Carlos Fontes

 

 

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Matrizes do Pensamento Ocidental

 

 

1.O Ocidente

Aquilo que designamos por Cultura Ocidental não passa de uma construção ideológica que ao longo dos séculos os europeus foram formando para se distinguirem dos outros povos, nomeadamente os orientais. Este conceito acabou por ser assumido por algumas das antigas colónias europeias, onde foi possível destruir as culturas dos povos que nas mesmas existiam, como ocorreu nos EUA, Canadá, Austrália, etc.


2. As Grandes Tradições

Há muito que os europeus reclamam a superioridade da sua cultura e das tradições que a originaram. Paul Valéry, afirma que a Cultura Ocidental foi forjada por três tradições:


- No domínio moral: a tradição cristã, em particular a católica;
- No domínio do direito, da política e do Estado: a tradição do direito romano;
- No domínio do pensamento e das artes: a tradição grega.


A selecção destas três tradições é de natureza ideológica. Como refere Roger Garaudy, ela exclui desde logo as raízes da Europa: a mesopotâmia e o Egipto, o mesmo é dizer, a Ásia e a África. Parte-se do pressuposto que os europeus não têm raízes e se criaram a si próprios.


3. A Tradição Grega.

A cultura grega continua a ser abordada como não tendo raízes. A filosofia, a ciência e as artes gregas surgiram por "milagre", ou célebre "milagre grego". Aos gregos são atribuídas, entre outras coisas, as seguintes:


a) O Pensamento Racional. Tudo pode e deve ser explicado, após um exame crítico e de uma forma fundamentada. Parte-se do pressuposto que a razão é capaz de resolver todas os problemas e os únicos problemas reais são aqueles que ela ainda não conseguiu resolver.


b) A Dessacralização da natureza. A natureza é reduzida a uma simples dimensão material, mecânica. Abandona-se a personificação e divinização das forças da natureza, nomeadamente a intervenção de divindades na sua origem e sucessão dos fenómenos naturais. A natureza está sujeita a leis necessárias para cujo conhecimento o saber se encaminha. "Coisificada" está apta a ser explorada e manipulada pelo homem segundo os seus próprios interesses.


c) A Filosofia e a Ciência. As duas maiores criações do pensamento grego. Ainda hoje se afirma que todos os grandes momentos de criatividade do pensamento ocidental foram e são marcados pela redescoberta ou reinterpretação de ideias gregas.


4. A Tradição Romana

. Durante cinco séculos os romanos forjaram um Estado militar, fortemente centralizado e burocratizado, assente num conjunto instituições de direito que permitiram unificar grande parte da Europa, dando-lhe uma língua oficial comum. Aos romanos atribui-se, entre outras coisas, as seguintes:


a) Fundamentação do direito assente no estatuto jurídico dos homens e das coisas. No plano teórico os juristas romanos, inspirados nas filosofias dos estóicos, procuraram aproximar as leis escritas ditadas pela razão das leis que governam a própria natureza, incluindo todos os homens (Direito Natural). É preciso todavia dizer que o direito servia de política e de moral aos romanos, nos assuntos que estes não resolviam pela força das armas...

 
b) A Ideia de Império como comunidade de povos com origens e culturas muitos diversas. Esta ideia não era nova, aparece já no Império de Alexandre da Macedónia. Mas o Império romano na Europa, mesmo depois de ter desaparecido, nunca deixou de funcionar como um modelo de inspiração para as múltiplas tentativas da sua reconstituição através de vias muito diversas.


5. A Tradição Cristã.

Como acontece com o pensamento grego, na explicação da origem e ideias do cristianismo tende a excluir igualmente as suas raízes orientais. À tradição cristã é costume associar-se também certos elementos da tradição judaíca. Aos Cristãos atribui-se, entre outras coisas, as seguintes:


a) Moral universal.

b) Conceito de pessoa humana. A pessoa humana é única, irrepetível, possui liberdade para escolher entre o bem e mal, mas por isso mesmo assume por inteiro a responsabilidade pelos seus actos.


c) Concepção do tempo linear e irreversível. Na visão cristã, mas também judaica do tempo, deixa de haver lugar para o tempo cíclico, o "eterno retorno" dos gregos, dos Hindus, etc.

Num mundo globalizado, a cultura ocidental é cada vez mais questionada, não apenas pela sua pretensa superioridade, mas também em virtude dos resultados históricos revelados na aplicação algumas das suas ideias.
 

 
 

Carlos Fontes

 
 

 

   
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