Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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44. Lugares de Colombo em Portugal

 

 

Arquipélago da Madeira e Cristovão Colombo

 

A Madeira, cujo domínio pertencia ao Ducado de Viseu-Beja , desempenhou no século XV um papel destacado nas explorações e conquistas marítimas dos portugueses, em particular no apoio às suas  praças fortes do Norte de África, disputa das Canárias, na exploração de toda a Africa Ocidental,  mas também de terras a Ocidente.

 

Nos portos do Funchal, Machico e Porto Santo, podia-se não apenas reparar navios, mas também abastecê-los de cereais, cevada (para os cavalos), lenha, água, vinho, mel e frutos. Funcionou como um verdadeiro laboratório para os modelos de ocupação dos novos territórios descobertos no Atlântico.

 

Colombo tinha profundas ligações ao arquipélago da Madeira,  :

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a ) Familiares. A mais referida ligação é de natureza familiar. A sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo -, era filha de Isabel Moniz e e de Bartolomeu Perestrelo foi capitão e 1º. donatário da Ilha de Porto Santo. Filipa Moniz terá provavelmente nascido em Porto Santo. O certo é que  Isabel Moniz depois da morte do esposo (1457) vendeu os direitos sobre Porto Santo ao marido de uma das suas enteadas - Pedro Correia da Cunha -, tendo vindo para o continente.

 

Colombo após se ter casado com Filipa Moniz (c.1479), terá vivido na Ilha de Porto Santo algum tempo. Las Casas, afirma que Diego Colon, 2º. Vice-Rei das Indias espanholas terá nascido em Porto Santo (7).

 

b ) Conhecimento. A outra ligação, não menos importante, são as informações que obteve nas ilhas da Madeira e de Porto Santo sobre terras a Ocidente. As referências são múltiplas:

 

Isabel Moniz, segundo Hernando Colon, deu-lhe mapas e outros informações do seu marido sobre expedições realizadas pelos navegadores da Casa dos duques de Beja-Viseu para Ocidente (3). Um das questões que se coloca é onde terá dado estas informações. Em Lisboa, no Paço do Lumiar ou na Ilha de Porto Santo ?

 

- Pedro Correia da Cunha, capitão donatário de Porto Santo, e cunhado de Colombo,  foi outro dos que lhe deu informações e mostrou testemunhos, como madeira lavrada e as célebres canas que comprovavam a existência de terras a Ocidente (Hernando Colon, ob.cit, cap.IX).

 

- Um piloto anónimo que, antes de morrer nos seus braços na Ilha de Porto Santo, lhe passou a informação do que vira a Ocidente. Uma história sobre a qual tem corrido muita tinta desde o século XVI (5).

 

Colombo não se cansa de referir outras informações que obteve de navegadores estabelecidos na Madeira, e que realizaram viagens para Ocidente, tais como:

 

- Diogo de Teive. Em 1452, este escudeiro do Infante D. Henrique fez duas expedições para Ocidente, tendo atingido a Terra Nova (Canadá). Foi acompanhado por Pedro Vasques de Fronteira (4). O infante, em recompensa dos seus serviços autorizou-o a estabelecer  na Ilha da madeira um engenho de açucar. A partir de 1472 passou a residir em Ribeira Brava. É natural que Colombo, tendo vivido e escaldo por diversas vezes os portos da Madeira, tivesse contactado com este navegador ou o seu filho.

 

- António Leme, da Ilha da Madeira, afirmava "tendo uma vez corrido com sua caravela longo espaço ao poente, avistara três ilhas cerca de onde andava", que se presume pertencerem ao arquipélago das Antilhas. O avistamento terá ocorrido antes de 1484. Colombo anotou esta viagem, sendo a mesma referida por Las Casas (Hist., Lib.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist., cap.IX). 

 

- Fernão Domingos do Arco, morador da Ilha da Madeira - "foi pedir ao Rei uma caravela para ir descobrir certa terra, que jurava que via cada ano e sempre de maneira" (carta régia, 20/6/1484). As terras situavam-se a Ocidente da Madeira, isto é, nas Antilhas. Citado por Las Casas (Hist.,Liv.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist.,cap.XI.)

 

Colombo refere que estando em Portugal, no ano de 1484, se recorda de ter vindo alguém da Madeira para pedir ao rei uma caravela para ir a uma terra que jurava que via todos os anos no mesmo sítio e sempre da mesma maneira a Ocidente (Textos,98). hal

 

- João Afonso do Estreito, morador no Funchal. Em 1486, D. João II, autorizou-o a fazer com Fernão Dulmo da Ilha Terceira (Açores), uma expedição para procurar terras a Ocidente. Os resultados desta expedição foram transmitidos a Colombo, como refere Las Casas.

 

A Madeira, e em especial a Ilha do Porto Santo estão desta forma no centro do segredo que levou à descoberta da América.

 

c ) Navegação. Colombo refere que navegou muitas vezes entre Lisboa e a Guiné, conhecendo profundamente o mar da madeira, dos ventos, correntes e localização das suas ilhas.

 

Sobre uma destas viagens à Guiné, escreve o seguinte: ..."Yo me e hallado traer dos naos y dexar la una en el Puerto Sancto a hazer un poço en que se detuvo un día, e yo llegué a Lisboa ocho días antes que ela, porque yo llevé tormenta de viento de Sudueste, y ella no sintió sino poco viento Nornordeste, qu`es contrario, etc."  (2).

 

Sobretudo na sua primeira viagem, a localização da Madeira é tomada frequentemente como referência nas suas navegações, nunca se confundindo sobre o seu posicionamento.

 

d ) Comercio. Os falsários italianos a fim de ligarem Colombo a Génova, criarem um documento segundo o qual este andava, por volta de 1478, a transportar açúcar entre a Madeira e Génova, sem se perceber em que condição. Mais

 

 

1.  Ilha de Porto Santo (Madeira)

 

Colombo tinha uma ligação especial a Porto Santo, ao ponto de atribuir de logo da sua primeira viagem atribuir o seu nome à foz d uma rio (1 de Dezembro de 1492). Outros nomes que atribuiu correspondem igualmente a topónimos da ilha.

Não sabemos quantas vezes e durante quanto tempo esteve nesta ilha. Duas destas estadias são particularmente referidas:

A primeira foi logo após o seu casamento com Filipa Moniz Perestrelo (1479 ?). A informação é dada por Hernando Colon e Las Casas (1).

A segunda foi logo no inicio da 3ª. viagem às "Indias". Chegou ali no dia 7 de Junho de 1498, ouviu missa na Igreja de Nossa Senhora da Piedade (Vila Baleira), abasteceu-se de água, lenha e outras coisas que necessitava (Hernando Colon, ob.ct, cap.LXV), tendo-se demorado pelo menos um dia, para matar saudades. Dirigiu-se depois para a Ilha da Madeira. 

A casa onde terá vivido, segundo a tradição, está hoje transformada num "casa museu" que continua, por ignorância dos seus responsáveis, a prestar um péssimo serviço ao conhecimento das relações deste navegador com Portugal.

 

2. Ilha da Madeira

Antes da sua primeira viagem às Indias, Colombo este certamente várias vezes na Ilha da Madeira, nomeadamente nas diversas viagens que fez às costas da Guiné ao serviço do rei de Portugal. A  família da sua esposa eram os grandes senhores desta Ilha, assim como de Porto Santo. 

Colombo demonstra conhecer muito bem a Madeira e os seus produtos, ao ponto de propor, em 1494, aos reis católicos de Espanha que adquiram grandes quantidades de Mel da Madeira, que considera o melhor alimento do mundo.

A última vez que aqui esteve foi no inicio da 3ª. viagem à "India". Chegou a esta ilha no dia 8 de Junho de 1498, sendo recebido de forma entusiástica pelos seus familiares e a população. Esteve aqui durante seis dias conversando com amigos, mas também reabastecendo os navios. Houve tempo para tudo.

Apenas no dia 13 de Junho, a frota foi dividida, uma parte dos navios seguiu para as Indias espanholas e a outra, comandada por Colombo, dirigiu-se para Cabo Verde.

O Funchal e Machico eram seguramente locais que conhecia muito bem. Aqui viviam muitos familiares da sua esposa.

Funchal:

As três casas que segundo a tradição viveu foram todas destruídas, de forma a apagar qualquer vestígio que o ligasse à Ilha da Madeira e a Portugal.

A principal ficava na Rua do Esmeraldo ou Rua de Cristovão Esmeraldo, um navegador flamengo. Deste edificio salvou-se uma janela do século XV, muito adulterada.

As duas outras casas próximas de Igrejas - a Igreja do Socorro e a do Carmo -, mas a sua localização é incerta. 

Machico:

A sogra de Colombo - Isabel Moniz - provavelmente era natural de Machico. O seu pai - Vasco Martins Moniz de Meneses, mudou-se de Silves para Machico.

Filipa de Mendonça, filha de Catarina Furtado de Mendonça, e portanto irmã de Filipa Moniz,  casou-se com João Teixeira, filho de Tristão Vaz, 1º Capitão donatário de Machico.

O cunhado de Filipa Moniz - Pedro Correia da Cunha - casou-se por sua vez com Guiomar Teixeira, filha do capitão donatário de Machico.

A existência de muitos familiares de Colombo em Machico, terá  sido uma das razões da forma entusiástica como foi recebido na ilha da Madeira em 1498.

Hernando Colon recorda que durante o cerco de Arzila (1502), Colombo aproveitou para visitar os seus familiares da Madeira que estavam cercados nesta praça do Norte de África.

 

3. Conflitos ?

Se D. João II facilitou e apoio a primeira viagem de Colombo à America, tudo leva  a crer que um grupo de navegadores da Madeira não concordava com a estratégia do rei português de dar aos espanhóis as terras descobertas a Ocidente.

Esta poderá ser a explicação para o reparo do próprio Colombo. Em Agosto de 1493, informa os reis espanhóis que havia saído da Ilha da Madeira uma caravela com destino às Indias espanholas. Diz também que quando voltar às Indias, mandará  navios na sua perseguição : 

 "y cuanto á lo que desis vos escribieron que el Rei de Portugal envió una carabela desde la isla de la Madera, y que la quereis á enviar á buscar con parte de las carabelas que vos lleváredes , muy bien nos paresce que así lo fagais" (20). 

 

Numa carta datada de 5/9/1493, os reis católicos informam-no que os embaixadores portugueses lhes haviam dito que caravela que saiu da Ilha da Madeira não pertencia a D. João II, e este havia mandado na sua perseguição três caravelas (19).

 

Os reis espanhóis confessam não acreditarem nas palavras do rei português. Ordenam que nas Indias "se les tomem los navios y personas que allá fueren". Uma vez mais pedem-lhe que se apresse a regressar às Indias, coisa que parece não ter pressa em fazer.

 

A estratégia de D. João II acabou por prevalecer, e neste sentido, Colombo foi recebido em festa quando cinco anos depois visitou a Madeira.

 

Carlos Fontes.

   

Notas:

(1) Hernando Colon - História do Almirante; Las Casas - Historia das Indias, Liv. I, cap. 130

(2) Colon, Textos, p.286 (fragmento de uma carta ao reis, La Española, Enero de 1495

(3) Hernando Colon, ob.cit.,p.

(4) Estas viagens de Diego Teive, relatadas por Pedro Vasques de Fronteira tiveram, em 1492, um enorme impacto da tripulação que se recusava a embarcar para a primeira viagem às Indias. Hernando Colon (Liv. I, cap.IX), Las casas, Colombo...

(5) A história do piloto anónimo foi objecto vários relatos nos séculos XVI e XVII.

Uma das primeiras versões é do licenciado Baltasar Porreño y Gonzalo de Illescas, que afirma um certo marinheiro, cujo nome, origem e local de partida se desconhece, andou pelo mar oceano a poente e terá ido parar a um mundo totalmente desconhecido. No regresso foi parar já moribundo Madeira (Ilha de Porto Santo), onde estaca Cristovão Colombo. Pouco antes de falecer contou-lhe o que vira.

Gonzalo Fernández de Oviedo (Historia General y Natural de las Indias, sevilla, 1535), relata a morte de toda a tripulação,  acrescentando o seguinte: "dícese que, junto con esto, que este piloto era íntimo amigo de Cristobal Colón (...) y mucho secreto dio parte dello a Collom, e le rogó que hiciese una carta y asentase en aquella tierra que había visto.".

Francisco López de Gómara, retoma a mesma história.

Las Casas refere a mesma história de um marinheiro moribundo que na hora da morte, passou a informação a Colombo.

A história foi modernamente retomada Juan Manzano e Mariano Fernández Urresti.

(7) Las Casas, Hist.das Indias, Liv.I, cap.4

 

(19) carta dos r.c., 5/9/193, Navarrete, Tomo II, p.123-124.

(20) carta dos reis católicos, 18/8/1493, Navarrete, tomo II, 1859, p.109

 

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As Provas de Colombo Italiano

As Provas de Colombo Espanhol

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