Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo, português ?

 

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Frei Diego de Deza

 

Origens

 

Fray  Diego de Deza (de Eça, em português) (Toro,1443 ? -Sevilha, 1523), pertencia à Ordem de Santo Domingo, foi bispo Zamora, Salamanca, Palência e depois arcebispo de Sevilha e Jaén. Foi professor de teologia na Universidade de Salamanca. Diego Deza tinha origens galegas, mas sobretudo portuguesas.

 

A linhagem dos Eça (Deza, em castelhano), começou por ter origem galega. D. Alonso Deza, deixou a Galiza e mudou-se para Portugal, num gesto de fidelidade à memória do rei D. Pedro de Castela (1334 -1369), estando aparentado com a família real portuguesa.

 

O regresso dos Eça à Galiza e a Castela deu-se por via portuguesa: D. João de Castro, infante de Portugal (1349-1397), filho de D. Pedro I e de Dona Inês de Castro, assassinou a sua esposa Maria Teles de Menezes (1338-1379) (6 ), tendo-se refugiado em Castela, onde foi duque de Valencia de Campos (Valencia de Don Juan ou Coyanza). Foi um dos pretendentes ao trono de Portugal em 1383/5. Faleceu em Salamanca.

 

O filho deste matrimónio fracassado foi D. Fernando de Castro Portugal (1378-?), cujo primo, Fradique de Castro, deu-lhe a Vila de Eza, o que o levou a adoptar o nome de Fernando de Eza, e depois Deza. Foi também senhor de Bragança. Casou-se em 1ªs núpcias (1378) com Isabel de Avalos (ou Dávalos) (7), e  depois com Constância de Castela (1350), Senhora de Alba de Tormes, filha do Infante D. Dinis de Portugal, tio de D. Fernando (8).  

 

D. Fernando de Portugal deixou larga descendência também de outras mulheres - 42 filhos - nomeadamente em Toro. 

 

Estes eram portanto os antepassados de Fray Diego Deza, não contando com os seus numerosos e ilustres familiares em Portugal.  

 

 

Fray Diego Deza e os seus parentes portugueses na Universidade de Salamanca  

 

A Universidade de Salamanca  desde a sua fundação que contou sempre com inúmeros estudantes e mestres portugueses. Num calculo muito deficitário até 1550 contabilizaram-se 779 estudantes, não contando  com os numerosos professores. O facto mais interessante é que esta tenha sido justamente a universidade escolhida pelos membros da casa senhorial de Eça (Portugal), para estudarem e residir (2). 

 

José Marques regista um caso curioso: a 12 de Abril de 1463,  Jorge Dias, criado do bacharel de D. Duarte de Eça, residente em Salamanca, pede e recebe carta de perdão de D. Afonso V do crime de ser portador de cartas falsas, recebidas em Évora para as entregar a certas pessoas em Lisboa. A correspondência clandestina entre Portugal e Castela, através dos Eça /Deza,  já estava em germinação...

 

 

Fray Diego de Deza e Colombo

 

Em Fevereiro -Março de 1486 formou-se uma comissão, chefiada por Hernando de Talavera, para apreciar o projecto de Colombo. Fray Diego Deza fazia parte desta comissão. A comissão recebe um forte impulso, quando a corte de fixou em Salamanca (Outono de 1486-Janeiro de 1487), devido à acção de Diego de Deza -catedrático de Prima de Teologia da Universidade de Salamanca. 

 

Neste grupo de Salamanca preponderavam dois judeus: Ibraão Senior e o português Isaac Abrabanel, que tinha fugido de Portugal, em 1484, devido ao seu alegado envolvimento numa conspiração contra o rei. Isaac Abrabanel manifesta-se desde logo disponível para financiar a viagem.

 

Colombo deslocou-se então para Salamanca, onde terá exposto a sua ideia a uma "Junta" de sábios (1). Terá ficado hospedado na Convento Dominicano de Santo Estevão (San Esteban), de que Diego Deza fora prior.

 

Nesta Universidade existiam outros catedráticos entendidos em Astrologia e de Matemáticas, mas não era o caso de Fray Diego Deza, os seus conhecimentos não chegavam a tanto. O apoio que prestou a Colombo, vinha por outras vias ainda não apuradas. O certo em Salamanca nada se concluiu, nem depois em Cordova. Em Agosto de 1487, na cidade de Malaga, é-lhe comunicado que a o seu projecto fora recusado.

 

Os apoios continuaram, à espera de melhor ocasião. Dias depois da morte do principe D. Afonso (Julho de 1491), formou-se uma nova comissão presidida por Hernando de Talavera, coma participação de Diego de Deza. Embora de novo o projecto tenha sido recusado, a verdade é que Isabel, a católica, decidiu avançar com a viagem.

 

Diego de Deza e Hernando de Talavera são encarregados das Capitulações de Santa Fé (Abril de 1492), definindo os privilégios que Colombo teria no caso chegar às Indias.

 

Frei Diego Deza, educador do principe espanhol D. Juan (1478-1497), foi quem terá proposto que Diego Colon fosse nomeado pagem do principe ( 8 de Maio de 1492 ),ainda Colombo ainda não havia feito qualquer descoberta. 

 

Colombo não se esqueceu deste apoio, e numa carta de 21 de Novembro de 1504 dirigida ao seu filho Diego Colon, diz que Diego Deza  "desde que yo vine a Castilla me ha favorecido". A 21 de Dezembro acrescenta que "fue causa de que sus Altezas tuviesen las Indias y que yo quedase en Castilla; que ya estaba yo camino para afuera".

 

A cartas são escritas numa altura que Fray Diego Deza, como Inquisidor, lança o terror em Espanha.

 

 

Fray Diego de Deza e Alvaro de Bragança

 

Há um dado muito interessante no trajecto politico deste frade. Como educador do Principe D. Juan, conheceu certamente D. Alvaro e o seu filho, pagem do dito principe. Foi conselheiro de Isabel, a católica como D. Alvaro. Fez parte do Consejo Real de Castilla, cujo presidência entre 1497 e 1503 esteve a cargo de D. Alvaro de Bragança, o genial condutor de toda a estratégia portuguesa em Espanha. As cumplicidades seriam certamente enormes entre eles. 

 

A sua nomeação como Inquisidor Geral em 1498, faz-se numa altura de enorme afirmação de D. Alvaro em Castelha. A sua nomeação de arcebispo de Sevilha (15049, dá-se numa altura que os portugueses e a família de D. Alvaro tem uma enorme preponderância política e económica na cidade.

 

A maior das cumplicidades não está todavia em Espanha, mas em Portugal com os familiares de Fray Diego Deza, a família de Eça. Em 1484 quando D. Alvaro fugiu para Espanha, entre os bens que D. João II lhe confiscou, contava-se a histórica Vila de Tentúgal que foi entregue aos Eça. 

 

Com a subida de D. Manuel I ao trono iniciou-se o regresso dos Braganças a Portugal, e um dos primeiros a chegar foi D. Alvaro. A 8 de Junho 1497, D. João de Eça, recebe uma tença de 61.680 reais por ano, como compensação pelas rendas, foros e direitos que este tinha na Vila de Tentugal. A duas famílias mais do que nunca estão unidas, quer em Portugal, quer em Espanha.   

 

 

 

Fray Diego de Deza e os Cristãos-Novos (conversos)

 

 

O homem que em 1486 e 1487 chama judeus para apoiarem Colombo em Salamanca, entre 1498 e 1506 irá lançar o terror nos cristãos-novos em Sevilha, Córdoba e Granada. Uma acção que teve o apoio dos reis católicos, mas também de D. Alvaro de Bragança.

 

Em 1498, Diego Deza é nomeado Inquisidor Geral de Castela e Leão, e no ano seguinte de Aragão, cargo que desempenhou até 1506. O terror inquisitorial espalha-se a Sevilha e a Córdoba, só Granada resiste algum tempo, graças ao arcebispo Fray Hernando de Talavera.

 

Em Córdoba, o inquisidor da cidade Diego Rodríguez Lucero, natural de Palos ou Huelva, recebe ordens em 1500 para iniciar uma onda de perseguições destinadas a acabar com o cripto-judaísmo. Para ajudar às perseguições em curso, nomeia o seu sobrinho Juan Pardo de Tavera, da Universidade de Salamanca, conselheiro da Inquisição (1505).  A martirizada população de Cordoba, em Novembro de 1506, pega finalmente em armas contra a Inquisição. Devido à revolta que estalou por toda a Andaluzia, Diego Deza foi demitido em 1506 e substituído por Jiménez de Cisneros. 

 

Um dos que assistiu à barbárie e a relatou, foi "Tristán Rodríguez" (Tristão Rodrigues), português, natural de Olivença, afirmando que tinha estado certo tempo nos Alcazares de Cordoba, onde viu o inquisidor cometer as piores torturas a presos homens e mulheres, para os obrigar a confessar que praticavam em segredo ritos judaicos (4 ).

 

 

É difícil de entender o comportamento de Diego Deza em relação a Colombo, se não tivermos em conta as suas ligações a Portugal. Quando se tratou de o apoiar, por ser "português", não se colocou a questão de chamar judeus como Isaac Abrabanel, natural de Lisboa, para o fazer. Fora deste contexto, um judeu, tem "sangue impuro" logo deve ser exterminado.   

 

Fray Diego Deza, morreu em Sevilha, a 9/7/1523, sendo sepultado na capela do Colégio de São Tomás de Aquino que fundou (1517)

 

 

Carlos Fontes

  Notas:

(1 ) Não existem documentos que comprovem que alguma vez aqui estivesse reunido com a "Junta" de Fray Diego Deza.

(4 ) García, Ana Cristina Cuadro, Acción inquisitorial contra los judaizantes en córdoba y crisis eclesiásticas (1482-1508)

(7 ) Isabel era filha de D. Pedro, adelantado de Múrcia e neta de Ruy Lopes Avalos (Davalos), condestável de Castela, conde de Ribadeo (1375-1422).

(8 ) Enrique II de Trastamara, em 1373, entregou como dote Alba de Tormes ao Infante d. Dinis, filho de d. Pedro I e de Dona Inês de Castro. 

 

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