Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo, português ?

 

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44. Lugares de Colombo em Portugal

 

 

 

Algarve e Cristovão Colombo

 

Colombo conhecia muito bem toda a costa algarvia, quando foi para Castela fixou-se numa região da Andaluzia, que ficava a curta distância do Algarve. Muitos dos marinheiros desta região que participarem nas suas viagens, embora sejam frequentemente identificados como espanhóis eram na realidade portugueses ou de ascendência portuguesa. Mais

 

Numa carta mais intima que dirige ao seu filho Diego Colón (Sevilha, 1/12/1504), indica que uma caravela que partiu de Santo Domingo (Hispaniola) chegou ao Algarve, como sendo o local a partir do qual obteve a informação.

 

 

O Algarve até ao final do seculo XV, devido à sua posição geográfica (6), desempenhou um papel fundamental na expansão marítima de Portugal. Em certo sentido foi lá que tudo começou (2):

 

Os seus pescadores, marinheiros e  construtores navais algarvios acumulavam, no século XV, uma longa e sólida experiência náutica. Gil Eanes, natural de Lagos, é um dos seus maiores símbolos.

 

Os vários portos do Algarve (Alcoutim, Castro Marim, Faro, Alvor, Silves, Portimão, Lagos, etc), constituíram nesta época a estrutura logística indispensável para sustentar os descobrimentos marítimos e as várias conquistas no Norte de Africa.

 

A proximidade ao norte de África, ao estreito de Gibraltar (porta de entrada e saída do Mediterrâneo), mas também a sua vizinhança com a Andaluzia, foram factores que estimularam o comércio marítimo, as viagens de longas distâncias, mas também a própria expansão.

 

Não nos podemos esquecer que as costas do Algarve eram pontos de escala obrigatório dos navios que vindos do Mediterrâneo se dirigiam para o Norte da Europa e vice-versa. A passagem do cabo de S. Vicente obrigava frequentemente os navios a longas esperas junto ao mesmo, até que surgissem ventos propícios para o ultrapassarem.

 

A abertura do Algarve ao mar, expunham-no mais do que que qualquer outra região de Portugal a ataques de corsários e piratas, que saqueavam as povoações e faziam milhares de cativos (3), obrigando as suas populações a uma permanente vigilância, mas também levando-a a desenvolver as artes da guerra. Os algarvios eram recrutados à força em grande número para as conquistas no norte de África, mas também para a sua defesa(4).

 

Foi por todas estas razões que entre 1415 e 1460, o Infante D. Henrique, Duque de Viseu e mestre da Ordem de Cristo (5), fez do Algarve a sua base de apoio para desenvolver e dirigir forma sistemática os descobrimentos geográficos, dando um impulso igualmente decisivo à colonização das ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde.

 

Colombo revela nos escritos um profundo conhecimento do Algarve, região onde se inicia a sua mítica "chegada" a Portugal. 

 

 

1. Cabo de São Vicente

 

Este era a principal referência para os seus cálculos de navegação e sobre o globo terrestre, aparece também associado a actividades corsárias.

 

Estabelece as suas coordenadas a partir do Cabo (Diário, 27/2/1493). A 14 de Setembro de 1494, estando na ilha de Saona (junto a Hispaniola), quando ocorreu um eclipse solar calcula a distância entre esse ponto e o Cabo S. Vicente. Calcula a distancia de Catigara (China) a este cabo (Textos, 488). A posição de Odemira, tem como referências extremas Lisboa e o Cabo S. Vicente (Hernando Colon, ob.cit, cap.LXIII).

 

Este Cabo, os Açores, Cabo Verde e a Serra Leoa são os seus pontos fundamentais para imaginar a forma da Terra (Textos, 377).

 

Faz referencia a um ataque de corsários franceses a um navio que ia Palos para Lisboa, carregado de trigo (28/5/1498). A presença destes corsários leva-o a adiar a partida para a sua terceira viagem à América. Dá conta que a sua rota habitual para as Canárias era na direcção do Cabo de S. Vicente (Textos, 369), o que fora obrigado a alterar. Seguiu então na direcção da Ilha da Madeira (Textos, 384). Trata-se de uma desconexa explicação para justificar a sua longa visita às Ilhas de Porto Santo e da Madeira.

 

O aparecimento de indicios a terras e povos a Ocidente são referenciados a partir do Cabo de S. Vicente.  Um piloto do rei de Portugal - Martim Vicente - encontrou a 450 léguas a poente deste cabo um pedaço de madeira lavrado, não com ferro (Hernando Colon, ob. cit, cap. 9).

 

Faz uma descrição do próprio cabo de S. Vicente (Diário, 1/1/1493),

 

A célebre historieta do naufrágio de Colombo, em 1476, num ataque corsário a navios genoveses, teria ocorrido entre Lagos e o Cabo de S. Vicente. Hernando Colon situa o naufrágio entre o Cabo de S. Vicente e Lisboa.

 

 

2. Vila do Infante. Raposeira

 

3. Faro

 

No regresso da sua primeira viagem às Indias (América), depois de sair de Lisboa, fez questão de ir a Faro. Mais

No 13 de Março de 1493, pelas oito horas da manhã, com a maré enchente e o vento de Noroeste levantou as ancoras e fez-se à vela para ir para Sevilha. A verdade é que passou todo o dia em Lisboa, pois regista no dia seguinte (14 de Março): "Ontem, depois do sol posto, seguiu o seu caminho para sul, e achou-se antes do sol nascer sobre o Cabo de S. Vicente, que é em Portugal".

O dia 14 de Março foi passado na cidade de Faro (Portugal), onde só saiu no dia depois do pôr do sol.

Neste dia teve mais do que tempo para visitar a vila da rainha Dona Leonor de Lencastre e antiga vila dos Conde de Faro, mas também de alguns dos seus familiares. 

Só no dia 15 de Março, pelo meio-dia, com a maré a montante entrou pela barra de Saltés (Espanha)

 

4. Tavira

 

Tavira fazia parte dos domínios da Ordem de Santiago de Espada, a que estava ligado Cristovão Colombo. Não admira pois, a multiplas referências a esta cidade algarvia.

 

João Arias, grumete, português. Era filho de Lope Arias de Tavira (Algarve). Consta da relação dos que foram pagos (1). 

 

No regresso, em Março de 1493, um familiar deste marinheiro - Pedro de Tavira - foi enviado por Colombo para a Galiza para informar os marinheiros e armadores dos diversos portos que estavam proibidos de irem por sua livre iniciativa às Indias. 

 

Colombo apenas confia em portugueses para esta missão. Como verificamos pelo menos três portugueses de uma mesma família são citados a propósito desta primeira viagem às Indias. Estamos perante mais uma demonstração do seu empenho, antes e depois no sucesso da primeira viagem espanhola às Indias....

 

Recorde-se que o navio de Pizón, perdeu-se durante a viagem de regresso e foi parar às costas da Galiza. Colombo temia que o mesmo tivesse divulgado informações inconvenientes. Na Corte espanhola, Alvaro de Bragança, chama também a si o controlo da família Pinzon.

 

Tavira aparece associada à ilha que um seu morador e navegante - Vicente Dias - teria descoberto a Ocidente. Uma história narrada por Hernando Colon (Colon, cap. 9) e Las Casas (Hist. das Indias, Livro I, cap.13).

 

Outras das personagens ligadas a Tavira e referidas nos escritos é a família Corte Real, exploradores da Terra dos Bacalhaus. Mais

p.

 

5. Lagos

 

Lagos pertencia ao Infante D. Henrique, onde passou uma boa parte da sua vida.O infante era uma referência incontornável, nomeadamente para datar expedições a Ocidente (Hernando Colon, ob.cit, cap. 9). A vila e a fortaleza de Lagos foram dadas também à rainha dona Leonor, com quem Colombo se encontrou, em Março de 1493, no Convento de Santo António da Castanheira.

 

Era também o principal porto dos corsários e piratas portugueses, muitos dos quais foram apoiar o Duque de Coimbra, mestre da Ordem de Aviz, quando este se tornou rei da Catalunha e de Valência. Recorde-se que Colombo, pouco depois andou também a combater no Mediterrcontra Fernando de Argão e tinha como bandeira pessoal a cruz verde da ordem de Aviz. Mais

 

Lagos foi também uma das bases do célebre corsário - Colon, o Moço - que Hernando Colon afirma ser parente de Cristovão Colombo e com o qual andou no saquear, por exemplo, navios genoveses. Foi daqui que este corsário conduziu D. Afonso V a França, e partiu, em 1476, acompanhado de Pedro de Ataíde, a saquear navios genoveses. Nesta mítica batalha Colombo terá naufragado. 

 

 

6. Silves

 

A família da esposa de Colombo - Filipa Moniz Perestrelo - eram originários de Silves. Mais

 

Carlos Fontes.

 

Notas:

(1)  cfr. Arch. Alba. Ms. Impresso. Nuevos autógrafos, pág.9.

(2) Iria, Alberto - Descobrimentos Portugueses: O Algarve e os Descubrimentos. Tomos I e II. Inst. Nac. Invest. Cient. Lisboa. 1988.

(3) A bibliografia sobre os cativos portugueses, nomeadamente os algarvios, conta já com alguns importantes trabalhos: Maria Angela V. Rocha Beirante - O Resgate de cativos nos reinos de Portugal e Algarve (séculos XII-XV). Actas da III Jornada de Historia Medieval do Algarve e Andaluzia. Loulé. C. M. Loulé. 1989. pp.273-282; Edite da Conceição martins Alberto - As Instituições de Resgate de cativos em Portugal no século XV. 2 vols. Dissertação de Mestrado de Hist. dos Descob. e Expans. Portu. FCSH -UNL 1991; etc.

(4) Moreno, Baquero - "Abusos e violência no Reino do Algarve durante o reinado de D. Afonso V, in, Exilados, Marginais e Contestários na sociedade portuguesa medieval. Editorial Presença. Lisboa. 1990

(5) Iria, Alberto - Itinerários do Infante D. Henrique. Estudos Algarvios. XVII. Casa do Algarve. 2ª. Edição. Lisboa. 1989.

(6) Iria, Alberto - A Importância Geo-política do Algarve na defesa maritima de Portugal nos séculos XV a XVIII. Academia Portuguesa da História. Lisboa. 1976

 

 

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  Carlos Fontes
 
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