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Depois das guerras coloniais
(1961-1974) Portugal enfrenta há três décadas uma guerra de outra dimensão,
mas com proporções internacionais: a guerra contra o tráfico de droga. As quantidades de droga
que todos os anos são apreendidas dão uma ideia clara desta ofensiva dos traficantes. Em 2006, por exemplo,
as várias polícias portuguesas apreenderam mais de 34 toneladas de cocaína.
Poderosos traficantes
internacionais pretendem transformar o país na principal porta de entrada do Haxixe e da
Cocaina na Europa, tirando partido da sua situação geográfica,
infra-estruturas aero-portuárias, ligações internacionais, circulação de
pessoas e algumas vulnerabilidades internas (bairros e grupos sociais
problemáticos, uma administração pública pouco eficiente, etc).
As nacionalidades dos traficantes
detidos em Portugal revelam a dimensão desta guerra internacional:
1.
Os principal grupo de detidos são lusofonos. Os traficantes internacionais
recrutam traficantes locais nos mais variados estratos sociais e origens
(brancos, africanos, ciganos, etc). Muitos destes portugueses envolvidos no
trafego são naturais ou tem ligações familiares com antigas antigas colónias
portuguesas. A intensa circulação de pessoas entre os Palops é aproveitada
pelos traficantes, não admira neste contexto que Cabo Verde surja como o país com maior número de detidos.
O tráfico de droga é a
principal causa de detenção de portugueses no estrangeiro (c.80% em 2006). Em
alguns países, as condenações por tráfico de estupefacientes está associada
a outros crimes e tendem a resultar em deportações. Ao todo, são quase 1400
os cidadões nacionais que se encontram reclusos em todo o mundo, a maior parte
dos quais em França, Luxemburgo e Espanha. No entanto, estes são apenas os
casos dos quais as autoridades consulares têm conhecimento, pelo que o seu número
real deverá ser mais elevado (dados de Agosto de 2007).
2. O
segundo grupo de traficantes são os falantes de espanhol, com especial destaque
para os espanhóis, venezuelanos e colombianos. Os principais produtores de
cocaina na América do Sul situam-se nos países desta língua que a introduzem
nos EUA e na Europa através da Bélgica, Holanda, Espanha, Portugal e
Grã-Bretanha. Grande parte da cocaína apreendida em Portugal destina-se a
Espanha, onde os narcotraficantes criaram na Galiza uma das suas principais bases
de apoio na Europa.
Os traficantes destes países não apenas atacam Portugal, mas procuram dominar algumas das suas antigas
colónias, como a Guiné-Bissau
para as transformarem em narco-estados. O Brasil depois se ter transformado num
corredor alternativo às Caraibas para tráfico de cocaina oriunda da Colombia, Peru
e Bolívia (anos 80), tem a sua segurança interna ameaçada pelos cartéis da
droga.
3.
O terceiro grupo é constituído por traficantes oriundos da própria União
Europeia, como destaque para a Holanda, Alemanha, Grã-Bretanha, França e
Itália. A livre circulação dos cidadãos destes países em todo o espaço da
UE facilita deste modo o próprio tráfego.
A Holanda e o norte da Bélgica tem neste grupo um
papel destacado, pois produzem a quase totalidade do Escstasy que é consumido em
países como Portugal. Para além de disseminarem estas drogas sintéticas
pela Europa, introduziram-nas também nos EUA, América Latina, Austrália
e África do Sul.
4.
O
grupo diz respeito aos países islâmicos, grande produtores de drogas como o
haxixe (cannabis), liamba ou a heroina. Cerca de 90% da Heroina consumida
da Europa provém do Afeganistão, sendo introduzida no continente através de
uma vasta rede que passa pelo Paquistão, Irão, Turquia e outros países
muçulmanos.
Marrocos é o maior produtor
mundial marijuana (maconha) e da sua resina, denominada haxixe. Mais de 80% do
Haxixe consumido na Europa provém deste país muçulmano, cujas zonas de
produção se situam na região de Rif e Yebala, cobrindo uma área de mais de 200
mil hectares.
A sua proximidade de Portugal justifica só por si o elevado número de traficantes
marroquinos que todos os anos são aqui detidos.
5.
O último grupo concentra os traficantes oriundos de países da Europa do Leste.
A maioria destes traficantes procurou tirar partido da enorme circulação de
imigrantes quando, a partir de 1999, se constituiu em Portugal importantes
comunidades oriundas destes países.
Em Portugal o tráfego de droga
é responsável por grande parte da pequena e grande criminalidade, como roubos,
assassinatos, sequestros, tráfego de armas e de pessoas, prostituição, lavagem de
dinheiro, etc., pondo em causa não apenas a segurança do país, mas a vida das
futuras gerações.
O consumo da droga em Portugal é
responsável todos os anos pela morte de centenas de pessoas, devido a overdoses, crimes,
acidentes de viação sob o efeito de drogas (10% do total. INML,2006), mortes
por doenças
contraídas durante o consumo (SIDA, Hepatite B ...), etc.
CF
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. A Ameaça Espanola
O combate a tráfico
de droga em Portugal tem pela frente um problema chamado Espanha, com o qual
possui extensas fronteiras e comunicações. Em 2007 o relatório internacional
(1) constatava que a Espanha:
1. É o centro
europeu de branqueamento de capitais resultantes do narcotráfico, numa
dimensão apenas equiparável à que acorre na Colômbia, Panamá, Costa Rica ou
na Aruba.
2. Grande parte do
tráfico deste país é controlado pelos cartéis colombianos,
sendo o branqueamento de capitais feito através de uma vasta rede de empresas e
testas-de-ferro, que operam em sectores como a construção civil, hotelaria e
turismo. A Costa do Sol espanhola, arquipélago das Baleares e as Canárias são
alguns dos seus paraísos.
3. Os colombianos
são apoiados nestes negócios pelos traficantes locais, em especial os galegos
que durante muito tempo dominaram o narcotráfico.
4. A Espanha, recorde-se é a
principal porta de entrada da cocaína na Europa, sendo também a nível mundial
os segundos maiores consumidores depois dos EUA. (
1 ) "Espanha lava mais branco", in Expresso, 25/8/2007. |