Carlos Fontes

 

 

    

Cristovão Colombo, português ?

 

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17. Lugares em Espanha

 

 

 

Medina Sidónia, Capital do Ducado 

 

Enrique II de Castela, em 1380, deu o primeiro título de Duque de Medina Sidónio, a Enrique de Sousa, filho da portuguesa Joana de Sousa. Em virtude deste ter morrido sem descendência, o título foi no século XV atribuído a uma  família castelhana, que manteve sempre laços muitos estreitos com Portugal.

 

Colombo quando saí de Portugal, em 1485, dirigiu-se para os domínios dos Duques de Medina Sidónia. Foi aqui que encontrou protecção como muitos outros portugueses. Os motivos para esta recepção eram muitos. Os Duques não viam com bons olhos a unificação da Espanha (1492), algo que Colombo parece merecer idêntica desconfiança. Recorde-se que a legenda do seu brasão espanhol (1493), exclui intencionalmente a referência ao Reino de Aragão. 

 

Antes da sua chegada aos domínios do Duque ( 1 ), já aí se encontravam a residir nas casas do mesmo ou dos seus familiares quatro dos seus cunhados (Violante Moniz Perestrelo, Moliart, Pedro Correia e Iseu Perestrelo). Uma prática igualmente seguida por Colombo. Não eram os únicos portugueses, no local encontravam outros espiões como o Frade João Peres de Marchena (ou António de Marchena) e muitos nobres envolvidos na conspirações de 1483-1484 contra D. João II. O Duque dava apoio a todos eles. 

 

Na hora de partir para as Indias, em 1492 foi daqui que o fez. Palos e Sanlúcar de Barrameda eram portos que pertenciam aos domínios do Duques. Colombo partiu de Palos em 1492, e depois em 1496 de Sanlucár. Mais tarde outro português partiu igualmente de Sanlucar - Fernão de Magalhães - para fazer a primeira viagem de circum-navegação terrestre. 

 

A influencia portuguesa está assinalada nos dois principais monumentos da cidade:

 

- A Igreja de Nuestra Señora de le O,  onde também se pode admirar uma pintura do português Vasco Pereira, que representa o martírio de São Sebastião.

- O Palácio de Medina Sidónia, construído sobre um ribat árabe, ostenta na fachada uma preciosa grade em ferro em estilo manuelino, proveniente do Palácio dos duques em Sevilha, e que foi aqui colada em 1866.

 

 

- Comunidade Portuguesa. Entre os século XV e final do século XVI em Ayamonte, Huelva, Moguer, Palos, Cádiz, Sanlucar de Barrameda e Sevilha formaram-se importantes comunidades de portugueses, para o que terá contribuído:

 

 - A participação de reis portugueses na reconquista da Andaluzia. 

 

-  Esta região foi durante o século XIV e XV palco de conflitos armados entre Portugal e Castela, envolvendo sangrentas batalhas navais. Para além das rivalidades geraram-se também inúmeras cumplicidades.

 

 - As localidades mencionadas estavam muito próximas de Portugal e das suas possessões no Norte de África, como Ceuta, Alcácer Ceguer, Arzila, etc. O abastecimento das mesmas era feito muitas vezes a partir destes portos andaluzes. Havia muitos interesses em comum.

 

 - A família dos Duques de Medina Sidónia estavam ligadas por laços familiares e interesses económicos com Portugal. 

 

Em resumo haviam muitas razões para que Colombo escolhe-se esta esta região para se estabelecer, não lhe faltando apoios a todos os níveis

 

Aspirações Independentistas

 

O Ducado de Medina Sidónio terá sido o principal centro das operações dos espiões portugueses em Castela/Espanha desde o século XV até meados do século XVII. 

 

Medina Sidónia foi reconquistada, em 1264, por Afonso X rei de Castela. Em 1280 foi doada por Sancho IV à Ordem Militar de Santiago. Alonso Pérez de Guzmán (1256-1309), primeiro senhor de Sanlúcar de Barrameda, adquiriu o senhorio de Medina. Em 1430, Juan II entregua-o a Luis de Guzmán, mestre da Ordem de Calatrava. Em 1445, Juan Alfonso Pérez de Guzmán, conde de Niebla, recebe o titulo de 1º. duque de Medina Sidónia, que a partir de 1460 se tornou hereditário. No século XV os duques eram senhores de Medina Sidónia, Sanlúcar de Barrameda, Niebla, Huelva, Gibraltar entre outras cidades. Domínios que tinham uma enorme importância estratégica para Portugal, devido às suas fortalezas no Norte de África. 

 

As primeiras manifestações de independência na Andaluzia, não foram destes duques, mas envolveram portugueses. Em 1439 Don Fadrique "Conde de Luna", Duque de Arjona, filho bastardo de D. Martin I de Aragão, Rei da Sicilia, resolve transformar a Andaluzia numa república independente, contando com a ajuda de um "frayle portugués de la Orden de Sant Francisco" (2 ). Era o prenúncio do que se iria seguir, mas agora com o apoio dos reis de Portugal.

 

Em meados deste século os duques começaram a manifestar crescentes sentimentos separatistas, procurando para o efeito o auxilio em Portugal. 

 

- Guerra Civil. A Guerra Civil provocada pela sucessão ao trono de Castela (1464-1476), foi aproveitada por Enrique de Guzmán ( 2º. duque de Medina Sidónia) para coroar-se rei de Sevilha. 

 

- Guerra da sucessão..O Duque de Medina Sidónia, coloca-se ao lado do rei português D. Afonso V na sua luta pela trono de Castela (1475-1481), chegando prometer a armar navios para os pôr ao serviço de Portugal. Numa atitude duplice não participa na Batalha de Toro (2/3/1476).

 

Os reis católicos ( Isabel e Fernando ) foram vistos por estes e outros nobres espanhóis como usurpadores e ilegitimos. Um sentimento que reforçou o espírito separatista na Andaluzia, e que os levou a aproximaram-se da Casa de Bragança:

- Juan Alonso de Guzmán ( 3º. Duque) casa a sua filha Leonor de Mendoza com D. Jaime de Portugal, 4º. Duque de Bragança (1502). 

 

- Massacre de Niebla. Após a morte de Isabel, a Católica, a revolta instala-se nos domínios do Duque de Medina Sidónia. Niebla recusa-se a reconhecer Fernando de Aragão como rei de Espanha. O Duque - D. Henrique de Guzmán, aproveita a ocasião e toma Gibraltar. O filho do Conde de Ureña, antigo aliado de Portugal, apela a D. Manuel I para os ajudar na revolta. O Duque de Medina Sidónia, D. Pedro Girón, assim como o filho do Duque de Ureña acabam por ser refugiar em Portugal. Fernando, em 1508, manda saquear a cidade de Niebla pelo alferes Mercado, e grande parte da sua população assassinada. D. Manuel I não tinha interesse nesta guerra e estabelece a concórdia, permitindo o regresso do Duque e de D. Pedro Girón. Para evitar novas tentações independentistas, Huelva, Niebla, Sanlucar de Barrameda são retirados do Ducado de Medina Sidónia. 

 

Vingança. Os Duques de Medina-Sidónia tiveram a oportunidade de se vingar mais tarde destas matanças dos espanhóis fizeram nos seus domínios. Um destes duques, à frente de um galeão português (São Martinho), comandou de forma tão incompetente a célebre Invencivel Armada espanhola (1588) que esta sofreu dos ingleses uma humilhante derrota naval ( 3 ), deixando a Espanha a partir daí à merçê dos seus inimigos.

 

- Restauração da Independência de Portugal. Na sequência do desastre da batalha de Alcácer Quibir, em Marrocos, Portugal perde a sua independência (1580), sendo dominado pelos reis espanhóis. Os Duques de Medina Sidónia passaram a conspirar  com os Duques de Bragança contra a Espanha, preparando a sua independência conjunta. 

 

Juan Manuel Domingo Francisco de Paula Pérez de Guzmán ( 8º. Duque), casa em 1632, a sua filha Luisa María Francisca de Guzmán com D. João de Portugal, 8º. Duque de Bragança, e futuro rei D. João IV de Portugal. 

 

No dia 1 de Dezembro de 1640 os portugueses restauraram a sua independência. Luísa de Gusmão torna-se rainha de Portugal. Filipe IV ordena ao Duque de Medina Sidónia para atacar os revoltosos a partir de Ayamonte, mas este recusou-se a fazê-lo alegando falta de meios. D. João IV era informado regularmente dos planos do rei espanhol pelo Duque e pelo Marquês de Ayamonte.

 

- Revolta contra Espanha na Andaluzia. Poucos meses depois da revolta em Portugal, no Ducado de Medina Sidónia, a Corte Espanhola  descobre-se uma movimento destinado a tornar a Andaluzia num reino independente (Verão de 1641) ( 4 ). 

 

Os protagonistas desta conjura eram Gaspar Pérez de Guzmán y Sandoval ( IX duque de Medina Sidonia) e Francisco Manuel Silvestre de Guzmán y Zúñiga (VI marquês de Ayamonte),  eram ambos parentes dos novos reis de Portugal. O primeiro era irmão da rainha. O rei de Portugal - D. João IV - estava ao corrente da revolta e naturalmente a apoiou.

 

O Marquês de Ayamonte foi preso e os seus bens confiscados. O Duque de Medina Sidonia foi poupado, mas perdeu a vila de Sanlucar de Barrameda e teve que pagar uma pesada multa.

 

Esta acções conspirativas só foram possíveis porque as sucessivas guerras e as vagas de exilados portugueses, acabaram por proporcionar o reforço dos laços entre a nobreza portuguesa, em especial a Casa de Bragança e a nobreza local, à frente da qual se encontrava os referidos duques. 

 

Carlos Fontes

 

  Notas:

( 1 ) Huelva, Ducado de Niebla, que pertencia também aos Duques de Medina Sidónio.

( 2 ) Sobre a conjura consultar: Cronica de Juan II, Año 1434, Cap.I; S. Olmedo Bernal- El Domínio del Atlântico en la Baja Edad Media ...Salamanca. 1995.pp.188-202; etc.

( 3 ) Nesta vingança, os duques de Medina-Sidónia tiveram outro importante aliado: o Duque de Parma y Piacenza - Alejandro Fernesio - casado com uma infanta de Portugal - Dona Maria de Portugal ou de Guimarães (1538-1577). A sua actuação à frente de uma armada castelhana foi igualmente desastrosa, contribuindo para a sua derrota. Recorde-se que o seu filho - Ramunccio I Farnesio (1569-1622), por parte da mãe neto de D. Manuel I, era também um dos possiveis herdeiros de trono de Portugal, após a morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir.  

( 4 ) A Espanha, nesta altura,  incitava os Duques de Vila Real a revoltarem-se contra D. João IV. 

 

 

 

 

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