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Lenda de Timor
Em Massacar, na ilha
dos celebes, vivia um crocodilo. Isto passou-se muito antes dos tempos que já lá
vão. Velho, sem velocidade para os peixes da ribeira, não teve outro recurso
senão por pé no seco e aventurar-se terras adentro a ver se topava cão ou
porco que lhe matasse a fome.
Andou, andou e
nada topou. Resolveu
regressar, mas o caminho era longo e o sol ardia. Abrasado, sentiu o crocodilo
que as forças iam faltar-lhe e que, mais passo menos passo, ficaria ali como
uma pedra. Mas o acaso fez
que lhe passasse mesmo à mão e a tempo um rapaz. Este, condoído, ajudou-o a
arrastar-se até à ribeira. O crocodilo ficou-lhe gratíssimo, oferecendo-se
para, a partir daquele dia, o levar às costas pelas águas dos rios e do mar.
Certa vez,
apertada pela fome e sem cão ou porco que a matasse, dicidiu-se a comer o
rapaz. Antes, porém, para alívio da consciência, consultou os outros animais
sobre se devia ou não comê-lo. Desde a baleia ao macaco todos ralharam muito
com ele acusando-o de ser ingrato.
Inclinado-se
perante a opinião geral e no receio de que a sua presença passasse, de futuro,
a ser mal tolerada, o crocodilo dispôs-se a partir mar fora e a levar consigo o
dedicado rapaz por quem, vencida a tentação, sentia amizade quase paternal.
Foi nesta disposição
que convidou o rapaz a pular-lhe para as costas.
Fazendo-se, então,
ao mar, nadou, onda após onda, em demanda das terras onde nasce o sol,
convencido de que lá havia de encontrar um disco de oiro semelhante ao outro
que o norteava. Porém, quando, já cansado de nadar, pensou em dar meia volta e
regressar às terras de origem, sentiu que o corpo se lhe imobiliza e se
transformava rapidamente em pedra e terra, crescendo, crescendo, até atingir as
dimensões de uma ilha.
Caminhou então o
rapaz sobre o dorso desta ilha, rodeou-a com o olhar e chamou-a de Timor que, em
língua malaia, quer dizer oriente.
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