Histórias

     
   
 

O Salto

 Belarmino Duarte Batista

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Capítulo IV

                       A Alegria da Visita  e o Drama da Morte na Estrada

 

Passados que foram os primeiros anos de emigraçao maciça, começaram a aparecer os primeiros automoveis trazidos pelos emigrantes,nas suas viagens de férias.                                         

A alegria de voltar à terra natal, (ainda que temporariamente) era enorme como se calcula. Toda a familia se sente feliz de poder visitar a terra  levando pela primeira vez um automovel seu.

Luxo que no seu país só raras pessoas possuiam e eles pobres emigrantes, tinham conseguido com o seu trabalho árduo, aquele sonho que alguns anos atraz era totalmente impossível.           

Sobre este Capítulo vou citar alguns exemplos de que fui testemunho nas muitas viagens que fiz no transporte de emigrantes.          

No regresso de uma viagem ao Nordeste de França; Nancy, encontro  nos “Vosges” uma familia que vinha de visita a Portugal. Residiam naquele Departamento, (provincia).

Era já sol posto, eu estacionava por uns momentos na berma da estrada e eis que um automovel parava junto do meu (que era facilmente identificado como português, pela cor de Taxi) e me  falaram a minha lingua.

Eram compatriotas meus.

Depois de uns momentos de conversa, onde me disseram de onde vinham e para onde seguiam e como tencionavam fazer a viagem, aproveitar a noite para adiantar caminho; aconselhei-os a não fazerem isso, fazendo-lhes ver o perigo que isso representava; para descançarem a noite.

Para mais o filho não conhecia a estrada, pois era a primeira vez que fazia a viagem e por isso a experiência destas viagens não era muita.

Mas qual quê! ninguem conseguiria mudar-lhes a ideia diz o chefe de familia e, ei-los a  caminho de novo, depois de eu os informar de que não poderia acompanha-los, pois tinha que comer e dormir alguma coisa durante  a noite. Quem conduzia era portanto o filho mais velho , com à volta de 20 anos de idade; sim… porque o pai infelizmente não sabia ler ou escrever o suficiente para tirar a carta assim me disseram.

Neste fim de semana de verão,com as férias a começar, esta familia não pode esperar mais e mal acabaram o trabalho , sexta feira de tarde, já com as coisas prontas, comeram alguma coisa  e decidiram partir ainda essa tarde.  Ninguem conseguiria dormir com a ansiedade da visita a terra natal, disse o pai.

Aqui impéra uma grande falta de senso, mas hei-los em <route> a caminho da fronteira Pirenaica de Hendaya, principal porta de entrada para a nossa Pátria, là mesmo no fundo da Europa.Talvez nos encontrase-mos lá mais para  a frente, já em Espanha, disse-lhes eu. 

Assim, depois de ter passado essa noite e o dia seguinte…na outra manhã, eis que passa por mim já proximo de Salamanca, Espanha, o Peugeot 403, azul claro, buzinando e acenando, rolando a não menos de 100 km à hora naquela estrada plana. Reconhecemo-nos uns aos outros, pensando eu para mim prorio, é  o pessoal que antes de ontem à tarde estiveram a falar para mim, lá no norte de França. Alguns minutos depois, apos ter passado uma recta de alguns kms, depois de uma pequena elevação, deparo com um desastre; tinha-se dado precisamente nesse momento.

Veio me imediatamente à ideia não fosse aquela família de portugueses  e verifico pela côr do automovel que na verdade eram eles.

Momentos de expectativa ; o meu corpo arrepia-se  e o meu coração bate mais forte. Ó meu Deus, o que eu vejo aqui ! e eu que sou dos primeiros a chegar ao local; apetece-me chorar !  Sangue...vidros partidos em redor, muitas coisas espalhadas, o automovel de rodas para o ar amachucado sobre a parte da frente em direção contrária, no outro lado da estrada; alguns metros mais alem, um pequeno Fiat 600 espanhol atravessado na estrada, todo amachucado, vidros partidos, duas jovens jaziam dentro dele ensanguentadas e  em  estado de côma ou mortas sabe-se lá !... Do automovel português apenas o choro desesperado e inocente de uma criança de 4 ou 5 anos e os gemidos de alguem não se sabe de quem.  A criança é tirada pela janela, do meio daquele inferno.

Entretanto varios veiculos haviam parado no local e alguem avisa que já tinham seguido a chamar a policia.

A confusão é geral e não se sabe que fazer; se esperar ou começar a remover os corpos inanimados das vítimas.

A porta da frente do Peugeot do lado direito, está meia aberta com o corpo de uma jovem de aproximadamente 20 anos, meio dentro, meio fora, com a cabeça mesmo no pavimento, sangrando pelo ouvidos, boca e nariz; pelo que se nos apresentava , estaria morta ! e isso é nos confirmado pela polícia, depois de lhe ter posto um pequeno espelho em frente da boca, para verificar se havia respiração. Numa ambulancia  e uma furgoneta de caixa fechada , levaram as outras  vitimas para o hospital de Salamanca.

As jovens do carro espanhol,eram da área de Salamanca e uma era professora. Houvi dizer que uma ia já morta e a outra ainda ia com vida.

Entretanto alguns automoveis de emigrantes portugueses, que se dirigiam, ou vinham de Portugal, paravam no local.

Verificada a identidade das vitimas, alguem que seguia para uma povoação próxima dessa localidade, prontificou-se a seguir ao hospital e aguardar os resultados do acidente para assim informar alguem de familia na terra de origem, na Beira Baixa, (não quero mencionar a terra) proximo de Castelo Branco.

Junto com outro motorista de praça português, (o Amorim do Fundão), que apareceu no local, igualmente vindo de França, seguimos até ao Hospital  de Salamanca, tambem na expectativa de sabermos do estado das vitimas.             

Passados alguns dias sube por intermedio deste meu colega, que  ficou por mais tempo junto do Hospital, que a rapariga que morreu no local ia a Portugal de férias, com aquela familia amiga, no que se lhe juntaria seu marido que entretanto ainda tinha ficado em França por mais uns dias até que tivesse férias.

O propósito da visita deste casal era o de levar uma filha de tenra idade, que se encontrava aos cuidados dos avós, em Portugal.

Dos restantes, uma jovem espanhola morreu tambem, enquanto os restantes ficaram hospitalizados, alguns em estado grave, desconhecendo o que aconteceu posteriormente. A criança que tiramos pela pela janela, embora  com alguns ferimentos não parecia a ter nada de muito grave.

Pelo que nos foi dado observar no local, aparentemente seria o sono que deu origem a que o carro do nosso compatriota saísse da mão e fosse embater no outro espanhol que vinha em sentido contrario, na sua mão, enfeixando-se em seguida numa barreira, depois de ter tocado numa arvore.                 

Dramas como este acontecem frequentemente com emigrantes, (e não só) na ansia de chegar o mais breve possivel sem que tenham o descanço necessario que estas longas viagens exigem, provocam o luto e a dôr  em muitas familias. Este é bem outro drama da emigração europea e quantos de nós o sentimos e sofremos

 

Continuação

 

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