Carlos Fontes

 

 

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<<<<Grandes  e Pequenos

 

 
 

Se em teoria a UE todos os estados-membros (28) são iguais, a verdade é que a realidade é muito mais complexa.

Dimensão

Embora a UE não possua nenhuma super-potência como os EUA, a China ou a Rússia, tem três potências regionais: a Alemanha, Grã-Bretanha e a França, mas que há muito deixaram de ter uma capacidade de intervenção global. No quadro da UE o poder de decisão, sobretudo da Alemanha, é decisivo. O Tratado de Lisboa consagrou o poder destes estados no seio da UE.

Segue-se depois o grupo dos estados de média dimensão, a saber: Itália, Roménia, Espanha, Holanda e Polónia. O número de habitantes, superfície, PIB ou influência em certas regiões continentais ou do mundo, conferem-lhes um poder intermédio no seio da UE. O seu poder efectivo é muito menor do que julgam ter na UE. As três potências regionais procuram compensar a sua posição intermédia, al, mantendo o seu controlo, convocando alguns deles para participar em cimeiras restritas para  discutirem assuntos da UE, ou elevando-os a membros do G7 ou G20.

O grupo dos chamados pequenos países, entre os quais se inclui Portugal, Suécia, Grécia, Bélgica, Irlanda, Dinamarca, Finlândia, Checa, ou o Luxemburgo, Malta, Eslovénia e a Lituânia, é o mais numeroso e diversificado de todos (19 países). Uns possuem uma influência local, outros incorporam redes de contactos globais. A sua coesão interna, riqueza, língua, experiência política nos foruns internacionais, diáspora, mas a sua proximidade geográfica aos centros de decisão da UE pode fazer toda a diferença entre eles. O seu poder de influência, devido à sua flexibilidade nas alianças estratégicas, pode ser muito superior ao que seria expectável. Todos os Tratados da UE pensados para limitar o poder do pequenos países.

Exigências

As diferenças entre os "grandes" e os "pequenos"  são particularmente notórias quando se coloca a questão das obrigações no cumprimento das regras comunitárias. Se um "pequeno" não cumpre é apontado, admoestado ou são exigidas sanções, se o mesmo acontece com um "grande" o caso é ignorado, encontradas justificações e até são introduzidas mudanças nas próprias regras.

Exemplos:

1. A regra europeia do défice abaixo dos 3,0% do PIB, entre 1999 e 2015, foi violada em 165 vezes: 51 ocasiões foi permitido por o países estarem em recessão, mas não em 114 ocasiões de acordo com um estudo do Instituto de Investigação Económica alemão Ifo. Entre os que ultrapassaram mais vezes conta-se a França (11 vezes), Portugal (10) e outros países.

2. Em Maio de 2016, quando de debatia a questão de penalizar dos países que em 2015 tinham violado a regra dos 3%, a saber a França, Espanha e Portugal. O presidente da Comissão Europeia - Jean-Claude Juncker - veio publico afirmar que a questão não se podia colocar em relação à França, "Porque é a França" (!!!).

De acordo com os tratados da UE, um país deve ser penalizado quando ultrapassa o deficie de 3%, mas também quando tem um excedente comercial (superavit), o limite fixado é de 6%. Acontece que ultrapassou nos últimos anos este limite. Sanções? Nem pensar! "Porque é a Alemanha" (!!!).

 

3. Em Fevereiro de 2016, a UE perante a ameaça de saída da Grã-Bretanha, negociou com este país um regime de exceção que não estava previsto em nenhum Tratado, "Porque é a Grã-Bretanha".  

 

Carlos Fontes

 
 

 

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