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Carlos Fontes

Tempos Livres e Alienação

 

Tempos Livres:

A definição de tempo livre é efectuar malgrado os inúmeros estudos que têm sido produzidos. O problema reside nas contínuas mudanças do seu conteúdo material e na carga ideológica que possui. Joffre Dumazidier , consagrou, em 1962, o termo “lazer”, como sinónimo de “tempos livres”, acentuando-lhe a sua dimensão ocupacional, marcada pelos hábitos urbanos, definido-o como “o conjunto de ocupações às quais o indivíduo se pode dedicar livremente, para repouso, para divertimento ou para desenvolver a sua informação e a sua formação desinteressada, a sua participação voluntária ou a sua livre capacidade criadora depois de se ter libertado das suas obrigações profissionais, familiares e sociais”. O mesmo autor em 1988, dava conta das enormes limitações da definição anterior, sobretudo, numa época em que o desemprego e as reformas antecipadas se tornaram numa realidade incontornável. Neste sentido, passa a adoptar o termo tempos livres como um tempo não ocupado em actividades profissionais definidas. Outros sociólogos, nomeadamente hispânicos, têm preferido identificar o tempo livre como um tempo de ócio, o que nos parece contribuir para novos equívocos.

Alienação:

       Na linha de autores como Paul Goodman, entendemos a alienação antes de mais, como uma perda de sentido das coisas. À medida que o mundo exterior do homem se atravanca de objectos consumíveis, o seu   universo interior vai ficando empobrecido de sentidos. A procura de um nível de vida cada vez mais elevado, isto é, mais repleto de objectos, não visa outra coisa senão preencher um crescente vazio interior. É sobre este mecanismo psicológico que, segundo Paul Goodman se desenvolvem todas as formas particulares de alienação:

                - A alienação do trabalho pela  divisão sistemática das tarefas, conduzindo à separação do trabalho intelectual do trabalho manual, tornando os trabalhadores estranhos às suas tarefas.

                - A alienação mais geral dos que perderam o sentido da sua actividade profissional, reduzindo-se esta a um mera troca de tempo-dinheiro vivida com resignação ou aversão, cujo único objectivo é assegurar a subsistência. Partilhando o tempo entre o anti-trabalho e o não trabalho, os homens já não executam um trabalho, ocupam um emprego que é rigorosamente uma mercadoria.

                - A alienação fora do trabalho resultou da própria extensão do tempo de não trabalho. Destituído de sentido o trabalho, o tempo fora do mesmo, converteu-se também num vazio, transformado num problema, ameaçado de forma constante pelo aborrecimento. Este grande sintoma da crise dos tempos livres, nasce da neutralização no homem de toda a espontaneidade, de todo o impulso livre para aquilo que é naturalmente atractivo. Tudo se torna igual, o objectivo é a distracção, matar o tempo, para sufocar o vazio de sentido.

                - A alienação por exclusão é um dos fenómenos mais correntes das nossas sociedades, onde massas crescentes de indivíduos são excluídos do sistema por se terem tornado inúteis, incómodos. Os homens subitamente descobrem-se como “estrangeiros” em relação à sua própria sociedade. 

                - A alienação mental, como revela a anti-psiquiatria, está  em vias de se tornar num fenómeno de massas, resultado de sucessivos processos de alienação dos indivíduos ao longo das suas vidas. A anormalidade está a tornar-se a norma.

Carlos Fontes

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