Uma Experiência Pedagógica

1999/2000 . 2000/2001 . 2001/2002 .2002/2003 . 2003/2004

 

 

Ano Lectivo de 2000/2001

"Prossegue a experiência pedagógica.

O primeiro grande problema que se colocou neste ano lectivo foi a saída da escola do  professor Luís Balão. O facto trouxe-me alguma inquietação. Não era apenas um amigo que se afastava, mas também deixava de ter uma ajuda inestimável para superar os inevitáveis problemas técnicos que este tipo de experiências envolve. Graças à sua amizade, mas também ao seu profissionalismo, o seu inestimável apoio técnico continua. Utilizamos agora com maior frequência o correio electrónico. 

A primeira opção que tomei foi sobre a extensão da experiência  ao 11º. ano. O trabalho duplicou.

 Algumas alterações são visíveis neste ano lectivo: 

a) o número de alunos que acede à Internet é comparativamente ao ano anterior, muito superior. É curioso constatar que muitos já acedem à Internet a partir de casa. Algo está de facto a mudar.

 b) a escola continua a manifestar-se alheada das experiências pedagógicas dos professores. Nenhum espaço próprio é criado para que estes possam desenvolver os seus materiais. As salas de aula com meios informáticos continuam a ser as mesmas do ano anterior. 

d) começa finalmente a falar-se da introdução da redes locais de computadores. Pode estar aqui a chave para alguns dos problemas que detectei na utilização da Internet. Embora o sistema seja mais fechado, a comunicação também se torna mais direccionada.

Na organização do Roteiro, onde estão os conteúdos específicos do programa, decidi diversificar as opções oferecidas aos alunos. Num pequeno "painel de comandos", podem agora aceder a  textos, conceitos, esquemas, sínteses da matéria, testes... O projecto tornou-se mais ambicioso. A minha ideia é agora a de simular uma espécie de "centro de recursos pedagógicos de filosofia".   Foi neste sentido que construi novas áreas, como um Clube de Filosofia. A experiência de criar e-mails para todos, não parece ter resultado.         

Um mês após o início das aulas constato que por sua própria iniciativa, muitos alunos consultam as páginas das aulas, reclamam actualizações dos seus conteúdos ou discutem os seus temas. Um aluno que esteve doente, durante a sua ausência das aulas acompanhou o que se passou pela Internet. 

Numa perspectiva mais conceptual quatro grandes questões assumem neste momento alguma pertinência para o desenvolvimento desta experiência:

1. O papel da Internet na  mediação entre o professor e o aluno. A Internet é apenas mais um instrumento que facilita a transmissão de saberes, ou constitui pelo contrário, um meio que irá transformar o próprio modelo de aprendizagem?

2. A evolução da Internet está a aproximar-se cada vez mais da simulação da própria realidade. A construção das páginas não apenas a evoca metaforicamente, mas reproduz as regras de relação social.

3. A importância  da organização espacial da informação na Internet. A apresentação do conteúdo é, neste meio, determinada em primeiro lugar pela sua representação visual. Quais as implicações pedagógicas deste fenómeno?

4. A concepção destas páginas tem ultrapassar a modelo unidireccional do ensino assistido por computador. Os percursos são feitos neste meio pelos alunos, embora possam ser sugeridos pelos professores.

Novembro de 2000 . Carlos Fontes"

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O projecto ultrapassou em muito os objectivos iniciais. Deixou de ser um simples experiência pedagógica numa escola de Lisboa. A razão para este facto está nas mudanças que foram sendo introduzidas para corresponder às muitas sugestões de colegas e alunos de outras escolas. "Navegando na Filosofia" tornou-se para muitos deles o site de referência sobre o ensino da filosofia no secundário. 

O site continua a assumir-se como um projecto pessoal, embora aberto a sugestões. Esta dimensão pessoal revelou-se de enorme utilidade, permitiu, por exemplo, explorá-lo como um verdadeiro caderno de apontamentos do professor: planificações das aulas, avisos aos alunos, contactos, etc, quase tudo o que é público pode ficar aqui registado. 

A experiência na escola prossegue, embora muito limitada devido aos sistemáticos obstáculos que têm sido colocados. Os meios tecnológicos em vez de aumentarem diminuíram. O que parece contrariar o discurso oficial sobre a Internet nas escolas. Nunca foi fácil inovar, muito menos numa escola pública.  

A existência de um página na Internet com os conteúdos das aulas, prolonga para lá da sala de aulas a relação professor/aluno. O professor passa a estar comunicável 24/24 horas. As páginas são visitadas não apenas pelos alunos, mas também pelos seus familiares (irmão, pais). O professor "Está à distância de um clic !". Mas estas páginas tiveram igualmente um efeito perverso. Alguns alunos passaram a justificar a sua pouca atenção nas aulas nos seguintes termos: "Eu depois vejo na Net!". Fora da escola regressam às aulas através da Internet. Uma mãe referiu-me o carácter divertido com que a filha tinha assumia este tipo de estudo através da Internet. O tempo e as condições de aprendizagem estão desta forma dilatadas. O aluno de certa forma aprende quando e como quer. Quais as implicações deste processo?

Maio de 2001

Carlos Fontes

Carlos Fontes

Experiência

Navegando na Filosofia