Navegando na Formação

Carlos Fontes

 

Formação de Jovens e Formação de Adultos

 

A crítica da forma escolar de ensino que emergiu nos anos 60, resultou na criação de um movimento teórico que reclama uma especificidade para ensinar os adultos, a andragogia.

 

Malcolm Knowles foi o primeiro autor a introduzir este vocábulo na literatura científica americana, através de um artigo publicado em 1968. Rapidamente o termo se difundiu por todo o mundo, sendo as concepções sobre a formação de adultos profundamente marcadas por este movimento.

 

A principal crítica dos andragogistas aos modelos anteriores assentava na convicção que a oferta educativa dirigida aos adultos não tinha em conta as suas características pessoais e em particular as suas experiências. Havia uma diferença radical entre a formação de adultos e a formação das crianças ou dos jovens que fora durante séculos omitida, conduzindo ao seu  insucesso. A motivação dos adultos estava directamente ligada a uma maneira nova de aprender.

 

Ao longo dos anos foram sendo estabelecidos um conjunto de princípios pedagógicos - ou andragógicos -de carácter geral, que passaram a ser seguidos nos vários programas de formação dirigidos para adultos, sejam eles de alfabetização ou de formação permanente.

 

Jaume Serramona sintetizou-os da seguinte forma:

 

    a) personalização do processo formativo, de modo que a aprendizagem se adapte às possibilidades, características e interesses pessoais de cada indivíduo; 

 

    b) autoformação, como consequência lógica da característica anterior, o que permite que em inúmeros casos seja o próprio sujeito que aprende o gestor do processo, decidindo sobre as variáveis espaço-temporais do mesmo (aprende onde e quando quer). Este princípio requer materiais didácticos elaborados para o efeito. Desenvolve o sentido da responsabilidade;

 

    c) Participação em todas as fases do processo formativo, desde a planificação prévia até à avaliação final. Só mediante a a participação dos adultos destinatários se poderá garantir a idoneidade do programa formativo, ao mesmo tempo se conseguirá também o seu envolvimento efectivo no programa;  

 

    d) Abertura, a diversas ideias que podem confluir no programa de formação, como também a pessoas e grupos que podem aceder ao mesmo. Este principio garante a democraticidade da formação;

 

    e) Funcionalidade aplicativa dos conteúdos propostos, o que permitirá alcançar resultados imediatos úteis para os adultos envolvidos no processo de formação. A aplicabilidade  é uma condição fundamental para motivar os adultos na aprendizagem proposta; 

 

    f) Análise crítica da realidade, fazendo de todo o programa de formação um processo de alargamento da sua liberdade pessoal e melhoria social.

    g) Optimização dos recursos disponíveis, porque estes serão sempre escassos e as necessidades crescem continuamente.   

 

A totalidade destes princípios não são exclusivos dos adultos, são frequentemente  recomendados para a formação dos jovens.

Ao contrário da formação das crianças e dos jovens, onde o professor tudo decide e tudo controla no processo de aprendizagem, Malcolm Knowles, sustentou uma visão completamente diferente do papel do adulto no processo de aprendizagem

Rui Canário sintetizou da seguinte forma as diferenças encontradas:

 

Crianças e Jovens

Adultos

 

Necessidade de saber: Os aprendentes apenas precisam de saber que devem aprender aquilo que o professor lhes ensina;

Necessidade de saber: Antes de iniciar um processo de aprendizagem, os adultos têm a necessidade de saber por que razões essa aprendizagem será útil e necessária.

Conceito de si: O professor tem do aprendente a imagem de um ser dependente. É esta dependência que marca, também, a auto imagem daquele que aprende;

Conceito de si: os adultos têm consciência de que são responsáveis pelas suas decisões e pela sua vida. Por consequência, torna-se necessário que sejam encarados e tratados como indivíduos capazes de se auto gerir; 

Papel da experiência: a experiência daquele que aprende é considerada de pouca utilidade. O que é importante, pelo contrário, é a experiência do professor ( ou o do autor do manual, ou dos materiais pedagógicos); 

Papel da experiência: os adultos são portadores de uma experiência que os distingue das crianças e dos jovens. Em numerosas situações de formação, são os próprios adultos, com a sua experiência, que constituem o recurso mais rico para as suas aprendizagens;  

Vontade de aprender: a disposição para aprender aquilo que o professor ensina tem como fundamento critérios e objectivos internos à lógica escolar, ou seja, a finalidade de obter êxito e progredir, em termos escolares:

Vontade de aprender: os adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem desde que compreendam  a sua utilidade para melhor afrontar problemas reais da sua vida pessoal e profissional;

Orientação da aprendizagem: A aprendizagem é encarada como um processo de aquisição de conhecimentos sobre um determinado tema. Isto significa que é dominante uma lógica centrada nos conteúdos ( e não em problemas);

Orientação da aprendizagem: nos adultos, as aprendizagens são orientadas para a resolução de problemas e tarefas com que se confrontam na sua vida quotidiana ( o que desaconselha uma lógica centrada nos conteúdos);

Motivação: a motivação para a aprendizagem é, fundamentalmente, o resultado de estímulos externos ao sujeito como é o caso das classificações escolares, das pressões familiares e das apreciações do professor.

Motivação: os adultos são sensíveis a estímulos de natureza externa (promoção profissional, por exemplo), mas o principal factor de motivação para a realização das aprendizagens são factores de ordem interna ( satisfação profissional, auto-estima, qualidade de vida, etc).

Esta perspectiva dicotómica da educação é hoje bastante bastante criticada. Primeiro pelo seu carácter demasiado simplificador do ensino escolar. Em segundo, porque se limita  a transpor para a formação de adultos as concepções educativas da Escola Nova. Por último, não se trata de uma teoria baseada em observações no terreno, mas trata-se de uma construção ideológica sobre a educação que tanto se aplica a adultos como a jovens. Voltaremos a este tema.

Carlos Fontes

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