Carlos Fontes

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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( III )

Manipulação e Manipuladores.

Ensinamentos do Processo de Sócrates

A manipulação constitui sempre uma forma de domínio de uns sobre outros, neste caso, explorando as suas emoções e sentimentos. O manipulador trata o outro como um imbecil, mente-lhe ou confunde-o recorrendo a todo o tipo de falácias.

O processo de Sócrates constituiu, neste aspecto, um verdadeiro repositório de técnicas de manipulação, e nesse sentido já é um fascinante objecto de estudo. Nem todos o manipuladores estão ao mesmo nível, como veremos, alguns não conseguem convencer ninguém.

Analisando as "noticias" pelos jornais como o Correio da Manhã ou o semanário Sol sobre Sócrates, é fácil concluir que não estamos perante manipuladores geniais como Joseph Goebbels, o célebre ministro da propaganda de Adolf Hitler, nem sequer pela versão "nacional" de António Ferro, o propagandista do Estado Novo.

Na Imprensa portuguesa surgiram nos últimos anos dois candidatos a mestres na arte da manipulação - Eduardo Damaso e Felicia Cabrita. Estes jornalistas-justiceiros, ambos afectos ao PSD, nos ataques que ao longo dos anos tem feito a José Sócrates inspiraram-se nitidamente, como veremos, em dois grandes modelos de manipulação de massas. 

O título do Correio da Manhã, no dia 20/12/2014, não contém nenhuma informação que vários dias antes outros jornais já não tenha publicado. Não tem qualquer relevância para esclarecer se Sócrates é corrupto ou não.

O seu objectivo não é informar, mas lançar suspeitas de uma forma repetitiva (príncipio  básica da propaganda).

Eduardo Dâmaso (e Felicia Cabrita) repetem constantemente que todos os negócios dos amigos de Sócrates, são de Sócrates. Se os seus amigos tem negócios no futebol, logo os negócios no futebol são de Sócrates.

 

Eduardo Dâmaso, director-adjunto do Correio da Manhã

Os seus textos publicados no Correio da Manhã nos últimos meses, e em particular os produzidos depois da prisão de José Sócrates  (21/11/2014), são verdadeiras pérolas para os investigadores destes fenómenos sociais e comunicacionais.

A sua técnica de manipulação, construída a parte do modelo trabalhado por Joseph Goebbels assenta num conjunto de falácias muito limitadas. O manipulador não trabalha com factos, mas com emoções. A realidade é reduzida a uma caricatura (falácia do boneco de palha), as consequências de uma qualquer decisão "irresponsável"  terminam numa catástrofe colectiva (falácia da bola de neve), as alternativas reduzem-se apenas a duas (falácia do falso dilema) ou melhor apenas a uma. Porque a outra, como veremos, é a expressão das forças do mal, neste caso corporizada em Sócrates, cuja vida é um exemplo de malignidade absoluta (falácia do ataque ao homem).

1. Exploração do Contexto

Se Goebbels explorou as difíceis condições em que vivia o povo alemão depois da derrota da primeira mundial (1914-1918), mas também o orgulho nacional ferido, atribuindo a culpa aos políticos democratas e aos judeus. Se António Ferro explorou o desgoverno da 1ª. República (1910-1926), atribuindo a culpa aos partidos políticos que não se entendiam até que a ditadura instaurou a "ordem".

Eduardo Damaso, adoptando o mesmo modelo, traça nos seus comentários um cenário igualmente catastrófico do regime democrático depois do 25 de Abril de 1974. A sociedade portuguesa está a morrer, devido a uma doença com vários sintomas: a corrupção (1), a impunidade, a promiscuidade entre a política e os negócios (3) e o amiguismo (4).  

2. Desastres Anunciados

A sociedade italiana e espanhola, proclama Damaso, afundaram-se na corrupção, porque ignoraram "os sinais da rua" (5). Estava "escrito nas estrelas" o "Terramoto". Os partidos em Portugal não conseguem ouvir a voz da rua ", porque temem o "populismo", mas ao fazê-lo estão, sem o saberem, a "caminhar para o abismo"(5). Abismo em que já nos encontramos (7). O discurso é invariavelmente apocalíptico !

3. Dilemas

Há apenas duas únicas alternativas: o PSD-CDS ou o PS ! Os primeiros representam a "esperança" ainda possível de salvação, os segundos o caminho do "abismo".

O PS usa "uma espécie de adesivo para tapar as bocas" dos que querem discutir a corrupção (1).  No seu último "Ciclo Negro" este partido "partiu a espinha ao Ministério Público", controlou a Policia Judiciária, espalhou os seus amigos pelo Estado, de modo a bloquear o combate à doença que padece a sociedade portuguesa (6). O PS é a doença que mina o país.

Eduardo Dâmaso, sem grandes elaborações retóricas, acaba por admitir que existe apenas uma única alternativa politica. Ou a aliança PSD-CDS ou o Abismo !

4. Bodes Expiatórios

Como Goebbels mostrou, não basta indicar o caminho a seguir sob as ordens do grande líder é necessário corporizar o causador de todos os dramas vividos pelo povo, de modo que todas as suas tensões e frustrações quotidianas se possam libertar numa catarse colectiva.

Os judeus, sabemo-lo, desempenharam a função de "bodes expiatórios" na Alemanha nazi. As mais pequenas singularidades dos membros desta religião, serviam de troça e eram apontadas como provas da sua culpabilidade. O seu extermínio (holocausto) era apontado como uma libertação definitiva.

Eduardo Dâmaso e os seus colaboradores, no Correio da Manhã, tem-se empenhado em vasculharem a vida privada de Sócrates e da sua família, mostrando à saciedade como a mesma revela as provas da sua culpa. A prisão de Sócrates, observa o director-adjunto, tornou o "ar mais respirável", a "justiça mais forte" e a "impunidade sem salvo-conduto" (6). O PS também se deve "libertar" de mais "um ciclo negro da sua história". Trata-se de uma "libertação" provisória, pois se o povo lhe continuar a dar o seu voto, é de esperar que novos ciclos igualmente negros venham surgir.

Um Percurso

Eduardo Dâmaso, nasceu em Odemira. "Iniciou-se" no jornalismo, no tempo da AD, em 1981, n`O Setubalense. Colaborou no Expresso de Francisco Balsemão (antigo líder do PSD), e depois em O Público, de José Manuel Fernandes (um inimigo confesso de António Guterres e José Sócrates). Passou para o Diário de Noticias, em 2005, quando Sócrates foi eleito primeiro-ministro. Era já na altura uma figura que se destacava pelos seus ataques aos governos do PS, e processos em tribunal por violar o "Segredo de Justiça".

O Correio da Manhã, em 2007, contratou-o para director-adjunto, destacando a sua apetência para os temas da Justiça, dadas as suas ligações de amizade a alguns juízes e procuradores do Ministério Público. É apontado como amigo pessoal de José Marques Vidal, Procurador Adjunto de Aveiro, que investigou a Face Oculta e é filho de Marques Vidal, ex-director da PJ.

Desde 2007 os seus artigos tornaram-se mais directos nas acusações que vai fazendo aos sucessivos visados, num estilo jornalístico que caracteriza o Correio da Manhã.

Considera-se um especialista sobre a máfia italiana e a corrupção nos países latinos, em especial a Itália, Espanha e Portugal.

No campo da investigação escreveu "A Invasão Spinolista" (1999), e em colaboração com Medina Carreira  um brutal ataque contra o Estado Social  - "Portugal, que Futuro?" (2009 ).

 

Felícia Cabrita, jornalista do Sol

A técnica manipuladora desvaloriza o contexto, para se centrar nos individuos, nas suas aberrações. Inspira-se claramente nas técnicas desenvolvidas pelo Santo Ofício, envolvendo-se inclusive em questões de natureza teológica.

Nesta estratégia de manipulação, o acusador coloca-se acima da humanidade (Falácia da Autoridade), mostrando que conhece a miséria da condição humana, e que toma como missão erradicar o mal. O problema está na natureza intrinsecamente corrupta do ser humano (problema teológico). Os corruptos não agem sozinhos, conspiram em silêncio (teoria da cabala) chefiados pelo mais corruptos de todos, o que está dominado pelos piores vícios (Falácia do Ataque ao Homem). Perante a dimensão deste combate só alguém que faça da justiça a sua missão, pode salvar a humanidade.

A sua abordagem da natureza de Sócrates é menos política que a de Eduardo Damaso, mas mais profunda porque coloca em evidência a luta imemorial entre as forças do bem (os eleitos) e as forças do mal (os corruptos).

1. Santidade

A missão da Santa Inquisição e dos inquisidores  é santa, pois se não o fosse não se chamaria assim. Embora Felicia Cabrita não seja santa de nome, assume igualmente uma santa missão: limpar o mundo da porcaria.

Felicia Cabrita, à semelhança da Inquisição, mostra pelo seu curricula que conhece profundamente as misérias do ser humano investigou os amores do ditador e Salazar, os escândalos dos "Ballet Rose" (pedofilia), as orgias do Capitão Roby, mergulhou na pedofilia da Casa Pia. Publicou sobre os Massacres em África, os assassinatos em praxes de estudantes, mas também sobre a morte de Carlos Castro por Renato Seabra (homossexualidade), divulgou a suposta autoria do "Estripador de Lisboa".  É natural que após tão aprofundado estudo das misérias humanas, seja-lhe reconhecida alguma autoridade para falar da corrupção intrínseca da natureza humana.  Numa singular entrevista, expôs com clareza a sua visão e missão no mundo:

"Porque só escolhe temas relacionados som o "lado obscuro" da nossa sociedade?

Eu acho que o mundo é muito mau. E nós temos aqui um papel a fazer. Ou nos fechamos em casa, ficamos com a nossa família, tratamos das nossas coisinhas, para não termos que fazer nada, ou temos de ter um papel actuante na nossa sociedade. E a sociedade portuguesa cada vez está mais corrupta. O papel do jornalista é fazer essa intervenção, porque é uma das formas de actuação.

Não fica cansada de ver o mundo só por essa lente escura?

Eu costumo dizer que só mexo na porcaria. É complicado. Daí precisar de fazer de quando em quando grandes retiros. Estou muito ligada à casa, à família. Não tenho vida social, portanto, todo o tempo que tenho livre é para estar em casa, com a minha filha. E aí faço uma limpeza mental. Preciso do afastamento para voltar a ser pessoa. " (10). As pessoas com quem habitualmente  se relaciona, ficamos a saber, que nem pessoas se podem considerar.  

2. Corrupção Humana

A questão da corrupção do ser humano tornou-se a partir do século XV um problema central para os inquisidores. Em Espanha, por exemplo, os teólogos negam a possibilidade de se "limpar o sangue" dos judeus e muçulmanos, assim como o dos seus descendentes. Todas as conversões ou cruzamentos seriam inúteis nesta tarefa. A religião judaica ou muçulmana corrompe de tal forma os seres humanos que estes acabam por adquir uma outra natureza. Mais

Felicia Cabrita ao mexer em tanta na porcaria, acabou confrontada com o mesmo problema: o mundo é mau, mas todos os seres humanos são maus por natureza?. 

Esta questão levou-a a problemas filosóficos, tais como: Qual a natureza do mal ? Possui uma natureza independente ? ou é produto da corrupção dos seres humanos? No primeiro caso teria que atribuir a Deus a sua criação, no segundo pode atribui-la apenas aos homens. A sua resposta é conhecida: os homens não são todos maus, porque nem todos se deixam corromper de igual modo.

Uma das primeiras pessoas a ser excluídas do grupo das forças malévolas ou corruptas foi o atual lider do PSD e  primeiro-ministro - Passos Coelho, a quem dedicou uma biografia: Passos Coelho - Um Homem Invulgar

Felicia Cabrita vivendo numa humanidade, por si considerada degradada, mergulhada na corrupção e nos vícios mais abjectos, depois de muito mexer no lixo, descobriu um "homem invulgar", o "Obama de Massamá" (14).

O líder do PSD não se confunde com o "vulgo", o homem comum, constituiu uma excepção entre os seres humanos. A sua natureza é distinta, não está corrompida pelo "charco social em que vivemos, nesta sociedade obscura que tem a pilhagem como prémio e o banditismo como forma de governo" (14). O estilo é camiliano.

3. Cabala

Nenhum inquisidor duvidava que os judeus continuavam em segredo a manter as suas tradições: a cabala (tradição em hebreu).

Felicia Cabrita também não duvida que os seres humanos corrompidos também em segredo controlam a sociedade e procuram eliminar os raros "homens invulgares". As suspeitas da existência de uma cabala na sociedade portuguesa são testemunhadas pela própria:

Na Assembleia da República Comissão de Ética, no dia 19/02/2010, identificou claramente as forças do mal da sociedade portuguesa: o Partido Socialista.

O PS procura destruir os jornais ligados ao PSD e ao CDS-PP, nomeadamente fazendo um «ataque salazarista» ao semanário Sol (...) desde o caso "Freeport" tentou abalar a sustentabilidade financeira do jornal." (12).

O PS procurava por todos os meios calá-la: "(...)a jornalista afirmou não ser “pressionável” mas que, desde a investigação do caso Casa Pia, tem sido vítima de “um plano sórdido para denegrir” a sua imagem. “Usaram de forma muito vil o facto de ser mulher”, garantiu." (11). Espalharam "determinadas notícias sobre a minha pessoa insinuando relacionamentos com polícias e magistrados" (13).

5. Chefe dos Corruptos

Nesta teoria da cabala, muito usada pela Inquisição, há sempre um "cérebro", um mandante. Felicia Cabrita, uma autoridade no lixo humano, não tem dúvidas em o nomear: José Sócrates. Ele tem ao seu serviço uma horda de seres humanos corrompidos, infiltrados em todos os sectores da sociedade portuguesa. Nesse sentido, na mencionada sessão na Assembleia da Republica, afirmou que os corruptos envolvidos no processo "Face Oculta" foram avisados que estavam sob escuta, "dando-lhes margem para mudar de estratégia." (12).

6. Justiceira

Se o grande objectivo da Inquisição era a salvação das almas (não dos corpos), o de Felicia Cabrita é a salvação da sociedade portuguesa " cada vez está mais corrupta." (10).

Após identificar o cérebro da cabala - José Sócrates -, as páginas do jornal o Sol tornaram-se um verdadeiro orgão de propaganda contra as forças do mal. A "mulher sem medo" desdobra-se em acusações procurando mostrar a verdadeira natureza do chefe dos corruptos.

O seu profundo conhecimento do lixo humano permite-lhe fazer um retrato preciso das situações, estados de espírito dos intervenientes ou anotar pequenos detalhes, sem necessidade de estar presente in loco nos acontecimentos. A sua autoridade nestas questões é inquestionável, diga o que disser.

Alguns exemplos:

Motorista -Gerente de Conta:

"Como não tinha rendimentos oficiais que justificassem o dinheiro que tinha colocado nas mãos do amigo empresário, Sócrates terá passado a usar também a conta do próprio motorista para ocultar a proveniência das verbas, imprescindíveis para conseguir fazer face a algumas das elevadas despesas que fazia e que dariam nas vistas pagas em notas. Assim, entregava o dinheiro a João Perna, que este depositava no seu banco para despesas do patrão que implicassem transferências bancárias ou cheques.

Através da sua conta, o motorista pagou a Sócrates viagens, compras de supermercado e o mais que fosse necessário. Isso mesmo aconteceu logo em Agosto de 2011, quando Sócrates, acabado de sair de cena com a derrota nas legislativas, perdeu o irmão, António Pinto de Sousa, vítima de uma doença pulmonar. Sem suporte na sua conta oficial na CGD – que publicamente assegurou ser a única que manteve durante 25 anos – foi através da conta do motorista que foram pagas as cerimónias fúnebres do irmão", Sol, 19/12/2014

Tudo o que se passa nos interrogatórios da polícia, mesmo os que ocorrem no mais "absoluto segredo", são de imediato do conhecimento Felícia Cabrita.

O Sol, no dia 26/12/2014, informou os seus leitores que o motorista de Sócrates confirmou à polícia que "lavava" (branqueava) o dinheiro do patrão. No entanto, por precaução, face ao enorme volume das quantias envolvidas passou a exigir facturas (?!). Sócrates, prevendo que o mesmo acabaria preso, ordenou-lhe para não falar quando fosse preso...

Testa de Ferro:

"José Sócrates recebeu, entre meados de 2011 e 21 de Novembro passado, quando foi detido, mais de um milhão de euros em dinheiro vivo, que depois utilizou exclusivamente para pagar viagens, incluindo as deslocações a Paris, almoços e outras despesas que compunham a vida de luxo que exibia.

Segundo o SOL apurou, só no último ano a investigação da Operação Marquês acompanhou e registou 40 entregas de dinheiro, que totalizaram 400 mil euros – ou seja, uma média de 33 mil euros por mês.

O dinheiro era levantado da conta no BES titulada pelo amigo Carlos Santos Silva, o empresário que é suspeito de ser o testa-de-ferro dos cerca de 20 milhões de euros que o ex-primeiro-ministro terá recebido em ‘luvas’ durante os dois mandatos em que liderou o Governo. Sócrates foi confrontado com essas entregas de dinheiro durante o interrogatório pelo juiz de instrução criminal, que o questionou sobre a origem dessas quantias – tendo respondido tratar-se de um empréstimo do amigo empresário, que iria pagar depois.

O dinheiro em numerário chegava às mãos de Sócrates em envelopes, através dos seus agora co-arguidos Carlos Santos Silva, Gonçalo Ferreira e João Perna, o motorista que o ex-primeiro-ministro contratou quando saiu do Governo, em Junho de 2011, e, sem emprego, decidiu ir estudar Filosofia Política para Paris.

Foi ao motorista, aliás, que coube fazer o maior volume de entregas, uma vez que a vida empresarial de Santos Silva o levava a ausentar-se muitas vezes do país. Nessas alturas, era Gonçalo Ferreira, advogado de Santos Silva, quem, com cheques passados pelo patrão, se dirigia ao balcão do BES para fazer os levantamentos em numerário. Por diversas vezes, ainda, João Perna chegou a depositar esse dinheiro na sua conta e a pagar ele próprio as despesas de Sócrates", Sol, 19/12/2014

 

Manipuladores Falhados

Nem todos os manipuladores estão ao mesmo nível. Alguns não conseguem convencer ninguém, e quando ainda têm alguns momentos de lucidez confessam que sofrem de uma qualquer doença mental.

Este foi o caso do "comentador" do jornal Publico - João Miguel Tavares (JMT)- que após de ter escrito inúmeros comentários sobre Sócrates, no dia 22/1/2015, declara que sofre e uma "obsessão" que o domina, o impede de dormir e lhe retira a capacidade de observar, analisar e verificar dados sobre o processo de Sócrates.

Como é característico deste tipo de doenças a complexidade da realidade é reduzida a uma caricatura. Dividiu a população portuguesa em dois grupos:  os que estão com Sócrates e os que partilham da sua visão sobre ele. Estamos perante um típico sintoma de paranóia, facilmente reconhecida por o leitor menos prevenido.

Depois de ter feito uma instrutiva passagem pelo Correio da Manhã, JMT, foi contrato pelo jornal Público para se encarregar de Sócrates.

Os seus pressupostos jornalísticos são conhecidos: não compete a um jornal provar o que afirma, mas apenas ser credível e eventualmente verdadeiro. "Os jornais têm de ser credíveis, verdadeiros, justos e equilibrados, mas não têm de apresentar provas, como se fossem uma extensão do Ministério Público.", Diário de Notícias / 2009/03/10.

 

 

Recursos Gorgianos

Todas as estratégias manipuladoras não podem prescindir dos ensinamentos dos grandes mestres da manipulação da antiguidade clássica, e neste particular de Górgias. Perante a gravidade do contexto, as consequências que são previsíveis, todo os meios são secundários face aos fins que se pretendem atingir. Mentir, insinuar aquilo que se sabe ser falso tudo é aceitável.

De um ponto de vista sofista, não existe verdade, nem mentira, tudo não passa de convenções. A verdade de uns, é mentira para outros. O importante é não é o que se diz, mas se é verosímil, passa por credível e eventualmente consegue que muitos acreditem ser verdade.

Sócrates tem sido objecto de uma sistemática campanha de difamação, promovida por jornais jornais como o Correio da Manhã, Sol, "I", Público, ou canais de televisão como a TVI. A questão da verdade, isto é, a correspondência entre as afirmações e os factos é completamente irrelevante. O que importa são os objectivos que cada jornal tem em vista. Neste sentido, multiplicam-se ao processos judiciais de difamação, os desmentidos ao abrigo do "Direito de Resposta", etc.

Jornais como o Correio da Manhã, Sol e I têm sido obrigados a desmentirem largas dezenas de manchetes sobre José Sócrates. Na perspectiva manipulativa destes jornais, o que importa todavia é fixar na opinião pública uma dada imagem negativa do ex-primeiro-ministro.

   
Sócrates pediu a Proença de Carvalho para defender o seu motorista, Correio da Manhã Desmentido: No dia 18/12/2012, o CM publicava um curto texto de desmentindo a afirmação ao abrigo do "Direito de Resposta"
"António Costa passou o Natal a 30 km de Évora mas não foi ver Sócrates", machete do I, 29/12/2014 Desmentido: o jornal I só desmentiu o artigo de "investigação" de Ana Só Lopes, no dia 2/1/2015, numa nota de rodapé na pág.4.
"Caso Sócrates. Justiça apreendeu um milhão de euros em notas guardadas em cofre", machete do I, 13/1/2015 Desmentido: O artigo de "investigação" de Silvia Caneco foi prontamente desmentido pela advogada de Carlos Santos Silva. O montante em dinheiro que o empresário tinha no cofre afinal era 10 vezes inferior.
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Como enfrentar estratégias manipuladoras ?

A única resposta possível está na filosofia, no desenvolvimento do espírito crítico. A recomendação de Descartes é certeira, mas quase nunca seguida: Não devemos aceitar nada como verdadeiro sem antes analisarmos os seus fundamentos.

Não é fácil resistir à pressão das grandes massas, quando se manifestam num só sentido. Há uma coragem acrescida nestes casos dos que dizem NÃO, dos que assumem um posição diferente da manada.

Évora, porta do estabelecimento prisional, 25/1/2015

Durante o nazismo na Alemanha, no porto de Hamburgo em 1936, apenas um único homem se recusa a fazer a saudação nazi, permanecendo de braços cruzados. August Landmesser era o seu nome. Um grupo de mais 100 cidadãos vindos da Covilhã, Alentejo e Algarve, manifesta-se publicamente contra a forma como José Sócrates foi preso e está a ser humilhado e julgado na praça pública.
  Carlos Fontes
 

Notas :

(1) "A Doença que nos mata" -15/11/2014; "Danos da Corrupção"- 9/12/2014;

(3) "Política e Negócios" - 9 Outubro de 2014;

(4) "Soares e o processo político" - 27/11/2014

(5) "Também Podemos"- 4/11/2014

(6) O Fim da Justiça de Sócrates - 23/11/2014

(7) "Cidade das Luvas" -1/12/2014

(10) Entrevista de M.Margarida Pereira-Müller - Felícia Cabrita, a jornalista sem medo, Revista da Associação das Amtigas Alunas do Instituto de Odivelas,

(11) Jornal de Notícias - Felícia Cabrita "estranha" defesa de Sócrates por parte do PGR - 19/02/2010.

(12) TSF - Felícia Cabrita acusa PS de "ataque salazarista" ao jornal Sol, 19/02/2010

(13) DN, 19/02/2010

(14) Entrevista à revista Lux, 4/7/2011

O relatório final da comissão parlamentar sobre os negócios militares é uma vergonha.

Ler mais em:
http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/eduardo_damaso/detalhe/politica_e_negocios.html
 

 

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