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Avaliação dos Professores

Carlos Fontes

 

 

As reformas no sistema de ensino não são novidade nenhuma em Portugal. Todos os governos desde Abril de 1974 que tem feito a sua, com os miseráveis resultados que se conhecem. 

A reforma que está em curso desde 2005 ( consultar ) teve o condão de provocar a ira dos professores. Muitos tem sido os que à margem dos sindicatos tem saído à rua para manifestarem a sua indignação. No dia 5 de Outubro de 2006, cerca de 25 mil professores em Lisboa mostraram que o descontentamento era generalizado, nomeadamente contra o novo sistema de avaliação dos professores. 

Os professores recusam serem avaliados ? Temem o confronto do seu trabalho com os resultados escolares dos seus alunos ?. Não seria este confronto a melhor maneira de avaliar o seu desempenho profissional ? Será que consideram que não tem nada a melhorar no seu desempenho profissional ? 

Estas questões tem sido repetida vezes sem conta e revelam uma forma de colocar o problema que nenhum professor pode admitir. Porquê ? Os resultados escolares dos alunos não são o resultado automático da influência dos seus professores. Muitos outros factores interferem nos mesmos, a começar pelas predisposições de cada aluno, mas também a influência das suas familias, o ambiente e organização da aprendizagem existente em cada escola, as ofertas formativas, adequação dos programas, etc. 

Esquecer esta multiplicidade de factores é atribuir aos professores um poder que eles não tem, e omitir no processo de ensino-aprendizagem outros intervenientes com importantes responsabilidades nos resultados finais.

O que é então legitimo que se peça a um professor ? Julgo que há um conjunto de coisas que nenhum professor tem dúvidas em assumir como suas:

1. O compromisso de ajudar os seus alunos no ensino-aprendizagem, tendo para isso a obrigação de procurarem o melhor método de ensino capaz de o fazer, ainda que estes possam estar pouco ou nada motivados. O objectivo é utópico e fonte de uma permanente insatisfação, mas não deixa por isso de ser assumido como inerente á actividade docente.

2. O sentimento que aquilo que fazem é útil para os seus alunos, mas também para a sociedade. O que exige dos professores um continuo empenho afectivo com os alunos, capacidade de comunicação, paciência e persistência na sua missão. 

3. A consciência que cada matéria tem especificidades próprias que tem que ser dominadas. Um trabalho interminável que os obriga a estarem permanentemente a actualizarem saberes, mas também a seleccionar os conceitos e informações mais relevantes, e a pensar na melhor forma de os transmitir. A tarefa não é fácil porque não há receitas universais. Aquilo que funciona com um grupo de alunos, pode ter efeitos negativos com outro. A experiência de ensino, acaba por os obrigar a constituir reportórios de estratégias e truques para puderem realizar o seu trabalho. 

4. A percepção que actividade docente implica a constante partilha de saberes e experiências, não apenas com os alunos, mas igualmente outros professores. O desenvolvimento das competências profissionais passa pelo trabalho em equipa, projectos e outras formas intercambio no espaço escolar ou fora dele, de modo a abrir horizontes, adquirir novas competências, corrigir trajectórias ou emendar erros. 

5. A reflexão como um dos elementos centrais da actividade docente. O professor não é um simples técnico que se limite a reproduzir saberes já fixados e a usar métodos assumidos como eficazes. O trabalho docente opera sobre o terreno da incerteza e do imponderável. Este trabalho exige uma reflexão permanente para compreender, contextualizar e dar sentido ao que se mostrava caótico, de forma a permitir reconfigurar saberes ou estratégias pedagógicas.

Todos os professores tem a plena consciência que estas dimensões fazem parte integrante do seu trabalho, mas só as poderão desenvolver ou aplicar devidamente se as condições em que decorre o seu trabalho o permitirem. O que os professores não podem é ser responsabilizados por coisas que não dependem inteiramente dos resultado da sua acção. 

Fevereiro de 2008 

Carlos Fontes

Carlos Fontes

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