492/93, era de chegar à Ásia, à ilha de Cipango (Japão) e depois, no continente asiático encontrar-se com o Gran Can, o imperador de Cataio/Catai/Catay/Cathay (norte da China), e entregando-lhe uma carta dos Reis de Espanha, Fernando e Isabel. Esta carta diplomática deveria  dar inicio as relações comerciais entre a Espanha e o Imperador dos mongóis.

 

Colombo tinha como principal fonte de informação ( e inspiração) para a Ásia, os mapas de Ptolomeu, Toscanelli (14) e o livro de Marco Polo que, entre 1271 e 1295, andou pela Ásia (16). É provável que tenha consultado estas obras em Portugal.

 

Em Portugal, como já dissemos, existiam não apenas os mapas Ptolomeu e de Toscanelli, mas também o livro de Marco Polo desde o inicio do século XV. Colombo só adquiriu esta obra em fins de 1497, tendo-lhe então servido para corrigir e modificar descrições anteriores, nomeadamente as que constam no Diário de Bordo da 1ª. Viagem 1492-1493 (13).

 

Mapa de Toscanelli, 1474 (reconstrução de Hapgood)

 

 

As descrições que fez da Ásia, sobretudo durante a sua primeira viagem (1492/1493), estão conformes às informações recolhidas no livro de Marco Polo e no mapa de Toscanelli.  

 

De acordo com Marco Polo e Toscanelli, depois de sair da Ilha de Gomeira (Gomera), iria encontrar uma grande ilha - Cipango / Cipangu (Japão) - que ficava à frente do continente asiático.

 

No dia 27/10/1492, chegou a Cuba, e ficou na dúvida se estaria na China (Cathay) ou no Japão (Cipango), inclinou-se para a ideia que já estaria na China. A 29/10 partiu na direcção da sua maior cidade - Quinsay (Hangchow,norte da China) . Fez então cálculos e descobriu que estava a 42º. a norte do Equador, um monstruoso erro. Las Casas tem dificuldade em aceitar este valor, como verdadeiro.

 

Diario de Bordo, 30/10/1492: "... el rey de aquella tierra tenía guerra con el Gran Can, a cual ellos llamaban Cami, y a sua tierra o ciudad, Faba y otros muchos nombres."

 

Enviou então uma embaixada à procura do Gran Can, constituída por Luís de Torres, Rodrigo de Jerez e dois indios como guias. Eram munidos de uma carta em latim dos reis de Espanha dirigida ao rei dos reis da Ásia. O único resultado desta embaixada foi a descoberta ocasional do tabaco...

 

Diário de Bordo, 1/11/1492: afirma que está junto ao continente asiático "perante Zaiton e Quinsay, a mais ou menos cem léguas de distância de uma e outra". A verdade é que Colombo, neste momento, em vez de seguir na direcção destas cidades, resolve afastar-se delas, seguindo para sul... 

 

A China, segundo o relato de Marco Polo, vivia dominada dominada pelo Gran Can (Grande Khan), cujos soldados, entre outras particularidades eram comedores de pessoas (canibais).  Colombo, à semelhança de Marco Polo, também ele acaba por afirmar que no império do Gran Can, existiam canibais e outros seres fantásticos, como homens com um só olho, com cabeça de cão (Diário de Bordo, 26/11/1492), sem cabelo e até um reino de amazonas, etc. Afirmações baseadas em relatos dos próprios indios.

 

Na continuação da viagem pela "Ásia", chega a 5/12/1492, a Hispaniola (actual Haiti/Rep.Dominicana), habitada pelos indios Taínos (Arawacos). A 23/12, foi-lhe dito que a ilha se chamava "Cibao", ao que Colombo terá deduzido que se trava de Cipango. Estava finalmente no Japão !  (15)

 

Foi portanto no Japão (Cipango) que mandou erguer o primeiro forte da "Ásia", o Forte de "La Natividad" (actual cidade de Cap Haitien ).

 

O problema é que Colombo nunca viu nada semelhante às cidades, portos, palácios e pessoas que Marco Polo havia descrito. Nesse sentido, para não ser acusado de aldrabão, afirma que não percebia nada do que os indios lhe diziam... (17)

 

 

Na segunda viagem (1493-1496) só poderia ser de confirmação das descobertas asiáticas anteriores.

 

Neste sentido, identifica Cuba como parte do continente asiático, obrigando os tripulantes das três caravelas, a jurarem por escrito que era verdade. Afirma que descobriu a província de Mangi (China), que estava muito próxima de "Áurea Quersoneso" (península de Malaca).

 

Diz inclusive que poderia dar a volta ao mundo, vindo para a Europa pelo Oriente, mas confessa que não tem mantimentos suficientes para realizar esta atravessia: "yo provara de volver a España por Oriente, biniendo a Gangas (a India do Ganges), dende, y al Signo Árabico (golfo Pérsico), y después por Etiopía".

 

A Jamaica é identificada como o bíblico reino de Sabá da Arábia. Foi deste reino, como esclarece o aldrabão Miguel de Cuneo, que saíram os três Reis Magos que vieram adorar "Cristo" na Nazaré...

 

A Hispaniola (Haiti) é, por sua vez, identificada como a mítica região de Ofir, onde se situavam as minas de Salomão.

 

Estamos perante um verdadeiro delírio, que será ultrapassado, como veremos, na terceira viagem.

 

Depois de tantas fantásticas descobertas, fica profundamente doente entre 26 de Setembro de 1494 e Março de 1495, devido ao facto de não dormir durante muitos dias.

 

 

Na terceira viagem (1498-1500), quando começa a ser acusado de estar a enganar os espanhóis, retoma coerentemente um discurso delirante. Desta vez para além de Marco Polo, toma a própria Biblia como fonte de inspiração.

 

Um ano depois Vasco da Gama ter partido para a India, descobre o "Paraíso Terreal" na embocadura do Rio Orenoco. Em apoio deste completo delírio, cita Pedro Alliaco, Santo Ambrósio, Santo Isidoro e até Estrabão (cfr. Relação da 3ª. Viagem, 1498). 

 

Apresenta também uma nova configuração para a Terra, que imagina como uma pera (Tierra Pezonoidal, em castelhano). Trata-se, como veremos, mais uma artimanha para enganar os reis espanhóis.

 

Os seus discursos vão-se tornado cada vez mais místicos, descrevendo povos e cidades fantásticas que se encontravam na Ásia, mas que ele nunca vira.

 

Se os discursos revelam um sonhador, a sua prática mostra-se um torcionário para os espanhóis, matando-os sem piedade e procurando impedi-los de se fixarem nas Indias (Ásia).

 

 

Significado da "Tierra Pezonoidal"

 

 

A Terceira Viagem de Colombo (1498-1500), tinha como objectivo chegar à India para onde partira Vasco da Gama, acabando por ir parar a uma região que denominou "Retrete" (pia, cloaca), sem encontrar sinais dos portugueses. É neste sentido faz uma surpreendente "descoberta": - a terra, na zona do Equador,  tem a forma de uma pera ou do seio de uma mulher, a "Tierra Pezonoidal"... (30)

 

A elevação começava a verificar-se a partir das 100 milhas dos Açores, atingindo a "pêra" o seu ponto mais alto sobre a linha do Equador, onde situava o "paraíso terreal", a "arvore da vida" e o lago onde nasciam os quatro grandes rios do oriente, o Ganges da India, o Tigre e o Eufrates da Arménia e o Nilo da Etiópia.

 

 Colombo, com esta imaginosa teoria sobre a forma da terra, consegue explicar, entre outras coisas, porque naquela região existiam ilhas com rios como o Orinoco, um dos rios do Paraíso... 

 

A explicação para ter concebido esta delirante teoria era afinal algo muito simples: - Tratava-se de explicar a razão porque não conseguira encontrar os portugueses na India. Segundo ele, não os encontrou porque passou grande parte do tempo da viagem a contornar esta saliência,  e não tendo barcos em condições teve que desistir e dirigir-se para La Hispaniola.

 

Para contentar os espanhóis, acabou por revelar que havia descoberto uma região rica em pérolas.

 

 

 

Na Quarta Viagem (1502 -1504) Colombo propõem-se dar uma uma volta ao mundo, contornando a enorme saliência terrestre, e encontrar-se finalmente com os portugueses na India.

 

Uma vez que pretendia regressar pelo Cabo da Boa Esperança, percorrendo vastas zonas ocupadas por muçulmanos pede dois ou três interpretes de árabe, sendo-lhe concedidos dois (carta real de 26/2/1502)(38). Pretendia também encontrar-se com o Gran Khan .

 

Parece incrível como é que os espanhóis continuavam a cair nas mentiras de Colombo, depois de dez anos a andarem pelas Caraíbas, tendo inclusive interpretes que já sabiam a língua dos seus nativos. O facto é tanto mais absurdo, quanto os Portugueses nesta altura já tinham trazido para a Europa uma vasta informação sobre a Ásia e os seus povos.

 

Colombo continua a recusar que tenha encontrado um outro continente, afirmando sem equívocos que as Indias (Caraíbas) faziam parte da Ásia.

 

Uma vez nas Indias (Ásia), e não tendo encontrado os portugueses que supostamente por lá andavam, Colombo recorre mais uma vez à sua fértil imaginação para enganar os espanhóis.

 

Na actual Costa Rica afirma que encontrou nativos que lhe garantiram que a nove jornadas por terra, se achava a célebre província de Çiguare, e atingiria facilmente o Rio Ganges, na India, o qual estava a apenas a dez jornadas a pé...

 

A conclusão era simples de tirar: - Se não fossem os contratempos da viagem, a má qualidade dos navios, os rebeldes espanhóis a bordo, e a sua própria saúde, poderia ter ido ao encontro dos portugueses na India !

 

Afirma que havia encontrado em Verágua grandes quantidades de ouro, mas só ele sabia como se podia chegar a esse região, e para que não restassem dúvidas mandou recolher todos os mapas que os pilotos e marinheiros possuíam ... Mais

 

 

M ) Duas Concepções da Terra

 

As sistemáticas mentiras de Colombo aos espanhóis conduziu-os a uma concepção retrógrada do globo terrestre, que se prolongou entre espanhóis e italianos até as anos 30 do século XVI.

 

Hernando Colón participa activamente nesta farsa, defendendo uma concepção do mundo que negava que o carácter continental da América. Mais

 

O resultado desta acção foi o desnorte completo dos geógrafos espanhóis, como o aragonês Guillermo Coma que coloca La Hispaniola (Santo Domingo), na Arábia (21). Outro dos que andava desnorteado era o geografo catalão Jaime Ferrer de Blanes que afirmava que Colombo já havia atingido a India superior, pouco lhe faltando para chegar ao golfo arábico...

 

 

Em Espanha, mas também em Itália, os cosmógrafos e cartógrafos influenciados por Colombo, identificavam o continente americano, como parte do continente asiático. O mapa de Bartolomeu Colón (1507), contra todas as evidências, continuou a considerar a América como parte da Ásia.  Hernando Colon também nunca admitiu outra hipótese.

 

 

A cosmografia espanhola ao longo de todo o século XVI continuou a basear-se na Geografia de Claudio Ptolomeu (c.90-c.165), nomeadamente para defenderem contra os portugueses, o seus direitos sobre a India.

 

As Antilhas continuaram vistos como a região leste do Cipangu (China). Quando pretendiam afirmar que a América do Sul era Terra Firme, os cartógrafos espanhóis separavam-na da América do Norte (9). Andavam baralhados.

 

O conhecido mapa-mundo de Juan de la Cosa, antigo piloto de Colombo, é bem ilustrativo da concepção retrógada espanhola: o mundo continua a ter apenas três continentes - Europa, Africa e Ásia (1508). As terras descobertas por Colombo faziam parte deste último continente. 

 

Americo Vespúcio, por exemplo, estava convencido que o "Novo Mundo" (América do Sul) fazia parte da Ásia, não constituindo portanto nenhum continente.

 

Esta concepção foi também difundida pela maioria dos italianos do tempo: O Mapa-mundo de Francesco Roselli, em 1508, liga a Terra Nova e as Antilhas à Ásia, o oceano Atlântico banha as costas da Ásia. O Brasil é representado como uma Ilha. Giovanni da Empoli, em 1514, continuava a afirmar que as Antilhas do rei de Castela e a Terra de Côrte Real estão unidas a Malaca (11). 

 

Dez anos depois, nas sua conhecidas cartas, Martir de Anghiera, ainda não tem uma posição definida se a América é ou não um novo continente. A confusão era total entre espanhóis e italianos.

 

Os representantes espanhóis na Junta de Badajoz e Elvas (1524), continuaram a basear-se em Ptolomeu, Marco Polo ou Juan de Mandevilla para defenderem a localização o Maluco (27). Hernando Colon, Fray Tomas Durán, Sebastián Caboto e Juan Vespuche revelaram, nestas reuniões, uma completa ignorância da  nova cartografia do mundo.  Em 1566 foi de novo a Ptolomeu que recorreram os cosmógrafos espanhóis para sustentarem que o Maluco, como as Filipinas, pertenciam a Filipe II. Ainda em 1611, Arias de Loyola, defendia que o Maluco pertencia a Espanha baseado em Ptolomeu...

 

Portugal

 

Em Portugal, desde o último quartel do século XV que prevalece a concepção da continentalidade das terras desde a Terra dos Bacalhaus (Canadá) ao Brasil incluído (19). A América era, para os portugueses, um continente separado da Ásia.

 

Uma concepção que está bem presente no Mapa dito de Cantino (1502).

 

Numa carta do embaixador de Veneza em Lisboa - Pietro Pasqualigo -, datada de Lisboa a 18 de Outubro de 1501 e recebida em Veneza a 28 e Dezembro de 1501, este é muito claro sobre a concepção continental que os portugueses possuíam da América.

 

Ao referir-se à Terra Nova que os portugueses andavam a explorar escreve : " Também acreditam estar ligada com as Antilhas, que foram descobertas pelos reis de Espanha, e com a terra dos papagaios, novamente encontrada pelos navios deste rei (de Portugal)  que foram a Calecut (armada de Pedro Alvares Cabral)." (18)

 

Carlos V, imperador alemão, quando pretendeu acabar com esta confusão em que os espanhóis andavam mergulhados no século XVI, contratou cosmógrafos e cartógrafos portugueses.

 

Colombo e Duarte Pacheco Pereira

A concepção retrograda do mundo de Colombo tem algumas semelhanças com a concepção de Duarte Pacheco Pereira.

Ambos influenciados por Ptolomeu acreditam que a água ocupava apenas a sétima parte da Terra. O oceano era lago interior.

Ambos nunca falam que as terras que exploraram no outro lado do Oceano Atlântico constituíssem um novo continente(29).

A partir daqui as diferenças são muitas:

- Colombo até morrer, em 1506, afirma que as terras que encontrou faziam parte da Ásia. Diz ter atingido o Japão (Cipango) e a China (Cataio) e de haver navegado pelos mares da arábia. A distância da Europa ao Japão era de apenas 750 léguas. O planisfério de Juan de La Cosa (1500-1508) plasma esta concepção do mundo.

- Duarte Pacheco Pereira, em 1506, afirma que existiam três continentes (Europa, África e Ásia), mas também que os portugueses (e ele próprio) haviam explorado uma vasta e continua massa de terra ao longo de 98º e 30` (70º para Norte e os restantes para sul). Estava de Portugal à distância de 36º, ou seja, 648 léguas (a 18 léguas por grau). O Brasil não é uma ilha, mas faz parte desta enorme massa de terra. Não se tratava da Ásia, muito menos era uma parte da mesma, era sim um território distinto dos continentes conhecidos.

Não se aventura, todavia, a dizer que estamos perante um novo continente. Afirma apenas que esta enorme extensão de terra faz a ligação entre o polo Ártico e o polo Antártico (regiões geladas),  criando deste modo a Ocidente da Europa, uma barreira entre o Atlântico e o Índico, e consequentemente os mares da China e do Japão.

Nesta concepção da Terra, o Oceano aparece como um grande lago interior.

O grande problema que se coloca para a navegação, nesta concepção da Terra, é o de descobrir um estreito que permitisse chegar à India navegando para Ocidente.

A ideia não era nova, várias expedições portuguesas foram enviadas para o actual Canadá e o sul do continente americano à procura de um estreito para o Oriente. Colombo, baseado em informações portuguesas tentará encontrá-lo na região do Panamá, em 1498, mas rapidamente desistiu de o achar. Fernão de Magalhães teve a glória de o encontrar e explorar, no extremo sul da América. Mais 

A concepção do mundo de Duarte Pacheco Pereira aparece plasmada no planisfério de Lopo Homem (1519).

Planisfério de Lopo Homem (1519)

 

 

 

L ). Confissão do Logro

 

No final da vida Colombo era um homem desacreditado, apenas podia confiar num circulo muito restrito de pessoas em Portugal e em Espanha. A sua sobrevivência e da sua família passava pela continuidade da mentira

 

Em 1505 regressou a Espanha vindo de Lisboa, um dos maiores aldrabões da História - Américo Vespucio. Estivera, segundo o próprio 5 anos em Portugal ao serviço dos reis de Portugal, era portanto alguém que Colombo podia confiar. Não tardou em combinar com o mesmo uma nova mentira ou a continuidade da mesma. Ele devia convencer a Corte Espanhola que as Indias descobertas por Colombo eram maiores e mais ricas do que as verdadeiras Indias a que Vasco da Gama havia chegado (1498).  

 

Numa carta escrita para o seu filho Diego Colón, datada de 5 de Fvereiro de 1505, a escreve:

 

"Querido filho (...) falei com Amerigo Vespucci, portador desta (carta), que vai aí (à Corte) chamado sobre assuntos de navegação. Ele sempre teve desejo de me agradar (...) vai com um dos meus e com grande desejo de fazer algo que me beneficie, se estiver ao seu alcance (...) vai determinado a fazer por mim tudo o que lhe for possivel (...) tudo fará e falará e porá em prática e seja tudo feito secretamente, para que não suspeitem dele. Eu, tudo o que se podia dizer-lhe sobre isto, disse-lhe e informei-o do pagamento que me foi feito e que ainda se faz. Esta carta será também para o Senhor Tenente (Bartolomeu Colon), para que veja como ele (Amerigo Vespucci) pode ser benéfico e o avise disso. Sua Alteza deve acreditar que os seus navios foram para a melhor e mais rica das Indias. E se resta algo mais a saber sobre o dito, eu satisfazê-lo-ei lá verbalmente, porque é impossivel dizê-lo por escrito" ( 1 ).    

 

Colombo não podia ser mais claro ao confirmar que a história da India foi a forma de conduzir os reis de Espanha a um logro, no qual participava toda a sua família e amigos. Vespúcio só começa a participar neste logro após ter estado cerca de cinco anos em Lisboa.

 

As mentiras irão continuar ao longo de todo o século XVI, envolvendo os seus filho Diego Colón e Hernando Colón, mas também Las Casas.

 

Carlos Fontes

  Notas:

( 1 ) Cristobal Colón, Textos y Documentos CompletosConsuelo Varela (ed.); Nuevas Cartas, Juan Gil (ed.), Madrid. Alianza Universidad. 1997.  

( 2 ) Nicolau Copérnico, mais tarde irá colocar em evidência as implicações destas descobertas portuguesas para o calculo das dimensões da Terra. Um dado adquirido em Portugal, no século XV, onde Colombo viveu e se formou. 

( 3 ) O motivo desta correspondência terá sido provavelmente outro. Colombo procurou comprar os serviços dos italianos para que o seu filho Diego Colón, fosse armado cavaleiro da Ordem da Jarreteira ( consultar ).

(4) Na Relação da Terceira Viagem, afirma que navegou até um ponto, onde ao anoitecer tinha a Estrela do Norte a cinco graus (Textos, p.369). A partir deste ponto, resolveu desistir de navegar mais para sul, mas também não regressar, dirigindo-se para poente (Textos, p.370), tendo atingido a Ilha da Trinidade (10 1/2 º N).

(5) O valor de Alfragano (légua de 7.894 m ) , é curiosamente aquele que matematicamente seria apurado a 15 graus, latitude a que se encontra a Guiné, onde Colombo diz participado nos calculos.

(6)  Este valor é referido duas vezes: Numa nota de Imago Mundi e na Carta aos Reis Católicos, trazida por Torres.

(7) Gil.Juan - El Libro de Marco Polo, Las Apotillas a la Historia Natural de Plínio el viejo. Universidad de Sevilla.Biblioteca de Colón, I, 1992. ; 

Este autor, na sua obra - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo. Alianza Editorial.1989 - apresenta inúmeras provas de  mentiras, falsificações e outros processos usados por Colombo para enganar a corte espanhola e os espanhóis.

(8) Os enormes erros de Colombo poderão, segundo Stefan Ruhstalier, dever-se ao facto do Diário de Bordo ter sido corrigido em 1493, para colocar as India acima do limites do Tratado de Alcaçovas-Toledo (cfr. Cauce, nº 1.nº14-15, 1991-1992, Bartolomé de las Casas y su cópia del "Diario de Bordo" de Colón. Tipologia de las Apotillas. Univ.Sevilla) 

Esta interpretação coloca em evidência o conhecimento das Indias, anterior a 1492, pelos portugueses. Recorde-se que D. João II, em Março de 1493, afirmou ao próprio Colombo que as Indias lhe pertenciam pois as calculava abaixo da Linha do referido Tratado, no que estava certo. Não é crivel que tivesse dado ao rei umas coordenadas (exactas),e depois fosse re-escrever o Diário de Bordo com outras. O mais correcto é pensar que D. João II e Colombo estabeleceram um plano conjunto para enganarem os espanhóis, levando-os a negociar um novo Tratado.

(9) Godinho, Vitorino Magalhães - A Expansão Quatrocentista Portuguesa, p. 233.

(10) Nota em Historia Rerum Ubique Gestarum, de Pio XII

(11) Godinho, Vitorino Magalhães - A Expansão ..., p.233.

(12 ) Dyson, John - Columbus: for Gold, God and Glory. Madison Press Books. Ontario. 1991.

(13) Gil, Juan - El Libro de Marco Polo anotado por Cristobal Colón. Madrid. 1987

(14) Martín-Merás, Luisa - Los mapamundis que inspiraron a Colón, in, Congreso Internacional Cristobal Colón, 1506-2006. Historia y Leyenda.  Consuela Varela (coord.).Palos de la Frontera (Huelva).2006. A autora comete graves erros de datação sobre os navegadores portugueses. Bartolomeu Dias chega, por exemplo, ao Cabo da Boa Esperança em 1498 (Foi 10 anos antes).

(15) Pérez-Embid, Florentino; Verlinden, Charles - Cristóbal Colón y el Descubrimiento de América. Rialp. Madrid. 2006

(16) Consultar, entre outros: López de Mariscal, Blanca - La Visión de Oriente en el Imaginario de los Textos Colombinos, in Revista de Humanidades: Tecnológico de Monterrey, nº. 20. Intituto Tecnologico y de Estudios Superiores de Monterrey. Monterrey, Mexico.2006 pp.131-147.

(17) Existe uma vasta bibliografia sobre esta incompreensão de Colombo da lingua dos indios, que o leva a interpretar de modo muito diverso o que os indios efectivamente lhe diziam.  

(18) Garcia, José Manuel - Pedro Alvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do mundo, Lisboa. Circulo dos leitores.2001,pp.191-92

(19) Alexander von Humboldt, em - Examen critique de l'histoire de la géographie du nouveau continent: et des progrès de l'astronomie nautique aux 15 me et 16 me siècles, Volume 1. p. 268 -, foi dos primeiros a chamar a atenção para este facto: "Provarei na terceira secção publicando uma carta, inédita e extraviada dos Arquivos de Veneza, por M. Ranke, que mesmo antes da viagem de Colombo a Honduras e Verágua, no mês de Outubro de 1501, já se sabia em Portugal que as terras do norte, cobertas de neve e gelo, são contíguas às Antilhas e à terra dos papagaios".

(20) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo. pp.68-69.

(21) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo. pp.71-72

(22) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo.

(23) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo.p.125

(24) O abade de Lucerna, segundo Juan Gil, chamava-se Bartolomé de Lucerna , era vizinho do Puerto de Santa Maria. Cfr.Mitos y Utopias, p.174. Juan Manzano, numa das suas invenções, afirma que se trata de Fray Jorge de Sevilha.

25) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 1. Colón y su tiempo. pp. 136-145.

(26) Álvarez, Manuel Fernández- Isabel la Católica.Espasa.2004. p.338. Em relação ao dia 21 de Setembro, escreve que percorreu "27 leguas...y algumas más."

(27) Gil, Juan - Mitos y Utopias del Descubrimiento. 2. El Pacifico. pp 24-25

(28) Estudos de Luis Miguel Coín Cuenca ( Una Travesía de 20 Días a 2 Rumbos  que cambió el mundo, 2003.; Aspectos nauticos de los cuatro viajes colombinos,1993;La carabela Niña de Cádiz y el primer viaje de Colón  ) e John Dyson (Por la ruta de Colón. El viaje que cambió el mundo; Colon.Un Hombre que Cambió el Mundo, 1991).

29) Domingues, Francisco Contente - A Travessia do Mar Oceano. A Viagem de Duarte Pacheco Pereira em 1498. Tribuna.Parede. 2012. Este autor genovista, teve o mérito de colocar a questão, mas não percebeu nada do que Duarte Pacheco Pereira disse.

30) Marcos, Jesús Varela; Guerrero, Mª. Montserrat León - Colón, su tesis "pezonoidal" del globo terraqueo y el itinerario del tercer viaje: la fantasía del paraiso terrenal". Valladolid. 2002.

(31) Hábito franciscano:

Oviedo: "vistiose de pardo, como fraile, y dejóse crescer la barba", in, Historia General y Natural de las Indias, lib. II, cap. XIII.

Bernaldez: "vestido de unas ropas de color de hábito de fraile de San Francisco de la observancia, y un cordón de San Francisco por devoción", Historia de los Reyes Católicos D. Fernando y Dª. Isabel, Tomo III, cap. CXXXI.

(32) O baptismo dos indios ocorreu a 29/6/1496. O indio Cristóbal teve como padrinho Antonio de Torres e Andrés Blasques; o indio Pedro, o Coronel e comendador Varela. Não é certo que Colombo tenha participado nesta cena.

(33) Memorial del Oro que se ha vendido en Castilla, in, Revista Hispania LIX/3, nº.203 (1999), etc.

(34) Brigham, Kay - Cristobal Colón: Su vida y descubrimientos a luz de sus profecías...

(35) Andres Bernaldez - Historia de Los Reys Católicos. D. Fernando y D. Isabel. cap. CXVIII. Granada. 1856.

(36) A bibliografia sobre este conflito é enorme: Alguns títulos importantes: llorente, Henar Pizarro - Un gran patrón en la corte de Filipe II: Dom Gaspar Quiroga...; Vários - Los Indios, el sacerdocio y la Universidad de Nueva España: siglos XVI-XVIII..

 (37) Las Casas, História, III, L.II, cap.IV

(38) Araguas, Iciar Alonso - INTÉRPRETES DE INDIAS. La mediación lingüística y cultural en los viajes de exploración
y conquista: Antillas, Caribe y Golfo de México (1492-1540) . Tesis Doctoral. Univ. Salamanca. 2005

(39) Millhou, Alain - Notas sobre o Messianismo de Cristovão Colombo, in, Novos Estudos. CEBRAP (1992), nº.32.

 

 

Continuação:

 

31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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  Carlos Fontes
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