Histórias

     
   
 

O Salto

 Belarmino Duarte Batista

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Finalmente O Fim Nas Terras Longínquas

Ao começar este ultimo capítulo, queria inicia-lo com as palavras dum <filho> de Monsanto, Beira-Baixa, (a aldeia mais portuguesa) que apesar de num país irmão, o Brasil, sente e descreve em 1975, a sua dôr de emigrante da seguinte maneira, para o Jornal do Fundão.                                 

Por encontrar nestas palavras a melhor maneira de descrever a dôr e saudade do emigrante português no mundo; aqui tomei a liberdade de as transcrever. Que me desculpe este nosso <irmão>, cujo nome não menciono.    Diz assim: <Somos quase dois milhões e meio os portugueses praticamente isolados, isto é emigrados, dizem as estatisticas.   Eu sou um dos dessa legião, que longe da sua terra, curtem penosamente, até na abastança, este exílio que para a maioria é definitivo e irreversível, já que vai até à morte em terra estanha.

Não direi a totalidade, mas a maioria absoluta destes portugueses, eu o sei bem, lembram e relembram, sonham a dormir e acordados, com Portugal, suas terras e rios, suas montanhas e vales, seus castelos e igrejas, suas capelas, santos e romarias.              

E fazem-no porque mantêm vivas na alma e no coração, as recordações de tudo o que lá deixaram e continuam a crêr que exista, sendo tudo isto a fonte de onde brotam todas as suas forças para lutar e trabalhar, vencer ou ser vencido, nas condições às vezes mais adversas.

É por isso que nós os que estamos exilados, longe de tudo o que na nossa terra foi e continua a ser motivo de amor e saudade, sentimos tão agudamente tudo o que a ela se refere e nos inquietamos, sobressaltados com as suas tristezas e sofremos com as suas desditas.>

Assim vai vivendo quem emigra, sempre no amor à terra onde se criou, na indecisão, sempre na ideia de um dia voltar, o que concretamente raro acontece, acabando por viver o resto da vida  junto dos nossos filhos, mas cá dentro sempre a mágoa, de não poder-mos acabá-la no torrão natal, que segundo impressões colhidas de pessoas idosas, mais se acentua com o descrecer da nossa existencia.

Há que salientar igualmente o facto e este não pode ser ignorado, dos velhinhos, que mais tarde são forçados a emigrar para junto dos filhos, por não terem no torrão natal, quem deles tome cuidado e nesta circunstancia só há duas alternatívas:

ou acabar os ultimos dias abandonado à sua sorte, ou seguir para junto dos filhos, com as consequentes condições de deslocamento do ambiente em que passaram a vida e escusado será mencionar o efeito moral e psicológico que isso representa.     

Nós emigrantes, bem o sabemos.

Os que ficaram em Portugal não compreendem este  drama psicológico.

Assim um drama dá origem a outro;  o dos que partiram e o dos que ficaram.

Por isso friso que o drama da emigração, se bem que esta tenha estagnado um pouco, continua e continuará até que as gerações que a sentiram e sofreram, se apaguem da face da terra.

EMIGRAR... passaporte para um drama… que só acaba na morte.  

Termino estes apontamentos com um poema escrito por mim, em Vancouver-Canada, no ano de 1975, altura em que estes apontamentos foram escritos e que dedico a todos os meus compatriotas emigrantes.

 Belarmino Duarte Batista

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