Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

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Duques de Beja-Viseu  

 

Colombo esteve sempre ligado a membros das duas principais casas da nobreza em Portugal, que acabaram por herdar os seus títulos em Espanha. Tudo aponta, como veremos, para que tenha andado ao serviço da casa dos duques de Beja-Viseu.

1. Duques de Beja - Viseu

Depois do rei, este duque era a principal figura da nobreza de Portugal.

A família da sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo -, faziam parte da casa dos Duques de Beja-Viseu.

A "fuga" de Colombo para Castela, em fins de 1484 ou princípios de 1495, coincide com a conspiração contra D. João II, protagonizada por D. Diogo, Duque de Viseu e de Beja, mestre da Ordem de Cristo e senhor dos arquipélagos da Madeira, Açores e Cabo Verde e muitos outros domínios. O seu filho Hernando Colon afirma claramente que se tratou de uma "fuga" de Portugal.

As conspirações de 1483 e 1484, envolveram deste modo, a própria família de Filipa Moniz Perestrelo, donatária da Ilha de Porto Santo (Madeira). Vários membros da sua familia, como Colombo, fugiram para Castela, fixando-se na Andaluzia.

Em Huelva e Sevilha viveu sempre em casa de membros deste ducado, que aí se haviam exilado. Fez questão de dar o nome de Diogo ao seu filho primogénito, o nome do duque assassinado.

Em 1488, autorizado por D. João II, assiste em Beja, nos paços deste ducado, à exposição de Bartolomeu Dias dos resultados da viagem ao cabo da Boa Esperança.

No regresso da primeira viagem à América (1493), dirigiu-se para a Ilha de Santa Maria (Açores), domínio dos duques de Beja.

Em Portugal continental, reúne-se durante um dia, no Convento de Santo António da Castanheira, com Dona Beatriz, Duquesa de Beja-Viseu, e os seus filhos - a rainha Dona Leonor de Lencastre e o futuro rei - D. Manuel, então duque de Beja. Mais

A última escala que faz em Portugal foi em Faro, vila algarvia, que pertencia à rainha Dona Leonor. Mais

Durante anos andou a entreter os espanhóis nas Antilhas, só em 1498 resolveu ir à terra firme que D. João II lhe havia falado existir. Fê-lo quando Vasco da Gama havia um ano que partira para a India e D. Manuel (rei e antigo Duque de Beja), foi aclamado rei de Castela.  A sua rota é muito significativa: Foi na direcção da Madeira e Cabo Verde, domínios dos Duques de Beja-Viseu, onde é recebido de forma entusiástica.

As expedições marítimas para Ocidente que faz referência nas suas célebres notas foram maioritariamente organizadas pela casa dos duques de Beja-Viseu.

Restam poucas dúvidas que era um dos seus servidores.

Na história dos Duques de Viseu-Beja é necessário ter em conta as seguintes personagens históricas, para uma correcta compreensão do envolvimento com esta casa ducal: 

1.1. Infante D. Henrique

Duque de Viseu, mestre da Ordem de Cristo. Faleceu em 1460, e deixou os seus bens, Ducado de Viseu e a Ordem de Cristo ao Infante D. Fernando.

1.2.Infante D. Fernando (1433-1470)

Duque de Viseu e de Beja, Condestável de Portugal, Fronteiro do Alentejo e Algarve, etc. Era filho mais novo de D. Duarte, era casado com a Infanta Dona Beatriz (3), que veremos em maior detalhe.

Herdou do Infante D. Henrique, o Ducado de Viseu (1460), o senhorio da Covilhã e Algarve, os arquipélagos da Madeira, Açores e Cabo Verde e a administração da Ordem de Cristo  (1460-1470). A este vasto património que associou a administração da Ordem de Santiago (1444-1470), além do Ducado de Beja (1453) e os senhorios de Moura e Serpa, e parte dos exclusivos do fabrico de Sabão, das pescarias e do corso.  

Este Infante terá participado em expedições marítimas para Ocidente. 

1.3.Infanta Dona Beatriz ( 1433-1506)

Uma das mulheres mais extraordinárias e poderosas do século XV em Portugal. Filha do príncipe D. João, irmão do rei D. Duarte, era neta do Mestre de Avis, D. João I, e bisneta do Condestável, D. Nuno Álvares Pereira.

Casou, em 1447, com seu primo, o infante D. Fernando, de quem teve oito filhos, entre os quais se devem reter os seguintes:

a) D. João, primogénito. Morre em 1473, sucedendo-lhe o seu irmão D. Diogo.

b) D. Leonor de Lencastre, rainha de Portugal, casada com D. João II; 

c) D. Diogo de Lencastre (-1484), Duque de Beja e de Viseu, mestre da Ordem de Cristo. Foi assassinado, por D. João II, seu cunhado;

d) D. Manuel, sucedeu ao seu irmão D. Diogo. Duque de Beja, senhor de Viseu, mestre da Ordem de Cristo, rei de Portugal;

e) D. Isabel de Lencastre (1459-1521), casou-se com D. Fernando, Conde de Guimarães e 3º. Duque de Bragança. Após o seu marido ter sido decapitado, em 1483, mandou para os seus filhos para Castela, onde desfrutavam de uma verdadeira corte.

1.3.1. Governo da Ordem de Cristo e de Santiago

Tendo D. Fernando falecido  em 1470, D. Beatriz, assume com grande firmeza o governo do seu vasto património, incluindo a administração da Ordem de Cristo, o que a torna numa das mulheres mais ricas do seu tempo (4).

Após a morte do Infante D. Fernando, os mestrados da Ordem de Cristo e de Santiago foram herdados pelo primogénito D. João. Tendo este morrido prematuramente em 1473, D. Afonso V resolveu autorizar que D. Diogo, filho do Infante, herdasse apenas um dos mestrados, o da Ordem de Cristo, assim como o título de Condestável de Portugal (consultar).

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Dona Beatriz de Lencastre dada a menoridade dos seus filhos acabou por governar a Ordem de Santiago entre 1470 e 1473, e a Ordem de Cristo entre 1471 e 1483 (a partir de 1474, com autorização papal). Um acto inédito na história das ordens militares.

 

A Casa dos Duques de Viseu, sob a direcção do Infante D. Fernando foi a grande impulsionadora das viagens para Ocidente. Uma acção que foi prosseguida por Dona Brites depois da morte do seu marido.

 

 A 2/4/1474, vemo-la a recompensar João Vaz Corte Real, pela descoberta da Terra Nova (Canadá), dando-lhe uma parte da ilha Terceira (Açores).

 

1.3.2. Guerra entre Portugal e Castela (1475-1479)

 

Durante a guerra de Portugal com Castela (Guerra da Sucessão), de 1475 a 1479, Dona Beatriz, teve uma acção de enorme relevo, não apenas na obtenção da paz, mas também em garantir a continuidade dos seus domínios nos Atlântico.

 

Quando se iniciou a guerra, em 1475, Dona Beatriz e Isabel, rainha de Castela e sua sobrinha, iniciaram quase de imediato conversões clandestinas.

 

Dona Beatriz, serviu de intermediária aos emissários que a sua sobrinha enviou a Portugal para aqui arranjarem aliados (6). No ano seguinte, desloca-se ao Porto para conversar com D. Afonso V, tentando-o demover da ideia de envolver a França no conflito.

 

 

A paz entre os dois reinos Ibéricos, em 1479, foi obra sua. As negociações foram por si conduzidas, tendo-se encontrado com Isabel, a católica, em Alcântara (Castela).

 

Com magistral habilidade conseguiu preservar os seus vastos domínios além mar, evitando que os mesmos pudessem servir de moeda de troca entre as duas cortes.

 

O Tratado de Alcáçovas, que selou a paz entre Portugal e Castela (1479), foi assinado nesta vila alentejana, onde casou e tinha uma residência.

 

Intervenção de Cristovão Colombo ?

 

Numa das declarações mais enigmáticas de Colombo, refere que quando tinha 28 anos de idade, isto é, por  volta de 1475, entrara ao serviço de Isabel, a Católica (7).

 

Terá sido um dos negociadores de Dona Beatriz - Isabel de Castela, nestas negociações secretas que decorreram durante a guerra? 

 

 

 

1.3.3. Terçarias de Moura

É também protagonista das Terçarias de Moura, acordadas em 1479, que se destinavam a manter como reféns nos seus domínios, dois noivos até terem idade para se casarem: o seu neto, o principe D. Afonso e a infanta D. Isabel, filha dos reis de Castela e e Aragão. Os seus filhos D. Diogo e D.Manuel foram, alternadamente para Castela, também como reféns. A morte prematura do príncipe, em 1491, deitou por terra este projecto matrimonial, com o qual D. João II, pretendia manter-se em paz com Castela e alcançar uma União Ibérica debaixo do domínio de Portugal.

Desfrutava de um enorme poder sobre a Costa Ocidental de África e os arquipélagos dos Açores, Madeira e Cabo Verde, tendo desistido em 1479 do domínio das Canárias. 

 

1.3.5. Conspirações contra D. João II (1483-1484)

 

Dona Beatriz esteve seguramente envolvida, em 1483 e 1484, nas conspirações contra o seu genro - D. João II -, durante as quais foi assassinado pelo próprio rei o seu filho Diogo.

 

Na última conspiração refugiou-se no Castelo de Palmela, sede da Ordem de Santiago, da qual foram administradora. Apesar disto, não foi presa ou molestada, outros agiram por ela, como foi o caso do seu filho Diogo e dos Albuquerques de Angeja.

 

Depois da morte do seu filho, passou a alimentar um ódio de morte a D. João II. É muito provável que tenha negociado com a sua sobrinha, Isabel, a Católica, a entrega de certos segredos geográficos de Portugal, em troca da protecção dos interesses da sua familia (5).

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1.4. Rainha Dona Leonor de Lencastre

 

A Rainha Dona Leonor de Lencastre, filha do Infante D. Fernando e de Dona Beatriz, assumindo-se como herdeira das ligações dos seus pais, e comungando das duas ideias, fez questão de convidar Cristovão Colombo para um encontro no Convento de Santo António da Castanheira, tendo ao seu lado o seu irmão D. Manuel, Duque de Beja e futuro rei de Portugal. A historiadora Manuela Mendonça afirma que neste encontro esteve também presente Dona Beatriz. Mais

 

Duques de Bragança - Casa de Bragança

Carlos Fontes

  Notas:

(4) Financia e dirige a construção do Convento da Conceição em Beja (clarissas), panteão dos Duques de Beja, cujas obras se prolongarem entre 1459 e 1503. Estamos perante um edifício proto-manuelino, muito próximo do Convento de Jesus (Setúbal), convento franciscano de Serpa (com o símbolo do Infante D. Fernando) e do convento de S. Francisco de Évora.

 

Nas suas vastas propriedades em Azeitão (Palmela), mandou construir uma residência senhorial conhecida no principio do século XVI por "Quinta da Condestablessa", a qual foi adquirida por Brás de Albuquerque (filho de Afonso de Albuquerque), que deu ao primitivo edificio a forma que hoje possui. No inicio do século XVII, após nova aquisição passou a ser conhecida por Quinta da Bacalhoa.

 

(5) O significado do seu símbolo, no Convento de Beja, continua a ser um mistério: um "Y" ( de Infanta ?), enquadrado por "quatro folhas de serra", segundo uns, ou um bordado num bastidor segundo outros. Há sobre este caso interpretações para todos os gostos.

 

(6) Os enviados por Isabel foram Frei Pedro de Marchena, Frei Afonso de S. Cipriano e Diego de Garcia de Hinestrosa. Cfr. Palência, Alonso - Crónica de Enrique IV, tomo III

 

 

(7) "Yo entré a vuestro servicio cuando tenia la edad de veintiocho años." , Colombo. Jamaica, 7/7/1503.

 

 

 

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