Carlos Fontes

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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( VII )

A Grande Conspiração Socrática

  1. Descoberta da Conspiração

O juiz Carlos Alexandre e o procurador Rosário Teixeira, quando andavam a investigar José Sócrates, em 2013, descobrem pelas escutas telefónicas que o mesmo preparava um verdadeiro golpe de estado, como mais tarde revelará António José Saraiva (Doc.2).

Como o juiz e o procurador não podiam confiar em ninguém na justiça, dado que Sócrates tinha minado todo o sistema judicial, os únicos a que pode recorrer face a esta ameaça são os jornalistas do Correio da Manhã, em particular ao Eduardo Dâmaso.

Violando o segredo de justiça a que legalmente estão obrigados, informam um jornalista do Correio da Manhã (CM) das escutas que estavam a fazer ao ex-primeiro-ministro (2005-2011). Face à gravidade do caso, o jornalista do CM informa Afonso Camões, em Maio de 2014, quando o mesmo se encontrava em Macau e na República Popular da China com Cavaco Silva. (Doc.1).

O jornalista do Correio da Manhã desconhecia todavia que Afonso Camões era amigo "há quarenta anos" de José Sócrates, e a primeira coisa que este tratou de fazer foi informá-lo das escutas telefónicas. Sócrates, segundo do Correio da Manhã, passou a ter tempo para destruir a documentação que o podia comprometer e confundir os agentes que o escutavam.

 

  2. O Grandioso Plano Socrático

O plano de José Sócrates para dominar Portugal era verdadeiramente fantástico se tivermos em conta as palavras de José António Saraiva (director do Sol) (Doc.2), Eduardo Dâmaso (director-adjunto do Correio da Manhã) e outras reputadas criaturas jornalísticas.

Sócrates apoiado num vasta rede de cúmplices, como o advogado Proença de Carvalho ou o empresário Carlos Santos Silva (preso), desde a Justiça, forças armadas, banca às grandes empresas tudo ficaria sob o seu controlo. O plano secreto agora revelado por estes jornalistas, com base na informação de um juiz e um procurador, era não apenas perfeito, mas grandioso.

a ) Controlo da Justiça

b ) Controlo da Banca

c ) Controlo das Obras Públicas

d ) Controlo da PT

e ) Controlo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). José Sócrates bem tentou controlar a ERC enquanto foi primeiro ministro, mas não o conseguiu. Depois de se demitir, prossegui o seu plano de dominar Portugal, e ordenou a um dos seus cúmplices o advogado Proença de Carvalho, para ordenar a Carlos Magno, presidente da ERC para que este travasse as notícias que o CM, em 213, publicara sobre a vida de Sócrates em Paris e a sua ligação à Octapharma (CM, 15/1/2015).

f ) Controlo da Comunicação Social. Sócrates quando foi primeiro-ministro quase conseguiu controlar toda a imprensa, mas não o conseguiu. Dois anos depois de sair do governo, pressiona o seu cúmplice Proença de Carvalho para que convença outros a adquiram uma participação significativa no capital a Controlinveste, dona do JN, DN e TSF, o que veio a acontecer. Este advogado ficou como presidente do conselho de administração desta empresa, dada agora como controlada por José Sócrates (CM, 15/1/2015).

A grandeza do plano socrático só encontra equivalentes nos que foram concebidos por duas figuras centrais na histórica de Portugal: D. João II na questão do Tratado de Tordesilhas e o Marquês de Pombal na expulsão dos jesuítas.

 

  3. Contra Golpe do Juiz, Procurador, Correio da Manhã, Sol e jornal I.

Apesar da grandiosidade do plano de Sócrates para dominar Portugal, o mesmo não contava com a coragem do juiz Carlos Alexandre e do procurador Rosário Teixeira, que foram informando o Correio da Manhã, Sol e "I" das escutas que faziam. Toda a estratégia montada para dominar Portugal e quem sabe o mundo, caiu por terra.

Estes jornais, guardas avançadas de Portugal passaram a atacar de forma sistemática não apenas o cérebro da grande conspiração, mas também os seus cúmplices. Estava em jogo o futuro do país e da Civilização Ocidental.

Correio da Manhã, 15/1/2015, onde denúncia alguns dos cúmplices de José Sócrates.

Afonso Camões, o homem que em Maio de 2014 avisou Sócrates que estava a ser escutado, acabou desmascarado. Embora Sócrates soubesse que estava sob escuta, recomenda-lhe neste ano que passe de presidente do conselho de Administração da Lusa (agencia noticiosa de Portugal), para a direção do Jornal de Noticias (JN), para onde passou em Setembro de 2014, para concorrer comercialmente com o Correio da Manhã. Como ? Produzindo um jornal que mergulhe ainda mais na lixeira.

Se Sócrates sabia que estava a ser escutado, Afonso Camões, embora o tenha avisado do facto, acabou por se esquecer e falou com Sócrates. As gravações destas conversas foram naturalmente parar ao Correio da Manhã, que se preparou para vender mais alguns jornais com a notícia.

 

Afonso Camões, ao saber do que o CM preparava, assustado, no dia 8 de Janeiro de 2015, pediu uma audiência à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ouviu no dia 15 de Janeiro. A PGR , manifestou-se indiferente à facto dos juiz e o procurador quebrarem o segredo de justiça, e recomendou-lhe que arranja-se um advogado para o defender da campanha de difamação que o CM certamente lhe faria.(Doc.1). A PGR acabou por publicar um comunicado, a lavar do facto as suas responsabilidades. A demência torna-se preocupante.

O Correio da Manhã, porta-voz do juiz e do procurador do processo Sócrates, revela mais uma faceta da guerra que se desenrola no bastidores. Estes dois homens continuam a não poderem confiar em ninguém na justiça. O procurador Rosário Teixeira vai fiscalizar o sorteio do processo no Tribunal da Relação que irá apreciar o recurso de José Sócrates. Teme que os juízes deste Tribunal sejam cúmplices de Sócrates e o libertem (CM, 18/1/2015).

 

 

4. Conspirações & Conspirações

O delírio conspirativo do Correio da Manhã e outros pasquins é de tal forma alucinante, que nos leva a colocar pergunta: - O que leva as pessoas a acreditarem em teorias da conspiração ?

Vários estudos defendem a tese que existe no ser humano uma propensão para acreditar em conspirações. Ao desconhecer todos os perigos que quotidianamente pode enfrentar, imagina cenários sobre a sua ocorrência.

Em situações sociais particularmente complexas, onde as pessoas não compreendem todas as coisas que estão em jogo, as teorias das conspirações permitem fornecer um quadro explicativo unificado e simplista que confere sentido a tudo o que não compreendem. Os perigos difusos são corporizados, satanizados e relacionados entre si, numa narrativa onde nada acontece por acaso. Desta forma o seguidor destas teorias encontra alguma tranquilidade, pois imagina-se dominador dos acontecimentos.

Karl Popper (A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, Conjecturas e Refutações, Em Busca de um Mundo Melhor, etc) mostrou que as teorias das conspiração são construções sociais.

Os que acreditam e defendem a teoria das conspirações, concebem as sociedades humanas como organismos submetidas a leis deterministas, onde nada acontece ao acaso. Tudo o que acontece é consequência de intenções (propósitos, objectivos) de alguém, um grupo, raça, instituição, país ou religião.

Nesse sentido, alguém tem que ser sempre responsabilizado aquilo que de mal acontece, porque se acontece é porque alguém andou (em segredo) a congeminar (conspirar) para que acontecesse.

O acontecimento social por mais mais aleatório (não-intencional) que seja é sempre visto como o produto de uma dada mente (o culpado, o bode expiatório). Todas as suas consequências foram as previstas, nada aconteceu de inesperado (novo). O passo a seguir é eliminar os culpados do que aconteceu para que a ordem natural das coisas seja resposta.

As teorias das conspirações não são novas. "Homero, escreve Popper, concebeu o poder dos deuses de tal forma que tudo aquilo que acontece na planície de Tróia seria apenas um reflexo das várias conspirações no Olimpo" (Conjecturas e Refutações). Os regimes totalitários alimentam-se da criação de "complôs" imaginários para lançarem campanhas como o apoio popular para eliminarem os seus opositores (bodes expiatórios).

Richard Hofstadter, num artigo de 1964, na "Harper's Magazine", usou o termo "paranóide" classificar os conspiracionistas. Estes vêem conspiração em termos apocalípticos, passam nos seus discursos entre o nascimento e a morte de mundos inteiros, ordens políticas inteiras e sistemas completos de valores humanos. Eles afirma-se frequentemente como os guardiões da civilização. As pessoas clinicamente "paranóides" sentem que todos estão a remar contra elas. As pessoas que são socialmente "paranóides" acreditam que poderes ocultos estão perseguindo a sua classe social, nação ou religião.

Daniel Jolley e Karen Douglas, num estudo publicado em 2013, no "British Journal of Psychology", descobriam que a exposição a teorias de conspiração diminui a probabilidade de uma pessoa se envolver em acções políticas, quando comparadas com as que são expostas à informação que refuta teorias de conspiração. As teorias da conspiração tendem a alienar socialmente as pessoas, desligando-as da sociedade.

Todas as teoria de conspiração, como escreve Umberto Eco (Uma teoria de conspirações e seus perigos, 2014), desviam a opinião pública para perigos imaginários, distraindo-as de ameaças reais.

Jornalismo Conspiranóico

A análise da prática de jornalistas como Eduardo Dâmaso, Felicia Cabrita ou José António Saraiva, levou a que fosse criado um novo conceito - conspiranóicos -, para caracterizar os criadores de teorias da conspiração que atingiram o nível da paranóia. Um tema que iremos desenvolver.

Carlos Fontes

 

 

Documentos:

1.

O juiz Carlos Alexandre e o procurador Teixeira informam o Correio da Manhã da Grande Conspiração Socrática, violando o segredo de justiça

Estado não cumpre e assobia para o lado, Afonso Camões, in Jornal de Notícias, 19/01/2015

(Director do jornal)

O Estado português deixa que se violem sistematicamente o segredo de justiça e o direito de reserva da vida privada, e assobia para o lado. Posso testemunhá-lo. Disse isso mesmo à Senhora Procuradora-Geral da República, de quem se espera que seja a guardiã dos direitos de cidadania. E que faça o que lhe compete.

Explico-me.

Primeiro, o romance de cordel.

Desconheço a dimensão da matilha, mas sei que, ainda que pouco inteligente, obedece ao dono que a mandou ir "chatear o camões". Só percebeu a terminação, mas veio. Literalmente.

Razões sanitárias inibem-me de dizer o nome da Coisa publicada que nas últimas horas, e provavelmente nas próximas, mente com todas as letras, procurando atingir o meu nome, Afonso Camões, e, por esta via, tentar minar os laços de confiança e de credibilidade na relação com os leitores que fazem do Jornal de Notícias um grande jornal nacional, sustentável, vencedor e orgulhoso da sua pronúncia do Norte.

A Coisa publicada - que lidera em Portugal o triste campeonato das condenações e dos crimes por difamação, abuso de liberdade de imprensa, de violação do direito de reserva da vida privada e outras malfeitorias escritas que tais - mente e manipula, sabe que o está a fazer, mas vai ter que responder por isso, mais uma vez. Associa-nos a um fantasioso plano conspirativo para a tomada do poder na comunicação social, a mando do antigo primeiro-ministro José Sócrates. Esse mesmo, aperreado há 59 dias sem culpa formada, detido preventivamente por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

A "novidade" que trazem, de mau "jornalismo", é velha de mais de 40 anos, tantos quantos os da relação de amizade que mantenho, com gosto e desde a minha juventude, com Sócrates.

E dizem que o avisei que ia ser detido. E que terá sido em maio, quando eu integrava a comitiva do presidente da República à China e a Macau. Ora, se o avisei, e se foi em maio, eu era administrador e presidente da Agência Lusa. Logo, não estava jornalista, muito menos diretor do nosso Jornal de Notícias. E, pelos vistos, nem sequer havia processo.

É verdade: disse-me um jornalista do grupo empresarial da Coisa que a prisão de Sócrates estava iminente. Esse mensageiro cometeu um erro: quando se tem uma informação relevante, o primeiro dever de cidadão de um jornalista livre, pesados os seus direitos e responsabilidades, é para com os seus leitores.

Ele deveria ter publicado a informação, que lhe veio, disse-me depois, por um seu camarada, diretamente da investigação, liderada pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira. Erro maior, criminoso, é ser verdade essa possibilidade: que a fuga de informação veio dos agentes da justiça, ou seja, de onde menos podemos admitir que se cometam crimes de violação do segredo de justiça.

Sim, eles falam com jornalistas!

Durante meses, o caso parecia ter ficado por ali.

Mas basta uma pequena ponta de verdade para sobre ela fazer cair a sombra de uma grande mentira. Depois da detenção de José Sócrates, a 21 de novembro, mas comentada há meses nos meios políticos e jornalísticos, começou a circular nos corredores da intriga que eu teria avisado o antigo primeiro-ministro da sua iminente detenção. Mas, agora, já como diretor do JN, o que configuraria uma grave violação do Código Deontológico. A mentira chegou, plantada, a vários jornais, mas teve sempre perna curta.

O ataque à minha reputação, mas sobretudo à independência e à credibilidade do nosso Jornal de Notícias, levaram-me a pedir uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República. Joana Marques Vidal recebeu-me quinta-feira à tarde, dia 15, na presença do meu diretor-executivo e do diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra, que tutela a investigação ao caso Sócrates, liderada pelo procurador Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre.

Narrei à procuradora parte dos factos aqui descritos. Mostrei-lhe séria preocupação pela intentona em curso, lesiva e violadora dos meus direitos, liberdades e garantias, e, sobretudo, o gravíssimo atentado à credibilidade deste JN centenário, que atravessou regimes e revoluções, mas que não é nem nunca poderá ser utilizado como instrumento de uma qualquer guerra empresarial, na disputa pelo controlo dos média portugueses.

Falei a Joana Marques Vidal das escutas de que estaria a ser alvo, da violação do segredo de justiça, da tentativa de condicionamento da minha liberdade enquanto diretor de jornal e jornalista, e da necessidade de a procuradora-geral, como guardiã dos direitos dos cidadãos, atuar para impedir esta violência e a continuação destes crimes. Disse-nos nada poder fazer e, candidamente, aconselhou-nos a consultar um advogado...

Diz a Coisa publicada que foi Sócrates que me fez diretor do Jornal de Notícias.

Sou honrosamente diretor deste grande jornal, com o voto unânime do seu Conselho de Redação, depois de ter aceitado o convite dos meus administradores, com o apoio do Conselho de Administração deste grupo empresarial. É perante eles que respondo. E é aos nossos leitores que dou a cara, cada dia.

Aqueles que se cruzaram comigo ao longo de 35 anos de carreira, que me orgulha a mim, aos meus filhos e amigos, sabem a massa de que sou feito.

Trabalhei com zelo e lealdade sob Freitas Cruz, Feytor Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Francisco Balsemão, Cunha Rego, Vasco Rocha Vieira. Nos últimos anos, enquanto administrador da Lusa, trabalhei sob sete ministros, ao longo de três governos de diferentes famílias.

Não sou de deixar ninguém para trás. E guardo em casa, entre outras honrarias, a medalha de mérito da minha terra e a Medalha de Mérito Profissional que me foi atribuída em nome do Estado português.

Mas voltemos à audiência na Procuradoria-Geral da República. O diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, considera que "não há política neste caso" e, sem que eu o tivesse questionado, sublinhou a confiança dos seus "homens no terreno" (estou a citá-lo), negando, primeiro, ter ouvido as escutas, mas, depois, confirmando ter ouvido mas não tudo.

No dia seguinte, a 16, a Coisa publicada bradava o primeiro folhetim da fantasia conspirativa, pretendendo atingir o presidente do Conselho de Administração da Global Media, Daniel Proença de Carvalho, e os seus administradores.

Quem é essa gente, que atira a pedra escondendo a mão?!

Há mais de 400 anos, Filipe II de Castela, aquele que residiu em Lisboa, topou-lhes o caráter nos avoengos, em carta enviada à mãe para Madrid: gente rasteirinha, daqueles que "sofrem mais com a ventura alheia do que com a dor própria". Dói-lhes de inveja que sejamos sãos, a crescer e melhores do que eles. E estão outra vez enganados: aqui, na casa, cumprem-se regras herdadas de gerações de grandes jornalistas, ao longo de 127 anos, e gostamos de roçar a nossa na língua portuguesa. Mas antes mortos do que na imundície em que esgravatam.

Mais luz sobre este lance põe a descoberto, também, o mais sujo e antigo dos truques das guerras comerciais que todos conhecemos: atirar lama sobre os produtos e as empresas da concorrência, para ganhar vantagem no mercado. É nessas práticas que se revelam os carateres.

Não disputaremos tal terreno.

A liberdade de imprensa não pode ser utilizada em nome do lucro ou de agendas empresariais. Nada é mais importante do que a liberdade. E são ignóbeis quaisquer tentativas de submeter a liberdade a agendas pessoais - sejam elas privadas, ou mesmo públicas.

Não podemos permitir que, a coberto de um caso mediático, empresas nossas concorrentes utilizem a mentira para tentarem ganhar vantagem.

A meses de duas eleições que convocam os portugueses para importantes escolhas, a quem aproveita a tentativa de condicionamento do JN?

Este jornal tem critérios e depende exclusivamente deles. São os da ética e do rigor profissional. Não tem ambições políticas e é indiferente a quem as tiver. Não deve obediências a partidos, autarquias, clubes, empresas ou qualquer sacristia. Mas não é nem será neutral na defesa das grandes causas, pela liberdade e dignidade do homem como medida de todas as coisas.

Contra o centralismo, a miséria, a ignorância, a inveja e a tirania, não gostamos do jornalismo mole, narcótico ou redondinho. Ao contrário, apreciamos e procuraremos acolher e cultivar a prosa culta, comprometida, por vezes revoltada - e sempre, sempre inconformada. Um jornal são milhões de palavras. E quem as escreve escreve-se a si também, no seu registo histórico.

O JN é um exercício de memória contra o esquecimento. Na batalha contra as desigualdades e na afirmação da solidariedade inclusiva, em primeiro lugar na relação de vizinhança, aí esteve e aí estará sempre o Jornal de Notícias.

Como eu compreendo o Papa Francisco quando, há poucos dias, disse que se alguém lhe ofendesse a mãe "deveria estar preparado para levar um soco". Por mim, hesito em ir às fuças cobardes de quem me quer ofender, porque resisto à ideia de meter as mãos na enxovia.

Até lá, o Senhor lhes perdoe, que eu não posso.

 

 

2.

A Grande Conspiração Socrática


Do que nos livrámos!, José António Saraiva, in  jornal Sol, 01/12/2014

(Director do jornal)

Em 2008, o BPN foi nacionalizado contra a vontade dos seus accionistas. Na altura, poucas vozes contrárias se fizeram ouvir, até porque a nacionalização tinha o aval do governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.

Após este acto, o Governo designou como administrador do BPN Francisco Bandeira, um homem da confiança pessoal de Sócrates.

Entretanto,  no ano seguinte, na sequência de convulsões internas, o BCP seria 'governamentalizado', entrando para a administração Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, notórios amigos de Sócrates.

O BES, por seu lado, era governado por Ricardo Salgado, cuja cumplicidade com Sócrates se tornou a partir de certa altura evidente, ao ponto de - quebrando a sua proverbial contenção nas referências ao poder político - elogiar por diversas vezes o primeiro-ministro em público.

Quanto à CGD, era tutelada pelo Governo.

Em conclusão, exceptuando o BPI (de Fernando Ulrich), a partir de 2009 toda a banca ficou 'nas mãos' de Sócrates ou dos seus amigos: CGD, BCP, BPN e BES - para não falar do BdP, onde pontificava Constâncio.

Na comunicação social a situação também não era famosa.

No início do consulado de José Sócrates, o grupo Controlinvest (DN, JN e TSF), de Joaquim Oliveira, foi logo identificado pelo primeiro-ministro como um potencial aliado (até pela sua dependência da banca).

O grupo Cofina (Correio da Manhã e Sábado), de Paulo Fernandes, também se mostrava cauteloso nas referências ao Governo.

O grupo Impresa (SIC, Expresso e Visão) mantinha-se na expectativa.

O grupo RTP (RTP e RDP) pertencia ao Estado e mostrava-se dócil.

O grupo Renascença não se metia em sarilhos.

Restava o quê?

A TVI e o Público - este dirigido por José Manuel Fernandes, considerado por Sócrates persona non grata.

O SOL só apareceria mais tarde.

Quando rebenta o caso Freeport, em 2009, as coisas vão aquecer.

A TVI estabelece um acordo com o SOL para a investigação daquele tema e torna-se para Sócrates um inimigo declarado.

Manuela Moura Guedes, a pivô do jornal televisivo de sexta-feira (que antecipa as notícias do Freeport), é o primeiro alvo a abater - e Sócrates empenha-se em afastá-la por todos os meios; mas tal não se mostra fácil, dado ser mulher do director da estação, José Eduardo Moniz.

Em desespero, Sócrates tenta usar a PT para comprar a TVI, mas o negócio borrega.

Também há tentativas para fechar o SOL, através do BCP (que era accionista de referência do jornal), comandadas por Armando Vara.

No que respeita à Impresa, apesar de não fazer grande mossa ao socratismo, sofre vários ataques, designadamente por parte de Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, líderes da Ongoing e próximos de Sócrates, que tentam encostar Balsemão à parede.

Finalmente, sem se perceber porquê, Belmiro de Azevedo aceita a saída de Fernandes da direcção do Público, e Moura Guedes e Moniz deixam a TVI (indo este estranhamente para a Ongoing…).

O SOL fica isolado - e só se salvará por ser adquirido por accionistas não envolvidos na política interna.

Visto o controlo substancial de Sócrates sobre a banca e a comunicação social, olhemos para o poder político.

Sócrates dominava naturalmente o Governo, de que era o chefe, e o Parlamento, onde o PS tinha maioria absoluta - só lhe escapando a Presidência da República.

Por isso, voltou contra Cavaco Silva todas as baterias.

O PS e o Governo tentaram tudo para implicar Cavaco no caso BPN, por deter acções do banco (embora as tenha vendido antes de ir para Belém).

Esta campanha contra o Presidente da República ressuscitaria com estrondo nas eleições presidenciais de 2011, com a cumplicidade - diga-se - de muita comunicação social.

Outro momento alto da guerra contra Cavaco foi o aproveitamento de uma gafe de um seu assessor, Fernando Lima - que tinha falado a um jornalista sobre a possível existência de escutas a Belém -, para tramar o Presidente.

Usando uma técnica nele recorrente, Sócrates armou-se em vítima, virou os acontecimentos a seu favor e tentou destruir Cavaco Silva, acusando-o de montar uma cabala.

Outra vez com a ajuda de muitos jornalistas, os socratistas exploraram o caso à exaustão e o assunto foi objecto de intermináveis debates televisivos - onde se chegou a dizer que o PR tinha de renunciar ao cargo!

A campanha não matou Cavaco mas fez mossa, fragilizando o único bastião que não era dominado por Sócrates na esfera do poder político.

Talvez hoje alguns jornalistas percebam melhor o logro em que caíram.

Passando finalmente à Justiça, Sócrates tinha no procurador-geral da República, Pinto Monteiro, e no presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, não propriamente dois cúmplices, como alguns disseram, mas duas pessoas que pareceram sempre empenhadas em protegê-lo, fossem quais fossem as razões.

Nesta área, Sócrates contava ainda com um bom aliado: Proença de Carvalho, pessoa influente nos meios judiciais (incluindo junto de Pinto Monteiro).

E teve sempre o apoio do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto.

Portanto, também aqui, o primeiro-ministro estava bem acolchoado.

Governo, Parlamento, Justiça, comunicação social, banca: Sócrates controlava os três poderes do Estado - executivo, legislativo e judicial - e estendia os seus tentáculos ao quarto poder (os media) e ao poder financeiro (os bancos).

Talvez muita gente não se tenha apercebido na época deste cenário aterrador.

Mas olhando para trás - e sabendo-se o que hoje se sabe - temos noção do perigo que o país correu: um homem sobre o qual pesam suspeitas tão graves chegou a deter um poder imenso, que se alargava a todas as áreas de influência.

Só de pensar nisto ficamos assustados - e é muito estranho que alguns dos que privavam com ele não se tenham apercebido de nada.

Foi lamentável ver pessoas de bem - como Ferro Rodrigues ou Correia de Campos - fazerem tão tristes figuras, defendendo-o encarniçadamente até ao fim.

É certo que, como bem disse José António Lima, a democracia venceu-o, afastando-o do cargo.

Mas também foi a democracia que permitiu que um homem como este chegasse a reunir um poder tão grande em Portugal.

Isso mostra a vulnerabilidade do sistema democrático.

P. S. - No caso dos vistos gold, logo a seguir às detenções, deu-se por adquirido que os arguidos eram culpados, considerou-se “inevitável” a demissão de Miguel Macedo, e António Costa disse que o Governo ficava “ligado à máquina”. Uma semana depois, as mesmas pessoas contestam a prisão de Sócrates, invocam a “presunção de inocência” e acham “absurdo” falar na hipótese de demissão de António Costa. Palavras para quê?"

   

 

 

Notas :

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