Navegando na Formação

Carlos Fontes

Banalidades sobre a Formação-Educação

Desde os anos 60 que se acumulam em Portugal quilómetros de estudos sobre o sistema de ensino e de formação.  Os resultados continuam a ser, contudo, decepcionantes. Mais

 

IEFP, INOFOR, ANEFA...

A constatação não é de hoje, mas de há muito: o sistema de formação profissional em Portugal é caro e ineficaz. No início da década de noventa, tornou-se uma rotina atribuir as culpas ao IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), um organismo público criado em 1979, com o objectivo de ultrapassar o colapso em que havia caído o anterior modelo de formação datado dos anos 60.

O IEFP, em grande parte devido aos fundos comunitários, tornou-se depois de 1986, numa instituição pesada, permeável à corrupção e acima de tudo, completamente desfasada das necessidades de formação do país. As mudanças introduzidas no principio dos anos 90, não alteraram a situação, agravaram-na. 

O PS quando ganhou as eleições em Outubro de 1995, prometeu acabar com o modo como era gerida a formação profissional pelo IEFP. As medidas que desde então foram tomadas, limitaram-se a remendar o sistema. O problema é que é cada vez mais notória a persistência da sua desarticulação e ineficácia.

1. A prometida articulação entre educação e formação profissional já conheceu melhores dias.

O Ministério da Educação e o IEFP, para só citarmos estes, continuam a funcionar em dois mundos perfeitamente separados, duplicando actividades e recursos nas mesmas áreas, sem que daqui advenham benefícios reais para o país.

2. A anterior incapacidade do IEFP para fazer um correcto levantamento de necessidades de formação e conceber as respostas formativas adequadas foram substituídas pela miragem do Inofor ( Instituto para a Inovação da Formação).

Esta instituição, criada em 1997, têm como objectivo central realizar este trabalho, apesar das elevadas expectativas que no início gerou, passados estes anos os resultados são frustantes:

  - Em termos de estudos, o Inofor, não consegue fazer melhor do que qualquer comissão nomeada "ad hoc" faria, com menos custos e certamente maior produtividade.

- Em termos de perfis profissionais, entre 1997 e 2000, o Inofor apenas elaborou 14 estudos com intervenção dos parceiros sociais.

Mais grave que tudo, é todavia constatar que os seus técnicos afirmam que estão a trabalhar para "a gaveta" (Público,4/9/2000) . A questão é simples: as Comissões Técnicas Especializadas do IEFP que deviam de aplicar estes estudos, pura e simplesmente ignoram-nos! A desarticulação entre estes dois organismos públicos é total.

Algo semelhante se poderia dizer do Observatório do Emprego e da Formação Profissional. 

3. Face a este descalabro, como é habitual em Portugal, ninguém se interroga pelas razões porque organismos públicos, acabados de criar, não funcionam. Não se apuram responsabilidades e muito menos se investe no seu simples funcionamento. Pelo contrário, a receita é sempre a mesma: criam-se novos organismos, e procura-se rapidamente esquecer tudo o que se passou, anulando a memória das coisas. Vejamos mais um exemplo.

Em 1999, o Governo lançou um novo organismo público na área da formação, a Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA), surgido duma parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho e da Solidariedade. A sua missão é a de animar, incentivar, coordenar toda a formação não-superior destinada a maiores de 18 anos... Têm ainda a suprema tarefa de certificar as competências escolares adquiridas em contextos não formais. É natural que apenas uma pequena parte destes objectivos venham de facto a ser assumidos por este organismo. Ainda é cedo para a avaliação da sua actividade, dado o estado embrionário em que ainda se encontra.

É curioso constar que passados estes anos, se tenha afinal voltado à situação de ineficácia do sistema que se vivia na primeira metade dos anos noventa. Só que agora, em vez de um organismo - o IEFP -, temos uma pluralidade de entidades que certamente não deixarão de lutar pela sua sobrevivência quando se tratar duma reestruturação geral.

Carlos Fontes

Indicadores

Panorama da população activa em Portugal e da Eficácia e Eficiência do Sistema de Formação Profissional. Ver

 

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