É a Cultura Ocidental Racista?
Um dos aspectos mais
interessantes da globalização foi o dar a voz àqueles a quem a mesma foi
retirada durante séculos. Entre eles contam-se, como é sabido, os muitos
povos escravizados ou exterminados pelos europeus.
Navegando na Internet pude
constatar recentemente que um dos temas mais populares em discussão num país africano, era o
alegado racismo de todos os brancos. Uma das ideias que maior adesão recolheu
foi a de que os brancos tornam-se racistas devido ao tipo de educação que
recebem nas escolas. Um dos argumentos que sustentava esta ideia era o seguinte:
Os que se reclamam da cultura
ocidental estão convencidos intimamente que a mesma é
superior a todas as outras. O fundamento desta crença
reside na intima convicção do ocidentais que a maioria das descobertas e invenções da
humanidade se devem ao seu génio criador. O que seria comprovado
pela prosperidade da maioria dos seus países.
As escolas
ocidentais ao transmitirem a
história destas descobertas e invenções, estão, nesta perspectiva, a estimular nos
seus alunos sentimentos de superioridade em relação a outras culturas.
Ninguém pode negar que aquilo
que denominamos de "cultura ocidental" assenta desde a Antiga Grécia
no pressuposto da sua superioridade intelectual. Os Gregos ensinaram-nos de que aqueles que
a possuem são "civilizados" os outros são "bárbaros". Platão e Aristóteles
foram claros sobre este assunto.
Diga-se, contudo, em abono da
verdade que o sentimento de superioridade cultural não foi exclusivo dos
ocidentais. Ele está também presente em povos de outras culturas, como a muçulmana ou
a oriental. Na África subsariana, por diversas razões históricas, este
sentimento não se desenvolveu.
No entanto, temos que admitir que
o racismo enquanto teoria surgiu na Europa, onde igualmente brotaram outras
excrescências como o fascismo ou o nazismo.
Se ninguém pode negar esta
evidência, é também verdade que desde a antiguidade clássica se desenvolveu
também uma corrente de pensamento que sustenta igualdade de todos os homens.
Lembremo-nos a título de exemplo, os sofistas, os cínicos, e sobretudo John
Locke que irá fundamentar esta igualdade
naquilo que viria a ser depois consagrado como os direitos humanos.
O aspecto mais anti-racista da
cultura ocidental, não está todavia nesta corrente igualitária, mas reside
noutra dimensão que a percorre: a valorização de uma consciência crítica sobre as coisas, sem a qual nenhum
progresso ou abertura ao Outro seria possível.
Carlos Fontes |