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Carlos Fontes

EDITORIAL
 

É a Cultura Ocidental Racista?

Um dos aspectos mais interessantes da globalização foi o dar a voz àqueles a quem a mesma foi retirada durante séculos. Entre eles contam-se, como é sabido, os muitos povos escravizados ou exterminados pelos europeus.

Navegando na Internet pude constatar recentemente que um dos temas mais populares em discussão num país africano, era o alegado racismo de todos os brancos. Uma das ideias que maior adesão recolheu foi a de que os brancos tornam-se racistas devido ao tipo de educação que recebem nas escolas. Um dos argumentos que sustentava esta ideia era o seguinte:

Os que se reclamam da cultura ocidental estão convencidos intimamente que a mesma é superior a todas as outras. O fundamento desta crença reside na intima convicção do ocidentais que a maioria das descobertas e invenções da humanidade se devem ao seu génio criador. O que seria comprovado pela prosperidade da maioria dos seus países.

As escolas ocidentais ao transmitirem a história destas descobertas e invenções, estão, nesta perspectiva, a estimular nos seus alunos sentimentos de superioridade em relação a outras culturas.

Ninguém pode negar que aquilo que denominamos de "cultura ocidental" assenta desde a Antiga Grécia  no pressuposto da sua superioridade intelectual. Os Gregos ensinaram-nos de que aqueles que a possuem são "civilizados" os outros são "bárbaros". Platão e Aristóteles foram claros sobre este assunto. 

Diga-se, contudo, em abono da verdade que o sentimento de superioridade cultural não foi exclusivo dos ocidentais. Ele está também presente em povos de outras culturas, como a muçulmana ou a oriental. Na África subsariana, por diversas razões históricas, este sentimento não se desenvolveu.  

No entanto, temos que admitir que o racismo enquanto teoria surgiu na Europa, onde igualmente brotaram outras excrescências como o fascismo ou o nazismo.

Se ninguém pode negar esta evidência, é também verdade que desde a antiguidade clássica se desenvolveu também uma corrente de pensamento que sustenta igualdade de todos os homens. Lembremo-nos a título de exemplo, os sofistas, os cínicos, e sobretudo John Locke que irá fundamentar esta igualdade naquilo que viria a ser depois consagrado como os direitos humanos.

O aspecto mais anti-racista da cultura ocidental, não está todavia nesta corrente igualitária, mas reside noutra dimensão que a percorre: a valorização de uma consciência crítica sobre as coisas, sem a qual nenhum progresso ou abertura ao Outro seria possível.

Carlos Fontes

 

 

Retrato de Filósofo com um Rolo de Papel na Mão (c.1660), Luca Giordano

 

 
 

A Crise da Filosofia

Os tempos estão maus para a filosofia, esta é a conclusão a que chegou um prestigiado jornal internacional. A razão é simples: Não há tempo, nem paciência para elaborar grandes ideias. A receita para ter sucesso na filosofia é produzir ideias simples para servirem de entretenimento a leitores sem tempo para pensar. As obras filosóficas que mais se vendem são uma espécie de manuais de auto-ajuda para espíritos despistados. Mais

 

A história do ensino da filosofia em Portugal pode ser lida em Navegando na Educação

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