Emigração Portuguesa em Espanha


     
    
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Emigrantes Portugueses em Espanha

No total eram cerca de 70 mil (dados de 2006), um número relativamente pequeno se tivermos em conta o número de emigrantes portugueses em países como a Suiça, Grã-Bretanha, França ou mesmo nos Estados Unidos. Uma larga percentagem destes emigrantes residem em Portugal, embora trabalhem em Espanha. A proximidade entre os dois países facilita a emigração temporária.

Estamos perante uma emigração constituída por pessoas com um baixíssimo nível de escolaridade, oriundas dos meios mais pobres de Portugal e às quais o Estado Português quase nenhum apoio presta. 

Os seus limitados recursos não lhes permite também grandes possibilidades de deslocação; limitam-se a atravessar a fronteira e a arranjarem trabalho num sítio qualquer de Espanha, tentando aproximarem-se o mais possível dos Pirinéus. As regiões mais deprimidas de Trás-os-Montes foram aquelas que maior número de imigrantes forneceram para os trabalhos nas minas de Leon e Astúrias. Os portugueses de étnia cigana para a mendicidade nas ruas de Madrid.

No início do século XXI, a polícia portuguesa começou a desmantelar uma rede controlada por ciganos portugueses que se dedicava ao tráfico de pessoas, na sua maioria deficientes mentais. Estas eram aliciados com promessas de trabalho em Espanha  acabando como escravos em empresas agrícolas deste país (Região La Rioja, País Basco, etc). Tudo isto acontece na mais completa impunidade. ( Ver: Relato de um Escravo )  

Ao contrário do que ocorre na maioria dos países onde existem comunidades portuguesas, são raros os casos de sucesso dos emigrantes portugueses em Espanha. A maioria acabam tão pobres como quando saíram de Portugal. Muitos são explorados por mafias luso-espanholas. Algumas destas mafias dedicam-se igualmente a roubar turistas ou emigrantes portugueses que circulam por Espanha a caminho de outros países europeus, tirando do conhecimento da língua. Trata-se, como dissemos, de uma emigração ainda muito mal estudada em todas as suas dimensões.

A situação destes emigrantes continua a ser pouco diferentes daquela que foi no passado.

Emigrantes Portugueses em Espanha: Século XX

No final do século XIX começa a registar-se um importante caudal de emigração para as minas do norte da Espanha (Leon e Astúrias), que prosseguiu ao longo de grande parte do século XX. Nesta região acaba por ser constituir uma importante comunidade de emigrantes portugueses em Espanha.

A partir de finais dos anos 50, com a vaga da emigração portuguesa para a Europa, aumenta o número de comunidades portuguesas por toda a Espanha, sobretudo nos percursos que conduzem a França. 

Nos anos setenta, acentua-se a presença de milhares de portugueses por toda a Espanha, vindo a criar importantes comunidades na Galiza, León, Extremadura, Huelva, Astúrias e Navarra.

Após o 25 de Abril de 1974, muitos de antigos correligionários da ditadura (1926-1974), como antigos membros da polícia política, militares envolvidos em tentativas de golpes de estado, bombistas ou empresários de negócios poucos transparentes vão viver para Espanha. 

Nos últimos anos, enquanto entram em Portugal milhares de imigrantes, portugueses são noticia permanente nos jornais espanhóis devido à exploração que são vítimas nas plantações da Andaluzia, nas de tabaco de Talalluela de la Vera em Cáceres, nas de Girassóis de Las Pedroñeras (Cuenca), nas plantações de tomate em Badajos, nas de morangos de Huelva e nas de melão de Lleida, ou nas vinhas de Rioja.

Milhares de portuguesas são brutalmente exploradas como empregadas domésticas um pouco por todo lado, muitas delas acabam na prostituição segundo organizações espanholas.

Presentemente milhares destes emigrantes são alvo de manifestações ou reacções de espanhóis contra os imigrantes clandestinos.

Estes jornais denunciam igualmente a exploração do trabalho de crianças portuguesas na apanha de azeitonas em Jaén ou na de tomates na Extremadura. O trabalho infantil de crianças estrangeiras em Espanha atinge dimensões inacreditáveis, prática que tem sido denunciada por organizações internacionais. 

Os portugueses de etnia cigana, revelam também a sua presença pela negativa nas plantações de Huelva onde habitam em barracões imundos, mas também em bairros e casas abarracadas de Madrid ou por se dedicarem à mendicidade nas ruas desta cidade.

Prostitutas portuguesas são noticia desde os anos 70 em bares da Galiza e de um modo geral ao longo da raia de Espanha e Portugal.

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O peso relativo dos imigrantes portugueses no conjunto dos imigrantes em Espanha não tem parado de diminuir. Representavam em 1950 cerca de 27% do total dos imigrantes, em 1969 -22%, 1970-17%, 1980-12% e em 1987-9%. Neste período as regiões fronteiriças eram aquelas onde se registava maior concentração de imigrantes, com destaque para Orense, Pontevedra e Huelva. A tendência desde os anos 50 tem sido, contudo, para uma progressiva concentração na região de Madrid e da Catalunha

"LA ESPAÑA QUE PARE"


"Los padres del primer bebé que nació en Madrid en 2002 son colombianos; en Valencia, portugueses; en Segovia, marroquíes. Gracias a los inmigrantes, en el próximo padrón, llegaremos a los 41 millones, cuando se temía que la población retrocediera hasta los 36. " Jornal El Mundo, 6/6/2002

Estudos do Ministério da Saúde de Espanha, datados de Maio de 2002, apontam para um outro tipo de emigrantes portugueses. Aqueles que devido à sua exclusão socio-económica, acabaram na toxicodependência, contraindo sida e tuberculose (78% dos casos de emigrantes portugueses com sida usavam drogas por vía intravenosa) (El Mundo,2/5/2002).

Estes emigrantes são muitas vezes vitimas de mafias portuguesas que operam em Espanha, perante a impunidade da polícia local.

No inicio do século XXI, a partir de vários indicadores é já possível fazer um retrato deste tipo de emigrantes. A maioria é constituída por individuos desqualificados, com uma baixa auto-estima e com sérios problemas de identidade cultural. A ausência de um efectivo apoio do Estado português a estas comunidades acaba por as empurrar para uma existência apagada sem grandes horizontes de vida nem futuro. 

 

Primeiros Emigrantes

Entre finais dos séculos XV e o século XIX, muitos milhares de portugueses emigram para Espanha, por três razões fundamentais: uns para estudarem (Salamanca, foi um desses locais privilegiados); outros para fugirem à justiça e às perseguições políticas, e outros ainda para exercerem actividades comerciais e outras.

Nos séculos XV e XVI muitos emigram para aí se dedicarem a actividades ligadas às explorações marítimas (Fernão de Magalhães, Estevão Gomes, Cabrilho,etc), comércio com as indias ocidentais, mas também ao tráfico de escravos que as suas possessões careciam. Nas cidades ligadas ao comércio marítimo formam-se  importantes colónias de portugueses (Sevilha, Gilbraltar, etc). 

O domínio espanhol de Portugal (1580-1640), suscita uma importante vaga de emigrantes para Espanha, sobretudo para Madrid. Entre os que emigram para Espanha, conta-se a família do pintor Diego Silva Velazquez.É nesteperíodo que importantes negreiros portugueses obtém importantes ganhos, nomeadamente quando conseguem o exclusivo do tráfico de escravos para as possessões espanholas.  

Milhares destes portugueses acabaram espoliados e mortos pela Inquisição em Espanha e nas suas colónias.

Até há pouco tempo, os historiadores nunca haviam descoberto em Espanha, ao o longo de todo o século XVI e XVII, uma única pessoa que tivesse protagonizado as ideias do renascimento e da ciência moderna. O peso da Inquisição e intolerância era tal que parecia não ser possível.

No ano 2000, numa biblioteca da Austria, descobriu-se finalmente um: o cartógrafo e cosmógrafo português Pedro Teixeira, que durante 11 anos, elaborou para o Estado Espanhol "El Atlas del Rey Planeta".O Rei era Filipe IV, a obra é de um português imigrante.

 

 

Irmãos, Explorados e Mal Amados

Na retórica política dos dois países Portugal e Espanha são dois países irmão, mas na verdade, os inquéritos à opinião publica espanhola mostram que estes consideram os portugueses pouco simpáticos, maus partidos para casarem os seus filhos, vizinhos desagradáveis nas habitações, maus colegas de trabalho, etc.

Inquéritos à opinião pública espanhola confirmam a  atitude racista dos espanhóis para com os portugueses. Os seus "irmãos" ibéricos não para passam de vizinhos indesejáveis, prostitutas, criadas de servir ("Marias"),  trogloditas e trolhas da construção civil. 

Comparando o Inquérito à Opinião Pública Espanhola de 1996 e o de 2000, verifica-se que este sentimento de antipatia tem vindo a aumentar. A melhoria do bem estar dos portugueses tornou-se uma fonte de preocupação para os espanhóis. Uma infelicidade!

Inquérito de Fevereiro de 2000

Entre todos os Europeus, excluindo os oriundos dos países do leste, os portugueses são aqueles que menos lhes inspiram simpatia. Os que menos gostam em todo o mundo são os imigrantes do Norte de África (Marroquinos, etc).

Se um filho(a) casasse com um português ou portuguesa, cerca 10% dos país espanhóis ficavam muito ou bastante preocupados. Menor preocupação teriam se o noivo (a) fosse originário de qualquer outro país da União Europeia. O que os punha de cabelos em pé era todavia o noivo (a) fosse oriundo do Norte de África. 

Cerca de 4% dos espanhóis ficam muito ou bastante preocupados se morarem no mesmo edifício onde vivem portugueses. Menor receio tem se os seus vizinhos forem de qualquer país da Europa, incluindo os do leste. Os que mais detestam são vizinhos do Norte de África, em especial de Marrocos.

Entre todos os europeus, aqueles menos com quem menos gostam de trabalhar são os portugueses. Causam-lhe tanto incómodo como os latinos americanos. Os companheiros de trabalho que mais os perturbam são os pobres dos marroquinos.

Quando um espanhol pensa de forma imediata  num imigrante, a 4,2% vêem-lhes logo à cabeça um português, isto apesar da percentagem dos imigrantes portugueses em Espanha ser inferior a 1% . O seu padrão de Imigrante é todavia outro:  76,6% pensam logo em Norte Africanos; 27,9% africanos e 20,5% em latino americanos.

Inquérito de Junho de 1996

As regiões que menos simpatias nutrem pelos portugueses são por ordem decrescente as seguintes: Valência, Catalunha; Madrid e Andaluzia.

As simpatias dos espanhóis repartem-se em primeiro lugar por todos os povos europeus e latinos americanos, é só em depois lhes sobra alguma coisa para os portugueses e os filipinos. Os que menos simpatias lhes despertam, são como era de esperar, os norte africanos e em especial os marroquinos.

Estes inquéritos à opinião pública foram realizado pelo Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) do Ministério da Presidência do Governo Espanhol, e estão publicadas na internet.

Relatos de Escravos Portugueses em Espanha

"Fuga acabou com dois anos de inferno
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Homem de Valpaços conseguiu escapar da rede e conta aquilo que passou 


"Armando era o nome de "escravo" de um homem de 32 anos , solteiro, residente numa freguesia a quatro quilómetros de Vila Real e que foi seduzido pelas promessas de um homem, de etnia cigana e da zona de Almodena, para trabalhar em Espanha a troco de "muita fortuna". Em lugar do "El Dorado", tinha à sua espera uma identidade falsa, uma vida de escravidão e muita pancada.

Desaparecido desde o dia 2 de Julho de 2002, só em 1 de Dezembro de 2004, é que Armando apareceu em casa, maltratado e só com a roupa que trazia no corpo, dias após ter iludido a vigilância aos seus sequestradores. Na aldeia onde vive, a população olha desconfiada para os forasteiros. A situação levou a que a população esteja de sobreaviso.

"Perguntaram-me se queria ir trabalhar para Espanha. Não lhe respondi. A dada altura, perguntou-me se não sabia quem queria ir. Disse-lhe que ia eu. Saí sem levar nada comigo, pois prometeu-me que ia ganhar muito dinheiro e depois me comprava roupa. Fui nessa noite num carro até à Espanha".

"Durante o Verão trabalhavam a instalar e desmontar carrosséis nas festas, arcos para iluminações e, no tempo do Outono e do Inverno, ia com mais quatro portugueses para as colheitas. "Iamos para as vindimas em Espanha e para a zona de Valpaços , onde também trabalhávamos na apanha da azeitona. As vezes o nosso "patrão", levava-nos para a região Basca, para a recolha do papel e de sucata automóvel" acrescentou.

Os aposentos eram uma cabana sempre vigiada de noite. Segundo "Armando" não deixavam sair ninguém. "Tínhamos cama, roupa e comida. Dinheiro nem vê-lo, só faziam promessas, e de vez quando lá davam um euro ou dois, para beber um copo. Eles nunca me deixaram vir embora, porque tinham medo que fosse falar demais" sublinhou.

No dia 1 de Dezembro, deu-se a evasão. " Em Valpaços , quando andávamos na apanha da azeitona consegui fugir, porque os patrões tinham ido a Espanha. Foi uma alegria que senti ".

As agressões foram várias. "Uma vez pedi a um outro português para me fazer uma carta, o patrão soube, levou-me para um camião e deu-me cabo do corpo com uma mangueira. Comigo eram quatro, e batiam-lhe também. O filho dele também andava nesta vida.

Armando conta ainda que mal chegou a Espanha lhe "entregaram um Bilhete de Identidade falso espanhol". "Obrigavam-me a deixar crescer o bigode e o cabelo, para parecer com a foto do BI". Na aldeia de onde é natural, situada na serra do Alvão, "andou no povo um carro estranho suspeitando-se que andavam á sua procura". O medo não foi embora."

J. Paulo Coutinho, Jornal de Notícias. 27/4/2005

Santa Coloma, Logroño (Espanha): uma Aldeia de Escravos

"Notícias sobre casos de "escravatura" não surpreenderam portugueses de Logroño. Emigrantes levados por angariadores pagam bem para não ter problemas. De Bragança a Logroño são quatro horas de viagem. Um universo de oportunidades que marca a fronteira entre a pobreza de fome e o remedeio sem grandes confortos. Capital de uma região vinhateira, onde faltam braços para o árduo trabalho do campo, tornou-se, nos últimos anos, destino de muitos portugueses, principalmente transmontanos, que tentam a sorte para fugir ao desemprego. Muitos vêm apenas temporariamente e, logo que podem, regressam a Portugal. Foram enganados, agredidos e explorados. (...)  As últimas estatísticas referem 2.130 portugueses na região de La Rioja. Uma realidade subavaliada, já que muitos não constam dos registos oficiais, e impossível de quantificar.

Nos povoados dos arredores de Logroño, já ninguém estranha a presença de portugueses. Na época das vindimas, chegam a ser milhares, vindos em autocarros e furgonetas, angariados por terras de Trás-os-Montes, mas também nas cidades de Norte a Sul do país. Antes da Páscoa, vieram muitos para fazer a poda e, daqui a cerca de um mês, outra grande leva é esperada para a desfolha.

É para estas "campanhas" que muitos são atraídos com a promessa de um salário farto por angariadores sem escrúpulos que fazem fortuna à custa de mão-de-obra escravizada. A recente detenção de 23 indivíduos portugueses de etnia cigana - acusados, entre outros crimes, de escravatura por manterem, sob sequestro e com recurso a violência, portugueses a trabalhar em Espanha em condições desumanas e sem pagamento - chocou o país mas pode não ser o suficiente para alterar o panorama. Enquanto a miséria for a única perspectiva para quem vive em zonas deprimidas, haverá sempre quem se sujeite a situações indignas e é certo que aparecerá sempre quem lucre com isso.

Notícia não surpreendeu. Em La Rioja, a notícia não surpreendeu os portugueses que cá estão. Todos sabem o que se passa, embora ninguém assuma directamente que foi ou é vítima de abusos por parte dos angariadores portugueses. Por vergonha ou medo, preferem contar as histórias na terceira pessoa, não dizer os nomes e não aparecer em fotografias. Muitos nem sequer dão conversa quando se fala do assunto.

"Se a nossa Polícia vier cá, descobre muita coisa. A Polícia espanhola também sabe, mas prefere não se meter. Por aí fora, não é difícil encontrá-los, a dormir em barracos ou mesmo nos furgões", revela um transmontano que não se quis identificar. "Já dei dinheiro a alguns para fugirem para Portugal, mas uma pessoa que queira fazer vida cá não pode arriscar-se muito. Com os gitanos não se brinca." Pormenores, prefere não contar.

A exploração tem muitos contornos. Nem sempre há quadros de sequestro, agressão e total falta de pagamento. Há outras formas, mais subtis, de explorar quem desconhece ,ou não pode reivindicar os seus direitos. Os angariadores têm várias fontes de lucro. Além de ganharem comissões chorudas sobre os ordenados dos trabalhadores que contrataram, fazem negócio também com o alojamento e refeições. "A Polícia devia prender muitos mais. E olhe que não são só ciganos. Há portugueses, como nós, que estão ricos à custa do trabalho dos outros", conta um jovem do Porto. "Eu nunca fui espancado, mas se não quiser problemas tenho de pagar bem por viver e comer aqui", continua. "Pago 300 euros pelo quarto, mas há meses em que é mais... Por vezes, vai quase o ordenado todo.".

Pagar é única opção. Sem contactos com os patrões espanhóis nem meios para arranjar emprego, pagar para trabalhar é a única opção. Andam de quinta em quinta, sem poiso fixo, dormem onde calha, levados pelos patrões portugueses. Na maioria das vezes, nem chegam a conhecer os empregadores espanhóis." (...).

Jornal de Notícias, 29/4/2005

Um grande número dos escravos portugueses que tem sido referenciados a trabalhar para empresas espanholas são pessoas doentes mentais, ex-toxicodependentes ou com gravíssimas dificuldades de inserção social. Vítimas fáceis para todo o tipo de criminosos.

Comentário.

Máfias Portuguesas

A emigração foi para muitos portugueses uma necessidade absoluta de sobrevivência, mas para outros constituiu um negócio, quer no transporte e colocação dos emigrantes quer na sua exploração nos locais de acolhimento. Um número indeterminado de portugueses têm sido espoliados ou escravizados pelos seus próprios conterrâneos. Trata-se de um aspecto ainda pouco estudado da emigração portuguesa, mas que pontualmente é ainda noticia na comunicação social internacional. 

Diário de Notícias, 8 de Junho de 2002

Portugueses tinham escravos

Dois portugueses, J. M. B., de 38 anos, e R. J. C. C., de 40 anos, foram detidos pela polícia basca (Ertzaintza), em Villabuena, acusados de manter como escravos três conterrâneos que trabalhavam na agricultura. Estes, não recebiam ordenado, eram golpeados com barras de ferro e estavam impedidos de abandonar a zona.

Os dois portugueses eram intermediários e actuavam com total impunidade, utilizando inclusive capangas para impedir a fuga dos portugueses que trabalhavam ao dia (jornaleiros). Isto, apesar de parte da população e o próprio presidente da câmara terem conhecimento do que se passava. Foi uma queixa anónima que levou à intervenção da polícia, na segunda-feira.

De acordo com a polícia, o cenário encontrado nos barracões onde viviam os jornaleiros era horripilante. "Tinham-lhes tirado os passaportes, estavam encerrados na moradia de um dos intermediários, comiam as sobras deles, não recebiam ordenado e careciam de água quente e banho", disseram.

Os jornaleiros foram contratados em Portugal para realizarem trabalhos agrícolas na zona da Rioja Alavesa (onde se produz o famoso vinho de Rioja) e chegaram à localidade em Abril. "Eram obrigados a trabalhar em condições desumanas, sete dias por semana, doze horas ao dia, sempre vigiados e sob a ameaça de morte" assinala o relatório policial.

As vítimas contaram à Ertzaintza que um dos jornaleiros tentou por duas vezes fugir e foi imediatamente localizado. No acampamento, os dois patrões deram-lhe uma sova para servir de "exemplo" aos companheiros. "Bateram-lhe com barras de ferro e aumentaram a vigilância".

A situação atingiu o limite no fim-de-semana passado, o que levou uma pessoa, que não se identificou, a telefonar para a polícia basca, pedindo a sua intervenção. A Ertzaintza deslocou-se ao local na segunda-feira e encontrou os três trabalhadores portugueses, que declararam estar a ser tratados como escravos.

Os dois detidos são cunhados e moram em Villabuena. Estão integrados na vila, onde vivem com a família e os filhos, que frequentam a escola da povoação.

Um viticultor da zona explicou ao jornal El Correo Espanhol, de Bilbao, que trabalhava com os intermediários, aos quais pagava 54 euros ao dia por cada trabalhador fornecido, dinheiro que teoricamente deveria ser dividido entre eles e o jornaleiro, ao mesmo tempo que se encarregavam da alimentação e estadia dos trabalhadores.

Aquele viticultor reconheceu que situações iguais às dos três portugueses verificavam-se desde há muitos anos, sendo normal a proibição dos trabalhadores de abandonarem a povoação. "São alguns dos jornaleiros que impedem os outros companheiros de se irem embora".

A situação tornou-se embaraçosa para o presidente da Câmara de Villabuena, o nacionalista José Ignacio Besa, que conhecia o caso perfeitamente e nunca lhe pôs cobro. Em declarações ao citado jornal, defendeu-se e acusou as instituições de "ignorar" reiteradamente as suas queixas.

FERNANDO BARCIELA (em Madrid)

Um caso entre muitos outros

Calculava-se, em 2003, que só em Villabuena pelo menos 500 portugueses fossem vitimas de uma exploração semelhante à narrada nesta notícia.

Villabuena de Alava, fica situada na região vinhateira de Rioja, no país Basco (Euskadi).A imprensa espanhola referiu que a actuação destas mafias portuguesas não é um caso isolado, mas constitui uma prática corrente na exploração dos emigrantes portugueses

 

 
A barbárie

O século XIX inicia-se com acto de pura barbárie: a usurpação de Olivença. Milhares de portugueses desta vila alentejana, em 1801, são obrigados à força a tornarem-se espanhóis, até  serem complemente assimilados pelos invasores. Os que resistiram acabaram por ser marginalizados e desapossados das suas terras. A Espanha apesar de se comprometer a devolver a Portugal os territórios que havia ocupado recusou-se sempre a fazê-lo. Mais

Matriz Espanhola

Uma visão sobre a barbárie

 


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