Uma Experiência Pedagógica

1999/2000 . 2000/2001 . 2001/2002 .2002/2003 . 2003/2004

 

 

Ano Lectivo de 1999/2000

(Algumas notas datadas)    

 

" Navegando na Filosofia possui já uma pequena história, reveladora em certo sentido dos problemas que enfrentam os professores nas escolas secundárias, quando pretendem inovar nos seus métodos pedagógicos.

    No meu caso tudo começou quando no final do ano lectivo de 1998/99, apresentei no Grupo de Filosofia da Escola Secundária de Padre António Vieira, em Lisboa, uma proposta para que fosse utilizada a Internet como recurso pedagógico nas aulas de filosofia. As razões porque o fiz foram as seguintes:

    Em primeiro lugar, como professor, constatava o crescente interesse dos alunos por este meio de comunicação e informação. Era evidente a apetência e motivação dos alunos por tudo o que envolvia "computadores" e em especial a Internet.  

    Em segundo lugar, após vários contactos com este meio, não me foi igualmente difícil apontar várias potencialidades que poderiam ser exploradas na utilização desta tecnologia no ensino, nomeadamente a  pesquisa de informação pelos alunos ou a partilha de recursos entre os professores. 

   Após alguns meses de indecisão, resolvi iniciar sozinho o projecto. Uma coisa é todavia a ideia, outra a sua concretização.

 O meu primeiro obstáculo residia no desconhecimento dos procedimentos técnicos necessários à construção de páginas na Web. Para além de algumas leituras sobre esta tecnologia, pareceu-me fundamental encontrar alguém que me pudesse dar um apoio técnico inicial.

  O segundo obstáculo que tinha pela frente estava na própria produção de textos (os célebres "conteúdos" ). Não se tratava produzir simples textos par serem fotocopiados, mas concebe-los de forma a serem veiculados neste novo meio, dado que admitia que teriam que ter algumas características específicas. O problema era saber quais eram. Apesar de tudo tinha a convicção que este não era o maior obstáculo que tinha que ultrapassar se queria concretizar o projecto.

     Por um mero acaso, ou talvez não, o professor de informática da escola - Luís Balão - em Setembro de 1999 disponibilizou-se para me apoiar, dando-me as instruções necessárias para começar a construir as primeiras páginas. Foi uma fase difícil, já que executava muitas tarefas sem ter muitas vezes consciências das suas implicações reais. A norma era repetir as instruções do "mestre" até que fosse capaz de as executar sem grandes hesitações. 

   Por razões práticas, decidi começar pela elaboração de recursos didácticos para o 10º. Ano. Estabeleci então alguns princípios teóricos a que os mesmos deviam obedecer. Elaborei também um roteiro de temas que devia obrigatoriamente contemplar. Os textos deviam ser constituídos por pequenas histórias, onde estivessem presentes os conteúdos do Programa de Filosofia.   

    Entretanto as aulas começaram, e eu ainda não tinha qualquer texto na Internet. A aprendizagem das questões técnicas  "roubavam-me" imenso tempo. 

    Durante o mês de Outubro foi forçado fazer certos compromissos com os métodos anteriores, ou mesmo a adoptar soluções de recurso de forma a viabilizar a iniciativa. 

    Primeiro foi "obrigado" a conciliar estes novos recursos com o "manual" escolhido pelo grupo disciplinar. Após uma avaliação à minha própria produção de textos, e aos que estavam disponíveis na Internet, não me pareceu exequível tratar todos os temas do programa só com base em materiais recolhidos neste meio.     

   Por último, foi forçado a encontrar uma forma de superar a falta (ou indisponibilidade) de salas equipadas com computadores com ligação à Internet. A solução encontrada foi fotocopiar os textos disponíveis na Internet e distribuí-los nas aulas.

    A utilização da Internet como um recursos didáctico nas aulas de Filosofia, entendi que deveria ser acompanhada de um plano individual de reflexão crítica destes meios, nomeadamente das suas implicações no processo de ensino-aprendizagem. A experiência devia tornar-se num verdadeiro estudo de caso, com características similares a um "portfólio". Dei-me conta que se não o fizesse, esta produção de recursos pouco ultrapassaria a mera dimensão técnica, ou de uma utilização "ingénua" de um novo meio de informação e comunicação.  Neste sentido, paralelamente à elaboração de recursos didácticos, passei a editar várias reflexões pedagógicas em torno da experiência em curso, ou sobre domínios que considerei relevantes para a  perspectivar.

    As primeiras aulas decorreram de uma forma algo turbulenta. A maioria dos alunos nunca tinha acedido à Internet, embora houvesse um número razoável de verdadeiros especialistas. Estes últimos procuraram desde logo aproveitarem a ocasião para demonstrarem os seus conhecimentos, não na matéria em estudo, mas na navegação... O entusiasmo, por parte dos alunos foi enorme. Neste sentido  não defraudou as expectativas. O seu comportamento pouco se afastou daquele que é descrito nos diversos estudos sobre a utilização dos computadores na sala de aula. As aulas seguintes decorreram de forma mais ordeira. Todos já sabiam como ligarem o computador, acederem à respectiva página na Internet. Aumentou  também a tendência para resolverem rapidamente os exercícios, a fim de passarem a outras páginas, e sobretudo aos "chats" que ouvem falar. A Internet é mais facilmente apreendida pelos alunos, como um novo meio de diversão, do que, como um novo meio de acesso à informação significante geradora de novos conhecimentos.     

     A avaliação no primeiro período colocou-me novos desafios. Não devia também "experimentar" este novo meio no processo de avaliação dos alunos? Mas como? Comecei então a trabalhar num tipo de testes, cujas questões remetiam invariavelmente para duas únicas opções - "certo ou errado". Era muito pouco numa disciplina que cultiva a conflitualidade das interpretações, a exploração da complexidade do pensamento.  O modelo de ensino a que estava a ser remetido era para o do ensino programado. A exploração de novas soluções técnicas, ao longo do 2º. período, permitiu ultrapassar certas limitações dos primeiros testes, embora duma forma ainda pouco satisfatória. Comecei então a ensaiar testes para auto-avaliação que procuram contemplar três níveis de avaliação:

 a) a capacidade de percepção lógica das questões e seu encadeamento;

 b) a informação sobre os conceitos utilizados; 

c) a compreensão das problemáticas em discussão.

    Em Abril, continuava envolvido na resolução de problemas técnicos, e o ensino que ministrava, apesar de todas as inovações, era ainda fundamentalmente baseado em aulas tradicionais, dada a raridade de materiais na Internet adaptáveis ao programa.

 Não é fácil inovar foi esta a rápida constatação a que cheguei. A falta de tempo para dar conta de todas as tarefas, tornou-se subitamente o principal obstáculo que quotidianamente tenho enfrentado.

    Após vários meses de experiência, tornou-se também evidente que a informação veiculada através da Internet não pode descurar o próprio meio. Assim passei a ser confrontado com dois modelos extremos de organização das páginas:

    a) A construção de páginas abertas a outras páginas, onde os  conteúdos se reduzem textos de contextualização da informação, remetendo para outras páginas na WWW o seu desenvolvimento. 

    b) A construção de páginas fechadas em "micro-mundos", onde a coerência do discurso e das ambiências são maiores, mas exigindo um redobrado esforço de produção.

    A opção não é fácil. Apesar de todas as dificuldades, sobretudo técnicas, mas também logísticas, a  experiência prossegue. Mais que não fosse, tem-se revelado um excelente processo de auto-formação nestas tecnologias. Recomenda-se portanto.

    Quando terminou o ano lectivo de 1999/2000, a avaliação da experiência que então foi realizada, revelou-se um dos momentos mais ricos de ensinamentos para todos os que nela participaram. Em breve daremos conta das conclusões mais relevante, e em particular das recomendações para o próximo ano.  

Junho de 2000."

"Carlos Fontes"

"Navegando na Filosofia começou por ser apenas um conjunto de recursos didácticos que começaram a ser produzidos, no ano lectivo de 1999/2000, para uma experiência pedagógica de ensino da filosofia, numa escola secundária de Lisboa. Rapidamente o projecto foi adquirindo uma dimensão cada vez mais ampla, não tardando em ultrapassar os objectivos iniciais. A opção quanto ao modelo a seguir ainda não está tomada. 

Neste momento, este sítio, está organizado em torno de três áreas principais com conteúdos relativamente autónomos: 1. Ensino da Filosofia no ensino secundário. 2. Educação. 3. Formação Profissional. A actualização de cada área, embora seja feita regularmente, não abrange bviamente todas as páginas ao mesmo tempo. 

Dezembro de 2000"

"Carlos Fontes"

 

Princípios Teóricos 

    Os recursos didácticos que constam nestas páginas são ainda fundamentalmente direccionados para o ensino da Filosofia no 10º. ano, e procuram materializar três ideias:

1.O ensino da filosofia deve partir de problemáticas que emergem da realidade envolvente dos alunos, proporcionando-lhe deste modo, um espaço de reflexão de vivências e experiências de vida, e no qual possam exercitar as suas capacidades de análise, conceptualização, deliberação e argumentação.

2. É urgente romper com a pedagogia por objectivos, enquanto forma atomizada de ensinar, substituindo-a por uma pedagogia com objectivos, onde seja promovida e aceite a complexidade e a incerteza da relação pedagógica. Aos alunos não pode continuar-se a exigir apenas a que se limitem a reproduzir ideias descontextualizados de filósofos, mas devem criar-se situações onde estes possam partir à descoberta de problemáticas, se exponham, escrevam e se expliquem. Ao professor exige-se o domínio didáctico dos conteúdos programáticos de forma a proporcionar e estimular esta reflexão e ex-posição dos alunos.

3. A utilização da Internet colocou ao serviço da comunidade escolar um poderoso instrumento para amplificar o diálogo interno, diversificar as perspectivas, obter sugestões, recolher comentários, possibilitando alargar os próprios horizontes. Múltiplas redes podem hoje ligar a sala de aula ao mundo. Nenhuma razão nos assiste, como professores, para continuarmos fechados entre quatro paredes.

Carlos Fontes

Setembro de 1999

Carlos Fontes

Experiência

Navegando na Filosofia