Carlos Fontes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A Ameaça Alemã

A ideia de uma União Europeia está ligada à magna questão de controlar os ímpetos expansionistas da Alemanha, que estiveram no século XX na origem de duas guerras mundiais. O problema colocou-se com particular relevância, em 1945, após a derrota da Alemanha.

Os EUA tinham então um enorme poder de decisão sobre os destinos da Europa. O grande debate, em 1945, era o que fazer da Alemanha. O secretario do Tesouro Secretario norte-americano Morgenthau defendia a sua desintegração.

O presidente Harry S. Truman, na Conferência de Postdam (1945), chegou à conclusão que para impedir o expansão da antiga União Soviética, havia que a manter unido o território da Alemanha que ainda não estava controlado pelos soviéticos. Decidiu apoiar também a Grécia e a Turquia, contra a expansão soviética, e criar uma aliança militar dos países ocidentais (Pacto do Atlântico Norte).

1. RFA

É neste contexto de "guerra" contra a expansão soviética que, em 1949, os aliados ocidentais, liderados pelos EUA, apoiam a criação da RFA - República Federal da Alemanha, que reunia as três zonas ocupadas pelos EUA, França e Grã-Bretanha.

Face ao receio que a RFA voltasse a assumir-se como uma nova ameaça para a Europa, os aliados criaram então uma comissão que se encarregava da utilização do carvão e o aço pela industria da RFA. Esta Comissão tornou-se num enorme obstáculo à re-industrialização da Alemanha, sendo pedido o seu desmantelamento.

Foi neste contexto que Jean Monnet, presidente do Plano francês de modernização económica, concebeu uma alternativa que permitia controlar o processo de consolidação da independência da RFA, integrando-a num quadro de cooperação internacional.

A criação da Comunidade Económica do Carvão e do Aço (Paris, 1951), constituída pela França, Itália, RFA , Bélgica, Países Baixos e o Luxemburgo, foi na altura um dos meios para controlar uma possível ameaça dos alemães ocidentais.

Os bons resultados desta cooperação internacional, permitiu não apenas a sua rápida reconstrução, mas sobretudo, que os alemães da RFA passam a ser vistos com outros olhos.

A União Soviética controla uma grande parte da Europa, afirmando-se como uma potência mundial capaz de enfrentar militarmente os EUA. Em 1956 invade a Hungria e esmaga a insurreição da população. Face a esta ameaça, os países que haviam constituído a CECA, em 1957, constituem a CEE- Comunidade Económica Europeia.

A RFA continua sobre a ameaça da União Soviética, que ocupada a outra parte da Alemanha, a RDA - República Democrática da Alemanha. Os EUA, Grã-Bretanha e a França continuam a ter tropas estacionadas na RFA, não apenas para a ajudarem a enfrentar a ameaça soviética, mas também para evitarem o regresso ao passado.

O certo é que a RFA passou a defender uma ativa cooperação internacional entre todos os "países ocidentais".

2. Eixo Franco-Alemão

Se os anos 60 e 70 foram pouco favoráveis à expansão das ideias federalistas no seio da CEE, devido às posições nacionalistas assumidas pela França. A verdade é que os alemães da RFA passaram a estar na linha da frente na defesa destas ideias.

Depois da queda da ditaduras em Portugal (1974), Grécia (1974) e da Espanha (1975), havia que encontrar uma solução para apoiar os novos regimes democráticos.

O problema era delicado nestes países, onde se enfrentam os dois blocos militares que dominavam o mundo. A RFA dá um importante contributo ao apoiar financeiramente os vários partidos democráticos, enquanto a União Soviética e a RDA continuaram a financiar os partidos comunistas.

Portugal, contando com o apoio da RFA, em 1976, inicia a conversações para a adesão à CEE.

Nos anos 80, o bloco soviético na Europa, está em plena convulsão. É neste contexto que a França e a RFA, assumem como os impulsionadores de uma federação europeia. Este facto ficou a dever-se à subida ao poder de dois importantes lideres políticos: o socialista François Mitterrand foi eleito Presidente da França, em 1981, e o democrata-cristão Helmut Kohl chanceler da Alemanha em 1982. Ambos tinham bem viva a memória dos horrores da II Guerra Mundial. A presidência da comissão da CEE foi dada a Jacques Delors. Em 1983 Mitterrand e Kohl lançaram em Esturgarda uma "Declaração Solene", onde reafirmavam o desejo de fazer da CEE uma verdadeira União Europeia. Delors foi incumbido de planear os fundamentais que deveriam ser dados para atingir esse objectivo.

No ano em Portugal e a Espanha aderem à CEE (1 de Janeiro de 1986), é aprovado o Acto Único Europeu, que antecede a União Europeia (1992). A Europa comunitária tinha agora 330 milhões de habitantes. Um PIB equivalente a 40% do total do mundo industrializado, e 16% das exportações mundiais. A CEE tornara-se uma força global, que atraia outros países europeus.

A RFA era já na altura o principal motor económico da CEE, e igualmente o país que mais contribuía para o  desenvolvimento dos países com mais dificuldades económicas.

3. Nova Alemanha

A queda do Muro de Berlim (1989) provoca uma mudança radical na Europa, mas também no mundo. O bloco soviético desagrega-se, a Alemanha unifica-se.

A Alemanha defende a rápida integração na União Europeia dos países que haviam pertencido ao bloco soviético, consolidando dessa forma os novos regimes democráticos, mas também alargando o mercado comunitário.

A unificação da Alemanha implicou a mobilização de enormes recursos financeiros, para permitir melhorar as condições de vida da população da antiga RDA. O resultado foi durante vários anos um enorme descontentamento por parte dos trabalhadores da antiga RFA que, devido à unificação, haviam perdido muitas "regalias".

4. Egoísmo ou Realismo?

Indispostos com os custos da unificação, os alemães encontraram na "crise das dívidas soberanas", o pretexto ideal para descarregaram a sua raiva nos países do sul da Europa, acusando-os de "preguiçosos" e "esbanjadores" do dinheiro que a Alemanha lhes dava...

A chanceler Angela Merkel, nascida e criada na antiga RDA, prometeu a todos os povos do sul da Europa um castigo severo.

A Grécia foi a primeira vítima, e pretextos não faltavam. Em 2009 os gregos descobrem que as suas estatísticas oficiais eram uma fraude, a dívida externa era astronómica e a despesa do estado estava completamente descontrolada. Os recursos do país estavam a ser espoliados por uma infimidade de corporações e uma classe política corrupta. 

Os alemães arvorando-se em defensores do rigor orçamental na UE, não pouparam as críticas e as exigência ao povo grego para lhes emprestarem dinheiro a juros especulativos. Era preciso castigá-los, e nesse sentido impediram o apoio atempado da União Europeia.

A política alemã para os países em dificuldade, para aprovarem qualquer plano de empréstimos, reduzia-se a um conjunto de exigências muito claras. Estes países deveriam fazer, num curto espaço de tempo:

a) Cortes nos salários, e nas despesas do Estado na saúde, educação e segurança social. Estes cortes abruptos empobreceram de imediato as populações dos países atingidos pela crise, provocando fortes movimentos migratórios nomeadamente para a Alemanha...

b) Desregulamentação das relações laborais. A precaridade laboral e aumento dos horários de trabalho passou a ser a regra.

d) Privatização ou desmantelamento das empresas públicas, assim como a venda ao desbarato do património público.

Enquanto isto acontecia, as empresas alemãs, procuraram apoderar-se das grandes empresas dos países em dificuldade ou reforçarem as suas quotas de mercado. Trata-se de uma receita que aplicaram à Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e... Itália.

 

4.1. O Grande Negócio

A Alemanha ao exigir sempre novas "medidas de austeridade" aos países em dificuldade, agravou a dificuldade destes países pagarem as suas "dívidas soberanas". A classificação das suas "dividas soberanas" foi colocada ao nível do "lixo", a única forma se e financiarem foi junto de especuladores internacionais.

Quanto pior era a situação dos países em dificuldade, mais a Alemanha lucrava, dado que era o único mercado seguro na zona Euro. Os juros que pagou pelos empréstimos foram historicamente os mais baixos de sempre, chegaram ser mesmo negativos.

Entre 2010 e 2014, segundo a revista Der Spiegel, a Alemanha havia lucrado com a crise da zona euro 41 mil milhões de euros, registando apenas 600 milhões de prejuízo (Publico, 20/8/2013).

A apregoada "solidariedade alemã" (concessão de empréstimos) tratou-se afinal de um chorudo negócio, feito à custa do chamados "países periféricos".

 

Jornal grego, Junho de 2012. A cancelar alemã é identificada como a encarnação de Hitler.

Em construção !

 

 

 Carlos Fontes

 

 

 

 

 

 
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