Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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17. Lugares em Espanha

 

 

 

San Juan del Puerto, Palos, Moguer, Huelva, Lepe e Ayamonte

 

( Silvas de Toledo, Condes de Cifuentes, Portocarreros, Condes de Miranda, Duques de Medina Sidónia )

 

 

Colombo em 1485 refugiou-se na região de Huelva, dirigindo-se primeiro para San Juan del Puerto, e só muito depois, em data incerta, foi ao Mosteiro de la Rábida. Partiu de Palos na sua 1ª. Viagem às Indias.

 

Porque escolheu esta região ? Razões não lhe faltavam.

 

Conquista Portuguesa

 

A região de Huelva (Ayamonte, Lepe, Gibraleón, Palos, Paymongo, Moguer, etc ) foi conquista por cavaleiros portugueses da Ordem de Santiago de Espada no século XIII.

Grande parte da Andaluzia foi reconquistada com a ajuda de nobres portugueses. Nesta região em concreto salientou-se o português D. Paio Peres Correia (D. Palayo Pérez Correa, em castelhano), Mestre da Ordem de Santiago, mas também esteve ligado à conquista de cidades como Jaén, Carmoma, Alcalá de Guadaira, Sevilha e outras. Trata-se de uma questão importante, pois Colombo e a sua família tinham uma ligação muito especial a esta Ordem Militar-Religiosa.

O mesmo ocorreu no Algarve, a Ordem de Santiago conquistou as suas principais cidades: Faro, Loulé, Albufeira, Aljezur, Tavira, Cacela, Silves e Castro Marim (mesmo na fronteira). 

Colombo, como veremos, tinha uma especial ligação a esta ordem militar. No regresso da sua 1ª. Viagem às Indias, fez questão de parar um dia no Algarve, na cidade de Faro. Na 2ª. das Indias dirigiu-se para Odemira (Vila Nova de Mil Fontes), outra localidade desta Ordem Militar. Os exemplos são muitos.

Antigo Território Português

A posse da região de Huelva pertenceu, durante mais de um século a Portugal. Ayamonte, por exemplo, foi doada a Castela, em troca de Olivença e Campo Maior. O nome de algumas da suas povoações, como Paygomo (paimogo) ou Ayamonte (aimonte) são inequivocamente de origem portuguesa.

Grandes Comunidades de Portugueses

Em todas as povoações da região de Huelva no século XV existiam enormes comunidades de Portugueses. Muitos destes portugueses, como vimos, para não terem problemas com as autoridades castelhanas diziam-se "naturais" ou "vizinhos" destas povoações. A proximidade de Portugal facilitava este disfarce/afinidade. Os portugueses estavam presentes em todas as actividades económicas, tendo particular importância no comércio, actividades marítimas e no tráfico de escravos.

Na década de 80 do século XV, quando o Duque de Medina Sidónia pretendeu repovoar a região, a grande parte dos colonos eram portugueses. Entre eles contavam-se os cunhados de Colombo...

As comunidades judaicas da região estavam naturalmente ligadas às de Portugal. Os judeus de Moguer, por exemplo, quando foram expulsos, em 1492, vieram na sua maioria refugiarem-se em Portugal.

Comércio Intenso com Portugal e as Fortalezas portuguesas do Norte de África

A região de Huelva fazia parte do eixo comercial entre Lisboa e Sevilha. Como terra de fronteira, uma parte significativa dos seus rendimentos provinham do contrabando e do tráfico de escravos, provenientes de África.

Palos, Moguer e em outros portos da Andaluzia como El Puerto (Cádiz), existiam importantes comunidades de portugueses que trabalhavam no abastecimento das cidades e fortalezas portuguesas no Norte de África (Ceuta, Arzila, Alcácer Seguer, Tanger, Larache, Safim, Aguz, Meças, etc). Este comércio era uma das principais fontes de rendimento destes portos e dos seus senhores

Nobres de Origem Portuguesa ou ligados a Portugal

A região de Huelva era no século XV, provavelmente a região de Castela e Espanha onde existia maior concentração de famílias nobres de origem portuguesa, ou que haviam estado ligados à defesa de D. Afonso V na guerra de 1475-1479.

 

Na hora de decidir a melhor local para se fixar em Espanha, Colombo não teve dúvidas em escolher a região de Huelva. A proximidade do sul de Portugal era um importante factor a ter em consideração, pelos apoios que poderia daqui receber. A distância podia ser facilmente percorrida numa única jornada por terra ou mar. 

 

 

 

a ) San Juan del Puerto (Huelva)

 

Foi aqui se fixou, em 1484 (?), Briolanja Moniz Perestrelo depois de fugir Portugal, na sequência das conspirações de 1483/84 contra D. João II. O Duque de Medina Sidónia e Conde de Niebla - Enrique Pérez de Guzmán Meneses y Fonseca (1468-1492), arrendou-lhe uma enorme propriedade nos esteiros da ribeira direita do Rio Tinto na direção de Trigueiros.

 

Briolanja Moniz desfrutava desde 1484 na região de Huelva uma importante posição social, tendo em conta a vasta extensão da propriedade que arrendou.

 

Várias fontes afirmam que, outros cunhados de Colombo estabeleceram-se perto de Huelva, antes de 1485:  Izeu Perestrelo de Mendonça e Pedro Correia da Cunha (1440-1497), o qual segundo o próprio Colombo afirmou, foi quem lhe forneceu algumas provas da existência de terras a Ocidente.  

 

Colombo quando saiu de Portugal dirigiu-se para a casa da sua cunhada Briolanja Moniz em San Juan del Puerto, levando consigo o seu filho primogénito - Diogo Colon. Ambos terão ficado aqui alojados.

 

 

b) Palos

 

1. Porto (Puerto)

 

Porto em frente da cidade de Huelva, junto qual fica o Convento de la Rábida, não muito longe Moguer ( 7 quilómetros). Era dificil encontrar um lugar mais português, em toda a Andaluzia, no século XV. 

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Colombo nunca se afastou de Portugal, nem dos domínios da Ordem de Santiago no Alentejo e Algarve. 

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Huelva no século XV, fazia parte do domínio do Duque Duque de Medina-Sidónia, um dos principais protectores de Colombo e aliados de Portugal. Palos pertencia a vários senhores que disputavam a sua posse.

 

Foi Colombo ou os reis Católicos que sugeriram o porto Palos para a 1ª. viagem ás Indias ? Não o sabemos, mas este tinha todas as razões para o sugerir: 

 

No século XV, grande parte de Palos pertencia a uma familia nobre de origem portuguesa - os Silvas de Toledo, Conde de Cifuentes.  O Conde de Plasencia era no inicio do século o senhor de Palos. A proprietária Isabel de Castañeda, da familia dos Almirantes de Castela, casou com o Conde de Cifuentes, Alfonso de Silva, alferes maior do rei. Foi a partir daqui que Palos passou para os Cifuentes, que cederam uma parte aos Medina-Sidónia e a outra aos Conde de Miranda de Castañar. Estabeleceram um acordo entre eles: não venderem mercadorias, a mouros e a outros inimigos de Portugal !  

 

Isabel, a Católica procurou adquirir este domínio aos Silvas, negociando com  María Gómez Silva e a sua irmão Leonor, religiosas no convento de Mão de Deus de Toledo,  2/12 de "la heredad" que tinham no lugar de Palos, a que se seguiu novas negociações com outros silvas, incluindo o Conde de Cifuentes, Lope y Alonso de Silva ( possuidor 3/12).

 

Não admira que Isabel da Silva, apareça no inicio do século XVI a proteger a familia Colombo, substituindo a Marquesa de Montemayor (marquesa de Montemor-o-Novo, de Portugal).

 

Os Condes de Miranda era a outra familia mais poderosa de Palos. Estes Condes pertenciam à Casa de Zúñiga que apoiaram activamente a causa de Dona Joana, a Beltraneja e de D. Afonso V, rei de Portugal. Os Zuniga, ligaram-se à familia Pimentel (Condes de Benavente), nobres portugueses que fugiram para Castela, um dos membros desta união foi o conhecido Juan de Zúñiga y Pimentel, último "Gran Maestre de la Orden Militar de Alcántara".   

 

 

2. Acordos de Comércio e Pescarias do Rei de Portugal com Palos e Moguer

 

Dada a proximidade de Palos do sul de Portugal, não admira que os seus navios pescassem nas costas do Algarve, e que na tripulação de navios portugueses andassem andaluzes e vice-versa.

 

Não admira que D. Afonso V,  a 6 de Outubro de 1468, passa-se uma carta de seguro para que os marinheiros de Palos pudessem andar em águas portuguesas a fazer comércio. 

 

D. Afonso V, a 1 de Novembro de 1468, arrenda as pescarias do Rio de Ouro, ao armador de Palos - Álvaro Alonso Rascón (12), que mais tarde veio a ser condenado pela Inquisição espanhola (13). Em 1492 era o alcaide de Palos, conjuntamente Diego Rodríguez Prieto.

 

Estes acordos só seriam possíveis se os reis de Portugal tivesse confiança nos marinheiros de Palos e de Moguer, ao ponto de os individualizarem na Andaluzia e em relação a Castela.

 

 

3. Corsários e Piratas

 

A historiografia espanhola esforça-se por mostrar que os marinheiros de Palos viviam em guerra permanente contra Portugal, o que é uma completa falsidade. Estes ataques decorreram quase sempre em momentos da guerra entre Portugal e Castela, como a que ocorreu na guerra de 1476-1479 (15).

 

A verdade é que os ataques que realizaram contra navios portugueses são muito poucos quando comparados com os fizeram a navios galegos, sevilhanos, castelhanos, aragoneses, valencianos, biscainhos, maiorquinos, etc.

 

Consultando toda a documentação existente sobre Palos e Moguer (14), podemos constatar facilmente que atacavam de forma indiscriminada  os navios destas regiões.

 

Os períodos de guerra de Castela contra Portugal foram particularmente aproveitados pelos marinheiros de Palos e Moguer para roubarem os navios dos seus vizinhos de Palos, Moguer, Lepe, San Juan del Puerto ou do Puerto de Santa Maria.

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Em conclusão, podemos afirmar que lendo estes documentos, os piratas e corsários de Palos e Moguer são maioritariamente portugueses se tivermos em conta a escolha das suas vítimas, quase todas de regiões que correspondem à Espanha atual.

 

Alguns exemplos de roubos dos piratas-corsários de Palos:

 

1477 - Vicente Yanes Pinzon, natural de Palos, ataca navios do reino de Aragão, nas costa da Catalunha. Não consta que alguma vez tivesse atacado um navio de portugueses. Acompanhou Colombo na sua primeira viagem à Asia (Indias).

 

idem - Sentença para que devolvam a caravela que roubaram a Juan Berenguer, mercador de Valência.

idem - Ordem para o alcaide de Palos sequestrar os escravos que estes piratas-corsários de Palos apanharam nas Canárias.

Idem - Juan de la Guerra e Alfonso Izquierdo, vizinhos de Palos, apropriaram-se do quinto do saque de vizinhos de Palos.

Alfonso
Izquierd

idem - Roubam uma caravela a Juan de Melo, vizinho de Bermeo (Biscaia)

idem - Sebastián Rodríguez e Juan Diaz, residentes em Lepe (Huelva), exigem a devolução do roubo de armas e escravos que os marinheiros de Palos lhes fizeram.

Idem - Garcia de Escandón, vizinho do Puerto de Santa Maria, acusa corsários de Palos de lhe roubarem uma caravela.

idem - Juan Gente e outros moradores de Palos são acusados de andarem a roubar os seus vizinhos.

idem, Alfonso Fernandes Rascon (corregedor e alcaide Palos) e Alfonso Velez são condenados a entregarem o quinto de certa quantia de escravos que se haviam apropriado.

 

1478 - Os corsários-piratas de Palos e Moguer, andam com portugueses a fazerem assaltos nas Canárias, sendo acusados de terem tomado como escravos cristãos de la Gomera.

 

1479 - Martin Alonso Pinzon, natural de Palos, ataca navios de Ibiza.

 

1483 - Atacam o navio do galego Francisco Gomez, regedor de Noya.

1483 - Atacam o navio de um mercador de Mallorca

1483 - Atacam um navio castelhano, de Diego Fernandez de Valladolid. 

1484 - Atacam o navio de Pedro Bueno de Jerez (Andalucia).

1485 - Atacam o navio de um mercador de Sevilha, Juan Jimenez

1485 - Roubam mouros trazidos da Guine, que pertenciam a Juan de Moya, morador de Moguer.

1486 - Sucedem-se os actos de desobediência contra a corte espanhola.

1488 - Obrigados a devolverem uma caravela roubada a um mercador de Jerez

1491 - Roubam a caravela do continuo castelhano Bartolomé de Byar.

1493 - Roubam o navio de Alfonso de Salas, castelhano

 

 

Não admira que Colombo quando abandonou Portugal se tivesse fixado nesta região, e escolhesse Palos para iniciar a sua primeira viagem à Ásia (Indias). O local ideal para um corsário com um longo percurso de saques ao serviço do rei de Portugal. Mais

 

 

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O Castigo dos Reis Católicos

 

A escolha de Palos foi assumida pelos reis católicos como um castigo contra os seus habitantes.

 

Na Ordem Real de 30 de Abril de 1492, dirigida ao alcaide de Palos ( Diego Rodríguez Prieto ), e outras pessoas seus companheiros e vizinhos afirmava que "por algumas cosas fechas e cometidas" por eles "en deservicio" os reis católicos, o Conselho os havia castigado a servir os reis com duas caravelas armadas à sua custa durante dois anos e que as deviam colocar à disposição de Colombo (Cristóbal Colón) para ir "a certas partes de la Mar Oceana para ciertas cosas que reqquiere nuestro servicio".

 

Tratava-se de um castigo, mas porquê ? Por terem andado em revoltas sucessivas a favor de Portugal? Andarem a atacar de forma sistemática navios "espanhóis" ? Não o sabemos. A questão não foi pacífica, nomeadamente entre os marinheiros de Palos. 

 

No dia 20 de Junho de 1492, numa nova ordem transmitida por Ruan de Peñalosa, agora dirigida a todas as autoridades da costa da Andaluzia, requeria-se 3 caravelas e prometia-se perdão das penas a todos os presos que quisessem participar na expedição. Uma prática muito utilizada em Portugal. O que aconteceu é que não foram precisas confiscar caravelas, as mesmas apareceram de imediato:

 

- Caravela "La Nina". Era uma caravela tradicional, com cerca de 17 metros e com velas latinas (triangulares) ligadas entre si por vergas. A sua construção foi uma das maiores invenções nauticas realizadas pelos portugueses no século XV. Tinha casco largo, calava pouca água, tinha um , dois ou três mastros. Estas características permitiam-lhe grande mobilidade nas manobras e a tomada de um rumo que podia fazer um angulo de 50º. com a direcção do vento. Foi pilotada por Pedro Alonso Niño e comandada por Vicente Yanés Pinzón de Palos. Colombo regressou nesta caravela e foi nela que entrou no porto de Lisboa em Março de 1493. 

 

- Caravela "Pinta". Afirma-se (sem provas) que a mesma pertencia a um grupo de Palos. O seu verdadeiro proprietário parece ser o português Fernando Afonso Pinto.  A pinta era o mais rápido de todos os três navios. Media 17 metros de cumprimento e tinha velas quadradas. Na 1ª. expedição foi comandada por Martín Alonso Pinzón, irmão do anterior.

 

- Caravela "Santa Maria". Colombo designava-a por nau, por ser um navio mais rebusto e usado pelos portugueses no transporte nas esquadras. O seu nome anterior parece ter sido o de "La Galega" ou "La Marigalante". Nomes demasiado espanhóis que Colombo fez questão de anular. Era a maior de todas. Tinha 39 metros de cumprimento e 233 toneladas. O seu mestre e proprietário era Juan de La Cosa, marinheiro que durante largos anos navegou ao serviço dos reis de Portugal e foi um dos cumplices de Colombo. Santa Maria era a nau almirante, onde seguia Colombo e Juan de La Cosa. A nau foi afundada nas Antilhas, numa operação que visou aniquilar dezenas de informadores da corte espanhola.

 

Apesar desta disponibilidade meios navais, continuou a manifestar-se alguma resistência em preencher a tripulação das caravelas, sobretudo com aqueles que pouco ou nada iriam lucrar com a expedição. O número de criminosos que embarcou pouco ultrapassaria as duas dezenas. As resistências foram vencidas graças à intervenção de Pedro Vasques de Fronteira (português), que então se encontrava em Palos, mostrando que os portugueses já conheciam as terras que eles se íam apoderar. As suas indicações quanto à rota a seguir foram escrupulosamente seguidas por Colombo, como é expressamente referido no seu Diário de Bordo.

 

Na 2ª. Viagem de Colombo, o porto escolhido pelos espanhóis foi Cádiz, muito mais longe de Portugal. A Corte tinha fundadas razões para pensar que andava a atraiçoá-la, mesmo assim, Colombo estava em domínios de nobres comprometidos com Portugal: Os Condes de Cádiz e Os Duques de Medina-Sidónia.

 

Recorde-se que o nome actual de Palos - Palos de la Fronteira - está ligado a um acto de traição dos locais ( os Condes de Ayamonte) que no século XVII facilitaram a incursão dos portugueses até ao Rio Tinto, estabelecendo deste modo a fronteira de Portugal com a Espanha a partir de Palos.

 

Na primeira viagem, a tripulação dos navios em Palos era maioritariamente formada por corsários e bandos de marginais, muitos dos quais portugueses. O nome de "Colon" ao evocar o célebre pirata "Coullon", neste contexto, mostrava-se o mais ajustado. 

 

 

Monumentos: 

 

- Igreja de San Jorge. A igreja anterior foi destruida pelos Condes de Miranda, quando mandaram erguer esta Igreja, em meados do século XV, dedicaram-na a São Jorge. Porquê São Jorge ?

 

Como é sabido, os portugueses a partir da célebre Batalha de Aljubarrota (1385), em que derrotaram os castelhanos com a ajuda dos ingleses, adoptaram este santo como patrono de Portugal. Nesta Batalha, D. Nuno Alvares Pereira segurava um pendão com a imagem de São Jorge. Os portugueses em vez de gritarem nas batalhas por "São Tiago", como até aí faziam, passaram a gritar por "São Jorge". O sucesso da batalha ditou a difusão do culto do santo. Em agradecimento pela vitória D. Nuno mandou construir a capela de S. Jorge no próprio campo de batalha. O rei D. João I mandou que o castelo de Lisboa tivesse o nome do Santo. Muitos outros actos ao longo dos séculos demonstraram a ligação dos portugueses aos Santo. Na Península Ibérica, o Reino Aragão, também para se demarcar de Castela, no final do século XIV,  adoptou o culto de São Jorge.  

 

 

 

4. Convento de la Rábida, em Palos

 

A origem do Convento de La Rabida (5), junto ao porto de Palos, anda envolta de enormes mestificações. A região como dissemos foi conquistada por um português - D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago. No século XIII, a igreja aqui existente, sob a evocação de Nossa Senhora dos Milagres, terá pertencido aos cavaleiros templários (Ordem do Templo). 

 

No século XV tornou-se num convento franciscano.

 

Lopez Gómara, sem qualquer prova, escreve que Colombo depois de sair de Portugal dirigiu-se a este convento para entregar o seu filho Diogo (1485-1492), durante durante 7 anos ao cuidado do frade e amigo português João Peres de Marchena (ou Frei António, nome adoptado na Ordem), o qual foi o seu mentor e representante nas negociações junto da corte espanhola. Trata-se de uma completa invenção, sem qualquer fundamento histórico, mas que continua a ser repetido ainda hoje.

 

Após o regresso da 1ª. viagem (15 de Março de 1493), durante 15 dias, Colombo esteve com ele reunido para delinearem a estratégia e os planos que seriam depois apresentados aos reis.  

 

Existe uma ligação ainda não estudada deste convento com Portugal. A Ordem do Templo tinha no Algarve, nomeadamente próximo de Palos, igrejas e fortificações, como a de Castro Marim, que foi a primeira sede da Ordem de Cristo (1319-1356). Devido à sua importante posição estratégica na luta contra os mouros, foi nesta fortaleza que se refugiaram muitos cavaleiros templários vindos de outros países europeus depois da extinção da Ordem por Bula do Papa João XXII (14 de Março de 1319).

 

Na serra da Arrábida, próximo de Lisboa, junto à sede da Ordem de Santiago de Espada (Palmela), desde pelos menos o século XIII que existiam igrejas e capelas de enorme devoção dedicadas a Nª.Srª. da Arrábida e Nª. Srª. da Pedra Mua (Cabo Espichel). No século XV também aqui os franciscanos criaram um local de recolhimento, uma pequena ermida. Em 1538, no Mosteiro de Guadalupe, D. João de Lencastre (1º.Duque de Aveiro) e um frade castelhano (Martinho de Santa Maria) decidem criar a célebre Congregação dos Frades Franciscanos Arrábidos, que se estabeleceu na serra da Árrabida que contou entre os seus mesmos S. Pedro de Alcantara. Recorde-se que os franciscanos estavam ligados desde o inicio aos descobrimentos portugueses, tendo no Algarve uma das suas maiores províncias em Portugal. 

 

 

 

c ) Moguer

Pequeno porto a cerca de 12 kam de Huelva. Moguer é um caso típico dos segredos que rodeiam a ida de Colombo para esta região, que teve ao longo dos séculos profundas ligações com o sul de Portugal, nomeadamente pelo corso, comércio marítimo e as pescarias.

A povoação de Moguer foi conquista pela Ordem de Santiago, em 1239/40, durante o mestrado de D. Paio Peres Correia (português), sendo anexada a Castela. Afonso XI entregou o seu senhorio ao almirante Alonso Jofre Tenorio (1333) ( 2 ) , e após a sua morte passou à sua filha a María Tenorio, casada com Martín Fernández Portocarrero, e depois aos filho de ambos Alonso Fernández Portocarrero, 1º conde de Medellim que casou com Dona Francisca Sarmiento. Os portocarrero eram portanto os grandes senhores de Moguer, facto que está bem patente no seu brasão.

Acontece que a familia dos Portocarrero (portocarreiro em português) era uma antiga familia nobre do Norte de Portugal, que só no inicio do século XIV passou a Castela. Martim Fernandes de Portocarreiro, o «Maior», foi justamente o primeiro a fazê-lo quando se tornou adiantado-mor de Leão e Astúrias (já o era em 1310), cargo que em 1311 acumulava com o de alvazil do rei em Segóvia, tendo-se casado com Dona Inez Fradique da Lombardia. Deste união nasceu o já citado Martín Fernández Portocarrero, 1º senhor de Vila Nova del Fresno, rico-homem do Conselho de Dom Afonso XI e mordomo-mor do infante Dom Pedro de Castela.

Os portocarreiro estão ligados à conquista da Andaluzia. Um dos seus membros portugueses -Dom Pedro Anes de Portocarreiro ( ? - 1251), esteve nas conquistas de Sevilha (1248) e do Algarve, nomeadamente nas tomadas de Mértola, Alfar da Pena, Ayamonte e Cancela (1239-40). 

Por mais estranho que possa parecer, dos portocarreiro descende D.Nuno Alvares Pereira e a própria Casa de Bragança ( 3 ).

Não admira que os Portocarrero se tenham distinguido no século XV na defesa dos interesses portugueses em Castela, e o brasão de Moguer seja muito semelhante ao de Portugal. 

Judeus. Moguer foi entre o século XII e 1492 uma das localidades da Peninsula Ibérica com maior número de judeus. Como é sabido, Colombo descendia de uma antiga familia de cristãos velhos (judeus) de Portugal.

Monumentos:

- Convento de Santa Clara, fundado em 1337, por D.Alonso Jofre Tenorio (arcebispo de Coimbra), era o panteão da familia de nobres de origem portuguesa, os Portocarreiro ( Portocarrero, em castelhano). Foi aqui que Colombo rezou no 16 de Março de 1493, no seu regresso da 1ª. viagem às Indias. Inés Enríquez era a abadessa do Convento ( 4 ).

- "Nuestra Señora de Montemayor". A virgem padroeira desta localidade, uma Nossa Senhora da Conceição, está ligada à célebre "Duquesa de Montemayor", ou mais exactamente a Duquesa de Montemor-o-Novo de Portugal, uma das protectoras da família Colombo e que se refugiou nesta região, vinda de Portugal, no mesmo ano que este navegador.  

 

 

 

d ) Huelva

A região de Huelva foi durante um século disputada pelos portugueses aos castelhanos. D. Sancho II, em 1240, doou à Ordem de Santiago Ayamonte, Gibraleón, Huelva e Saltés. Este território acabou por ser incorporado em Castela, passando a fazer parte dos domínios dos Conde de Niebla e Duques de Medina Sindonia, que sempre mantiveram uma estreita ligação a Portugal. 

A comunidade de portugueses foi sempre mito elevada nesta região, muitos dos quais se faziam passar por seus naturais.

Monumentos:

- Santuario de Nuestra Señora de la Cinta, em Huelva. Trata-se de um Ermida ao que se supõe construída no século XV, mas muito adulterado. A imagem que aí se encontra é muito posterior, e a sua iconografia não corresponde à de Nossa Senhora de Cinta. Acontece que os vestígios do retábulo antigo, datado de finais do século XV, ostenta uma inscrição em português, com o nome de quem o mandou fazer - Fernando Pinto. Mais

Acontece que em Portugal, o culto desta virgem era muito popular nos séculos XV em Alcácer do Sal, na Igreja dos Mestres da Ordem de Santiago, a mesma a que Colombo está intimamente associado.

A imagem existente em Alcácer do Sal, datada do século XIV ou princípios do XV, é inequivocamente uma Nossa Senhora da Cinta. O culto desta virgem terá sido levado de Alcácer para Huelva por portugueses.

A qual das imagens efectivamente se referia Colombo em 1493? Não há dúvida que só poderia ser à virgem de Alcácer do Sal.

- Igreja Paroquial de San Martin de Almonaster la Real (Huelva). A forte presença de portugueses na região de Huelva, está bem representada nesta curiosa igreja em estilo manuelino, de finais do século XV /princípios do XVI, construída por portugueses (6).

 

E) Ayamonte e Lepe (Huelva)

Região fronteiriça com Portugal, foi sempre marcada por uma forte imigração de portugueses. No século XV consolidou-se aqui um morgadio da família Zúñiga que abrangia Ayamonte, La Redondela e Lepe. No princípio do século XVI constituiu-se o marquesado de Ayamonte, cuja relação com Portugal foi sempre muito intensa.

Aquando da restauração da independência de Portugal, em 1640, o Marquês de Ayamonte e o duque de Medina Sidónia, aproveitam a ocasião para conspirarem contra os reis de Espanha, proclamando a Independência da Andaluzia. Descoberta a conspiração foram presos e confessaram. Francisco Manuel Silvestre de Guzmán y Zúñiga, VI Marquês de Ayamonte, morreu decapitado, em Segóvia, em 1648 (8).

O número de portugueses aqui radicados, nesta região da Andaluzia, nos séculos XV e XVI foi sempre muito elevado. Como temos vindo a afirmar, muito deles faziam-se passar nas expedições para as Indias espanholas como "vizinhos" de Palos, Mouguer, Huelva, Lepe, Ayamonte e outros localidades.

Lepe

Muitos portugueses que participaram nas expedições de Colombo, diziam-se "vizinhos" de Lepe, sendo por esse motivo confundidos como espanhóis. O seu número era de facto muito significativo nesta pequena povoação junto à fronteira com Portugal.

Num inquérito à população realizado em 1498, registaram-se em Lepe 632 "vecinos contribuyentes", mais 102 "venedizos de Portugal... que non tienen hacienda en esta villa" (9). Entre moradores e forasteiros o total de portugueses em Lepe seria seguramente muito elevado.

Ayamonte

A vida desta povoação da Andaluzia, ontem como hoje esteve sempre ligada a Portugal. O seu nome aparece pela primeira vez referido num documento português.

As oscilações na sua população que se registaram no século XV e XVI estão directamente ao aumento de imigrantes portugueses. Em 1498 tinha apenas 372 vizinhos, mas em 1534 passou para 1.035 (10). Este espectacular aumento populacional, segundo Ladero Quesada, "sólo cabe explicalo por la inmigración sobre tudo portuguesa, y por el auge del comercio con aquel reino, como factores principales" (11).

Este aumento do número de portugueses em Ayamonte teve reflexos imediatos no elevadíssimo número de marinheiros que afirmavam serem vizinhos ou naturais desta povoação. Uma estratégia a que os portugueses habitualmente recorriam.

Carlos Fontes

 

  Notas

( 2 ) Alonso Jofre (?-1340) foi almirante de Castela durante  o reinado de Alfonso XI. Um dos seus filhos-  Pedro Tenorio (?-Toledo, 1399) - opôs-se a Pedro I, O Cruel, sendo obrigado a fugir de Castela, despois de andar por França,  veio para Portugal onde foi nomeado arcebispo de Coimbra, tendo intercedido na guerra entre Enrique de Trastámara e Portugal (1373) e só depois voltou a Castela. Os Tenórios tinham um importante ramo em Portugal.

( 3 ) Manuel Abranches de Soveral

( 4 ) Inés Enríquez era filha de Fabrique Enríquez e de Marina Díez de Córdoba y Ayala. D. Fabrique era Almirante de Castela. A filha mais Fabrique era Juana Enríquez, que foi rainha de Aragão e Navarra, casada com Juan II de Aragón y I de Navarra, desta união nasceu Fernando II de Aragón y V de Castilla, conhecido por Fernando, o Católico.

( 5 ) "Rabida" em português significa local sagrado, lugar de recolhimento. A explicação em Huelva/Palos  para o nome é que o mesmo deriva da palavra árabe -"rábhita" -, que significa fortaleza. A Serra da Arrábida em Portugal era um local sagrado de conventos e ermitérios franciscanos.

(6) Marquez, Teodoro Falcon - La Iglesia Parroquial de Almonaster la Real (Huelva), in Laboratório de Arte, nº2, 1989.

(8) É abundante a bibliografia sobre esta conspiração que favoreceu a causa da restauração da independência de Portugal. Obras fundamentais:

- Ortiz, Antonio Domínguez - La Conspiracion del Duque de Medina Sidonia y el Marqués de Ayamonte, in, Crisis y Decadencia de la España de los Austrias. Barcelona. 1969. pp.113 -153

- Álvares de Toledo, Luisa - Una Mitificacion política: la Sublevacion de Andalucia, in Archivo Hispalense, nº.189. Sevilla.1978, pp.77-91

- idem, Historia de una conjura. Cádiz.1983

- Aranda, Antonio Garrido - Actualizacion de un problema historiografico andaluz: la Conspiracion do IX Duque de Medina Sidonia, in Actas do I Congreso  de Hist. da Andalucia Moderna. Vol. II. Cordoba. 1978, pp. 29-40

(9) Gomez, António Gonzalez -Lepe, Retrato de una Villa Señorial, Agraria y Mercantil (Siglos XIII-XVII), p. 215

(10) Ortiz, Antonio Domínguez - La Poblacion del Reino de Sevilla en 1534, Cuadernos de Historia. Anexos de la Revista Hispania, nº 7, pp. 337-355. 1977

(11) Ladero Quesada, M. A. - El Señorio de Lepe y Ayamonte a finales del siglo XV: Mayorazgo, Valor y Rendas,in, Les Mudejares de Castilla y otros estudios ...p.356 . 1989

(12) "Dom Afomso etc. A quamtos esta carta virem fazemos saber que Álvaro Afomso Rascam morador em a vjlla de Pallos regnos de castella nos disse/ / Como porquanto elle tijnha a nos arrendadas as nosas pescarias do Rio do Ouro pera as caravellas que no dicto logar de Pallos e Moger ouuesse/ / E por rezam dos naujos que se ora filharam do dicto logar de Pallos e doutros lugares de castella per nosos naturaaes se temya que aquelles que armam pera as dictas pescarias em cada huû ano per arremdamemto ho nam faryam agora por este caso e temor de lhe filharem seus nauyos e que se asy fose lhe daría mujta perda/ aalem de ser aazo pera nos nom poder pagar assi como Nos he obrigado./ Nos pidia que em tal caso lhe segurasemos os dictos naujos que assy pera as dictas pescarias quiserem armar/ / E veemdo Nos seu dezer e pedir ser Justo e por lhe fazermos merçee/ Teemos por bem e seguramos os dictos naujos que asy armarem per su liçença pera as dictas pescarias E esto em durando o tenpo de seu arremdamemto que nos dellas tem fecto./ / E porem mandamos a todollos capitaaes mestres senhorios e companha de naujos que nos mares amdarem darmada e merchantes que topamdo com os dictos naujos de Palos e Moger que asy pera as dictas pescarias do Rio do Ouro forem por leçemça e arremdamemto do dicto Álvoro Afonso/ hos nom filhem nem tomem nem mandem tomar nem filhar nem fazer por elo outro alguû noJo nem sem rezam por nenhûs Roubos malles mortes tomadjas nem outros quaeesquer danos que atee ora os naturaaes de castella tenham fecto..".

(13) Álvaro Alonso Rascón, cristão novo, era casado com Teresa Alonso, também condenada pela Inquisição espanhola, assim como a sua filha Catalina Alonso la Rascona.

(14) Liañez, Laureano Rodriguez - Moguer y Palos en la epoca del descubrmiento ..., in, Actas XI Jornadas de Andalucia y America,

(15)

 

 

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  Carlos Fontes
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