Carlos Fontes

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português 

 
 

5. Corsário Português

A chave para a descoberta da verdadeira identidade Colombo está no corso. Nos arquivos de Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália existe abundante documentação sobre corsários no século XV. 

Os reis de Portugal tinham os seus corsários, muitos dos quais eram estrangeiros.

Os seus dois primeiros biógrafos - Hernando Colon e Las Casas - estão de acordo num ponto: Colombo entre 1476 e 1484 andou no corso ao serviço do rei de Portugal. 

Para protegerem a sua verdadeira identidade, como vimos, confundem-no com outros corsários com a mesma alcunha.

Um dos mais enigmáticos corsários portugueses, conhecido Coulão ou Colombo foi  Pedro João Coulão

Desde 1469 que há registos que este corsário andava na costa de Portugal, comandando um navio de piratas. D. Afonso V contratou-o, passando  mesmo a aparecer nas contas da Fazenda Real os respectivos pagamentos pelos seus serviços. 

Em 1470, o Senado de Veneza recebe a notícia que um navio veneziano sido apresado "por Colombo e por portugueses", registando o documento: "...dicese esser el corsaro portogalex..." ( "...diz-se que o corsário é português" ( 2 ). O navio fora apressado na Galiza. 

Em 1474, Veneza apela a D. Afonso V para controlar a actividade deste corsário, com o qual o rei tinha uma ligação especial. Dois anos depois, este corsário, com Pedro de Ataíde e Cristovão Colombo ajudam a libertar Ceuta de um cerco castelhano.

Pedro João Coulão tem sido identificado com o próprio Cristovão Colombo (1).  Recorde-se que Lucio Marineo Siculo, italiano, cronista dos reis católicos, afirmava que o verdadeiro nome de Colombo era Pedro. Estaria a referir-se a Pedro João Coulão ? 

Sempre que havia um saque aos seus navios, os venezianos protestavam junto dos reis portugueses contra o seus piratas.

Em 1485, por exemplo, protestaram junto de D. João II por um seu corsário chamado "Cristoforo Colombo" lhes ter apresado dois navios. O corsário alegou que o tinha feito por Veneza ter sido excomungada pelo papa. Todos os argumentos serviam para justificar o saque.

A ) Corso e Pirataria em Portugal

Colombo andou com corsários portugueses ou foi um deles ? (1). A única certeza é que em qualquer dos casos esteve sempre ao serviço dos reis portugueses.

1. O corso era uma actividade muito lucrativa e difundida em Portugal no século XV

Lisboa, Lagos, Odemira e a partir de 1415 Ceuta eram os principais centros de corso e pirataria. Os piratas  portugueses, à semelhança dos castelhanos e franceses não apenas atacavam navios de muçulmanos, mas também de cristãos. Não raro saqueavam navios que se dirigiam para os próprios portos nacionais (7).  A sua acção desenvolvia-se no Oceano Atlântico e no Mediterrâneo, no qual contavam com uma importante base de apoio em Ceuta, verdadeira escola de guerra da nobreza portuguesa no século XV (20). 

Lisboa, situada na rota do comércio marítimo entre o Mediterrâneo e os mercados do norte da Europa, ocupava uma posição privilegiada para esta actividade. Era um mercado habitual para a venda do produto destes saques. A guerra no mar era em grande parte apoiada em corsários, mas também financiada pelas suas pilhagens.

- O rei tinha direito a um quinto do saque que os corsários praticavam. A tripulação e os armadores dos navios ficavam com o restante.

Os corsários portugueses era dos mais temíveis em meados do século XV, actuavam não apenas no Atlântico, mas também no Mediterrâneo, onde atacavam os navios dos reinos muçulmanos do Norte de África e de Granada, mas também os do reino de Aragão (Catalunha e Valência) ou das cidades italianas como Veneza, Génova, etc. 

Estes corsários tinham os seus próprios navios, actuavam sozinhos ou associados, estavam em geral ao serviço de  reis ou grandes senhores. Entre a tripulação de navios corsários estrangeiros é frequente encontrarem-se portugueses até finais do século XVIII.

2. O corso envolve em Portugal a alta nobreza

Os nobres tem os seus próprios navios ou assumem-se como capitães de navios corsários. O corso funcionava como uma verdadeira escola de guerra naval para a nobreza. Era o seu tirocínio, as suas aulas práticas.

Uma das singularidades da expansão portuguesa, por exemplo, em relação a Castela/Espanha foi o facto dos nobres portugueses, sobretudo depois de 1441, participarem activamente nas próprias expedições marítimas e no corso (34).

O corso para a Casa Real constituía uma forma de manter longas guerras sem grandes despesas. O próprio rei tinha os seus corsários, os "corsários del rei". Um expediente que se revelou muito eficaz num pequeno país.  

É enorme a lista de corsários nobres portugueses no século XV. Alguns exemplos:

- Infante D. Henrique, grão-mestre da Ordem de Cristo. Senhor de Ceuta (1415). Possuía ao serviço muitos corsários, entre os quais se contavam fidalgos, como Alvaro do Cadaval (1428). Os corsários do Infante andavam igualmente nas descobertas marítimas. Muitos dos que enviou durante 12 anos, para dobrarem o Cabo do Bojador (1434), no regresso iam à costa da Berberia e de Granada "para tomarem algumas presas com que forrassem a despesa da armação" (39).  Desde 1443 ficou com o monopólio do comércio, expedições e corso a sul do Cabo do Bojador. Em 1451, Luis Afonso Caiado e Rui Sanches de Cales (Cádiz), numa armada do Infante tomam 2 caravelas, onde seguia o bispo das Canárias Juan Cid (Cfr Zurara...).

Por delegação régia, tinha o direito a um quarto das presas efectuadas sobre navios sarracenos por corsários (mareantes) ao seu serviço.

- Infante D. Pedro, Duque de Coimbra e regente de Portugal (1439-1449), tinha navios no corso. Por uma carta datada de 7 de Novembro de 1433, sabemos que armou navios para andarem no corso no Estreito de Gibraltar contra os muçulmanos. O seu irmão, o rei D. Duarte, atribuiu-lhe o quinto das presas. É provável que os navios fossem de Buarcos ou Aveiro, vilas marítimas de que era senhor.

- Infante D. Fernando, 1º. Duque de Beja e 2ª Duque Viseu, um dos presumíveis pais de Colombo, tinha desde 1454 uma caravela de corsários no Mediterrâneo, comandada por Fernão Gonçalves. Este corsário, em 1459, capturou um navio italiano ao largo de Pisa. Em 1464 iniciou-se um processo para indemnizar mercadores valencianos atacados pela sua frota. Os ataques dos seus navios prosseguiram até 1470, o ano em que faleceu. 

Outros infantes, como o Infante D. Pedro (regente do reino) ou o infante D. Duarte (futuro rei), possuíam barcos no corso. A prática era corrente na família real.

- Sancho de Noronha (?-1471), Conde de Odemira, à semelhança de outros capitães de Ceuta, entre 1451 e 1460, obtinha nesta cidade enormes lucros do corso (9). Estes condes eram familiares de Colombo.- Alvaro de Castro (c.1420-1471), Conde de Monsanto, obtinha enormes lucros do corso e pirataria.

- Alvaro Afonso ( -1471), bispo de Silves e de Évora, chanceler-mor do Infante D. Pedro, tinha também navios no corso.

No estrangeiro os nobres portugueses não abdicam de se rodearem de corsários do seu país, como foi o caso e D. Pedro de Coimbra.

O corso era também uma forma de ascensão social. Os corsários requeriam o acesso a honra e a privilégios, conseguindo pelos seus serviços passarem de escudeiros para cavaleiros. Eram também isentos do pagamentos de peitos, fintas, talhas e outros impostos incluindo obrigações para com a comunidade (13).

Por questões políticas, a identidade destes corsários ou dos armadores dos navios eram frequentemente ocultadas. Uma das primeiras referências a "Colombo" enquanto corsário, identificam-no como português. 

3. Corso e as Ordens Militares

As três principais ordens militares de Portugal - Cristo, Santiago e Avis - estavam profundamente envolvidas em actividades de corso e pirataria. Armam navios e possuem um papel fundamental no recrutamento de capitães, pilotos, marinheiros e a restante tripulação dos navios.

A Ordem de Cristo, até 1460, enquanto o Infante D. Henrique foi o seu administrador, assumiu um papel de destaque nas actividades de corso e pirataria.

A Ordem de Santiago quando o Infante D. Fernando assume a sua administração, torna-se numa verdadeira escola de  corsários e piratas. Desde 1454 tinha, por exemplo, várias caravelas no Mediterrâneo em ataques piráticos. Depois de 1470, o novo mestre da Ordem - o principe e futuro rei D. João -, mantém a mesma vocação marítima e corsária desta milicia.

Fizeram parte da elite de corsários e piratas santiaguistas, entre outros, os seguintes: Diogo Cão, Bartolomeu Perestrelo, Pedro de Albuquerque, Bartolomeu Dias, Guterres Coutinho, Estevão Gama (pai), Diogo Fernandes de Almeida, João de Sousa, Gaspar Zuzarte, etc.

A Ordem de Avis, andou envolvida no corso em Aragão (Catalunha), devido à influência do seu mestre -D. Pedro de Coimbra (1429-1466), condestável de Portugal . 

Quando foi aclamado rei de Aragão, da Catalunha e de Valência (1465)), como sucessor de Henrique IV de Castela fez-se acompanhar de vários corsários portugueses, como:

- Soeiro da Costa, alcaide de Lagos,  A longa experiência deste corsário, que participou na conquista de Ceuta (1415) e Arguim (1443), era uma dos seus elementos fundamentais para dominar a região. 

- Pedro de Ataíde, cavaleiro da Ordem de Aviz.

- Diogo de Azambuja, cavaleiro da Ordem de Aviz

- Rodrigo Sampaio, cavaleiro da Ordem de Aviz .

Após ter sido derrotado na batalha de Calaf (28/2/1465), D. Pedro recebe um forte apoio de D. Afonso V e dos seus corsários. Em Julho deste ano, uma esquadra vinda de Portugal derrota João II de Aragão quando este cercava Barcelona. Um dos que mais o apoiou foi o seu primo - D. Fernando, Duque de Viseu-Beja, mestre da Ordem de Cristo e de Santiago, cujos corsários percorriam todo o Mediterrâneo (30).

Entre 1464 e 1466 numerosos portugueses, incluindo experimentados corsários fixam-se na Catalunha para apoiarem D. Pedro de Coimbra, e aí permanecem mesmo depois da sua morte (Granollers, 29/6/1466), passando a apoiar a causa de Renato d`Anjou.(31)

B) Corsários e Piratas Portugueses no Mediterrâneo

Desde a 1ª. metade do século XII, existem notícias de mercadores portugueses nas grandes feiras orientais, como a de S. Demétrio em Tessalónica, na rota de Constantinopla e do Mar Negro. Na 2ª. metade deste século já percorriam regulamente todo o mediterrâneo. Na 1ª. metade do século XIV já os mercadores portugueses tinham estabelecido carreiras regulares entre as principais cidades italianas, como Génova ou Veneza (1314) e as principais cidades portuárias do Norte da Europa.

A segurança das rotas comerciais marítimas do Mediterrâneo, da costa ocidental de África, mas também das costas de Portugal, nomeadamente dos ataques dos piratas e dos muçulmanos, eram garantidas pelos portugueses através do corso (21), tratava-se de uma guerra barata e bastante lucrativa

Século XIV

As primeiras notícias de corsários portugueses no Mediterrâneo datam do inicio do século XIV. Vicente Marti e Domingo Vicente, em 1308, foram presos em Bona (Berbéria), quando andavam a atacar navios do Reino de Aragão.

A crescente actividade de corso exigiu um mais perfeito domínio da navegação com galeras (barcos a remos), os navios mais  utilizados nestas acções de saque até finais do século XV. Foi com este objectivo que o rei D. Dinis, em 1317, contratou o corsário genovês Manuel Pessanha para ensinar os portugueses a manobrar este tipo de navios. Foi doado a este corsário a Vila de Odemira, na costa Alentejana. 

A acção destes corsários, envolvia também a defesa da costa portuguesa de outros corsários-piratas. Uma carta de D. Dinis, datada de 1321, determina a remissão de 5 mouros capturados pela frota de vigilância das águas territoriais (20). 

Corso e comércio marítimo andam sempre associados. No contrato assinado por D. Afonso IV com a companhia Bardi, de Florença, em 1338, uma das condições que esta companhia exige é que o rei suspenda as actividades de pilhagem que os corsários portugueses faziam aos navios florentinos (21). O contrato admitia todavia o assalto a navios que pudessem transportar material de valor militar.

Os genoveses eram alvo de constantes ataques por parte dos corsários portugueses, incluindo dos descendentes de Manuel Pessanha. Génova, em 1370, enviou Lisboa emissários para exigirem a devolução dos seus navios que haviam sido capturados por Lançarote Pessanha, filho de Manuel Pessanha. O rei D. Fernando concordou em devolver os navios, e firmou um novo contrato de com o Duque de Génova Gabriel Adorno.

Muitas vezes estes corsários disfarçavam-se de mercadores: João Bono, português, em 1388, quando foi preso em Valência, defende-se afirmando que andava no transporte de trigo para Barcelona.

Na Sícilia, entre 1395 e 1399, vários corsários portugueses tinham a sua base nesta ilha (29)

No final do século XIV, os portugueses já dominavam não apenas as artes náuticas, mas também as artes da guerra no mar e o corso. Os corsários genoveses não tardaram a ser dispensados. A guerra de corso passou a fazer-se também no alto mar, com barcos à vela munidos de canhões (uma inovação portuguesa)

Século XV

A conquista de Ceuta, em 1415, constituiu um marco não apenas arranque na expansão portuguesa, mas também no corso. Ceuta era então a primeira cidade cristã em África. Permitia a Portugal controlar o tráfego marítimo que passava pelo Estreito de Gibraltar,  fiscalizando a Berbéria (Barbaria ou Costa berberisca) e o reino de Granada.

Reforçava a segurança das costas de Portugal, mas também das suas rotas comerciais marítimas pelo Mediterrâneo e costa ocidental de África, através do corso que se instalou em Ceuta (21). Tratava-se de uma guerra barata e bastante lucrativa.

"A actividade marítima (em Ceuta) torna-se tão frutuosa que nas suas taracenas se fabricavam navios para a guerra de corso ou para ataques de cristãos em diversos lugares da costa magrebina.  O fortalecimento da armada portuguesa e a existência de um exército experimentado em alerta permanente garantiam um melhor equilíbrio peninsular, actuando (Ceuta ) como elemento dissuasor de eventuais iniciativas hegemónicas castelhanas" (11)

No século XV piratas e corsários portugueses pululavam ao longo de todo o Mediterrâneo. No tempo do D. Duarte, em 1434,por exemplo, uma nau portuguesa capturou um barco genovês no mar da Sícilia (22), mostrando a longa penetração pelo Mediterrâneo destes piratas-corsários. 

Atacam não apenas navios de muçulmanos, mas também cristãos: genoveses, florentinos, venezianos, aragoneses, castelhanos, etc. O seu número nunca parou de aumentar, frequentemente combinam o corso com o transporte de mercadorias. 

Apesar de Portugal ter uma aliança com o Reino de Aragão, os corsários portugueses entre 1433 e 1462 não deram tréguas aos seus navios. Neste período, em Valência, segundo os registos das autoridades marítimas -  15,8% dos apresamentos dos navios de porto foram feitos por corsários portugueses (24). 

A primeira grande geração de piratas-corsários portugueses foi formada em Ceuta, uma verdadeira escola de guerra e de enriquecimento fácil, para o que muito contribuiu  seu primeiro governador:

- Pedro de Meneses (16), Conde de Ayllon (titulo não reconhecido em Portugal), Conde de Vila Real (1424) e Conde Viana do Alentejo (1433-34). Capitão de Ceuta desde Agosto de 1415 até à data da sua morte, em 1437, só veio a Portugal duas vezes (17). Ao longo de 22 anos transformou a fortaleza de Ceuta no mais importante centro de pirataria dos cristãos no mediterrâneo. 

Possuía nesta actividade 9 navios, uma autêntica esquadra a que se associavam navios de piratas e corsários sediados em Ceuta. Nestas actividades corsárias, não apenas envolvia nobres portugueses, mas também estrangeiros, como um conde alemão, corsários genoveses (Pedro Palhão), castelhanos (João Riquelme), etc. 

Gomes Eanes de Zurara, na Crónica que dedicou a Pedro de Meneses (25), diz-nos que praticava o saque de forma continua: "Trazia sempre seus navios aparelhados, que casy cada semana avia preza grande, ou pequena". Não era apenas no mar que fazia constantes razias, mas também em terra. Em Julho de 1417, enviou 7 embarcações, 4 das quais eram suas, para saquear Larache. Uma operação que lhe rendeu uma fortuna.

Os seus navios atacavam de forma sistemática as costas de Reino de Granada, mas também as de Africa mediterrânea e atlântica, em particular os Reinos de Fez. Não lhe escapavam igualmente navios genoveses, castelhanos, aragoneses, enfim tudo o que fosse lucrativo. Tornou-se um os homens mais ricos de Portugal, passando a emprestar avultadas quantias em dinheiro, nomeadamente ao Infante D. Henrique. 

Luís Adão da Fonseca, afirma que a geração dos navegadores de D. João II, entre o quais e incluía, por exemplo Bartolomeu Dias, fez o seu tirocínio militar como corsários no Mediterrâneo (12).

- João Pires de Lisboa e Afonso Dias do Porto, andavam ao serviço do Duque de Borgonha, andavam no mediterrâneo a atacar turcos, aragoneses (1453). João Pires, em 1451, assalta junto a Barcelona, uma nau de monges que ia comprar alimentos para levarem para Jerusalém (14) .Afonso de Oliveira, andava também no corso ao serviço deste duque, mas no Mar Negro.

- João Queiró. Em 1452 andava no mediterrâneo oriental ao serviço do rei de Aragão.

Entre os muitos corsários portugueses que actuavam no Mediterrâneo nesta altura, destaca-se Fernando Gonçalves que começou na pirataria, em 1459, na costa oriental da Peninsula Ibérica e terminou a capturar navios perto de Porto Pisano (Florença).  

- Pedro de Albuquerque.  Em 1460, Juan II de Aragão prende dois jovens corsários portugueses - Pedro e Henrique de Albuquerque, filhos de João de Albuquerque, senhor de Angeja e membro do Conselho Real de D. Duarte e de D. Afonso V. Entre 1470 e 1473 há registo dos ataques seus a navios castelhanos. 

Pedro em 1484 foi nomeado por D. João II almirante-mor de Portugal, o mais alto cargo da marinha, pouco tempo foi oficialmente degolado por ordem do rei. Não deixa de ser estranho que, em 1492, um "almirante português" receba um tença dos reis espanhóis. Desconhece-se a identidade deste almirante.

Seria Pedro de Albuquerque o misterioso Colombo ? É impressionante a semelhança entre eles. Mais

- Lopo de Almeida, Conde de Abrantes, Vedor da Fazenda de D. Afonso V, pai de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei das Índias, parente de Colombo, tinha em 1461, uma caravela dedicada ao corso no Mediterrâneo. Mais 

- Rui Valente, cavaleiro da Casa Real e provedor da Fazenda do Algarve. Em 1463 andava no corso no Estreito de Gibraltar.

- Gonçalo Pacheco, tesoureiro-mor de Ceuta. Um dos homens mais ricos do reino no reinado de D. Afonso V tinha barcos no corso e no comércio. Era pai do navegador João Pacheco, e avô de célebre Duarte Pacheco Pereira.

- Diogo de Azambuja. Fez o seu tirocínio no corso do Mediterrâneo, nomeadamente nas costas de Aragão e no Magrebe. Em 1482, dirigiu a construção do Forte-Feitoria de S. Jorge da Mina, que Colombo afirma ter visitado.

- Bartolomeu Dias, fidalgo. Este célebre navegador ou outro com o mesmo nome, andou entre 1475 e 1478 no corso no Atlântico e no Mediterrâneo. Na mesma altura, à semelhança de outros corsários, andou também no transporte de mercadorias entre Lisboa e Génova. Em 1487, comandava uma nau chamada "Figa", com cerca de 100 homens, que se preparava para assaltar navios biscaínhos. Comandou igualmente a nau real "São Cristovão".

Las Casas afirma que Bartolomeu Colon ou o próprio Colombo, ou ambos, andaram sob o seu comando nas explorações africanas.

- Vasco Anes de Corte Real. Cavaleiro da casa real, armador-mor do Algarve, fundador da familia dos corte reais. Esteve com Afonso V na Batalha de Alfarrobeira (1449), na conquista de Alcácer Ceguer (1458), Anafé (1469), Arzila e Tanger (1471) e nas guerras com Castela. Foi um notável corsário. Em 1462, por exemplo, ataca uma caravela em Valência. Rouba navios genoveses. Um dos seus filhos, porteiro do infante D. Fernando, foi o descobridor da "Terra Nova do Bacalhau" (Canadá). Um facto referido por Colombo.

C) Corsários Portugueses na Andaluzia e Costa do Algarve

No estreito de Gibraltar os seus corsários portugueses montaram um eficaz sistema de guerra pelo saque contra muçulmanos, castelhanos e italianos, para o que muito contribuiu os portos algarvios, como os de Tavira e Lagos, mas sobretudo Ceuta depois de 1415. No século XIV os saques praticados nas costas da barbaria eram uma actividade constante.

D. Afonso IV, em 1336, por exemplo, ordena que o seu almirante mor - Estevão Vaz de Barbuda - , que com 3 galés e 5 navios saísse a corso para atacar os piratas que infestavam os mares, mas este aproveita e ataca a baia de Cádiz.

Nada escapa aos ataques destes corsários no mar, os rios ou em terra. Em 1454 atacam o porto de Alicante. No verão 1461, sobem o Guadalquivir até Sevilha onde capturam um baleeiro carregado de cerâmica que vinha de Murviedro. 

Muitos destes corsários eram célebres no seu tempo como Mafaldo, Gonçalo Pacheco, Lançarote e tantos outros:

- João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. Dois importantes corsários que operavam na costa algarvia, o primeiro distinguiu-se pela utilização a bordo de peças de artilharia, o trabuco. Por volta de 1418/9, quando andavam no corso, contra navios castelhanos, foram desviados por uma tempestade para a Ilha de Porto Santo, onde acabaram por se fixar . No ano seguinte, Bartolomeu Perestelo, se lhes juntava, dando-se inicio ao povoamento da Ilha da Madeira (19). Os corsários portugueses utilizaram estas ilhas como bases para atacarem navios vindos das Canárias.

Colombo viveu nestas ilhas e casou-se com a filha de um corsário. 

Alvaro Fernandes Palenço (ou Palencia), natural de Loulé (41), foi um dos seus mais ilustres e sanguinários corsários portugueses. Foi preso pelos mouros numa viagem a Aragão (1428). Foi nomeado patrão das galés do Algarve (1444). Saqueou as Canárias (1453). Em 1454 aprisiona algumas caravelas de Sevilha e Cádiz, mandando cortar as mãos a um mercador genovês que vinha nas mesmas, sob a acusação de ter ido à Guiné (8). É contra ele que se insurge o rei Castela (10/4/1454) pela violência como atacava os navios que saíam dos portos da Andaluzia. Neste último ano atacou navios ingleses.

Este corsário, por razões que ignoramos, aparece como identificado como o patrão do navio que encarregue de transportar o açucar da Madeira para Génova, em 1478. Um alegado negócio em que estaria envolvido Colombo. Mais

- Alvaro Mendes Cerveira, escudeiro e fidalgo da Casa Real. Comandou várias expedições de corso na Costa do Algarve e da Andaluzia (1473). Dois anos depois actuava no Mediterrâneo. Em 1476 controlava os estreito de Gibraltar na guerra contra os espanhóis.

- João da Silva. Em 1471 andava com a sua galé ao serviço de Rodrigo Ponce de León, na guerra que este moveu contra o Duque de Medina-Sidónia (40).

- Pedro de Ataíde, fidalgo da Casa Real. O mais célebre corsário português, um verdadeiro  terror dos mares.  Está por fazer a sua história. Sabe-se que por volta de 1469, andava a atacar navios bretões e de S. Malô, mas também as costas da Andaluzia. Em 1471/72 comandou uma armada à Guiné.

O principe D. João, em Julho de 1476, nomeou-o capitão de uma armada que participou da libertação da cidade de Ceuta, que havia sido cercada por castelhanos. Nesta libertação participou também o corsário "Cullam" e/ou Cristovão Colombo. Após se terem encontrado com D. Afonso V, em Lagos, atacaram 4 navios genoveses e 1 flamengo ao largo da Costa de S. Vicente. Pedro de Ataíde morreu neste ataque, e segundo a "lenda" Cristovão Colombo naufragou.

- Alvaro Mendes de Cerveira. Em 1473 andava a atacar navios galegos e andaluzes. A sua fidelidade ao rei termina, em 1478, quando teve que se refugiar em Castela.

- Pedro Vaz de Castelo Branco, corsário. Pertencia a duas prestigiadas famílias de almirantes portugueses (os Castelo Branco e os Pessanhas).  Mais

D. João II, a 31/05/1482, concedeu-lhe uma importante tença de 20.000 reis. Entre 1491 e 1493, andava a assaltar barcos em Cádiz (Espanha) (10). 

D) Armadas contra os Turcos

Armadas portuguesas foram também enviadas para o Mediterrâneo para combaterem contra os turcos, nomeadamente de ataques que faziam a cidades italianas ( 23 ). D. Afonso V, por exemplo, em 1481, envia uma expedição para socorro ao papa Sixto IV, que estava a ser ameaçado pelos turcos. A armada era comandada pelo célebre bispo de Évora - D. Garcia de Meneses, tendo participado na mesma, entre outros - Afonso de Albuquerque. 

Outras expedições punitivas foram enviadas ao longo de todo o século XV, demonstrando o perfeito domínio que os portugueses possuíam do Mediterrâneo.

E ) Corsários e Piratas Portugueses nas Canárias

As Canárias, para onde se dirigiu Cristovão Colombo, em 1492, não tinham segredos para os corsários e piratas portugueses. O Infante D. Henrique durante décadas teve uma base para as explorações marítimas na Ilha la Gomera. Mais

Desde, pelo menos, o século XIV  que os portugueses as frequentavam para "resgatar" ou "filar" guanches como escravos. No século XV estes saques, como vimos, assumiram um carácter sistemático. Entre os muitos corsários portugueses que frequentavam estas ilhas, destacam-se Alvaro Gonçalves de Ataíde (1445), Alvaro Fernandes Palenço, Martin Correia (1453) e João de Albuquerque, pai de Pedro de Albuquerque (42).

Por volta de 1492, o corsário português - Gonçalo Fernandes de Saavedra  (26) -, sediado em La Gomeira, andava com duas caravelas a assaltar as várias ilhas das Canárias. Apesar da habitual presença deste corsário, e de ter sido informado da mesma, foi para aqui que Colombo se dirigiu em 1492. Sentia-se naturalmente seguro entre corsários e piratas portugueses.

D. João II, em 1495, queixou-se aos reis católicos que moradores de Cádiz e das Ilhas Canárias, especialmente o gatidano Morales e os portugueses "Bartolomé Certro", piloto, vizinho na Grã Canária, e "Armando Çelis" foram à Guiné prender e roubar escravos (10). Estamos perante um, entre muitos outros bandos de piratas portugueses e andaluzes para os quais os mares não tinham segredos.

A presença corsários e piratas portugueses nas Canárias, manteve-se ao longo de todo o século XVI (27). 

F ) Corsários Portugueses no Norte da Europa

Os corsários e piratas portugueses actuam em todo o Atlântico. Em 1410, por exemplo, Pêro Afonso, mestre de uma caravela que pertencia a Fernão Coutinho, foi preso no Porto. Andava na pirataria nas costas da Irlanda, raptando mulheres, maltratando populações, apropriando-se de carregamentos de tecidos irlandeses, etc.

Os portugueses e os bretões, como é sabido, durante o século XV, lavavam a vida pilharem-se mutuamente, ignorando todos os tratados de paz (28).

G) Portos de Abrigo 

A intensa actividade dos corsários portugueses, permitiu criar ao longo a costa, sobretudo a sul de Lisboa, um importante grupo de portos de abrigo para os corsários.

- Matosinhos (Leça da Palmeira, Porto).  No século XIV era já terra de afamados corsários e piratas, como era o caso de João Rodrigues de Sá, alcaide-mor da cidade do Porto e donatário de Matosinhos, tinha aqui fundeados barcos de corso. No século XV, destacou-se nestas actividades Fernão Coutinho, que se tornaria num dos principais impulsionadores do convento de Nossa Senhora da Conceição (Quinta da Conceição). Gonçalves Zarco aqui viveu e casou. Pedro João Coulão, o Colon francês, e segundo vários historiadores o próprio Cristovão Colombo, frequentaram este porto. Mais

- Lisboa. Até ao século XVI, foi não apenas um local de abrigo de corsários, mas também de venda do produto do saques. Muitos corsários estacionavam junto a Cascais, atacando os navios que passavam entre o cabo espichel e o cabo da roca. 

- Odemira. A região pertencia à poderosa Ordem de Santiago. A vila e castelo de Odemira foi doada, em 1319, por D. Dinis a Manuel Pessanha ( Emmanuele di Pezagna) e seus descendentes, quando foi contratado para organizar uma esquadra de galés para combater a pirataria, e viver da mesma. A família deste almirante-corsário genovês ficou ligada a esta vila, cujos corsários tinham no Rio Mira um dos seus principais portos de abrigo, provavelmente junto a Vila Nova de Mil Fontes. 

Lançarote Pessanha, por ser ter colocado ao lado dos castelhanos, depois da morte de D. Fernando, foi preso e morto pelo povo. O Castelo de Odemira foi confiscado e entregue aos condes de Odemira, que não só se aparentaram com os Pessanha, mas também continuaram a dedicarem-se ao corso. 

Colombo era não apenas parente dos Conde de Odemira, mas também para aqui se dirigiu no regresso da sua 2ª. Viagem à América. Chegou a Odemira a 8 de Junho de 1496, tendo aqui ficado 2 ou 3 dias, pois só no dia 11 Junho chegou a Cádiz.

Os portos do Algarve, depois de D. Afonso III (1210-1279) encheram-se de corsários portugueses que se dedicavam a atacar as povoações muçulmanas do norte de Africa e o reino de Granada (32).

- Lagos. Principal porto de abrigo dos corsários portugueses no Algarve, situado a curta distancia do Cabo de S. Vicente, zona privilegiada para os saques (33). A vila pertencia ao Infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo, que a deixou ao Infante D. Fernando, Duque de Viseu-Beja, mestre da Ordem de Cristo e de Santiago de Espada.

Os moradores de Lagos gabavam-se perante o Infante D.Henrique de serem grandes piratas, atacando de modo continuo o Norte de África e o Reino de Granada (cfr. Zurara, Crónica da Guiné, cap.49).

Em 1444, constitui-se aqui uma das mais importantes organizações de piratas, a Parceria de Lagos. Era constituída por Gil Eanes, Lançarote Dias, João Dias, Estevão Afonso; Rodrigo Alvares, João Beraldes. Para além de se dedicarem ao trafico negreiro, do qual possuíam o monopólio, andavam na pirataria. Em 1446 saiu de Lagos, por exemplo, uma esquadra para saquear navios muçulmanos. O bispo de Silves - D. Rodrigo - armou às suas custas um destes navios.

Entre os grandes navegadores e piratas nascidos em Lagos, na primeira metade do século XV, destacam-se para além de Gil Eanes, Soeiro da Costa e Vicente Dias.

Colombo nunca referiu Lagos, mas cita várias vezes o Cabo de S. Vicente. Episódios marcantes da sua vida estão ligados a este cabo. 

- Faro

Colombo, no regresso da sua primeira viagem fez questão de visitar a cidade de Faro.

- Tavira. Cidade da Ordem de Santiago. Importante porto de abrigo dos corsários portugueses. O primeiro corsário régio que conhecemos, nesta cidade, data de 1332. Neste porto teve a sua base, no século XIV, as galés do Almirante Pessanha, mas também os conhecidos corsários Bartolomeu Bernaldiz de Tavira e Afonso Garcia, de onde partiam para saquearem o estreito de Gibraltar e o mediterrâneo ocidental.

No século XV o número de corsários nesta vila era tal que, em 1446, os seus delegados às Cortes de Lisboa, queixam-se da falta de patriotismo dos novos corsários que já andavam a atacar navios portugueses.

Colombo levou consigo, na 1ª. Viagem, pelo menos um português de Tavira. No regresso, já em Espanha, atribuiu a outro uma importante missão.  

Para além destes portos de abrigo, no Algarve são ainda de referir, portos como o de Albufeira, cujo castelo foi doado à Ordem de Aviz, em 1250. O monarca apelou então para que a população armasse navios para irem saquear os "sarracenos".

- Castro Marim. Primeira sede da Ordem de Cristo. No século XV desempenhou uma importante missão no apoio às fortalezas portuguesas do norte de Árica. Possuía várias galés, sendo provavelmente uma base de corsários. Colombo terá passado por aqui em 1485 quando se dirigiu para Huelva -Palos.

O elevado número de corsários portugueses a actuaram ao longo das costas do Algarve, tornaram-se um problema para a economia da região. Nas cortes de Lisboa, em 1446, os representantes dos mercadores de Tavira, queixaram-se das perseguições e pilhagens feitas por corsários portugueses, que atribuíam o facto a enganos sobre a origem do navio.

- Ceuta. Depois de 1415 o grande porto de abrigo e escola dos corsários e piratas portugueses.

H ) Galés e Caravelas

Colombo, segundo afirmam, chegou a Portugal, em 1476 quando contava 25 anos. Não sabia falar ou nem escrever italiano, e nem sequer sabia nada das artes do mar. Mais

A conclusão óbvia é que teria então aprendido tudo com os portugueses. Algo que os historiadores italianos não podem aceitar, por isso trataram de afirmar que tudo o que os portugueses, espanhóis (galegos, castelhanos, maiorquinos e catalães) sabiam de artes do mar se devia aos italianos. "Foram os genoveses que ensinaram os portugueses a navegar".

1) Navegações em Portugal

Embora a independência de Portugal só tenha sido proclamada por D. Afonso Henriques, em 1128, na célebre Batalha de S. Mamede, isto não significa que antes não existisse aqui uma activa marinha.

Dona Teresa, mãe do primeiro rei de Portugal, condessa do condado de Portucalense ou Portucale - possuía uma esquadra de navios,  e até chegou a contratar os serviços de um italiano para ensinar os galegos as artes da guerra - Diogo Gelmires. 

Durante a reconquista de Lisboa (1147), morreu no assalto o alcaide das galés reais. A própria cidade de Lisboa tinha já uma longa história de feitos nauticos dos seus habitantes (36). O que acentua a milenar vocação marítima das suas gentes.

É todavia um facto que a reconquista de Lisboa, deu ao portugueses não apenas um magnifico porto, mas excepcionais condições para a navegação em alto mar, construção de navios, etc.    

A partir da década de 70 do século XII, segundo José Mattoso, passou a existir em Portugal "uma frota marítima capaz neutralizar a pirataria muçulmana e de assolar as povoações costeiras do litoral algarvio e andaluz" (38). 

Desde o reinado de D. Afonso Henriques, que temos conhecimento activos de piratas e corsários portugueses. O mais célebre de todos foi Fernão Gonçalves Churrichão, o Farroupim, mais conhecido por D. Fuas Roupinho (alcaide de Porto de Mós). Comandava uma frota que atacava os navios de muçulmanos, nomeadamente os que partiam de Ceuta (c.1180-1182), tendo morrido num combate ao largo da costa algarvia .

Fruto deste desenvolvimento foi a utilização por D. Sancho I, em 1189, de navios para o transporte do exército durante a conquista de Silves (Algarve).

Ao longo de toda a Idade Média muitas medidas tomadas para proteger e desenvolver a marinha portuguesa, assim como actualizar os conhecimentos, equipamentos e técnicas de guerra naval. Os forais de Lisboa, Coimbra e Santarém, em 1479, estabelecem uma organização de pessoal especializado em funções de espadaleiros, proeiros e pedigales, sob o comando do alcaide do mar, que ocupava uma posição abaixo de almirante.

2) Galés ou galeras

A partir do XIII, os reis portugueses enfrentaram um problema terrível: a intensificação da pirataria que actuavam ao longo da costa portuguesa vinda do Mediterrâneo e do Norte de África, a qual entrando pelas rios acima fazia verdadeiras razias nas povoações. Os barcos dos piratas eram galeras ou galés, isto é, navios movidos por remadores

Os venezianos, genoveses e pisanos tinham herdado dos antigos romanos as  técnicas de construção, navegação e combate com estes navios. Nesse sentido, o rei D. Dinis, para reforçar as defesas do reino, em 1317, estabelece um contratado com um genovês - Micer Manuel Peçagno  -, para que se estabelecesse em Portugal, comandando uma organização de corso, pirataria, defensiva e mercantil. Tratava-se de um verdadeiro "feudo" com privilégios hereditários. Os peçanha (pessanha) estabeleceram-se em Portugal e rapidamente perderam as suas raízes a Itália. No tempo de D. Fernando haviam perdido o dinamismo inicial, tendo este rei acabado com o que restava do monopólio que possuíam nesta organização maritima defensiva-mercantil (37 ). 

As galeras, navios muito pesados e com uma enorme tripulação, revelam-se de enorme eficácia nas guerras junto à costa, mas eram muito lentos e pouco versáteis nas movimentações.

O problema agravou-se à medida que as viagens dos portugueses se afastaram das costas e avançaram para o mar alto, as galeras tornaram-se ineficazes. Não era possível ir a remar de Lisboa para a Ilha da Madeira, muito menos para os Açores. A tecnologia naval dos genoveses, no inicio do século XV revelava profundas limitações, que tiveram que ser superadas com navios à vela, mas também com a navegação pelos astros.

3) Caravela

Navio criado pelos portugueses no início do século XV, muito leve e com uma enorme capacidade de manobra. Uma das principais características das primeiras caravela era a sua vela de formato triangular (vela latina), que podia ser ajustada em várias direcções para captar a força do vento. Assim, qualquer que seja o sentido do vento, a  caravela podia navegar na direcção desejada pelo piloto.  A caravela foi a principal embarcação marítima usada nas grandes navegações. As caravelas cedo começaram a ter  também canhões, o que lhes deu logo um extraordinário poder no mar. Para o transporte de mercadorias a longa distância os portugueses tiveram que desenvolver outros tipos de navios, como as naus. O que ganhavam em capacidade de carga e poder de artilharia, perdiam em capacidade de manobra.

4 ) Colombo e os navios portugueses

Nas suas viagens às Indias, Colombo nunca utilizou as galés, nem as tecnologias italianas, mas sim as caravelas e as naus portuguesas, como aliás o próprio não se cansa de afirmar. Nas descobertas, as galés genovesas de nada serviam, por isso Colombo as ignora completamente.  

Nobre Navegador ao Serviço do Rei

Em Portugal, a nobreza estava, como vimos, directamente ligada às navegações e ao corso. Os comandantes dos navios em especial nas grandes expedições eram nobres. A sua formação era feita desde muito cedo, em principio a partir dos 13/14 anos, de modo a habilitá-los para as grandes viagens pelo alto mar.    

"Não sou o primeiro almirante da minha família” .   Carta ao principe Juan de Castilla registada pelo seu filho Hernando Colón ( Historia del Almirante, cap.II).  

Esta afirmação só por si afasta qualquer hipótese do mesmo ser italiano, pois não se encontra nenhum Almirante na sua alegada família de plebeus em Itália. Em Portugal, como veremos, não lhe faltam parentes almirantes. 

Colombo fez muitas viagens ao serviço de Portugal, fazendo questão de assinalar muitas delas.

1. Mediterrâneo e Andaluzia

Desde 1415 que Portugal controlava a partir de Ceuta a entrada do Mediterrâneo. Os barcos de corsários, piratas e mercadores portugueses percorriam este mar. Colombo revela uma total coincidência de percurso com estes portugueses, também ele andou a assaltar navios genoveses, venezianos, aragoneses e castelhanos, mas também pontualmente a fazer transporte de mercadorias.

Colombo não se limitou a actuar no mediterrâneo como apenas mais um corsário português, muito pelo contrário, participou activamente numa guerra política luso-francesa para o controlo do reino de Aragão (1472). Participou depois ao longo da guerra entre Portugal e Castela (1475-1479), na realizou de muitas acções de corso no mediterrâneo e andaluzia contra castelhanos e aragoneses. Mais

2. Inglaterra, Irlanda e Islândia

Inglaterra

Terá efectuado, em 1477, uma viagem às Ilhas Britânicas, possivelmente  a Bristol. Um porto muito frequentado por navegadores e mercadores portugueses desde o século XII. 

Irlanda

Afirma que esteve em Galway, na Irlanda. Trata-se de um porto, onde o Infante D. Henrique (  -1460) tinha um agente comercial. No tempo de D. João II, os mercadores portugueses abasteciam-se regularmente de panos na Irlanda, para efectuarem trocas comerciais em Africa, nomeadamente de escravos (18).

A Galway chegaram corpos de um homem e uma mulher, cujas características físicas de rosto largo, são identificados como do Cataio (China). É pouco verosímil que cadáveres em tão bom estado de conservação, vindos da América, tenham dado a este porto. Referiu igualmente outros vestígios flutuantes que deram às costas dos Açores vindos do Ocidente.

Islândia

Sobre uma expedição luso-dinamarquesa pelo Atlântico Norte, realizada por volta de 1477 a pedido de D. Afonso V (3 ), no qual terá participado, afirma que navegou para além da Islândia ( Tile Isla ), cerca de 100 léguas, verificando que o mar não estava congelado e que ”avía grandíssimas mareas, tanto que en algunas partes dos vezes al día subía veinte y cinco braças y desçendía otras tantas en altura.".

"Yo navegué el año de cuatrocientos y setenta y siete, en el mes de hebrero, ultra Tile isla, cien leguas, cuya parte austral dista del equinoçial setenta y tres grados, y no sesenta y tres, como algunos dizen, y no está dentro de la línea que incluye el occidente, como dize Ptolomeo, sino mucho más ocçidental.Y a esta isla, que es tan grande como Inglaterra, van los ingleses con mercadería, espeçialmente los de Bristol, y al tiempo que yo a ella fue no estaba congelado el mar, aunque avía grandíssimas mareas, tanto que en algunas partes dos vezes al día subía veinte y cinco braças y desçendía otras tantas en altura.". Fragmento de uma suposta carta aos reis de Espanha, datada de Janeiro de 1495, publicado por Hernando Colon e Las Casas, sem grandes diferenças entre si.

A verdade é que Ptolomeu nunca mencionou o nome de nenhuma ilha com o nome de Tile, trata-se de uma invenção de Colombo. No seu Livro das Profecias está provavelmente a identificação desta ilha, quando ele ( ? ) faz uma tradução dos versos do coro da tragédia  Medeia, acto II, v. 376, de Séneca:

"Vernán los tardos años del mundo ciertos tiempos en los cuales el mar Ocçéano afloxerá los atamentos de las cosas y se abrirá una grande tierra; y um nuebo marinero, como aquel que fue guía de Jasón, que obo nombre Tiphis, descobrirá nuebo mundo y entonçes non será la isla Tille la postrera de las tierras”:

Séneca, como é evidente, não podia estar a referir-se à América, mas a uma qualquer ilha mítica a norte da Europa. Colombo aproveita estes versos para assumir-se como o profético "marinero", que descobriu novas ilhas para além das já conhecidas pelos antigos. É possível que tenha usado informação de viagens que tenha feito.

Mesmo tratando-se da Islandia, o certo é que os erros que Colombo diz ter rectificado a Ptolomeu, os erros que comete são ainda mais grosseiros que os deste cosmógrafo, nomeadamente na latitude da costa do sul da Islândia, amplitude das marés, erros muitos atribuem a Hernando Colon-Las Casas.

Gronelândia ? Continente Americano ?

Nem toda a gente concorda com esta interpretação, afirmando que não fazia sentido que D. Afonso V, rei de  Portugal, tenha co-organizado uma expedição para atingir a Islandia desde há muito conhecida. 

A expedição só poderia ter-se dirigido para além da Islândia, e mesmo para além da Gronelândia (conhecida por Tullia). Se admitirmos que Colombo não estava a mentir, esta expedição atingiu a zona do mundo com as marés mais altas, a Baía Fundy, no Estado americano de Maine. As marés diárias superam aqui os 10 metros, um dado que corrobora as suas palavras. 

Os portugueses cedo revelaram ter um perfeito conhecimento da região. Como é sabido, 90% do Estado do Maine está coberto por uma densa floresta de Pinheiros. Acontece que os cartógrafos portugueses, no planisfério dito de Cantino (1500-1502), representam a zona também coberta de pinheiros...

3. Guiné

A Guiné designa genericamente a região que hoje compreende a Guiné -Bissau, Guiné-Conacri, Senegal, Gana, Costa do Marfim e Serra Leoa. Colombo tende a abranger no conceito e Guiné toda a costa ocidental de África entre a Guiné e o Cabo da Boa Esperança (Racc. 23). As referências à Guiné nos seus escritos são uma constante até 1498, quando desaparecem completamente. 

Refere que com frequência navegou de Lisboa à Guiné (Racc.490) e revela um profundo conhecimento da mesma: a diversidade de línguas (Diário,12/11/1492), a pestilência dos seus rios (Diário, 27/11/1492), alimentos (diario,16/12/1492), palmeiras (Diário, 28/10/1492), a cor dos seus habitantes (Carta a Santagél,1493), vestuário garrido (Relacion de la Tercer Viaje),  clima (idem), cabos (Cabo de Santa Ana, idem), animais marinhos como sereias/focas (Diário, 4/3/1493), especiarias/ malagueta (Diário, 9/1/1493), tráfico de escravos, canoas, armas de guerra, etc.

Utiliza inclusive um marinheiro que havia estado na Guiné, numa missão de exploração na 1ª. viagem. O vocabulário que utiliza para descrever as Indias tem origem na experiência portuguesa na Guiné.

No Diário de Bordo, regista que quando aportou a Lisboa (4/3/1493), houve quem pensasse que vinha da Guiné, procurando demonstrar que seria muito conhecido neste percurso.

4. Fortaleza de São Jorge da Mina (Gana)

Foi a esta fortaleza-feitoria, cuja construção se iniciou em 1482. Diz: «Yo estuve en el castillo de San Jorge de la Mina del Rey de Portugal, que está debajo de la Equinocial, y soy buen testigo de que no es inhabitable, como quieren algunos».

5. Cabo Verde

"Falso nome", assim começa uma das suas descrições deste arquipélago. (Relacion de la Tercer Viaje), acentuando sempre o seu carácter seco, quente e estéril. Aponta vários nomes antigos do arquipélago. 

Na 1ª. viagem às Indias, o primeiro sinal que estava próximo de terra foi ter avistado um "rabiforçado" (rabiforcado, ou Caripirá no brasil), uma ave que não se afasta, segundo ele, mais de 20 léguas de terra. "Há muitas destas aves em Cabo Verde" (Diário, 29/8/1492). É muito provável que antes de 1492 tivesse visitado Cabo Verde.

A mais extensa descrição deste arquipelago é feita em 1498, quando permanece durante vários dias no mesmo. Avista a ilha do Sal, descreve as ilhas da Boavista e a de Santiago, refere a distância a que ficava a do Fogo. Identifica do tráfico de escravos no arquipélago, o preço dos mesmos.   

Cabo Verde passa a ser significar sobretudo, um dos pontos para a marcação dos domínios entre Portugal e Espanha, no Tratado de Tordesilhas (1494). 

6. Cabo da Boa Esperança

Las Casas afirma que encontrou na documentação de Colombo, documentos que confirmava que ele ou o seu irmão Bartolomeu Colon, ou mesmo ambos, terão participado numa expedição portuguesa ao Cabo da Boa Esperança. Entre 1486 e Dezembro de 1488 Bartolomeu Dias comandou duas delas. A qual se estaria a referir ?

7.Canárias

É muito provável que tivesse feito várias visitas às Canárias, as quais eram alvo de disputas desde o século XIV entre Portugal e Castela. Recorde-se que entre 1470 e 1473, Pedro João Coulão foi pago para dirigir-se uma expedição às Canárias.

8. Arquipélago da Madeira 

Foi a estas ilhas atlânticas várias vezes. Conhecia muito bem as direcções dos seus ventos, inclusive as épocas de tempestades. Uma das referências mais citadas é a da viagem que terá feito 1479, quando foi à Madeira para fazer um carregamento de açúcar para um mercador chamado "Di Negro" ou "de Negro" ( consultar ). 

9. Arquipélago dos Açores

Colombo conhecia muito bem os Açores, a sua localização no Atlântico, a posição relativa das suas ilhas, ventos e correntes, tempestades, etc.  Estava ao corrente das expedições realizadas a partir do arquipélago, vestígios encontrados vindos de Ocidente, etc. É neste sentido, que quando regressou das Caraibas em 1493 e 1504 veio pelos Açores. 

Tinha acesso privilegiado a mapas, roteiros de viagem, cálculos e informações confidenciais do circulo restrito do rei D. João II. Era um navegador experimentado e da inteira confiança da Corte Portuguesa.

Carlos Fontes

  Notas:

 (1 ) Pedrosa, Fernando - Cristovão Colombo. Corsário em Portugal. 1469-1485. Lisboa. Academia da Marinha. 1989.

( 2 )  Salvagnini, Alberto - Cristoforo Colombo e i corsari Colombo suoi contemporanc, Raccolta Colombiana, parte  II, vol. III ...

(3 ) A expedição partiu da Dinamarca, dirigiu-se para Noroeste passando pelas Schetland e Feroes atingindo depois a Islandia. A partir desta ilha a expedição terá prosseguido até à Gronelândia. 

A expedição aparece documentada uma carta enviada pelo burgomestre de Kiel, a 3/3/1551, ao rei Cristiano I da Dinamarca, anunciando que com ela segue um mapa onde está representada uma viagem até às costas da Groenlândia, efectuada a mando de seu avô Cristiano I e a pedido do rei de Portugal.Cfr.  Jaime Cortesão, Jaime: Os Descobrimentos Portugueses, vol. IV, 4ª Ed., Lisboa, 1985, p. 1146 e ss. Cristiano I tem um reinado quase coincidente com o de Afonso V.

( 5 ) Diário de Bordo, de Colombo (12 de Outubro): "y el Almirante salió a tierra en la barca armada, y Martín Alonso Pinzón y Vicente Anes su hermano, que era capitán de la Niña. Sacó el Almirante la bandera real y los capitanes  con dos banderas de la cruz verde, que llevaba el Almirante en todos os navios por seña, con una F y una y; encima de cada letra su corona, una de un cabo de la cruz y outra de otro.". 

Também: Las Casas, Livro I, cap.XL.; Fernando Colon, 

( 6 )Lopes, Sebastina Alves Pereira - O Infante D. Fernando e a Nobreza Fundiária de Serpa e Moura (1453-1470), Beja. Edição CMB. 2003.  Esta obra tem amplas referências, abrindo pistas para insuspeitas ligações. 

(7) Godinho, Vitoriano Magalhães - Documentos sobre a Expansão Portuguesa, Vol. III, p.14. 

(8) Cortesão, Jaime - A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Lisboa. Livros Horizonte. p.230 

(9) Para o ano de 1451, consultar:  "Documentos das Chancelarias, Relatos de Marrocos". Vol II, Doc. XXII. p.26

(10) Herrero, José Sanchez - Corsários y Piratas entre los comerciantes gaditanos durante la segunda mitad del siglo XV, in Estudios de Historia y de Arquologia Medievales, III - IV, Cádiz, 1984.p 100 segs. 

( 11) Farinha, António Dias - Portugal e Marrocos no Século XV. Dissertação de doutoramento. FLL. Univ. Lisboa. 1990. vol. I, p.126

(12 ) Fonseca, Luís Adão da - D. João II. Circlo dos Leitores. p.110

(12)  Fonseca, L. A. da - Navegacion y Corso en el Mediterrâneo Ocidental. Los Portugueses a Mediados dei Siglo XV. Pamplona, 1978.

(13)  Santos, João Marinho - A Guerra e as Guerras na Expansão Portuguesa. Séculos XV e XVI. Lisboa. 1998. ME -G.T. Descobrimentos. p.25 

(14) Monumenta Henricina, Vol. II

(16) CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses – o primeiro capitão de Ceuta, Sete Caminhos, 2008. CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Lisboa, Colibri, Évora, CIDEHUS, 2005. ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica do Conde D. Pedro de Meneses. Edição e estudo de Maria Teresa Brocardo. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian ; Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica. 1997.

(17) Pedro de Menezes, era filho de João Afonso Telo, Conde de Viana e de Dª.Maior de Portucarreiro. Foi criado em casa do Mestre da Ordem de Cristo Lopo Dias de Sousa. Desempenhou o cargo de alferes do Infante D. Duarte,antes de ser nomeado a governador de Ceuta. Pelos seus brilhantes serviços recebeu os títulos Conde de Vila Real e de Viana do Alentejo, tendo passado o primeiro para o seu genro Fernando Noronha. Casou-se em segundas núpcias com Genebra Pessanha, filha do almirante Carlos Pessanha recebendo em dote o respectivo almirantado.

(18) Godinho, Vitorinho Magalhães - Os Descobrimentos e a Economia Mundial Arcádia. Lisboa. 1963. Vol.I.p.163

(19) Thomas, Luis Filipe, De Ceuta a Timor, p.72

(20) Braga, Isabel M. R. Mendes Drumond; Braga, Paulo Drumond - Ceuta Portuguesa (1415-1656). Instituto de Estudíos Ceuties. 1998. p.114 . Para uma perspectiva global: Farinha, Anónio Dias - Portugal e Marrocos no Século XV. III Volumes. Dissertação de doutoramento. FLL -Universidade de Lisboa. Lisboa. 1990.

(21) Soares, Torcato de Sousa - Algumas Observações sobre a Política Marroquina da Monarquia Portuguesa. Coimbra. 1962. p.21

(22) Dias Dinis - Monumenta Henricina, Vol. V, pp. 52-54

(23) L. A. da Fonseca. Navegacion y Corso en el Mediterrâneo Ocidental. Los Portugueses a Mediados dei Siglo XV. Pamplona, 1978.

(24 ) Guerreiro, Luis R - O Grande Livro da Pirataria e do Corso. Circulo dos Leitores. Lisboa. 1996

(25) Cruz, Abel dos Santos - A Guerra naval no "Mediterrâneo Atlântico" (1415-1437): Relatos do corso português no texto literário de Gomes Eanes de Azurara, in, Rev. Fac.Letras. Univ. Porto.

(26) Gonzalo Fernandez de Saavedra, pirata português sediado na Ilha Gomera, em 1492, teve um caso amoroso com Rufina de Tapia, filha do governador da Ilha de Hierro. Deste relacionamento amoroso resultaram vários filhos. Rufina havia sido "casada" com Diego Cabrera (governador de Lanzarote) e Manuel de Noronha (português), irmão de Simão Gonçalves da Câmara, governador da Madeira. Cfr. José de Viera y Clavijo , Notícias de la Historia General de las Islas de Canária, pp. 4 -9.

(27) No século XVI, entre os ataques de corsários e piratas portugueses às Canárias, são de destacar dois casos:

Em 1540, uma frota portuguesa ataca a ilha de Lanzarote, rouba e incendeia um navio que se achava no porto de Arrife. Em 1582, uma frota franco- portuguesa de Philippe Strozzi e de D. António, Prior do Crato, ataca, sem grande êxito, a ilha de La Gomera.

(28) Pedrosa, Fernando Gomes - Homens dos Descobrimentos e da Expansão Marítima, Pescadores, Marinheiros e Corsarios. CM Cascais. Cascais. 2000,. p.86

(29) Pedrosa, Fernando Gomes - idem, p.88

(30) D. Fernando, desfrutava de enorme prestígio na Catalunha, ao ponto do cavaleiro catalão Johanot Martorell lhe ter dedicado, em 1460, uma novela de cavalaria - Tirant il Blanch. cfr. A.G.da Rocha Madahil -a política de D. Afonso V, apreciada em 1460, Biblos, vol. VII, Coimbra Editora, Lda. 1931.

(31) Renato d`Anjou prosseguiu em muitos domínios a política de D. Pedro, condestável de Portugal e rei da Aragão, nomeadamente na cunhagem dos célebres "Pacificos", inspirados nos cruzados portugueses.

D. Pedro, durante a guerra com Joan II, criou na Catalunha uma nova espécie de moeda, o "pacifico",  Uma moeda em ouro com lei de 20 quilates. Renato d`Anjou prosseguiu com a sua cunhagem.

1/2 Pacifico. Anv.: ¶PETR9:QVARTVS:DEI:GRA:REX:ARAG.Efigie coroada de frente com ceptro. Rev.:¶DEVS:IN:ADIVTOR:MEVM:INTEDE, com as armas da Catalunha.

(32) Rui de Pina, na Crónica de D. Afonso III, escreve a este respeito: " E destes lugares do Algarve, depois que o el-rei D. Afonso (III) houve a seu poder e senhoria, se acha que com suas galés, e outros navios, fez sempre de contínuo crua guerra aos mouros de África, que em seus corpos e fazendas recebiam grandes danos e  presas."

(33) Loureiro, Rui Manuel - Lagos e os Descobrimentos até 1460. C.M. Lagos.2008

(34) Sobre esta questão: Luis Filipe Oliveira - a Expansão quatrocentista portuguesa: um processo de recomposição social da nobreza, in, Jornadas de História Medieval, 1383/5 ...; Luis Filipe Thomas - De Ceuta a Timor, Difel, 1994; idem,  A Evolução da Políticas Expansionistas portuguesas ...

(36 )  "Foi de Lisboa que partiram os Aventureiros quando da sua expedição que tinha por objectivo saber o que o oceano encerra e quais são os seus limites. Existe em Lisboa junto dos banhos termais, uma rua com o nome de Rua dos Aventureiros. " Assim começa, no século XII, o célebre geógrafo muçulmano  Edrici, a descrição da viagem que oito lisboetas , todos primos fizeram pelo oceano Atlântico. Terão chegado às Canárias ou muito mais além, sabe-se lá. 

(37 )D. Fernando tomou várias medidas para subalternizar a importância deste "almirante" (título familiar). Confiscou-lhe a Vila de Odemira (1376), criou o cargo de capitão-mor ou capitão-mor da frota, etc. Durante a crise de 1383/85, os Pessanha assumiam-se claramente como portugueses, organizando por exemplo, um ataque a dois navios genoveses que passavam ao largo da costa de Lisboa e apropriando-se da sua carga. Cf. Almirantado e Portos de "Quatrocentos", Vitoriano Nemésio, In, Homenagem ao Infante D. Henrique, Arquivo da Univ. de LIsboa. 1960. páginas 47 e segs.

(38) Mattoso, José - D. Afonso Henriques, Lisboa. Circulo dos Leitores, p.265

(39) Zurara, Crónica da Guiné, Vol. I, cap. IX

(40) Dominguez, Natalia Palenzuela - Las Cuentas de la Armada de 1471..., in, HID, 33 (2006), pp.513-529

(41) Iria, Alberto - O Algarve e os Descobrimentos. Tomo I, Lisboa. 1956

(42) Rumeu de Armas, António - Piratarias y Ataques Navales Contra las Islas Canarias. III Tomos.. Inst. Jeronimo Zurita. Madrid. 1947

   

Continuação:

4. Colombo em Lisboa

5. Corsário Português  6. Corsário especializado em navios italianos

7. Colombo no Mediterrâneo

8. Português do Seu Tempo 9.  Cavaleiro de Santiago? 

10. Segredos de Estado 11. Navegador Experiente

12. As Indias de Colombo

13. Ameaça Permanente  14. Espionagem 15. Missão Espanhola 

16. Nobre em Fuga  17. Lugares em Espanha 18. Descobridores e Conquistadores 

19. Castelhanos 

20. Portugueses em Espanha.  21. Apoio de Judeus

22. Negociante Oportuno de Miragens

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28.Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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As Provas de Colombo Italiano

As Provas de Colombo Espanhol

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  Carlos Fontes
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