Carlos Fontes

 

 

Cristovão Colombo, português ?

 

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Pedro de Albuquerque, Colombo ?

O inventário dos pagamentos feitos a exilados portugueses pelos reis espanhóis, é uma pista fundamental para descobrir a  verdadeira identidade de Colombo. 

 

Em 1492, os reis católicos atribuem  60.000 maravedís a um "almirante Português" (1 ), no ano que a Espanha iniciava a sua expansão marítima. Quem seria este almirante ? As hipóteses sobre a sua identidade reduzem-se a duas:  Pedro de Albuquerque ou Cristovão Colombo.

 

No caso de ser Colombo, este pagamento prova de forma inequívoca a sua origem portuguesa. Recorde-se que em 1486 foi identificado como português num documento similar da corte espanhola. 

 

Esta pista apontam-nos também para a enigmática figura de Pedro de Albuquerque, um nobre corsário que se tornou almirante-mor (1484), e que aparece envolvido na conspiração que neste ano ocorreu contra D. João II.

 

Os resultados a que temos chegado são simplesmente surpreendentes, e confirmam esta possibilidade de Pedro de Albuquerque ser Colombo, permitindo inclusive solucionar inúmeros mistérios.  As investigações prosseguem.  

Em síntese a cada um dos três irmãos Colón, corresponderiam aos três irmãos Albuquerque de Angeja : Lopo, Pedro e Henrique, os quais em Castela/Espanha assumiriam identidades diversas.  

Um dado importante: Os dois primeiros estiveram envolvidos na conspiração de 1484. O terceiro eclipsa-se de Portugal antes de 1492.

 

História

Dilemas

Na altura que D. João II sobe ao trono de Portugal (31/8/1481), a nobreza está profundamente dividida sobre a política de expansão marítima que devia de ser seguida. Os recursos humanos do país eram cada vez mais escassos para manter a politica do "Mare clausum", impedindo outros reinos cristãos de acederem à Guiné. Definiram-se então duas correntes: 

D. João II entendia que o reino devia prosseguir a guerra contra os muçulmanos, mas também reforçar as suas conquistas territoriais em África, de modo a consolidar a sua política do "mare clausum".Nesse sentido, nas Cortes de Évora (12/11/1481), anunciou que iria ser construído um Castelo na Mina. Devia também continuar a explorar o caminho marítimo para a India. O rei contava com o apoio dos grandes mercadores ligados ao tráfico de escravos, marfim, malagueta, ouro da Mina ou o açucar da Madeira, como Bartolomeu Marchione, mas também navegadores aventureiros, como Bartolomeu Dias ou Duarte Pacheco Pereira.

Alvaro de Bragança, chanceler do reino, nas Cortes de Évora, em nome de muitos outros nobres descontentes, defendeu uma política contrária à do rei. Portugal devia limitar-se a África,  explorar a Mina de forma não exclusiva, promover a guerra aos muçulmanos e resgatar a Terra Santa. Opunha-se a novas conquistas e ao plano da India, tendo em conta os seus elevados custos em vidas humanas. Neste sentido, opôs-se á construção do Castelo da Mina

A posição de Alvaro de Bragança, era apoiada por nobres ligados à defesa da fronteira com Espanha (coutinhos, albuquerques de Angeja, meneses),mas também por muitas outras influentes figuras do reino, como Rui de Pina.  

 

Conspiração 

Dois anos depois das Cortes de Évora ocorre em Portugal, a primeira conspiração contra o rei, conduzida pelo Duque de Bragança que acabou decapitado. O pretexto da conspiração de 1483 foi a exigências de obediência ( e centralismo) impostas por D. João II, mas a questão de fundo era a política que o rei pretendia prosseguir e os sacrifícios em vidas humanas que a mesma iria implicar. 

Os membros da Casa da Bragança foram os que mais se sentiram afectados no seu poder, arrastando outros nobres. O julgamento do Duque não deixa dúvidas que  rei não estava disposto a mudar a política ultramarina.

Entre os que conseguem fugir para Castela destacam-se os seguintes:

1. Alvaro de Bragança, chanceler de Portugal. Não tardou a possuir na corte castelhana os mais altos cargos, nomeadamente todos aqueles que estavam ligados aos negócios das explorações marítimas. 

Entre 1489 e 1495, sem interrupções, foi o presidente do Conselho Real de Castela. Todas as decisões tomadas pelos reis católicos sobre as expedições de Colombo, foram previamente apreciadas por este Conselho. Foi Governador da Justiça de Castela, Contador-mor (contador mayor).

Em Sevilha, onde possuiu os mais altos cargos da cidade, tais como: Alcaide dos alcazáres (1495) e atanazares de Sevilha, Membro da casa dos vinte e quatro de Sevilha. Fundador e primeiro presidente da Casa de la Contratación de Sevilha (1503). Durante anos reuniu à sua volta um  importante grupo de navegadores portugueses. Mais

2. João de Bragança, Condestável de Portugal, marques de Montemor-O-Velho. Embora  tenha morrido na guerra de Granada, em 1484, a sua esposa - Isabel Perestrelo Enriquez de Noronha - , a poderosa marquesa de "Montemayor de Portugal", sobrinha de Colombo, irá apoiar a sua familia, financiar expedições às Indias, etc. A sua casa era um centro de iniciação à Ordem de Santiago de Portugal. Mais 

3. Isaac Abranavel. Um dos principais banqueiros de Portugal. Nascido em Lisboa, estava ligado à Casa de Bragança. Em Castela, em poucos anos, tornou-se num dos principais banqueiros dos reis católicos, tendo financiado grande parte da 1ª. viagem de Colombo. Mais  

Estes e muitos outros nobres não tardaram, em Castela, a usarem os seus conhecimentos para atacarem D. João II e usarem em proveito próprio os segredos que possuíam ao mais alto nível das explorações marítimas. Nenhum ficou de braços cruzados, muito pelo contrário aparecem desde logo a liderar as expedições espanholas na direcção do que será conhecido por Novo Mundo..

 

Nova Conspiração

Em Agosto de 1484 é descoberta a nova traição, chefiada desta vez por Diogo de Lencastre , Duque de Viseu e de Beja, senhor das ilhas do Atlântico, Grão-Mestre da Ordem de Cristo. O Duque é assassinado pelo próprio D. João II. Contava com um alargado número de conspiradores, muitos dos quais ligados à defesa das fronteiras, incluindo o almirante-mor de Portugal.  Cerca de 80 pessoas são mortas, mas muitas outras conseguem fugir para Castela, como foi o caso de Colombo. 

Fugas 

Entre os muitos nobres portugueses que fugirem para Castela, destacam-se vários membros dos Monizes, ligados aos Zarcos da Madeira, dependentes do Duque de Viseu-Beja.  

Em fins de 1484, encontramos na Andaluzia, em Sevilha e na região de Huelva/Moguer/Palos, vários familiares de Filipa Moniz Perestrelo: Violante Moniz Perestrelo, tia; Iseu Perestrelo, tia ;Rodrigo Moniz, tio - Monge, na Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas, em Sevilha; Ana Moniz, tia; Bartolomeu Moniz Perestrelo, tio; 

Para além destes temos que contar com os respectivos cunhados, como - Pedro Correia da Cunha (guarda-costas do rei D. João II) -, o qual segundo o próprio Colombo foi quem lhe forneceu as provas de existência de ilhas a Ocidente.

O número de membros dos monizes presentes na Andaluzia em fins de 1484 ou referenciados pouco depois era muito elevado, para podermos de uma simples mera coincidência. Colombo foi ao seu encontro quando saiu de Portugal.

Outros portugueses estavam também na Andaluzia, mais concretamente junto aos portos, e tiveram um papel muito activo no apoio a Colombo. Um deles foi Frei João Peres Marchena (António de Marchena), astrólogo, que se encontrava a guardar o Ermitério de La Rabida, em Moguer. 

Eram aliciados dos conspiradores ou espiões de D. João II ? É impossível sabê-lo.

D. João II enfrenta agora uma situação cada vez mais complexa. No espaço de dois anos, Castela recebeu algumas das principais figuras do reino de Portugal. Os segredos marítimos de Portugal estão agora ao seu alcance. Era a sua grande oportunidade histórica de iniciar a sua expansão marítima. 

Os reis católicos, percebendo a situação passaram a financiar e a protegerem a identidade de vários nobres portugueses que se fixaram em Castela. A descoberta dos seus nomes só foi possível recentemente quando foram publicadas as listagens dos pagamentos destes reis. 

Era natural que muitos destes nobres oferecessem os seus serviços aos reis espanhóis. A conspiração de 1483 está ligada a uma traição: os conspiradores haviam aos reis espanhóis que, no caso de matarem D. João II, revogariam o Tratado de Alcaçovas-Toledo (1479-1480), que impedia os seus navios de acederem à Guiné. 

Os nobres portugueses há muito exilados em Castela, assim como a sua nobreza mais empreendedora castelhana, não deixou de saudar igualmente a entrada destes exilados vendo neles a possibilidade de acesso aos mares e mercados ultramarinos controlados pela corte portuguesa.

 

Traição dos Albuquerques de Angeja

A maioria dos conspiradores de 1483 e 1484 pertenciam a famílias ligadas à defesa das fronteiras de Portugal ou a praças fortes no Norte de África, e viram ser dizimada a maioria dos seus membros. O testemunho de Colombo é claro sobre este último ponto: a conquista e soberania sobre a Guiné custou a vida a metade da população portuguesa

Esta poderá ser a razão que terá levado a família dos Albuquerques de Angeja, ligados à defesa da fronteira do Coa, a envolverem-se na conspiração de 1484.

A maioria dos albuquerques pertenciam à Ordem de Santiago, mas o ramo de Angeja (Aveiro), tinha também ligações à Ordem de Aviz

Lopo e Pedro de Albuquerque, filhos de João Gonçalves de Albuquerque, são dois dos nobres que aparecem a apoiar em 1484 mais uma tentativa de conspiração dos braganças. 

1. João Afonso de Albuquerque. ilustre progenitor dos três irmãos - albuquerques de Angeja. Cavaleiro da casa do Infante D. Henrique, da corte de D. Duarte e D. Afonso V, andou nas conquistas de África, participou na tragédia de Tanger (1437), onde foi aprisionado o Infante D. Fernando, que foi uma das figuras reverenciadas por Colombo. Fez parte o grupo que esteve ao lado de D. Afonso V na batalha de Alfarrobeira (1449), saindo vencedor do confronto. 

Em memória dos seus feitos mandou gravar no seu túmulo que havia andado também a combater na Grã Canária, rodeando o seu brasão de dois "homens selvagens", símbolos dos novos povos que estavam a ser descobertos.

As frustradas tentativas de conquista das Canárias e sobretudo a de Tanger (1437), que resultou na prisão do Infante D. Fernando, terão sensibilizado-o para os argumentos de Alvaro de Bragança.

Este ramo dos albuquerques, desde o reinado de D. Dinis, estava ligado à defesa da fronteira de Riba-Côa.

2. Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor. Durante o reinado de D. Afonso V era uma das principais figuras do reino: camareiro mor, embaixador em Castela e França. participou na conquista de Arzila. Entre as inúmeras mercês que recebeu, destaca-se o trato da malagueta e especiarias na Guiné (1474). 

Lopo de Albuquerque, após ter abortado a conspiração, consegue que o rei o deixe sair sair de Portugal (Outubro de 1484). A sua esposa e filhos são retidos durante algum tempo no reino.No estrangeiro, adopta no nome de "Pedro Nunes". De Castela não tarda a sair para outros países acabando por se fixar em Londres (1488).

 

3. Pedro de Albuquerque, camareiro-mor, almirante-mor, alcaide-mor do Sabugal e de Alfaiates. A sua história é em tudo idêntica à de Colombo. Com o seu irmão Henrique desde muito cedo andou no mar, exercitando-se como como corsário. 

Corsário. Ainda jovens, em 1460, foram presos em Aragão quando andavam a assaltar navios no Mediterrâneo. Não terá sido a única vez, pois existem registos de pagamentos posteriores de operações idênticas. Colombo afirma que começou também a andar no mar em 1460. 

Durante vários anos aparece sempre associado a dois outros famosos corsários:

- Pedro João Coulão a partir de 1469 andava na costa de Portugal. No ano seguinte o Senado de Veneza identifica-o como português. Alguns historiadores dizem que se trata do próprio Colombo. D. Afonso V que o contratou (5), é acusado de lhe dar cobertura, sendo frequentemente confundido com outros corsários com a mesma alcunha.

- Pedro de Ataíde, o Inferno. Morreu, em 1476, numa batalha que Hernando Colon e Las Casas afirmam que Colombo também participou.  

Colombo afirma que foi a partir de 1470 que passou a andar mais sistematicamente no mar, e que durante 14 anos tentou convencer o rei de Portugal (D. Afonso V  e D. João II), a deixá-lo navegar para ocidente (6). 

Guiné. Costa da malegueta. Pedro de Albuquerque foi certamente muitas vezes à Guiné, onde o seu irmão Lopo de Albuquerque tinha privilégios nas especiarias, mas também às Canárias. Colombo refere que foi muitas vezes á Guiné e à costa da malagueta, o que pressupõe andou ao serviço de Lopo de Albuquerque. 

Acesso à Corte. Tinha acesso directo ao rei D. Afonso V, pois foi também seu camareiro-mor. Era um homem da sua inteira confiança. A documentação a que Colombo teve acesso dos reis de Portugal revela que teve idênticas facilidades.  

Formação. A sua formação terá sido idêntica à de um nobre de corte, embora neste caso destinado ás lides marítimas. Colombo revela uma ampla formação própria de um nobre português da época. Antes de 1483, sabia ler e escrever correctamente latim.

Ordem de Santiago e de Aviz. Pedro de Albuquerque teve certamente uma ligação muito especial com a Ordem de Santiago, cuja sede ainda estava em Alcácer do Sal. À volta desta Ordem reunia-se a elite dos navegadores portugueses da altura. Terá visitado a Igreja dos Martires, num momento que estava no auge o culto de Nossa Senhora da Cinta. Colombo evoca justamente esta imagem no seu regresso das Indias, assim como revela crenças idênticas às de qualquer outro nobre português do tempo.  

Em 1476 foi encarregue da defesa da linha do rio do Coa, aquando das guerras com Castela. Nesta altura andou no mar, provavelmente atacar barcos espanhóis e genoveses. Era um dos nobres mais bem pagos da corte de D. Afonso V, recebendo uma tença superior à do Conde de Faro. Neste ano, afirma-se que Colombo chegou a Portugal, depois de uma batalha ao largo do cabo de S. Vicente.

Expedições no Atlântico Norte.É natural que tenham ido também à América do Norte, numa das muitas expedições que partiam de Aveiro para a terra dos bacalhaus, provavelmente na companhia dos corte real. Colombo afirma que em 1477 foi numa expedição portuguesa à Gronelândia.

Corsário-Mercador em Génova. Bartolomeu Dias, entre 1476/1478, andava no transporte de mercadorias entre Portugal e Génova, mas também no corso no Mediterrâneo. Em 1478 foi a Génova resgatar um português de elevado estatuto que aí estava preso. D. João II, em agradecimento pelo facto, prescindiu do seu quinto dos saques de Bartolomeu Dias. Trata-se de Pedro de Albuquerque ? Não sabemos, mas é sintomático que neste ano, Colombo, seja apontado como tendo ido também a Génova. Colombo e o seu irmão Bartolomeu, afirmam que conheciam muito bem Bartolomeu Dias. Las Casas diz mesmo que andaram ao seu serviço na exploração da costa africana.

Almirante-Mor. Poucos dias depois de ser nomeado almirante-mor, em 1484,  foi aparentemente degolado em Montemor-o-Novo, sob a acusação de ter participado na conspiração contra o rei. Os cronistas que o afirmam, são os mesmos que deram o seu irmão como morto em 1493, e no entanto três anos depois continuava bem vivo em Espanha. 

Encenação de uma execução. Estamos em crer que Pedro de Albuquerque morto, e que após uma encenação da sua morte acabou também por sair fugir para Castela. No estrangeiro irá adoptar também um falso nome.

Quais as provas ? 

- No ano de 1492 um anónimo "almirante português" consta na folha de pagamentos dos reis católicos, como tendo recebido uma importante quantia de dinheiro  (4 ). Não e trata de uma ficção, mas de um documento oficial.

- O cronista dos reis católicos, de origem siciliana, afirma explicitamente que o verdadeiro nome de Colombo era Pedro (3). Ele próprio diz que era de uma família de almirantes e exigiu em Espanha ser tratado como tal. Seria Pedro de Albuquerque, o enigmático Colombo ? Tudo nos leva a concluir que sim. Estamos perante inúmeras coincidências, e não apenas semelhanças pontuais. Mais

- Las Casas e Hernando Colón afirmam claramente que ele " fugiu secretamente" para Castela, em fins de 1484 ou princípios de 1485, uma data que coincide com a alegada execução de Pedro de Albuquerque.

 

4. Henrique de Albuquerque, Alcaide-mor de Marvão. Sabemos que desde 1460 andou no corso no Mediterrâneo, e provavelmente também no Atlântico. Mais

Aparentemente não participou na conjura contra D. João II, no entanto estava ligado ao núcleo duro dos conspiradores de 1484: Ele e a sua mulher pertenciam à casa senhorial de dona Brites de Lencastre, Duquesa de Beja e de Viseu, cujo filho D. Diogo acabou assassinado pelo rei.

Estamos perante um forte elo de ligação dos Albuquerques de Angeja aos conspiradores de 1483 e 1484.

Recorde-se que Brites de Lencastre, esposa do Infante D. Fernando, entre 1470 e 1483, administrou a Ordem de Cristo, e dirigiu as principais expedições para Ocidente, nomeadamente as de João Vaz Corte Real. Erra a grande proprietária dos Açores, Madeira e Cabo Verde, cuja administração estava a cargo da sua casa.

Pouco sabemos da vida de Henrique de Albuquerque,  a não ser que em 1486, pediu ao rei a confirmação dos seus bens, uma vez que os irmãos, um era dado oficialmente como morto e outro fora banido. Não tardou depois em eclipsar-se.

É provável que tenha ido para o estrangeiro. Muito possivelmente para Inglaterra, em 1488, onde se encontrava o seu irmão Lopo de Albuquerque. Em Portugal era dado como morto em 1497. A inscrição do túmulo do seu pai em Aveiro, onde constava o seu nome foi apagada.

Bartolomeu Colon quando chega a Espanha, em fins de 1493, revela desde logo enormes capacidades de liderança e conhecimentos de navegação. Henrique seria o determinado Bartolomeu ?  

 

5. Diego Mendez de Segura. Filho adoptivo de Lopo de Albuquerque acompanhou-o por todo o lado. Em 1493 estava ligado à família de Colombo, como seu secretário vitalício. Mais   

Os Albuquerques de Angeja estão profundamente envolvidos na conspiração dos Braganças. Foram apenas instrumentos ou tinham um papel autónomo ? Não sabemos.

 

Duas Mulheres

A irmã do Cardeal. Pedro de Albuquerque casou-se, em 1468, com Catarina da Costa, irmão de Jorge da Costa, o futuro Cardeal de Alpedrinha. Deste casamento não houve descendência, o que poderá explicar, os amores por uma comendadeira no Convento de Santos em Lisboa.   

Jorge da Costa era um dos portugueses mais poderosos do tempo. Desde 1480 que estava em Roma controlando tudo o que dissesse respeito a Portugal. O que se passava com os Albuquerques de Angeja dizia-lhe directamente respeito. D. João II sabia-o perfeitamente. 

O que se passou com a sua irmã Catarina de Albuquerque é um verdadeiro mistério. Após ter abortado a conspiração de 1484, refugiou-se no castelo Sabugal, e só se rendeu depois de ter negociado as condições da sua liberdade.

D. João II deu-lhe tudo o que quis, incluindo uma enorme tença, em troca de "siso e descrição". Catarina não cumpriu com nenhuma das suas promessas, na fuga para Castela matou um homem, sequestrou um abade e levou consigo Isabel de Noronha, a Marquesa de Montemor-o-Novo.  O rei queixou-se deste facto ao seu irmão, o Cardeal de Alpedrinha, dando a entender que tal não estava combinado entre ambos. 

Em Sevilha, onde se refugiou, recebia uma importante tença dos reis católicos, vivendo junto da poderosa Marquesa de Montemor-o-Novo. Mais 

A Comendadeira de Santos.  Em 1479, após 11 anos sem ter filhos, Pedro de Albuquerque, apaixonou-se por uma comendadeira do Convento de Santos em Lisboa, que pertencia à Ordem de Santiago. 

Recorde-se que a amante de D. João I (mestre de Aviz), governou este convento e era mãe do primeiro Duque de Bragança. João II teve também no mesmo uma amante, que lhe deu o seu filho bastardo D. Jorge de Lencastre, o último grão-mestre da Ordem de Santiago. Como camareiro-mor era fácil ter acesso às Comendadeiras de Santos... 

Filipa Moniz Perestrelo , uma das 12 comendadeiras, ter-lhe-á dado pelo menos dois filhos, um dos quais Diogo Moniz Perestrelo, futuro vice-rei das Indias. O outro ou outra, deu-lhe pelo menos uma neta - Ana Moniz -, que passou a viver em Sevilha antes de 1509. Filipa esteve neste Convento, entre 1465 e 1479, voltando a ingressar no mesmo em 1490.

Colombo afirma explicitamente que quando deixou Portugal, "a minha terra", deixou aqui mulher e filhos. Tanto podia estar a referir-se a Filipa como a Catarina. 

D. João II, por razões que desconhecemos, em 1490, mudou o Convento de Santos para um local junto a propriedades de Catarina de Albuquerque, em Santa Engrácia (Lisboa). O que pretendeu significar com esta mudança ?

 

A Solução do Cardeal

Pairava sobre os interesses de Portugal em África uma grave ameaça. Os castelhanos insistiam em terem acesso à Guiné. O Cardeal Alpedrinha terá começado a jogar, neste domínio, um papel fundamental.   

Desde que foi nomeado bispo de Évora (1463) que o seu poder nunca parou de aumentar. Durante anos esteve envolvido em todas as negociações dos vários casamentos entre as duas cortes. Em 1480 foi para Roma onde passou a dirigir tudo o que dissesse respeito à Portugal, mas o seu poder estendia-se à Espanha e Itália. 

Partilha do Mundo. Percebendo a complexa situação em que Portugal se encontrava, terá insistido na ideia de dividir o mundo entre Portugueses e Castelhanos, de forma a evitar os constantes conflitos militares entre os dois reinos peninsulares. Uma ideia que já havia sido aplicada no Tratado de Alcaçovas-Toledo (1479-80), e que terá a sua consagração no Tratado de Tordesilhas (1494).

Os traficantes de escravos, como Bartolomeu Marcchioni, cujos principais rendimentos vinha destas costas africanas, terão sido dos primeiros a apoiarem a ideia do cardeal.

O processo de concretização desta ideia, como veremos, não foi linear.

É constante a preocupação de D. João II, mas também de D. Manuel I em agradarem ao Cardeal informando-o de tudo o que dissesse respeito aos descobrimentos.   

 

Compasso de Espera

Lopo de Albuquerque, em Londres, fazia-se passar por "Pedro Nunes". Pedro de Albuquerque, antigo corsário e almirante-mor, adoptou em Espanha o nome de Cristovão Colom, cujo significado é duplo: membro da  ordem /irmandade dos que levam Cristo e nome de corsário, muito comum na época. A sua situação impedia-o de revelar a sua identidade, mas não de usar os seus conhecimentos e experiência, tirando dai algum lucro.

Colombo ( Pedro de Albuquerque) e todos o que o apoiavam entre 1486 e 1488 esforçaram-se por tentar convencer a Corte Espanhola apoiar a sua ideia de chegar à India navegando para Ocidente.   

Perante tantos entraves, em 1487, Isaac Abravanel, prontifica-se a financiar a viagem. A ideia acaba por ser recusada. Porquê ?  

A decisão fora entregue por Isabel, a católica a um grupo de espanhóis que, embora sem grande experiência ou conhecimentos naúticos, não deixaram de considerar a ideia absurda. Colombo ( Pedro de Albuquerque) para os convencer, apresentou-lhes valores das dimensões da Terra, do grau, légua e milha, muito inferiores aos de Ptolomeu.  

O clero castelhano insistia que se desse prioridade à conquista do Reino de Granada. Os espiões de D. João II terão contribuindo para arrastar a questão no tempo. Apesar disso, a Corte Castelhana, em 1487 e 1488, deu-lhe uma tença e identifica-o como "português", embora não tenha descoberto nada.

Alvaro de Bragança. Nesta fase, não se envolveu directamente no assunto. Primeiro para não ser acusado de traidor, segundo porque estava envolvido na conquista de Málaga (1487), defendendo também que a prioridade era a conquista do reino de Granada. Emprestou inclusive uma importante quantia para financiar esta guerra. Os assuntos envolvendo Portugal exigiam enormes cautelas. A posição de D. João II continuava a ser determinante. Estava em jogo também a herança da sua esposa, Filipa de Melo. O seu sogro - Rodrigo de Melo, 1º. Conde de Olivença - possuía uma enorme fortuna, e a sua esposa era a única herdeira. Desde 1485 que o sogro estava envolvido na construção do Convento dos Lóios, em Évora, onde tencionava instalar o panteão dos Melos. Morreu dois anos depois, mas a construção prosseguiu a expensas de Alvaro de Bragança.  Por outro lado, embora desde 1485, fizesse parte do Conselho Real de Castela, o seu poder era ainda muito limitado.

Nova Identidade

Em Castela, Pedro de Albuquerque para melhor ocultar a sua identidade resolve adoptar como suas as origens familiares da sua amante - Filipa Moniz Perestrelo -, cujo avô paterno tinha vindo de Piacenza (Itália) para Lisboa em 1380.

Nesse sentido, terá feito passar a ideia que era de Piacenza e da família Perestrelo, embora não soubesse uma única palavra de italiano, genovês ou qualquer outro dialecto local.  Piacenza pertencia, no século XV, ao Ducado de Milão, confinando com as Províncias da Lombardia e da Líguria. É por esta razão que alguns testemunhos do século XVI, afirmam que era originária de Piacenza, da família do Perestrelos mas outros também dizem que era de Milão, Lombardia e da Liguria.

 

Mudança de Posição

O poder dos nobres portugueses em Castela não parava de aumentar. Lopo de Albuquerque, em Inglaterra (1488), estava cada vez mais activo procurando convencer os mercadores ingleses a avançarem para a Guiné, pondo fim ao exclusivo dos portugueses nestas costas africanas. Assumiu-se claramente como um traidor.  

D. João II, percebendo a insustentabilidade da sua posição, decide finalmente repensar na proposta do Cardeal Alpedrinha. A sua principal exigência é que a parte do mundo que seria dada aos espanhóis, não podia incluir a rota que estava a ser seguida para atingir a India, o Brasil, mas também a Terra Nova (Canadá), devido ao seus ricos de bancos de bacalhau.

A India após o regresso de Bartolomeu Dias do Cabo da Boa Esperança (1488) estava agora ao alcance dos portugueses.

O Especial Amigo. A correspondência entre Pedro de Albuquerque (Cristobal Colon, Colombo) e D. João II, revela claramente que o rei, em 1488, decidiu passar apoiá-lo, tratando-o por "meu especial amigo" e afirmando que o perdoa. 

Colombo (Pedro de Albuquerque) de traidor passou a colaborador. A sua missão era agora desviar os espanhóis da costa africana, levando-os para Ocidente, as Indias. A coordenação entre eles passa a ser perfeita.

Entretanto, Alvaro de Bragança ascende, em 1489, a Presidente do Conselho Real de Castela. A principal mudança política traduziu-se no facto de Isabel, a Católica, chamar a si a proposta de Colombo. Na prática quem decide é agora o antigo chanceler-mor de Portugal. 

Os reis católicos continuam hesitantes pois desconhecem a real posição de D. João II, assim como os objectivos da trama que está a ser urdida. A intensificação da guerra de Granada recomendava igualmente que não fosse aberta uma nova frente de conflitos. 

Filipa Moniz Perestrelo. Amante que lhe deu dois filhos, podia era um problema fora convento. Nesse sentido, compreende-se porque D. João II, em 1490,  a manda regressar ao Convento de Santos, onde virá a falecer em 1497. Como refém ou por protecção ? Não sabemos. 

Marcchioni. Um dos principais banqueiros portugueses, recebe instruções para apoiar Pedro de Albuquerque, enviando para a Andaluzia um dos seus feitores - Juanoto Berardi. Outros italianos, estabelecidos em Lisboa, todos ligados ao comércio de escravos, mudam-se para Sevilha.

Alvaro de Bragança. Em Espanha, Alvaro de Bragança percebe a abertura que D. Joao II está a manifestar, assim como as suas preocupações. Na noite de natal de 1491 veio a Évora para assistir à consagração do Convento dos Lóis, em cujo panteão dos melos será sepultado em 1504. Foi provavelmente aqui que acordaram na estratégia que seria seguida. 

João Peres de Marchena. Este frade português, provável espião de D. João II, toma a seu cargo as negociações com a Corte de Castela.  Colombo (Pedro de Albuquerque), na negociação das Capitulações revela que já havia estado nas Indias. No documento que assina mostra claramente que não confundia as Indias, com a India, sabia exactamente a que distância exacta as mesmas ficavam, etc. 

Financiamento. Isaac Abravanel, português, banqueiro da Casa de Bragança, empresta cerca de 50% do dinheiro aplicado pela corte castelhana na 1ª. Viagem. A parte de Pedro de Albuquerque terá sido financiada por Marchioni, Isaac Abravanel ou pelo próprio Alvaro de Bragança.

A enorme rede  portuguesa radicada em Castela passa a apoiar activamente a ideia de levar os espanhóis para as Indias situadas a Ocidente. Muitos são aqueles que agora afirmam que já conheciam as Indias.  

Apoios técnicos e humanos não faltaram, até dois pilotos portugueses anónimos integram a primeira viagem à América (1492/3). 

Alvaro de Bragança aparece como o principal apoiante de Colombo em Espanha. A casa da Marquesa de Montemor-o-Novo em Sevilha torna-se no centro de uma rede de espionagem ligada directamente a Portugal, através de João de Morón, seu mordomo-mor, cavaleiro da Ordem de Santiago de Portugal.

   

Fidelidade

Na primeira viagem de Colombo (Pedro de Albuquerque), mostra-se desde logo profundamente respeitador do Tratado de Alcaçovas-Toledo. 

No dia 12 de Outubro de 1492, quando aportou à América, para além do estandarte real dos reis católicos, fez questão de mostrar a sua bandeira pessoal - uma cruz verde, igual à da Ordem de Aviz e que constava da bandeira de Portugal entre 1385 e 1484 ! Mais

Depois de vir das Indias dirigiu-se para os Açores e daqui directamente para Lisboa, e só regressou a Espanha, após conferenciar com D. João II durante dois dias. 

O encontro com o rei, em Março de 1493, ocorreu num convento em Vale Paraíso, a principal propriedade do Convento das Comendadeiras de Santos, em Lisboa. O rei possibilitou assim, um encontro secreto entre Colombo (Pedro de Albuquerque) e Filipa Moniz Perestrelo. 

De Lisboa escreveu para toda a Europa, a dar conta da descoberta realizada. Qual o objectivo ? Desviar as atenções de Africa, centrando-as agora nas terras, a 33 dias de viagem a Ocidente !

 

Regresso e Mudança de Identidades

O êxito obtido na primeira viagem (1492/1493) levaram Lopo e Henrique de Albuquerque a ir para Espanha,  assim como outros membros da sua família. 

Colombo e os seus dois irmãos não sabiam uma única palavra escrita ou falada de italiano, nem de nenhum dos seus dialectos. Comunicam entre si num espanhol aportuguesado e escrevem em latim.

Diego Colon: Alguém, em 1493, acompanha Colombo (Henrique de Albuquerque) às Indias e afirma-se seu irmão. Revela uma grande experiência de comando, exercendo em pouco tempo as funções de governador. O seu verdadeiro nome tem o apelido Melo. Seria um dos Albuquerques de Angeja ainda não identificado ? Tudo aponta para que assim seja.

Bartolomeu Colon. Em fins de 1493, alguém que se faz passar por Bartolomeu Colon, cujo nome verdadeiro possui o apelido Melo, embarca também para as Indias. Possui uma enorme capacidade de comando, nomeadamente de navios. 

Para além de Henrique de Albuquerque, a outra hipótese possível seria Lopo de Albuquerque. Vindo de França entrou em Espanha, em 1493, na mesma altura que Colombo (Pedro de Albuquerque) é recebido pelos reis católicos em Barcelona. 

No entanto, a sua situação era muito complicada em relação a Portugal. Não nos podemos esquecer que andara em Londres (1488) a incitar os mercadores ingleses a irem para a Guiné, algo que D. João II não lhe perdoa. Esta é a razão que o mandou prender. 

A forma encontrada para o livrar de ser perseguido, foi encenar a sua morte. No Convento de Santo António da Castanheira (Vila Franca de Xira), está a sua sepultura com a data do seu falecimento: 1493 !. Uma data que é referida também por Rui de Pina e André de Resende, cronistas do reino. A verdade é que estava vivo ainda em 1496, exercendo o importante cargo de Corregedor em Baeza-Ubeda (Espanha). Dado oficialmente como morto em Portugal, continuava vivo em Espanha, apoiando os seus irmãos.

A questão do apelido Melo encaixa-se aqui plenamente, pois como veremos, estes Albuquerques de Angeja eram descendentes de Vasco Martins de Melo.

 

Novas Provas de Fidelidade

A fidelidade para com o rei de Portugal, obriga Pedro de Albuquerque a uma vida de duplicidades e segredos, que impõe a toda a família.

Tratado de Tordesilhas. Durante as negociações do Tratado de Tordesilhas, Pedro de Albuquerque (Colombo), recusa-se a dar as posições exactas da Indias aos espanhóis. Ao longo de 6 anos andou a saltar de ilha em Ilha sem nunca atingir o continente americano.

Terra Firme. Quando é que o fez ? Somente depois de ter passado mais de um ano depois de Vasco da Gama ter partido para a India (Junho de 1497), e só após D. Manuel I sido jurado herdeiro do trono de Castela em Toledo (1498). Mesmo assim, retardou o mais que pode a comunicação da informação aos reis espanhóis. O local onde aportou (Venzuela), ficava muito a oeste da linha do Tratado de Tordesilhas. 

Em todo o caso, afirma que não descobrira nada, mas apenas foi confirmar a existência do continente que D. João II lhe havia falado existir a sul...

Defesa de Portugueses. Ao longo dos anos Pedro de Albuquerque (Colombo) revelou-se português de uma extrema fidelidade aos reis de Portugal, dando disso inúmeras provas. 

Por volta de 1500, nas Indias, interrogava os espanhóis para inquirir se os mesmos haviam vendido armas aos muçulmanos no Norte de África, colocando assim em perigo as fortalezas portuguesas, como a de Safim. Os que o confessavam terem vendido eram sumariamente executados.

Na sua última viagem às Indias fez questão de primeiro ir socorrer os portugueses que estavam cercados em Arzila (1502), e com o apoio de Diego Mendes de Segura continuou a mentir descaradamente sobre o que encontrara nas Indias. 

Perseguição de Espanhóis. Colombo não se limitou a mentir de forma sistemática aos espanhóis sobre as Indias, conduzindo-os a uma concepção errónea sobre a geografia da Terra. Espanhóis e italianos ficaram convencidos, até 1530, que as Indias eram parte da Ásia. Até ser preso, em 1500, procurou impedi-los por todos os meios de se fixaram nas Indias.  

 

Fragilidades

É dramática a situação que Colombo enfrentam a partir 1499, quando Vasco da Gama, regressa da India. Tornou-se evidente que andara a enganar os espanhóis passando a ser acusado de traidor ao serviço dos portugueses. Alvaro de Bragança, em 1497, teve a percepção clara do que lhe iria acontecer, e por isso negoceia o seu Morgadio com a Corte Espanhola. O objectivo era tentar-lhe garantir títulos e privilégios. 

Colombo após ter sido preso, em 1500, entra em pânico, pois sente que poderá estar em causa a transmissão dos seus títulos e privilégios ao seu filho Diego, nascido em Lisboa. É neste sentido que aceita a sugestão de um embaixador de obter uma garantia internacional, através de um banco genovês, a troco de 10% dos seus rendimentos. Como era obvio, tratava-se de um logro. Os genoveses tentavam agora apropriar-se, em êxito, da sua fortuna. Mais

 

Ocultação

A melhor forma de evitar acusações de traição era ocultar a identidade destes três irmãos, o que será feito de forma sistemática ao longo dos anos pela corte portuguesa. 

- Bartolomeu Marchione, com a sua rede de agentes desde Itália até ao Norte da Europa, divulga junto dos genoveses a ideia que o mesmo era genoves. Uma ideia que alguns deles agarram para tentarem tirar algum lucro da situação.

- A família de Lopo de Albuquerque (bartolomeu), no seu túmulo em Santo António da Castanheira escreve que morreu em 1493, na realidade ainda estava vivo em 1496. 

- Alvaro de Bragança, presidente do Conselho Real de Castela desde 1489, proíbe que seja indicada a naturalidade dos três irmãos. Controla tudo o que disse às expedições não apenas em Espanha, mas depois de 1495 também em Portugal.

- O Cardeal Alpedrinha, a partir da Santa Sé, envolve os falsários italianos numa manobra de ocultação, identificando-o como genovês. Uma operação em que terá participado os feitores de Portugal em Génova. 

- Os cronistas portugueses deturpam factos, omitem outros ou mentem descaradamente para proteger os três irmãos. D. João II trata Colombo por "Cristobal Colon" (1488), mas Rui de Pina italiniza o seu nome e chama-lhe já "Colonbo" e "Ytaliano" (1520). 

- Pietro Martire di Anghiera, o grande propagandistas das expedições espanholas, é desde 1488 pago para atacar Portugal e  diminuir os seus feitos marítimos, omite deliberadamente a nacionalidade da quase totalidade dos navegadores portugueses ao serviço de Espanha, incluindo Colombo. Chama-lhe "Colonus",mas diz que o seu verdadeiro nome é outro,  e atribui-lhe a ambígua naturalidade de "Ligure". Outros ladrões e falsários italianos deram continuidade às suas mentiras e transformaram o "Ligure" em "genovês", "milanês", etc. Mais      

- A Corte Espanhola, olhando para a posteridade nunca o trata por Colombo, mas por Colom, Colon, e não autoriza que o tratem por genovês ou italiano, mas apenas por "português" (1487) ou "estrangeiro". O documento de naturalização de Diego Colon (Henrique de Albuquerque), omite a sua naturalidade. 

- Diego Mendez de Segura, português, no final da vida de Colombo (Pedro de Albuquerque), numa altura que este está completamente desacreditado, velho e cansado, assume o comando das operações perpetuando o logro.O seu relato da 4ª. viagem é uma completa mentira, de modo a encenar a insanidade mental do "Almirante". Depois da morte de Colombo (1506) passa a apoiar o seu filho Diego. Acusado de ser português, os seus bens são confiscados. Resolve a situação, após longos anos de disputas judiciais, afirmando que era espanhol, mas desde criança tinha sido criado por portugueses.

Diego Mendes foi o único que "manteve" o nome, mas teve que inventar um falsa origem.

Ainda em 1600, os juízos espanhóis afirmam que a questão da sua nacionalidade de Colombo (Pedro de Albuquerque) não estava resolvida. Estavam convictos a questão da sua suposta naturalidade italiana não passava de emaranhado de mentiras.

 

Mistérios do Paço de Água de Peixes

Alvaro de Bragança, em Janeiro de 1501, no auge do seu poder em Espanha, vem a Portugal. Percebe que era altura de regressar ao seu reino. Na região de Cuba / Alvito / Viana do Alentejo começa a adquirir vastas propriedades: Água de Peixes (1501), Albergaria dos Fusos (1503, Cuba) (7), Vila Ruiva (1503 ?), Vila Alva (?). 

Qual o seu objectivo ? A explicação está em Água de Peixes, um antigo solar construído no século XIV por Vasco Martins de Melo, o antepassado comum à sua esposa Filipa de Melo, mas também a Filipa Moniz Perestrelo, Colombo (Pedro de Albuquerque)

Para que não ficasse dúvidas sobre o significado desta ligação, no brasão dos braganças que encima a entrada do solar, as flores da coroa foram substituídas romãs, as mesmas que estão representadas na célebre pintura no Alcázar de Sevilha. Nesta uma personagem identificada vulgarmente como Colombo (Pedro de Albuquerque), usa um vestuário onde aparece distintamente um padrão de três romãs e num canto uma coroa real. 

Estamos em crer que se trata de Alvaro de Bragança, e não de Colombo. Entre os seus domínios históricos contava-se Ferreira das Aves (Satão), cuja localidade mais perto se chama justamente "romãs". A coroa identifica-o como sendo de origem real. O facto que liga todas estas referências é o de ter sido justamente o fundador e primeiro presidente da Casa da Contratação, onde a pintura se encontrava.

O projecto de Alvaro de Bragança em encontrar as raízes comuns às três famílias, em pleno Alentejo, revela a possivelmente uma vivência intensa nestes locais. Henrique de Albuquerque (Bartolomeu Colon), um dos três irmãos, tinha igualmente uma enorme ligação ao Alentejo, pois casou-se com a filha do donatário de Alcáçovas.

O palácio de Alvaro de Bragança, em Lisboa, ficava justamente junto à Igreja de S. Cristovão, nome que Colombo (Pedro de Albuquerque) adoptou como pseudónimo. Todos estes factos revelam uma vivência comum, durante a infância, entre os dois homens, quer em Lisboa, quer no Alentejo. O que poderá justificar a profusão de nomes alentejanos que Colombo (Pedro de Albuquerque) atribuiu a terras e ilhas nas Indias. Os seus netos vão também casar-se entre si.

 

A Última Obra do Cardeal

O cunhado de Pedro de Albuquerque (Colombo) se teve um papel activo nos Tratados de Alcaçovas-Toledo (1479/80), mas sobretudo no Tratado de Tordesilhas (1494), no entanto não concluiu nunca o seu trabalho. O papa nunca rectificou o último e mais importante dos Tratados.

Desconhecemos a razão porque o Cardeal apenas o permitiu em 1506 poucos meses antes de Colombo (Pedro de Albuquerque) falecer. 

    

Herdeiros

O facto mais extraordinário desta sucessão de coincidências ocorre durante o reinado de D. Manuel I.

Os bens e títulos de Henrique de Albuquerque, o único herdeiro da sua família, no final do século XV, são herdados pelos monizes descendentes da família de Filipa Moniz Perestrelo esposa de Colombo (Pedro de Albuquerque).

Em Espanha Diego Moniz herdou o títulos de Colombo. Em Portugal, os bens de Albuquerques de Angeja foram herdados por Diogo Moniz seu parente...  . A coincidência é total. 

A mãe dos três irmãos Albuquerque de Angeja era parente de D. Nuno Alvares Pereira. No final do século XVI, os únicos herdeiros de Colombo eram os descendentes directos do Santo Condestável. Ambos, curiosamente, tinham cabelos ruivos e muitos outros aspectos físicos em comum.  

 

Provas

- Inúmeras coincidências entre os três irmãos Albuquerque de Angeja e os irmãos de Colombo.

- Muito factos documentalmente provados. 

 

Carlos Fontes

   
 

Notas:

(1) Quesado,  Miguel-Ángel Ladero - La receptoría y pagaduría general de la Hacienda regia castellana entre 1491 y 1494 (De Rabí Meír Melamed a Fernán Núñez Coronel), Universidad Complutense. Madrid, in En la España Medieval, 2002.

(3 )O nome de Pedro está confirmado pelo Lucio Marineo Sículo (1460 – 1533) historiador siciliano, notável latinista, humanista, capelão dos Reis Católicos e seu cronista, que apelidou Colombo de Pedro, mencionando, em De rebus Hispaniae memorabilibus Libri XXV (Alcalá, 1530), “Petrum Colonum cum triginta navibus”. Tendo em conta que o conheceu, é improvável que se tenha enganado.

Trata-se também de alguém muito bem informado dos segredos da corte castelhana.

- Esta afirmação foi depois corroborada pelo padre português Gaspar Frutuoso, natural da Ilha de São Miguel (Açores), que em 1589 afirma ter encontrado documentos nos arquivos da Ilha de Graciosa (Açores), segundo os quais o capitão donatário Pedro Correia fora casado com Eseu, Hiscoa ou Hizeu Perestrello, cunhada de "Pedro Colombo que descobriu o Novo Mundo".

(4 )  Este nome abre importantes pistas para identificarmos a identidade de um enigmático "almirante português" que, em  1492, recebeu dos reis espanhóis uma importante tença. Os dois possíveis almirantes portugueses eram Pedro de Albuquerque e Pedro Castelo Branco, cujas biografias estão envoltas num enorme mistério.  

(5 ) Faro, Jorge - Duas Expedições enviadas à Guiné anteriormente a 1474 e custeadas pela Fazenda de D. Afonso V, in, Boletim cultural da Guiné portuguesa. Vol. XII, janeiro de 1957, nº.54, pp.71, e segs. ; e Receitas e despesas da Fazenda Real de 1384 a 1481 (subsídios documentais), 1965.pp. 5 e segs. 

(6) Textos, p.530

(10) Terá voltado a Portugal, ingressando no Convento de Santa Clara, curiosamente mesmo ao lado, onde D. João II havia transferido, em 1490, o Convento de Santos onde Colombo conheceu Filipa Moniz Perestrelo.

(12) D. João II, em 1484, retira da sua bandeira pessoal a cruz verde, e substitui-a por um pelicano, símbolo do retorno depois de uma morte...

 

 

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