Carlos Fontes

 

 

Cristovão Colombo, português ?

 

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Condes de Caminha 

 

(Conspiração contra D. João II ?)

 

O que levou Teresa de Távora, Condessa de Caminha, a refugiar-se em Espanha ? Provavelmente para conseguir protecção para os seus filhos, depois da morte de Pedro Alvares de Sottomayor, mais conhecido por Pedro Madruga (1486). Recaia sobre as sua família suspeitas de estar ligada aos conspiradores.

 

O seu filho Alvaro de Sottomayor foi detido em Lisboa, em 1486, sob a suspeita de estar a conspirar contra o rei. O denunciante, um castelhano, acabou por ser morto em Santarém. Muitos dos conspiradores contra D. João II eram seus parentes como Alvaro de Bragança. No seu exilio em Sevilha, a Condessa  frequentava o Convento de Santa Paula e a casa da sua parente a Marquesa de Montemor-o-Novo sua parente (16).

 

Os Sottomayor, como veremos, aparecem ligados das formas mais diversas a Colombo e à sua familia.

 

 

 

a) Família Sottomayor Luso-Galega

 

Estamos perante uma familia lusa-galega, que na 2ª. metade do século XV se destacou pelo seu envolvimento na defesa dos interesses portugueses em Castela, tendo-se ligado aos Tavoras (Douro e Trás-os-Montes). 

 

Na Galiza muito se tem escrito sobre a ligação dos Sotomayor e Colombo. O que era afinal este ramo dos Sotomayor ?

 

A sua principal figura é Pedro Alvares de Sottomayor (1420-1486), mais conhecido por Pedro Madruga , que veio a ser o 1º. Conde de Caminha, título que lhe foi atribuído em 1475 por D. Afonso V, rei de Portugal.

 

Era filho ilegitimo de Fernán Eannes (o Yáñez) da Casa de Sotomaior (Galiza), tendo-se apossado da casa paterna, não tardou a assumir-se como um grande senhor feudal. Durante largos anos dominou toda a região sul da Galiza, contando com o apoio de milhares de portugueses. As suas incursões na Galiza partiam quase sempre do Minho (Portugal), como aconteceu na primavera de 1469, quando à frente de cem lanceiros e dois mil peões aí entrou para combater a revolta dos "Irmandiños". Durante a guerra entre Castela e Portugal (1475-1479), tomou o partido do rei português, tendo participado na batalha de Toro (1476). 

 

Pedro Madruga revelou-se um astuto guerreiro. Era cavaleiro das Esporas Douradas, mas também da Ordem de Cristo e de Santiago.  D. João II, depois de 1481, continuou a apoiá-lo nas lutas que trava na Galiza, embora de forma mais discreta.

 

Apesar apoio dos reis portugueses, os sucessivos conflitos em que se envolveu, colocaram em causa a sobrevivência da própria familia em Castela.

 

Em 1483 toma a decisão fatal de nomear o seu filho primogénito - Alvaro de Sottomayor - como sucessor, o qual não tarda em tomar posse do castelo de Sottomayor na Galiza.

 

Pedro Madruga sentindo-se traído pelo próprio filho, resolve procurar apoios em Castela para aí recuperar os seus domínios, acabando por ser morto em Alba de Tormes (Salamanca), a 11 de Abril de 1486.

 

Inúmeras problemas se irão levantar com a sua sucessão, os quais   só terminarão, em 1795, quando os bens da familia Sotomayor forem transferidos para o Marquês de Mós. 

 

 

1. Senhores de Mogadouro e de Távora

 

Pedro Madruga teve várias mulheres (1), sendo a mais conhecida e de mais elevado estatuto - Teresa de Távora (? -1509) - 1ª Condessa de Caminha, filha de Alvaro Pires de Tavora (-1474), 2º. Senhor de Mogadouro e da Casa dos Távoras, Alcaide-mor de Miranda (3), e de Leonor da Cunha (10), filha de Alvaro da Cunha, senhor de Pombeiro.

 

Não era a primeira vez que Alvaro Pires de Tavora acolhia na sua casa um nobre castelhano. Por ordem de D. Afonso V, em 1449/50, recebeu na sua casa Afonso Pimentel, Duque de Benavente, quando este se refugiou em Portugal (11).

 

Nesta vila existiu até ao século XVII uma das mais importantes e prósperas comunidades de judeus de Portugal, quando foi vítima de uma brutal perseguição inquisitorial (12).

 

 

2. Exilio em Sevilha

 

Em data incerta, a Condessa de Caminha foi para Castela, fixando-se em Sevilha, numa casa do seu irmão - Martim de Távora, mestre de sala de Isabel, a Católica.

 

Este português, casado com Leonor Correia, vivia já em Sevilha antes de 1483 (14). Foi ele que a 1/7/1478, entregou no cabido de Sevilha, a carta que anunciava o nascimento do principe Juan. O cardeal Mendonza, em 1493, fez-lhe mercê da casas em Sevilha, na colación de Santa Maria.

 

Teresa Távora passou a integrar o vasto grupo dos nobres exilados portugueses, que vivia em Sevilha e era financiado  pelos reis católicos.

 

Teresa de Távora era prima da esposa de Colombo - Filipa Moniz Perestrelo. O seu parente - Martinho de Noronha - foi quem recebeu Colombo em Lisboa a 4 de Março de 1493. 

 

A 17/8/1496 passou uma procuração para vender a tença que recebia em Portugal, provavelmente que lhe fora atribuída por D. Manuel I, quando este procurou recompensar os nobres que se haviam exilado em Castela devido à perseguição de D. João II. Em 1498 ter-se-á deslocado a Inglaterra.

 

Pertenceu à casa da rainha de Espanha, pelo menos de 1501 a 1503.

 

 

3. Filhos de Teresa de Távora

 

Entre os filhos de Teresa de Távora e Pedro Madruga, todos nascidos em Portugal, destacam-se três deles:

 

-  Alvaro de Sottomayor. Como vimos, tomou o Castelo de Sottomayor, afastando desse modo o pai dos domínios na Galiza. Casou-se, em 1491, com Inês Enríquez de Monroy que acabou assassinada em 1518 (San Martín, Galiza).

 

Numa das suas frequentes visitas a Portugal, em 1486, foi acusado por um seu criado (padre Juan Galde) de estar a conspirar contra D. João II. Foi ilibado da acusação, sendo o delator morto em Santarém. Morreu numa rixa, em que se envolveu na cidade de Valladolid, em Novembro de 1495.

 

- Cristovão de Sotomayor (Sotomaior ou Soutomaior). Foi protegido por Isabel, a Católica. Estudou direito na Universidade de Salamanca. Foi secretário de Filipe, o Formoso. É possível que se tenha deslocado a Inglaterra.

 

No início do século XVI, revela em Castela um comportamento de grande cumplicidade com a família de Colombo. Alguns factos significativos:

 

Acompanhou D. Diego Colón às Indias, em 1509, integrado no grupo de amigos e familiares que fez questão de levar. Durante a viagem vendeu um manuscrito a Hernando Colón.

 

 Devido à sua condição de antigo secretário real e letrado terá sido enviado para as Indias, por Fernando, o católico para governador de a ilha de San Juan (Porto Rico), mas acabou como alcaide-mor de Juan Ponce de León, de inferior condição social. Este facto acabou por levar ao afastamento de Ponce de León (1460-1521), o explorador de Porto Rico e das costas da Flórida..

 

Cristovão de Sotomayor morreu durante o levantamento indio de 1511, em Porto Rico. Sobre as causas da sua morte, escreve István Szászdi León-Boja:

 

" No dejo de creer que don Cristóbal de Sotomayor murió por ser el hombre de confianza de don Diego Colón que implantó la forma de gobierno señorial de éste en la isla, junto con los continos del Virrey. El nuevo repartimiento de indios colombinos y su “nuevo estilo” fueron los detonantes del levantamiento indígena de 1511. Y el matar a Sotomayor desde la óptica de los habitantes de la isla, tanto indios como cristianos, era parecido a matar al propio Virrey, pues era su deudo. Hay que recordar que existía una natural empatía entre los Colón y el hijo del Conde de Camiña: I. Los tres eran nobles, II. Eran de linajes estrechamente emparentados con la nobleza portuguesa y per tenecientes a ella, eran primos lejanos por la madre portuguesa de don Diego. III. Sus familias estaban resentidas desde la generación anterior contra D. Fernando el Católico. Para la familia portuguesa de Diego Colón, consúltese el artículo de Ádám SZÁSZDI NAGY, “Dos viñetas colombinas: Filipa y Vale do Paraiso”, Iacobvs. Revista de Estudios Jacobeos y Medievales, 27-28. Sahagún, 2010, pp. 129-175." (16).

 

Foi o fundador em 1510 da Vila de Tavora (actual Guánica), em Porto Rico, nome que lhe atribuiu em honra da sua mãe Dona Teresa de Tavora, Condessa de Caminha (Camiña, em castelhano). As pragas de mosquitos obrigaram os seus habitantes a mudaram-e para outro local junto à foz do Rio Añasco ou Aguada. A nova povoação recebeu o nome de Vila de Sotomayor.

 

- Alonso de Sottomayor que se distinguiu ao serviço da Espanha na guerra da Itália. Morreu em 1502, num combate contra Pierre du Terrail,senhor de Bayard ou Bayardo. Nestes mesmos combates, morreu também, a 27/12/1502, o chefe das tropas espanholas da Calábria, o português - João Pinheiro (Juan Piñeiro), em Semira, derrotado pelo francês - D`Augbiny ( 13 ). O "grande" estratega desta guerra era o "El Gran Capitán"...

 

Hernando Colón, entre 1517 e 1523, enviou para Freixo de Espada à Cinta e Chaves, um agente para recolher informações. Os Távoras eram desde o século XIV senhores de Mogadouro, dominando uma vasta região no Douro e Tras-os-Montes (Távora-Tabuaço, Mogadouro, Mirandela, S. João da Pesqueira, etc).

 

 

4. Outros alegados filhos de Pedro Madruga

 

- João de Sottomayor. Filho natural de Pedro Madruga (15), casou-se com a Isabel Gonçalves da Costa, meia-irmã do célebre cardeal Alpedrinha e irmã de Catarina da Costa, esposa de Pedro de Albuquerque, almirante -mor, envolvido na conspiração de 1484, morto em Montemor-o-Novo em 1485. Poderá estar aqui a chave do exilio em Castela de Teresa de Távora, condessa de Caminha. Mais

 

- Álvaro de Caminha. Na cidade de Faro (Algarve), onde Colombo faz questão de aportar, a 14 de Março de 1493,  no regresso da sua primeira viagem à América, nasceu uma personagem que desde há dois séculos tem sido (erradamente) associado à família de Pedro Madruga: Alvaro de Caminha (8)

 

Cavaleiro da Casa Real, capitão-mor na armada de João de Santarém e Pedro Escobar que descobriu, por volta de em 1471 (7), a ilha de São Tomé. D. João II nomeou-o capitão-donatário desta ilha (1493-1499) (9). Iniciou então a colonização com cristãos-novos, escravos negros e degredados. Fundou a vila da Povoação, mais tarde São Tomé, junto à na Baia de Ana de Chaves. Introduziu a cultura da cana-de-açúcar que se revelou um sucesso. 

 

D.João II depositava nele grande confiança. Em 1488 mandou-o a Londres, numa caravela, raptar Lopo de Albuquerque, conde de Penamacor e o trazer para Portugal, evitando que o mesmo revelasse os segredos que a Corte Portuguesa tinha ciosamente guardados. A missão acabou por fracassar. Quais as suas relações com os conspiradores de 1484?

 

Desde o inicio do século XIX, que Alvaro de Caminha aparece com o apelido de Sottomayor (6), sendo frequentemente identificado como filho ou parente de Pedro Madruga. Embora seja pouco provável este parentesco,  parece todavia ter existido no Algarve, na segunda metade do século XV, um ramo da familia Sottomayor.

 

 

O historiador - Augusto Krusse Afflalo, numa conferência na Casa do Algarve em Lisboa, a 17/3/1955, defendeu a tese que Colón tinha parentes algarvios (5). Infelizmente ainda não conseguimos apurar quais os seus argumentos. Não nos podemos todavia esquecer das profundas ligações de Colombo aos Condes de Faro, cuja sede do Condado era a Vila do Alvor..

 

 

5. Bayona (Galiza)

 

Alguns autores espanhóis pretendem a mão de Pedro Madruga, antigo senhor de Bayona, a razão porque Martin Pinzon se dirigiu para este porto no regresso da sua primeira viagem à América. O que nos parece sem qualquer fundamento. Mais

 

 

b ) Leonor de Sotomayor y Portugal e Diogo de Bragança

 

É sabida a enorme ligação de Colombo ao duques de Beja-Viseu, aos quais mostrou sempre uma enorme fidelidade. Não deixa de ser igualmente intrigante o facto de uma outra nobre castelhana, mas de ascendência portuguesa - Sottomayor - se ter ligado a D. Diogo, Duque de Beja-Viseu e Mestre da Ordem de Cristo.

 

Este Duque , em 1477, com 16 para 17 anos foi a Valência encontrar-se com Leonor de Sotomayor y Portugal, acabando por a engravidar, pouco antes da mesma se casar com Alonso de Aragón y de Escobar (1417-1485), 1º. Duque de Villahermosa (Saragoça), filho bastardo de D. João II de Aragão (1397-1497), por isso meio-irmão de Fernando, o católico. 

 

Desta relação adulterina entre D. Diogo e D. Leonor nasceu D. Afonso que veio para Portugal, onde foi entregue aos cuidados de Antão Faria. D. Manuel I reconheceu-o como sobrinho (1495), e nomeou-o condestável do reino (1500), tendo-o casado com Dona Joana de Noronha, irmã do 2º. marquês de Vila Real. Morreu em 1504, na mais completa obscuridade.

 

Continua a ser um mistério as razões desta "missão" de D. Diogo em Valência. Pretenderia impedir o casamento engravidando a noiva? .Mais

 

Apesar desta traição, o Duque de Villahermosa mesmo assim casou-se com Leonor. Fernando de Aragão, meio irmão de Alonso de Aragón, recompensou-o por semelhante casamento, ao nomeá-lo, em 1481, vice-rei da Aragão

 

O tio de Leonor - Diogo de Azambuja-, foi uma das duas testemunhas que assistiram em Setúbal à morte do Duque D. Diogo às mãos de D. João II (1484). Como já referimos, depois deste assassinato, Colombo, acabou por "fugir" para Castela, segundo Hernando Colon.

 

 

Carlos Fontes

 

  Notas:

(1) Vaz de São Payo, Luiz de Mello - Sottomayor Mui Nobre. Vila Real. 1999. pp. 75-91

(2 ) Quesada, Miguel Angelo Ladero - La Hacienda Real de Castilla en el Siglo XV. Universidad de la Laguna. 1973. p.298 e 305

(3) Alvaro Pires Távora encontra-se sepultado no Mosteiro de S. Pedro das Águias, foi reposteiro-mor de D.João I, D.Duarte e D. Afonso V, de quem recebeu inúmeras mercês. Consultar: Braancamp Freire - Brasões da Sala de Sintra, liv. 1., pp.192-96; liv.3, p. 80

(4) Alonso de Aragon exerceu o cargo de mestre de Calatrava entre 1443 e 1445.

(5) Iria, Alberto - O Infante D. Henrique e a Andaluzia. Lisboa. 1965

(6) O nome de Alvaro de Caminha Souto Maior surge, por exemplo, nas seguintes obras:

- Corografia do Algarve, de João Baptista da Silva Lopes - Typografia da Academia das Sciencias de Lisboa, 1841;

- Inacio da Costa Quintela - Annaes da Marinha Portuguesa, Tomo I, Lisboa, 1839, p.186 .

-  Reg. da Camara de Faro, Tomo I, f. 57 (não verifiquei esta pagina).

 

- Carolina Michaelis de Vasconcelos – Pedro de Andrade Caminha, subsídios para o estudo da sua vida e obra – Edição de Adrien Roig e Olívio Caeiro – INIC, Lisboa, 1982 (consultar).

 

(7) Araújo, Maria Benedita A. de Almeida - A Ilha de S. Tomé: Alguns Problemas Históricos. Coimbra.1991

 

(8) Moreno, H. Baquero - Alvaro de caminha, capitão-mor da Ilha de S. Tomé, in, Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua Época, Actas. Porto. Universidade/CNCDP. 1989. Vol. I, pp.299-311

 

(9) Rui de Pina, Chronica de D. João II, cap.68

 

10) A primeira esposa foi Inês da Guerra, filha do bastardo Pedro da Guerra, descendente de D.Pedro I e de Dona Inês de Castro. Não deixa de ser curioso que o verdadeiro de Colombo, segundo várias testemunhas era "Cristovão Guerra", o nome da 1ª. esposa de Alvaro Pires de Távora. 

 

(11) Bibliografia Henriquina, Vol. I, p.129.

 

(12) Guimarães, Maria F.; Andrade, António Júlio - Percursos de Gaspar Lopes Pereira e Francisco Lopes Pereira dois cristãos-novos de Mogadouro, in, Cadernos Estudos Sefarditas, nº.5

 

(13) José Maria de Toca, Fernando - El Gran Capitán: Gonzalo Fernandez de Córdoba. Madrid. 2008. p.144

 

(14) Martim de Távora, irmão de Teresa Távora, está sepultado no convento de S. Francisco del Monte (cantillana).

 

(15) Rodrigo da Cunha - Historia Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga, e dos Santos, e varoes illustres, que florocerão neste arcebispado. Braga. 1635.

 

(16) León-Boja, István Szászdi - Vida Y Desventura de un Letrado Gallego, Don Cristobal de Sotomayor, in, AFDUC 15, 2011, ISSN: 1138-039X, pp. 699-722.; SZÁSZDI, Ádám - “Una ojeada furtiva a la realeza bajomedieval: los deudos de la mujer de Cristóbal Colón”,Iacobvs. bRevista de Estudios Medievales y Jacobeos, 19-20. Sahagún, 2005, pp. 295-326

 

 

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