Carlos Fontes

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Portugal na Construção da União Europeia ( II )

 

 
  Portugal após a entrada na CEE (actual UE), em Janeiro de 1986, deu alguns contributos decisivos para a construção de um novo modelo supra-nacional na Europa. Um dos melhores momentos para assinalar o que tem sido a estratégia portuguesa tem analisar aquilo em que se tem empenhado nas várias presidências (1992, 1999 e 2007). 

 

 

Primeira Presidência de Portugal da UE (1º. Semestre de 1992 )

1. Reforma da Política Agrícola. Foi aprovada a reforma histórica da Política Agrícola Comum (PAC). Como é sabido grande parte dos fundos comunitários destinavam-se até então a subsidiar os produtos agrícolas franceses. Esta repartição de fundos remetida a  UE para um lugar secundário na ciência e nas tecnologias.

2. Novos Membros. A UE contava então com 12 membros. Foi durante esta presidência que arrancou a abertura da UE aos países membros da EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre): Áustria, Suécia, Finlândia, Suíça e a Noruega que não entrou por vontade dos seus cidadãos.

3. Tratado de Maastricht. Este tratado  havia sido aprovado em Dezembro de 1991, e marcou a mudança da anterior CEE- Comunidade Económica Europeia para a actual União Europeia. Este Tratado previa a criação de uma moeda única -o EURO. Um medida que Portugal estava particularmente interessado em concretizar. Por isso tentou resolver os inúmeros problemas pendentes, mas não conseguiu nesta altura ultrapassar o problema de fundo deste Tratado: a sua vocação federativa. Os Dinamarqueses em referendo acabaram por o rejeitar. Os diplomadas portugueses negociaram um 2º. referendo que acabou por transformar o "Não", num "Sim". 

4. Conflitos no Leste da Europa. Foi durante a presidência portuguesa que se assistiu à divisão da antiga Jugoslávia e ao reinicio da guerras nesta região da Europa. A custo tentou-se evitar que os conflitos alastrassem, o que foi conseguido. 

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Segunda Presidência de Portugal da UE (1º. Semestre de 2000)

A Europa estava mergulhada numa completa desorientação quanto ao modo como enfrentar os grandes desafios da globalização. Durante esta presidência ocorreu um forte impulso para abrir a Europa ao mundo, deixando de estar centrada sobre si própria.

1. Primeira Cimeira África-Europa, no Cairo

2. Primeira Cimeira União Europeia-Índia, em Lisboa

3. Aprovação da Estratégia de Lisboa (Estratégia para o reforço do emprego, das reformas económicas e da coesão social, enquanto partes integrantes duma economia assente no conhecimento.) 

 

 

Presidência da Comissão Europeia - José Manuel Durão Barroso 

O projecto europeu estava num caos. Após a Presidência portuguesa, a França conduziu a Europa para a aprovação do Tratado de Nice (Dezembro de 2000) onde está bem patente uma visão federativa e extremamente burocrática da União Europeia. Na sequência deste Tratado consegue ainda fazer aprovar em Outubro de 2004, o projecto de Constituição da União Europeia. Os cidadãos europeus estão mais do que nunca divididos sobre o que os políticos andavam a decidir nas costas dos cidadãos. 

Em Novembro de 2004, Durão Barroso é nomeado presidente da Comissão Europeia, nada pode fazer para corrigir a situação. Resta aguardar melhores dias e estudar uma a situação. 

Chamados a pronunciarem-se sobre o Projecto de Constituição, em 2005, os cidadãos franceses e holandeses rejeitam de forma expressiva a "Constituição". É então aprovado um prazo de reflexão sobre o assunto. A Comissão prepara as condições para uma saída da crise institucional: as presidências rotativas da Alemanha e de Portugal, em 2007, eram a grande oportunidade para ultrapassar o impasse. Foi isso que veio a acontecer.

 

 

Terceira Presidência de Portugal da UE (2º. Semestre de 2007)

A diplomacia portuguesa envolveu-se  na concretização de três grandes objectivos:  

1. Primeira Cimeira União Europeia - Brasil. O Brasil é finalmente reconhecido como uma potência emergente, abrindo as portas para o seu reconhecimento no plano mundial (G20, Conselho de Segurança da ONU, etc). 

2. Aprovação do Tratado de Lisboa. 

2. Segunda Cimeira União Europeia-África.

O facto do presidente da UE ser um português facilitou a concretização destes três ambiciosos objectivos.  

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Tratado de Lisboa

Ideias chave sobre o novo Tratado:

1. União de Países. A União Europeia simbolicamente desfaz-se de todos os seus símbolos (hino, bandeira, etc), mas também da ideia da supremacia do Direito Comunitário sobre o Direito Nacional. É um sinal claro que não estamos perante uma Federação, mas de uma união de países independentes com múltiplos interesses em comum.   

2. Centralização Burocrática. O novo Tratado centraliza a burocracia comunitária em Bruxelas, acaba com as presidências rotativas, estabelece uma presidência permanente do Conselho Europeu, reduz o número de comissários, aumenta o número de decisões tomadas por maioria, etc. Tratam-se de medidas que aparente irão provocar o afastamento dos cidadãos de UE, mas que tem uma vantagem evidente ao fragilizarem os euro-burocratas. 

Exige também que os povos, sobretudo os dos países mais pequenos, se organizem melhor para se defenderem de possíveis tentações totalitárias dos países mais populosos. 

3. Orgãos de Controlo. O Parlamento Europeu, mas também os parlamentos nacionais são reforçados nas suas competências, exigindo-se agora uma acção mais interventiva nas decisões comunitárias.

4. Economia. A UE assume-se como um espaço económico aberto que tem como funções essenciais: 

a)  harmonizar as regras de concorrência entre as empresas e os estados-membros, mantendo uma moeda única forte e estável (Euro);

b)  assegurar a livre circulação de pessoas no espaço comunitário, garantindo-lhes simultaneamente a igualdade de direitos e deveres em cada Estado Membro independentemente da sua origem. Neste sentido a UE é um espaço de liberdade, justiça e segurança. Em anexo ao Tratado consta a Carta dos Direitos Fundamentais da UE, com valor idêntico ao próprio Tratado.

5. Solidariedade Comunitária. Os países tendo entre si múltiplos interesses em comum, é do seu próprio interesse que se concentrem em melhorar a sua coesão interna, mas também em ajudar que outros para que o façam. O Tratado fixa várias situações em que se exige o dever de solidariedade entre os estados-membros (calamidades, etc). 

6. Alargamento. Ao abandonar qualquer ligação da UE a uma matriz civilizacional ou territorial, torna-a num espaço económico que pode ser indefinidamente alargado para além das fronteiras históricas da própria Europa. Não há nesta perspectiva qualquer impedimento para que a UE não venha a integrar países como a Turquia, Argélia, Marrocos, Tunísia, Cabo Verde, etc. Basta que aceitem as condições impostas para se ser membro da UE.

7. Representação Externa. O representante da UE (Ministro dos Negócios Estrangeiros e de Defesa) é na prática uma voz internacional de um vasto conjunto de interesses nem sempre conciliáveis. A sua voz dependerá em grande medida da existência de consensos entre os estados-membros.

8. Diversidade de Culturas. A UE afirma-se desta forma como um espaço de culturas, tradições e histórias muito diversificadas. É do interesse de cada país afirmar neste contexto a sua individualidade e projectarem-se neste espaço de partilha alargado.

O Tratado de Lisboa sem abandonar os Tratados firmados até 2000, reinventa um modelo de uma Europa Económica e Social para um mundo globalizado.

 

 

Resolução dos Impasses

O impasse em que a União Europeia caiu em 2004, só foi desbloqueado em 2009, com um novo referendo na Irlanda. Durão Barroso é eleito para mais um mandato como à frente da Comissão Europeia (2009-2013).O Tratado de Lisboa, em Novembro de 2009 é finalmente aprovado pelos 27 estados da UE. A marca portuguesa está deste modo ligada à construção de uma nova fase da Europa.  

Carlos Fontes

   
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