Director: Carlos Fontes

 

 

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Elites Portuguesas

 

 
  A principal causa dos atrasos estruturais de Portugal está na qualidade das suas elites ?  

O tema não é novo, mas adquiriu uma recente importância. As elites de um país são as grandes referências comportamentais e de atitudes para a maioria da população. A sua visibilidade pública acaba por as transformar em verdadeiros modelos nas diversas áreas.  

É fácil de constar que em todas as áreas existem em Portugal excelentes e péssimos exemplos. O problema é que os maus exemplos são em geral os que mais destacados. Neste contexto, a percepção global que é as elites portuguesas são mediocres, acabando desta forma por influenciar negativamente a sociedade e a resposta que a mesma dá aos vários desafios que enfrenta. 

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  1. Elites Políticas. A maioria dos dirigentes partidários, ministros, deputados e autarcas é em geral mediocre. Num regime democrático a questão à partida resolvida, dada a possibilidade que aos cidadãos assiste de os substituir. O problema é que os partidos políticos bloquearam esta possibilidade, limitando a participação política dos cidadãos. O resultado foi a criação de um "elite" política que se auto-reproduz, mas que os cidadãos não se revêem nela como seus representantes. 

Para agravar a situação, nos últimos anos tem-se avolumado os casos de comprovada incompetência e falta de patriotismo ao mais ao mais alto nível do Estado. Abundam os casos de uso ou apropriação ilícita de bens públicos. É chocante constatar que muitas destes políticos estão ligados a organizações "secretas" como a Maçonaria ou a Opus Dei onde nas costas dos cidadãos que os elegerem cozinham as decisões políticas. Estes exemplos em vez de serem publicamente censurados ou eliminados continuam a ser complacentemente tolerados pelos partidos políticos e a sociedade portuguesa em geral. Mais 

 

  2. Elites Económicas. Numa economia assente no mercado, a iniciativa privada tem um papel decisivo no progresso do país. O problema de Portugal é que a maioria dos "empresários" está pouco interessada em correr riscos, preferindo vender as empresas a estrangeiros, especular ou reclamar simplesmente o aumento de apoios por parte do Estado para prosseguir os seus negócios.

Uma larga fatia dos orçamento do Estado é todos os anos empregue a apoiar "empresários", cujos únicos resultados da sua acção económica se traduzem apenas no aumento das suas contas bancárias e despesas sumptuárias. Esta constatação não é nova, disto mesmo se tem queixado todos os governos ao longo de décadas. Uma tendência que a vaga neoliberal em curso tende a agravar.

 

  3. Elites Artísticas. O discurso está a mudar, mas durante anos estas elites dedicaram-se a reclamar subsídios do Estado para criarem. A garantia antecipada de um subsídio era a condição indispensável para o desenvolvimento qualquer iniciativa. Na falta do mesmo não paravam de se vitimizar afirmando que viviam no pior país do mundo, para além de periférico estava repleto de gente inculta, etc, etc. A lamúria era impressionante. 

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  4. Elites Científicas. As universidades em Portugal foram até à bem pouco tempo verdadeiros baluartes de gente fechada ao mundo e imúmes a qualquer avaliação externa. O facto de existirem devia garantir aos seus professores um elevado estatuto social, independentemente da sua contribuição científica. Distantes da mundo e da sociedade estes professores/cientistas só raramente assumiam que tinham uma obrigação cívica/ética para com a sociedade que os mantinha.  

 

  5. Elites Profissionais. Médicos, farmacêuticos, militares, juízes e tantos outros grupos profissionais em Portugal entendem as suas funções numa perspectiva puramente corporativa. Os seus interesses particulares sobrepõe-se a qualquer consideração comunitária. O caso dos médicos é exemplar. Durante anos opuseram-se ao aumento do número de vagas nos cursos de medicina de modo a fazerem rarear os número de profissionais nesta área, a fim de mais facilmente puderem chantagearem os diversos governos com as suas reivindicações corporativas.  

 

  6. Elites Desportivas. Com muitas e honrosas excepções, um grande numero dos actores que gravitam em torno do desporto (dirigentes, treinadores, atletas, etc) são péssimos exemplos sociais. Os jornais alimentam-se a descrever casos de corrupção desportiva, ligações ao mundo da criminalidade organizada, violência, manipulação de paixões, etc. O desporto ou os espectáculos desportivos são remetidos para uma dimensão secundária ao verdadeiro fenómeno que os motiva. 

 

  7. Elites Religiosas. Embora Portugal desde 1910 vigore a separação entre o Estado e a Igreja Católica, ninguém pode ignorar a influência que a mesma possui na sociedade portuguesa, nomeadamente através das suas múltiplas instituições. Ora aquilo que as mais mediáticos figuras da Igreja expressam em público é em geral de uma pobreza intelectual  confrangedora. 

 

  8. Elites Filosóficas. Durante anos os portugueses habituaram-se verem nos seus intelectuais excelentes especialistas na cultura francesa e nas suas nuances, mas pensadores superficiais sobre os fenómenos que ocorriam na sociedade portuguesa. A esmagadora maioria estava desligada da construção de um saber estruturado em português, que pudesse aumentar a massa crítica no país.

 

Sobre cada uma destas áreas, como dissemos, é fácil de descobrir inúmeros outros exemplos positivos. Políticos, empresários, artistas, profissionais, desportistas, intelectuais, pensadores e tantos outras figuras cuja acção nos permitiriam construir um outro retrato do país.

O problema é que na sua maioria não têm grande visibilidade publica e portanto são socialmente pouco influentes. O que tem predominado e contaminado a sociedade são os péssimos exemplos. É por isso que um dos grandes contributos para a resolução de muitos problemas de Portugal passa pela mudança destas referências sociais em cada área, dando outra visibilidade àqueles que são dignos de serem lembrados e divulgados de forma a estimular novas atitudes e comportamentos sociais. 

 

 

Causas da Mediocridade das Elites Portuguesas 

Durante muito tempo muitos foram os que atribuíram a culpa dos atrasos de Portugal à falta de infra-estruturas (estradas, portos, etc), mas também aos baixos níveis de educação da população. Os avanços registados nestes e outros domínios são enormes em termos mundiais. O problema é que os mesmos não se reflectem em avanços significativos.

É por esta razão que se volta ao problema "histórico" da qualidade das elites se voltou a colocar, sendo apontadas várias influencias para explicar a sua mediocridade:    

1. Catolicismo

Alguns historiadores apontam à influência da Igreja Católica a causa da mediocridade das elites portuguesas. Durante séculos a Igreja desvalorizou o conhecimento, condenou o lucro e a acumulação de riquezas, enaltecendo a pobreza, a resignação e até a ignorância. 

Esta influência acabou por produziu uma sociedade de remediados, de pessoas que vivem de esquemas, que se contentam com migalhas, esmolas, subsídios do Estado, empregos mal remunerados, baixas qualificações escolares e profissionais.

A proibição do judaísmo, em 1496, acabou por reforçar em Portugal uma mentalidade fatalista e pouco empreendedora.  

2. Passado Colonial

O longo Império Colonial dos portugueses, estimulou uma mentalidade perdulária e avessa ao trabalho, que convive bem com profundas e chocantes desigualdades sociais. O objectivo secreto de todo o "português bem nascido/sucedido" é viver de rendimentos do trabalho escravo.

3. Tradição Emigratória

O português desde o século XV, afirmava António José Saraiva, quando tem um problema no país, a primeira coisa em que pensa é emigrar, a fuga é a solução preferida. O resultado desta mentalidade é um país continuamente adiado.

4. Proteccionismo Excessivo

O Estado em Portugal, desde o século XV, monopolizou a actividade económica. A "sociedade civil" habitou-se a viver na dependência do Estado. Os políticos e funcionários actuam habituaram-se a actuar sobre a sociedade de forma retaliadora, para com todos os que não seguem ou se submetem às orientações do poder político. 

Esta retaliação manifesta-se desde actos correntes da administração, como o protelamento da concessão de licenças ou autorizações legais, à concessão de incentivos ou apoios estatais. 

No século XX, durante 48 anos os portugueses viveram sob uma ditadura (1926-1974), apoiada durante décadas pela Igreja Católica e os militares. O lema desta ditadura era a protecção total: rendas das limitadas, ausência de concorrência externa e interna, etc . 

Os empresários e criadores, por mais mediocres que fossem, o Estado garantia-lhes um "mercado" exíguo, mas certo. A concorrência e o risco eram mínimos. O resultado foi uma mentalidade só investe se os lucros estiverem à partida garantidos pelo Estado. 

5. Ausência de uma Cultura Cívica 

Não há democracia possível num país onde os cidadãos que se limitam a esperar tudo do Estado. Reclamam pelos seus direitos (benefícios públicos), mas se recusam a assumir que têm deveres para com a sociedade, nomeadamente contribuírem para o Bem Comum. 

Não há democracia possível, onde a participação cívica em prol do Bem Comum é desvalorizada, e onde os que se apropriam do bens colectivos, os corruptos, não são apenas tolerados, mas apresentados como exemplos sociais. 

Não há democracia possível, onde o partidos políticos não representam os cidadãos, e se mostram incapazes de realizaram compromissos tendo em vista o Bem Comum. A sua única preocupação é alimentarem as suas clientelas, distribuindo cargos (remunerações) no Estado, nas empresas públicas e municipais.

É dificil construir um regime democrático, onde o Estado não se assume como estando ao serviço do Direito, acima dos interesses particulares, como regulador e fiscalizador das actividades sócio-económicas. Onde o juízes actuam segundo estratégias partidárias. 

Estas questões assumem particular relevância em Portugal, onde as grandes referências históricas desde o século XIX, estão longe serem positivas: 

- A revolução liberal, de 1820, terminou numa guerra civil (1828-1834). O regime monárquico constitucional deu lugar a uma rotativismo partidário, assente no caciquismo, compadrio e corrupção.

- A primeira República (1910-1926), apesar de todo o entusiasmo inicia, cedo se revelou uma tragédia nacional. Os próprios republicanos, não tardaram em defenderem um regime ditatorial. 

- A terceira República, implantada a 25/4/1974, acabou por bloquear a participação cívica dos cidadãos. Os aparelhos partidários, povoados de incompetentes, demagogos e corruptos, apostam na continuação de um sistema político-administrativo iníquo e perdulário.   

Esta situação é impossível de ser mudada, sem elites sociais, que tenham uma perspectiva e valores democráticos. O problema é que as que existem comungam da mesma mentalidade de que enferma a sociedade.  

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Carlos Fontes

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