Emigrantes Portugueses em Espanha: Século
XX
No final do século XIX começa a registar-se um
importante caudal de emigração para as minas do norte da Espanha (Leon e
Astúrias), que prosseguiu ao longo de grande parte do século XX. Nesta região
acaba por ser constituir uma importante comunidade de emigrantes portugueses em
Espanha.
A partir de finais dos anos 50, com a vaga da
emigração portuguesa para a Europa, aumenta o número de comunidades
portuguesas por toda a Espanha, sobretudo nos percursos que conduzem a França.
Nos anos setenta, acentua-se a presença de
milhares de portugueses por toda a Espanha, vindo a criar importantes
comunidades na Galiza, León, Extremadura, Huelva, Astúrias e Navarra.
Após o 25 de Abril de 1974,
muitos de antigos correligionários da ditadura (1926-1974), como antigos
membros da polícia política, militares envolvidos em tentativas de golpes de
estado, bombistas ou empresários de negócios poucos transparentes vão viver para
Espanha. Nos
últimos anos, enquanto entram em Portugal milhares de imigrantes, portugueses
são noticia permanente nos jornais espanhóis devido à exploração que são
vítimas nas plantações da Andaluzia, nas de tabaco de Talalluela de la Vera
em Cáceres, nas de Girassóis de Las Pedroñeras (Cuenca), nas plantações de
tomate em Badajos, nas de morangos de Huelva e nas de melão de Lleida, ou nas vinhas de Rioja. Milhares de
portuguesas são brutalmente exploradas como empregadas domésticas um pouco por
todo lado, muitas delas acabam na prostituição segundo organizações
espanholas. Presentemente milhares destes
emigrantes são alvo de manifestações ou reacções de espanhóis contra os
imigrantes clandestinos. Estes jornais
denunciam igualmente a exploração do trabalho de crianças portuguesas na
apanha de azeitonas em Jaén ou na de tomates na Extremadura. O trabalho
infantil de crianças estrangeiras em Espanha atinge dimensões inacreditáveis,
prática que tem sido denunciada por organizações internacionais. Os portugueses de etnia cigana, revelam também
a sua presença pela negativa nas plantações de Huelva onde habitam em
barracões imundos, mas também em
bairros e casas abarracadas de Madrid ou por se dedicarem à mendicidade nas
ruas desta cidade. Prostitutas portuguesas são noticia desde os
anos 70 em bares da Galiza e de um modo geral ao longo da raia de Espanha e Portugal.
.
O peso relativo dos imigrantes portugueses no
conjunto dos imigrantes em Espanha não tem parado de diminuir. Representavam em
1950 cerca de 27% do total dos imigrantes, em 1969 -22%, 1970-17%, 1980-12% e em
1987-9%. Neste período as regiões fronteiriças eram aquelas onde se registava
maior concentração de imigrantes, com destaque para Orense, Pontevedra e
Huelva. A tendência desde os anos 50 tem
sido, contudo, para uma progressiva concentração na região de Madrid e da
Catalunha.
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"LA
ESPAÑA QUE PARE"
"Los padres del primer bebé que nació en
Madrid en 2002 son colombianos; en Valencia, portugueses; en Segovia,
marroquíes. Gracias a los inmigrantes, en el próximo padrón,
llegaremos a los 41 millones, cuando se temía que la población
retrocediera hasta los 36. " Jornal El Mundo, 6/6/2002
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. Estudos do Ministério da Saúde de Espanha,
datados de Maio de 2002, apontam para um outro tipo de emigrantes portugueses.
Aqueles que devido à sua exclusão socio-económica, acabaram na toxicodependência,
contraindo sida e tuberculose (78% dos casos de emigrantes
portugueses com sida usavam drogas por vía intravenosa) (El Mundo,2/5/2002). Estes
emigrantes são muitas vezes vitimas de mafias portuguesas que operam em
Espanha, perante a impunidade da polícia local. ( ver ). No
inicio do século XXI, a partir de vários indicadores é já possível fazer um
retrato deste tipo de emigrantes. A maioria é constituída por individuos
desqualificados, com uma baixa auto-estima e com sérios problemas de identidade
cultural. A ausência de um efectivo apoio do Estado português a estas
comunidades acaba por as empurrar para uma existência apagada sem grandes
horizontes de vida nem futuro. Carlos
Fontes |