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Capítulo
V
Incerteza de Ficar ou Voltar
Tornando-se rotina, esta vida de vai vem do
emigrante e como entretanto os anos vão passando, os filhos crescem, precisam
de educação de se prepararem para o futuro e aqui a dor de cabeça dos pais
começa tambem.
A indecisão de ficar ou voltar não se consegue
vencer.
A
vontade de voltar predomina nas nossas mentes, mas numa visita à Patria, mais
proriamente à localidade onde vivia-mos e temos a nossa casa, familia e amigos
e pensaríamos novamente voltar, o panorama não é atraente.
Mas fazer o quê ?
Como sobreviver ?
Ainda que se tenham algumas possibilidades
financeiras, como integrarmo-nos na vida do país de onde já partimos à tantos
anos e enfrentando a incerteza de perdermos aquilo que tanto nos custou a
angariar ?
Trazer os nossos filhos para os educar-mos no nosso
Portugal, para onde desejamos voltar seria o nosso desejo, mas a situação do
nosso país não é muito encorajadora.
Entretanto os nossos filhos lá continuam no país
onde estamos emigrados, a integrarem-se e a aprenderem a lingua e os costumes
desse mesmo país.
Nós passados alguns anos nesta duvida ilusória de
voltar, acabamos por reconhecer, na maioria dos casos, que é impossivel pensar
no regresso.
Os nossos filhos pronunciam algumas frases
da nossa lingua mãe, mas mal o pouco que sabem foi aprendido em casa com a
nossa convivencia do dia a dia e em
muitos casos, a nossa linguagem que não é boa, a deles irá ser ainda pior.
Assim vamos passando os anos, visitando a Patria de
tempos a tempos, até que a nossa vida se apague. Numa grande maioria é
este o dilêma dos emigrantes.
Outros hà
que antevendo o futuro e mais desapegados do sentimentalismo emocional
que é apanágio da raça Lusitana, cedo se
decedem a não ter a iluzão de
voltar . Noutros casos, alguns mantêm
a familia em Portugal, para aí os filhos receberem a educação e formação,
mas estes são na maioria aqueles que emigram a sós, deixando a esposa e filhos
no nosso país e que portanto passam uma boa parte da vida vivendo separados da
familia, condição de vida dificil, que muitos a grande maioria, não aceitam.
Ainda outros, enviam os filhos para Portugal, onde são entregues ao cuidado de algum familiar ou internados em colégios, mas os
resultados deste procedimento são pouco frutuosos, sendo raríssimos os que
conseguem algum aproveitamento compensador. Em muitos casos depois de terem
passado alguns anos no nosso país, são novamente levados para o país onde os
pais estão emigrados, não aproveitando nem num lado nem noutro.
Tudo isto são efeitos da indecizão de ficar ou
voltar, ou melhor não haver no nosso país condições para receber todos
aqueles que quisessem regressar, hipótese verdadeiramente impossivel.
Infelizmente é este o dilema que temos que
enfrentar, pois uma vez emigrados, habituados por vezes a comodidades e condições
de vida que não vamos encontrar no nosso país, (embora aí se pense o contrário)
desenraizados já do ambiente local e familiar a que estava-mos habituados antes
de emigrar, decidimos ficar onde a nossa vida já tem raízes e os nossos filhos
integrados nas condições de vida local.
Assim segundo minha opinião pessoal, o nosso país
pouco poderá esperar da nova geração, filha dos emigrantes; alem das visitas
ocasionais de verão e a conservação da habitação que os “seus”
lhes legaram para passarem as férias e pouco mais.
Este pormenor mais se acentua nos países fora do
continente Europeo, uma vez que na Europa a distancia é menor, as facilidades
de deslocação são maiores e os contactos com a mãe Patria são mais
frequentes, o que contribui para nos prender mais ao nosso torrão natal e
consequentemente à nossa Patria, facto este que não acontece nas outras partes
do mundo onde existem emigrantes, que devido à distancia e ao consequente
isolamento em relação ao nosso país, mais nos desenraiza dele.
Vale-nos ainda, falando concretamente no caso da América
do Norte, (onde resido) o ambiente do nosso mundo português, criado por nós
emigrantes:
como Imprensa, programas de radio e televisão,
associações desportivas e culturais, instituições religiosas e claro os
nossos estabelecimentos de artigos portugueses, cafés, restaurantes, etc, que
nos proporcionam um pouco do possível, dos nossos costumes e hábitos, formando
assim nós proprios, verdadeiros enclaves da nossa cultura .
Estes factores contribuem para que se crie um
pequeno mundo à nossa maneira, que nos dá por vezes a ideia de estar-mos no
nosso proprio país, se o numero de portugueses for relevante, claro,
contribuindo assim para que não
sentamos tanto a ausencia da nossa Patria.
Sublinho por conhecimento proprio, que estas
facilidades quase não existem em França, ou não existiam nos fins de 1970, em
muitas localidades onde residia um consideravel numero de compatriotas nossos,
apesar de nos ultimos anos se terem incrementado mais estes serviços.
O facto de a França e Alemanha ou outro qualquer país
europeo se encontrar geográficamente mais perto do nosso, não impede que os
emigrantes desses país se não
sintam mais isolados das nossas coisas ao longo do ano, mas que anualmente, pelo
Verão ou pelo Natal, visitando o nosso país, revivem e retomam esse contacto,
por vezes mais do que uma vez ao ano.
Têm ainda a vantagem, aqueles que residem até ao
meio do território francês, de escutar os emissores de radio portugueses, de
onda média, o que lhes permite seguir dia a dia, os principais acontecimentos
do nosso país.
Factores estes que não acontecem nas Américas,
Africa ou Austrália, que só visitam a mãe patria em espaços de, tres,
quatro, cinco ou mais anos, permitindo assim mais o desenraízamento.
Por este motivo, estas comunidades são forçadas a
criar ( à sua propria conta na maioria dos casos) o seu pequeno mundo português.
Assim o emigrante português da Europa é como as
andorinhas, que voltam todos os anos, ao mesmo ninho e quando a lei da vida os
levar, ficarão os filhos a frequentar esse mesmo ninho até que os laços de
cultura e tradição que os une à Patria dos
seus antepassados, se errôda por
completo, assimilados pelo país onde vivem.
Continuação
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