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Cristianismo

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O cristianismo é antes de mais uma heresia, como todas as grandes religiões. Afirmou-se negando as suas origens. Do judaísmo reteve, apesar de tudo, alguns princípios:

 1. A crença num só Deus. Até Moisés (séc.XIII a.C.) não está provado que os hebreus fossem monoteístas. Para a adopção desta crença terá contribuído, provavelmente, o culto monoteísta  a Aton, instituído no Egipto por Akenaton.

2. A crença  num julgamento final. Os judeus tê-la-ão adquirido durante a sua deportação na Babilónia (séc.VI a.C.).

3. A crença num lugar destinado aos "maus"e "injustos", o "inferno". Crença  também adquirida  pelos judeus na Babilónia.

4. A corporização das forças maléficas. Elas apossam-se sobretudo de animais, encontrando a sua principal expressão na figura do Diabo.

Jesus de Nazaré (4/3 a.C.-29 d.C.), produzido a ideia fundamental que distingue o cristianismo do judaísmo: a ideia de um Deus único que deve ser adorado por todos os povos sem excepção, nem privilégios. Esta posição nega que aos judeus qualquer relação privilegiada com Deus, fazendo emergir a ideia de que a relação com Deus é essencialmente de natureza individual. Neste sentido, o cristianismo acaba por valorizar na cultura ocidental  a antropologia, a subjectividade, a interioridade...

Quando Jesus de Nazaré é morto, a comunidade de fiéis na Galileia e Jerusalém contaria com cerca de 72 discípulos e 12 apóstolos. Para a organização dos cristãos e consolidação da sua doutrina, num conjunto de escritos inspirados, teria sido decisiva a intervenção de S. Paulo (5-67). Entre as posições que lhe são atribuídas, destacam-se as  seguintes:

1. Jesus de Nazaré (Cristo) é o próprio Deus feito homem.

2. A salvação da alma através da crença em Cristo.

Após a conversão de S. Paulo a comunidade cristã começa a espalhar-se pelo mundo antigo. S. Paulo é o primeiro a iniciar grandes viagens missionárias (entre 45 e 58 ). De Antióquia viaja para Chipre, Ásia Menor, Grécia (Atenas, Tebas,Corinto), Macedónia, e Damasco e Jerusalém. Perseguido foi decapitado no ano de 64 ou 67.

 

O corpus doutrinal  cristão é constituído por 46 livros judaicos ( o Antigo Testamento), e 27 livros  escritos por 4 evangelistas ( o Novo Testamento). Estes últimos foram escritos entre o ano 70 e 100, baseados em versões orais que corriam sobre a vida e os ensinamentos de Cristo.  

Os escritos judaicos são de três tipos: Um primeiro grupo, constituído por 5 livros, correspondem à Tora (Génese, Êxodo, Levítico, Números e Deutorónimo); Um segundo grupo reúne os livros do profetas, que interpretam a história sagrada de Israel. O ultimo grupo é constituído por cânticos, provérbios, orações, histórias morais diversas, etc.  

Foi Jerónimo que por volta do ano 382 traduziu para o latim os textos judaicos, dando origem a uma versão da Biblia denominada Vulgata. Esta tradução foi baseado numa tradução que fora feita, entre o século III e I a.C, do hebreu para o grego, conhecida por Biblia dos Setenta.

O evangelho de Marcos foi escrito por volta do ano 70, servindo de base para os evangelhos de Mateus e Lucas. O evangelho de de João e outras escritos provém de uma comunidade Síria, perseguida pela Sinagoga.

O número de escritos que foram consagrados na Biblia cristã só foi definitivamente estabelecido no século IV. A Igreja do Oriente não aceitou contudo a inclusão do Apocalipse e outros textos judaicos que constam na Vulgata, mas não da Bíblia dos Setenta.

Em virtude de combaterem as crenças dos romanos, os cristãos viram-se perseguidos, sofrendo grandes morticínios (197-311). Em 313, com o edito de Milão, o imperador Constantino concede a liberdade de culto aos cristãos, e mais tarde o imperador Teodósio proclama o cristianismo religião oficial do Império Romano. 

Nos séculos posteriores, o cristianismo espalha-se pelo mundo romano. A doutrina desenvolve-se, adquirindo uma notável consistência teórica.  Mas os cristãos não tardam em dividirem-se formando novas igrejas que se reclamam portadoras da Verdade revelada por Cristo.

Cristianismo e a Bíblia

A Bíblia ("Livro de Livros") é uma referência fundamental para os cristãos, mas não a única. 

Para a Igreja Católica, por exemplo, a tradição interpretativa dos textos sagrados feita pelos padres da Igreja, papas e os concílios é tão importante como a própria bíblia, constitui a outra fonte doutrinal. O crente deve apenas preocupar-se com a sua fé, deixando à Igreja a questão da interpretação dos textos sagrados. 

Os cristãos adoptaram textos judaicos, mas não a interpretação que os judeus deles faziam. Nesse sentido, sustentaram que os mesmos podiam ter várias interpretações: literais, morais, espirituais, alegóricas, etc., o que virá a constituir uma das principais inovações do cristianismo.

A Igreja Católica, em todo o caso, sempre afirmou que lhe cabia o direito de julgar qual era a interpretação correcta ou legitima dos textos sagrados. Durante o século XII foi criada a tristemente célebre Inquisição (Tribunal do Santo Ofício), para julgar todos os que faziam interpretações ou tinham práticas que não eram conformes às estabelecidas pela Igreja.  

Na Europa, no século XVI irão surgir uma série de movimentos cristãos, os denominados protestantes, que reclamam a obrigação de todos os crentes conhecerem a Bíblia directamente e sem intermediação da Igreja Católica, permitindo-se a livre interpretação dos seus textos. Estes movimentos acabaram por produzir uma nova cisão da Igreja.

A Igreja Católica opôs-se a estes movimentos através da conhecida por Contra-Reforma. No Concílio de Trento, em 1546, continuou a afirmar-se como a única e legitima interprete dos textos biblicos. A par da Bíblia foi reafirmado a autoridade da Tradição da Igreja como fonte doutrinal. No século XIX, a Igreja Católica virá ainda a aprovar o princípio da Infalibilidade papal, transformando as decisões de qualquer papa como definitivas, sagradas.

Carlos Fontes                 

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Carlos Fontes

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