Carlos Fontes

 

 

ENTRADA

  

Cristovão Colombo, português ?

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As Provas do Colombo Português 

 

Tratado de Tordesilhas -  Embaixadores, Procuradores e Testemunhas Portuguesas

Quem eram os representantes de Portugal? Que relação tinham com os nobres, incluindo Colombo que haviam fugido para Castela ? É fácil responder à primeira pergunta, mas a segunda revela-se um mar de surpresas ao mostrar as enormes cumplicidades que uniam Colombo a Portugal.

a ) Negociações Anteriores do Tratado

Depois da estadia de Colombo em Lisboa, onde conferenciou durante dois dias com D. João II, foram desencadeadas pressões diplomáticas ao mais alto nível destinadas a reclamar para Portugal as Indias que haviam sido achadas.   

Fernando e Isabel, reis de Castela e Aragão  enviaram a Portugal Lope de Herrera, para resolver os problemas resultantes das "descobertas" de Colombo, que sugeriu aos mesmos a realização de um novo Tratado, para a divisão do Mundo, cuja linha passaria a 100 léguas dos Açores. A incompetência deste embaixador era tal que nada se resolveu. 

1. D. João II, continuou a pressionar e a 6 de Abril de 1493, enviou um embaixador -  Rui de Sande - à corte espanhola. 

Rui de Sande, Ruy de Sande ou Rodrigo de Sande, era moço de escrevaninha de D. João II atingido depois uma elevada posição na corte, tendo desempenhado funções de embaixador no casamento da Infanta dona Isabel (1). No reinado de D. Manuel I foi enviado como embaixador aos reis católicos para tratar do casamento do principe D. Afonso com a princesa Isabel. Era alcaide-mor de Punhete (Constância), na Ordem de Cristo, tinha uma comenda em Castela devido a ter participado na conquista de Granada (1492), etc. 

Como militar participou na armada de socorro à Ilha Graciosa (Larache, Marrocos). Tomou parte em várias acções militares no Norte de África, onde participou na conquista de Targa. Distinguiu-se também na conquista do reino de Granada, a que assistiu Colombo. Para além de militar era um notável poeta e cortesão. 

Ruy Sande casou-se na vila de Punhete, com D. Guiomar Pereira Freire (1480- ?), filha de Nuno Fernandes Freire de Andrade (1440-?), de Beja, e de sua mulher D.Isabel de Almeida (filha natural de D.Alvaro de Almeida, Comendador de Entradas), da qual teve vários filhos.
 
O que lhe sucedeu foi João de Sande, Alcaide-mór e Comendador de Punhete. Serviu numa Comenda no Norte de Africa entre 1524 e 1529, tendo casado com Inês Madalena de Lafetat, filha de João Francisco de Lafetat, mercador italiano e de Maria Gonçalves, cristã-nova (judia). 
 
Este facto é da maior relevância, porque Lafetat não é mais do que um dos supostos banqueiros que em Sevilha financiavam Colombo, mas que residia em Portugal !  ( consultar ). 
 
D. João II, escolheu para seu primeiro embaixador alguém com propriedades em Castela, que se havia distinguido na conquista de Granada, mas pelos vistos também teria ligações ao mundo subterrâneo dos financiamentos de Colombo. Para além de bom poeta e militar, Rui de Sande, nunca se destacou em assuntos náuticos ou cosmográficos. O que Rui de Sande foi fazer a Espanha parece ter sido de uma natureza muito diferente do que negociar um novo Tratado. Integrou a comitiva que D. Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também Colombo. 
 
Entretanto o papa Alexandre VI (1492-1503), um dos mais corruptos e imorais papas italianos, actuando como mediador entre os dois países, emite duas bulas onde procura pôr fim aos acordos anteriores de Alcáçovas-Toledo (1479/80). Na prática significava abrir o mar não apenas à Espanha, mas também a outros países, diminuindo o poder de Portugal. A situação permaneceu tensa, dada a recusa de D. João II em aceitar estes pressupostos. 
 

2. Nos bastidores prosseguiram as negociações e D. João II enviou a 15 de Agosto uma nova embaixada à Espanha, que se encontrou em Barcelona com os reis católicos. 

A sua missão destinava-se a garantir os principio da partilha do mundo entre dois países, mas também uma linha de partilha do Mundo que garantisse a Portugal a posse do Brasil, cuja existência já conhecia. A linha divisória devia de passar a uma distância mínimo de 100 léguas a oeste dos Açores ou de Cabo Verde. Colombo, desde o inicio que vinha fazendo idêntica proposta aos reis católicos. A embaixada era constituída por:

- Pêro Dia, doutor.

- Rui de Pina, Juiz.

Não de tratam de navegadores, cosmógrafos ou pessoas especialmente entendidas em questões do mar, mas sim de juristas para discutir as condições do tratado e estabelecer os seus princípios gerais. Rui de Pina irá depois produzir a sua versão oficial dos acontecimentos. 

Quando estavam em Barcelona, tomam conhecimento de uma nova bula - Dudum Liquidem ( 25 de Setembro) -, na qual o papa,  reconhecia a posse das terras e ilhas achadas ou a descobrir dentro de um meridiano de 100 léguas a oeste dos Açores ou Cabo Verde. Na prática, rompia com o princípio da partilha do mundo entre os dois países da Península Ibérica, subalternizando mais uma vez a posição de Portugal. 

Os representantes de D. João II recusaram-se a prosseguir as negociações, regressando a Portugal. A partir deste momento, D. João II, passa recusa a mediação do papa, sendo as negociações feitas directamente entre as duas cortes. No dia 25 de Setembro de 1493, Colombo partiu para a sua 2º. viagem às Indias.

Colombo terá ficado surpreendido com esta decisão do papa, pois continuou a insistir ao longo dos anos numa linha de 100 léguas que satisfazia as  exigências iniciais de Portugal, mostrando assim qual era a sua posição.

A sua contribuição mais importante foi contudo de outra natureza: - não deu informações concretas aos reis espanhóis. Estes sem informações precisas, e não tendo sequer cosmógrafos competentes, acabaram por enviar uma embaixada a Portugal propondo a realização de uma conferência na vila de Tordesilhas, onde aceitarem tudo o que os portugueses lhes propuseram.

b )  Assinatura do Tratado de Tordesilhas

No dia 7 de Junho de 1494, os procuradores de D. João II, rei de Portugal, e de Fernando e Isabel, reis de Aragão e Castela, assinaram na vila de Tordesilhas dois tratados, que dividiam o mundo entre si. 

1. Rui de Sousa , embaixador plenipotenciário português o senhor de Sagres e Beringel. Casou-se com 1º. núpcias com Isabel, e em 2ªs com Branca de Villena, filha de Martin Afonso de Melo. Estava portanto ligado à família dos Melos, tornando-se desta forma parente de D. Alvaro de Bragança.  

Foi senhor da Guiné (1486), onde Colombo esteve várias vezes. Encontrou-se com este navegador, em Toledo em Abril de 1498, tendo justamente falecido nesta altura. O seu corpo foi traslado para Portugal, estando sepultado no Panteão dos Melos (Évora), ao lado de D. Alvaro de Bragança.

2. João de Sousa ( -1513), licenciado, almotacém-mor das coisas civis de D. João II. Era filho de Rui de Sousa e de Isabel de Siquera, parente João Soares de Siquera. Casou-se com Margarida Fogaça, donzela de Dona Joana, a célebre Beltraneja. Foi guarda-mor de D. Manuel I (1510). 

Foi também capitão da Ilha da Graciosa, em Larache (Marrocos). Colombo deu o nome de Graciosa a uma das ilhas que descobriu, mas também se podia estar a lembrar-se da Ilha da Graciosa, nos Açores.

Estamos portanto perante uma nobre da máxima confiança régia, e conhecedor das disputas de D. Afonso V ao trono de Castela. 

João de Sousa integrou também a comitiva que D. Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também Colombo (5). 

3. Aires de Almada, vedor dos feitos civis na corte e do desembargo real. Foi enviado por D. João II à Inglaterra, quando Lopo de Albuquerque se encontrava preso na Torre de Londres, afim de convencer o rei para o trazer para Portugal. 

4. Estêvão Vaz, secretario da embaixada portuguesa.

5. João Soares de Sequeira, testemunha. Pertencia a uma família procedente dos Silvas, tendo entre os seus antepassados entre outros, D. Fernando Rodrigues de Sequeira (1338 - 1433), nascido em Castelo Branco, sucedeu a D. João I como mestre da Ordem de Aviz (1386). Ficou como defensor do Reino quando D. João I foi conquistar de Ceuta (1415). Mandou edificar a igreja de N. Senhora do Sobral (actual Ig. das Neves) em Borba (1401).Está sepultado na igreja conventual de Aviz. Como já mostramos Colombo faria parte da Ordem de Aviz ou de Santiago, embora a sua bandeira pessoal tivesse uma Cruz Verde igual à Ordem de Aviz.(2)

João de Sequeira integrou a comitiva que D. Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também Colombo. 

6. Rui Leme, testemunha. Colombo refere explicitamente o testemunho de um seu parente - António Leme -, morador da Ilha da Madeira, natural de Lisboa, o qual teria chegado às Antilhas. A sua missão terá sido justamente lembrar aos reis católicos que os portugueses já antes haviam estado nas Antilhas, como Colombo afirmava?    

7. Duarte Pacheco Pereira (1460 ? -1533), testemunha. Assinou o tratado na "qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal". Navegador e genial cosmógrafo, cavaleiro da Casa de D. João II e membro da sua guarda.

Ao longo da década de 80 do século XV, realizou nas costas africanas levantamentos hidrográficos necessários à correcção e aperfeiçoamento das cartas nauticas, mas também levantamentos das alturas do sol para obter os seus graus em cada lugar. Uma tarefa que andou também envolvido, em 1485, o mestre José Vizinho, como relata Colombo.

Quando Bartolomeu Dias regressava do Cabo da Boa Esperança (3), em 1488, encontrou-o doente na Ilha do Principe, tendo-o trazido para Lisboa, onde se terá encontrado com Colombo.

Os seus vastos conhecimentos cosmográficos terão sido decisivos nas negociações sobre a linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas, pois a mesma passou de 100 para 370 léguas, abrangendo deste modo uma vasta área do Brasil.

Em 1498 foi enviado por D.Manuel I numa expedição que partiu de Cabo Verde foi às costas atlânticas da América do Sul, sendo considerado o primeiro português a chegar ao Brasil e a descrever os povos o habitavam. No final deste ano, Colombo fará uma viagem idêntica, tendo atingido a região das pérolas... 

Um dos objectivos possíveis desta expedição de Duarte Pacheco Pereira, prende-se com o facto de D. Manuel I, pretender averiguar as terras que pertenciam a Portugal de acordo com o Tratado de Tordesilhas.

Devido esta expedição acabou por ser um dos grandes ausente na comitiva de embaixadores, procuradores e testemunhas do Tratado de Tordesilhas que integravam, em 1498, a comitiva que D. Manuel I levou a Toledo.

Depois de 1498, integrou a expedição de Pedro Alvares Cabral ao Brasil (1500). Em 1503 voltou à India, no comando de uma nau, sendo um dos heróis da defesa de Cochim.

Em Junho de 1505 regressa a Lisboa, dedicando-se pouco depois a escrever -  Esmeraldo de situ orbis - Tratado dos novos lugares da Terra, por Manuel (D. Manuel I) e Duarte (Duarte Pacheco Pereira). Trata-se de um verdadeiro atlas de marinharia e cosmografia. A obra foi escrita no mesmo ano em que Colombo faleceu em Valhadolid (1506), apesar da sua enorme inovação e rigor, reflecte alguma dificuldade em aceitar a nova concepção da terra que já se aceitava em Portugal.

Como muitas outras obras portuguesas foi roubada, perdendo-se o seu rasto, tendo sido encontrada por um espião italiano, em 1573, que a vendeu a Filipe II (4). As duas cópias que hoje existem datam do século XVIII, estão muito incompletas tendo desaparecido os seus mapas.

Após o seu regresso ao reino é-lhe confiada a defesa do Estreito de Gibraltar - Ceuta. Entre 1509 e 1511, persegue o célebre corsário francês Mondragon, tendo-lhe afundado um navio e capturado os restantes.

Duarte Pacheco Pereira, desposou Dona Antónia de Albuquerque, filha de Isabel de Albuquerque e Jorge Garcez, secretário do rei D. Manuel I. Deste matrimónio teve 5 filhos, dois dos quais casarem-se com membros da família Silva.

D.Manuel I nomeou-o capitão de S. Jorge da Mina. Caiu em desgraça com o novo rei - D. João III - que o manda prender (1522), e é na condição de prisioneiro que regressa a Lisboa.

É impressionante a similitude deste navegador com Cristovão Colombo, uma relação nunca estudada. 

8. Garcia de Albuquerque e Pero Moniz

Faziam parte desta embaixada dois jovens "improváveis": Garcia de Albuquerque, filho do Conde de Penamacor, e Pero Moniz, cujas referências familiares ainda não foram identificadas. Mais

Negociadores Espanhóis 

Nas negociações finais em Tordesilhas, estiveram presentes e assinaram pela parte de Castela e Aragão o mordomo-mor D. Henrique Henriquez, D. Gutierre de Cárdenas, comendador-mor, e o Dr. Rodrigo Maldonado; secretariados por Fernando Álvarez de Toledo, levavam como testemunhas Pero de Leon, Fernando de Torres e Fernando Gamarra. 

Carlos Fontes

  Notas:

(1 ) " Neste tempo estando el-rey em Evora, hum Nuno Antunez cavaleiro de sua casa veo da Mina por capitam de hũa caravela e trazia trinta mil pesos d' ouro. E porque morriam de peste em Lisboa sayo em Setuvel e trouxe o ouro todo a el-rey pera o ver por ser muito antes de se levar aa moeda; e vinha feito em muitas cousas diversas de muytas feições e parecia por ysso muito mais. El-rey estando com poucos somente algũas pessoas com que folgava mandou estender o ouro todo em hũa alcatifa e estando o assi vendo, disse Ruy de Sande manso a Diogo da Silveyra: "Bem contente e descansado estaria quem tevesse todo aquele ouro"; el-rey ouvio o que disse e virou-se a elle e disse-lhe: "Certefico-vos, Ruy de Sande, que vo-lo dera todo se o jaa nam fizera el-rey Dom Afonso de Napoles".", Vida e Feitos D' El-Rey Dom João Segundo, Garcia de Resende. Cap.CLXXXIII. Sobre o casamento da Infanta dona Isabel, ver o capitulo anterior.

(2 ) Não deixa de ser curioso constatar que os Sequeiras, aparecem no século XVI e XVII envolvidos em explorações em torna dos limites do Tratado de Tordesilhas: Diogo Lopes de Sequeira, tenha sido mando por D. Manuel I explorar os limites orientais do Tratado de Tordesilhas, tendo chegado a Malaca em 1509. Gomes de Sequeira, parente do anterior, em 1525, a partir do Moluco explorou terá chegado à costa Norte da Austrália. 

( 3) João de Barros, nas Décadas  da Ásia, afirma que Bartolomeu Dias o trouxe da Ilha da Principe onde o encontrou gravemente doente.

(4 ) Um espião italiano - Giovani Gesio -, vendeu uma cópia do manuscrito a Filipe II de Espanha, que deu pela mesma uma verdadeira fortuna. A recibo deste pagamento encontra-se na Biblioteca do Mosteiro do Escorial (Espanha).

(5 ) Os Sousa, na primeira metade do século XVI, irão ter um papel destacado na definição das suas fronteiras do Brasil, tendo por base o Tratado de Tordesilhas:

- Martim de Sousa (c.1490/1500- 1564/ 1571), matemático, cosmógrafo e navegador e seu irmão Pero Lopes de Souza (Lisboa, 1497 — 1539), a mando da corte, procuraram demarcar as fronteiras do Brasil, no seus limites a sul. O primeiro naufragou na entrada do Rio da Prata, mas o seu irmão, em 1531, conseguiu navegar dez graus no rio Paraná

Tomé de Sousa (1549-1553) , parente dos anteriores, foi o primeiro governador do Brasil, está sepultado ao lado de D. Lopo de Albuquerque (pai adoptivo do secretário de Colombo), no Convento de Santo António da Castanheira, em Vila Franca de Xira, no centro do Panteão dos Ataídes.

  Continuação:

10. Espiões, Manobras Internacionais e Desinformação

11. Patriotismo

12. Mudança de Planos

13. Descendentes.

14. Historiadores Portugueses

15. Lugares Colombianos em Portugal

16. Cronologia Portuguesa da Vida de Colombo

 

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As Provas de Colombo Italiano

As Provas de Colombo Espanhol

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  Carlos Fontes

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