Comunidade Portuguesa na
Grã-Bretanha
A
emigração portuguesa para Inglaterra foi durante séculos constituida
essencialmente por gente ligada ao mar (marinheiros, pilotos, etc), mercadores, judeus
e exilados políticos. A emigração só se tornou expressiva nas duas últimas
décadas. Séculos
XVI. No
inicío do século existia em Londres e Bristol uma significativa
comunidade portuguesa, ligada a actividades e comércio marítimo, incluindo o
corso. As perseguições religiosas em Portugal levaram para Londres muitos
cristãos-novos, como as famílias Anes, Costa, Lopes, Alvarez, Martin, Rebelo,
etc. Durante a ocupação
espanhola (1580-1640) muitos
também aí se refugiaram, como D. António Prior do Crato, pretendente ao trono
de Portugal. Século
XVII. A comunidade
portuguesa não tardou a sofrer as consequências da ocupação de Portugal
pelos espanhóis sendo formalmente expulsos (1609), o que na prática impediu a
sua continuação em Inglaterra. Após a restauração da Independência (1640)
tudo muda. Carlos I
facilita a fixação dos portugueses, a sua experiência era decisiva para os
projectos expansionista e capitalistas da Inglaterra. Oliver
Cromwel (1599-1659),
durante o seu Protecturado (1649-1659) apoia-se na experiência dos cristãos-novos
portugueses (judeus) no
comércio marítimo e ultramarino para tornar a Inglaterra numa potência
económica. A iniciativa partiu do rabino português Menasseh ben Israel
(Manuel Dias Soeiro, natural da Ilha da Madeira) que, em 1651, negociou com
Cromwel a vinda da comunidade para Londres, assim como revogação do decreto da
expulsão dos judeus datado de 1290. Aos judeus portugueses foram então
concedidas muitas facilidades. António Fernandes
do Carvalhal, natural do Fundão (Portugal) e o seu filho, foram dos primeiros a
fazê-lo, tendo-se tornado amigos intimos e consultores de Cromwel. A comunidade
não parou de aumentar com a vinda de outros cristãos-novos portugueses do país, mas
também de Amesterdão e Hamburgo. É durante este protecturado que se inicia o
comércio do vinho do Porto com a Inglaterra. Não
tardaram a desligar-se de Cromwel passando a apoiar o regresso da monarquia,
retirando daí evidentes beneficios. A
renovação da Aliança entre os dois países, assim como o casamento de Dona
Catarina de Bragança com Carlos II, em 1661, foi negociada e assegurada financeiramente
por estes portugueses cristão-novos. Catarina entre outras coisas
introduziu em Inglaterra duas coisas: o hábito de tomar Chá e o popular
prato de peixe com batatas fritas. Os ingleses não utilizam até então
o azeite na comida. Este
casamento abriu as portas à fixação em Londres de um numeroso grupo de
portugueses, entre os quais se contavam importantes mercadores e médicos (Fernando
Mendes e depois no séc.XVIII Jacob de Castro Sarmento, Ribeiro Sanches, etc). Os
judeus portugueses, em 1698, fundam a Sinagoga de Bevis Marks quando o rabino
David Nieto assume a direcção da comunidade. Em poucos anos os
judeus portugueses assumiram um lugar destacado na Bolsa de Londres, assim como no comércio ultramarino da
inglaterra. Século
XVIII. A comunidade
portuguesa em Londres é muito diversificada. O grupo dos judeus portugueses tem
uma sólida posição no comércio marítimo, tráfico de escravos e na alta
finança. A maioria ocupam lugares mais modestos são em geral pilotos e
marinheiros ao serviço, entre outras da Companhia das Indias Orientais. A sua
proveniência é muito diversificado, muitos vem de Portugal e das suas
colónias, mas também das suas comunidades espalhadas pelo Oriente, como a de
Calcutá. Os judeus
portugueses estabelecidos em Londres, tem um papel destacado no comércio
textil, pedras preciosas e do tabaco. A sua presença foi marcada pela extrema
discrição. Século
XIX. As invasões
francesas (1807-1814) e depois as lutas entre liberais e absolutistas
(1828-1847), levaram para Inglaterra muitos portugueses, a maioria dos quais
fugidos a perseguições políticas dos miguelistas. Apesar
de menos numerosos que em épocas anteriores, é ainda muito considerável o
número de marinheiros portugueses ao serviço de companhias inglesas. Os
registos nos hospitais para marinheiros, como o Dreadnought Royal Hospital em
Greenwich dão conta da entrada de largas centenas de portugueses. A maior parte
são oriundos da IIha da Madeira, Açores, mas também de Lisboa e do
Porto. Século
XX. Após a
implantação da República, em 1910, a família real exilou-se em Inglaterra. O
último rei de Portugal (D. Manuel II), fixou a sua residência em Fulwell Park,
em Twickenham, perto de Londres. Na Igreja de St. James, ainda hoje existe uma
vitral oferecido por este rei com as armas reais. Aqui casou em 1913, com uma
princesa alemã - Agusta Victória de Hohenzollern-Sigmaringen. Durante a 1ª.
guerra Mundial (1914-1918) serviço como voluntário no Hospital Militar de
Wandsworth. No dia 19 de Julho de 1919, está na Tribuna de Honra com o rei
Jorge V na parada comemorativa da vitória dos Aliados. Apesar destas
manifestações de apoio, o Reino Unido não levantou qualquer problema ao
reconhecimento do regime republicano português.
A emigração portuguesa para Inglaterra,
na dimensão que hoje conhecemos, é um fenómeno recente. Apenas a partir dos anos 60 a
emigração para a Grã-Bretanha começou a adquirir alguma expressão. O
aumento brusco deu-se nos anos 90, num altura que a maior parte da
comunidade estava concentrada em Londres, a Oeste de Tower Bridge em Camden, Westminster,
Kensington e Chelsea, Hammersmith, Fulham e Lambeth.
A ilha de Jersey, no canal da
mancha é uma das regiões que regista um elevado número de portugueses. A
emigração começou nos anos 50 do século XX, vinda principalmente da Ilha da
Madeira. Em 1974 eram já 2 mil, metade dos quais trabalhadores temporários. Em
2001 residiam na ilha 5.548 portugueses, cerca de 6,4 % da população total.
Calcula-se que actualmente a comunidade ronde as 10 mil pessoas, contando
com os naturalizados e luso-descendentes.
Muitos dos novos emigrantes são brasileiros e angolanos
com passaporte portugueses. Vivem actualmente neste país mais de 400.000
portugueses (2007).
A comunidade de judeus
portugueses continua muito activa, embora sempre discreta. O conhecido
dramaturgo Harold Pinter (Prémio Nobel da Literatura em 2005)
é filho de judeus de origem portuguesa. A pintora Paula Rego é outra
das figuras muito conhecidas desta vasta comunidade.
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