A Crise da Filosofia
Os tempos estão maus para a filosofia, esta é a conclusão a que chegou
um prestigiado jornal internacional. A razão é simples: Não há
tempo, nem paciência para elaborar grandes ideias.
A receita para ter
sucesso na filosofia é produzir ideias simples para servirem de
entretenimento a leitores sem tempo para pensar.
As obras filosóficas
que mais se vendem são uma espécie de manuais de auto-ajuda para
espíritos despistados. Em letras gordas e capítulos curtos, arrumam-se
umas quantas banalidades sobre a nossa existência, à mistura com tiradas
psicológicas, cientificas e místicas, tudo tratado num tom ligeiramente
irónico, para nada ser levado verdadeiramente a sério.
A alguma distância
destas, estão as produzidas sobre "sábios virtuosos", ou os
relatos vivos do seu testemunho. A forma como encararam a vida e a viveram
ou vivem faz deles mestres incontestáveis para ensinarem o verdadeiro
caminho aos desorientados. Cristo, Buda, Lao-Tsé, mas também Einstein,
Elvis Presley, Dalai Lama e tantas outros mortos ou vivos, fazem parte de um
imenso panteão capaz de iluminar o caminho à mais desorientada das
criaturas deste planeta.
Um último tipo de obras que ainda merece
referência são as ruminantes. Estão destinadas permanecer durante muito
tempo nas estantes das livrarias.
Numa época que exalta a inovação,
estas obras estão contra a corrente, retomam sem cessar velhas questões
filosóficas: De onde viemos? Para onde vamos? O que nos é lícito fazer? O
que o homem? etc. Perderam muito da erudição que fazia a delícia dos
seus antigos leitores. As que conseguem algum êxito centram-se apenas nas
"problemáticas" e ignoram os seus autores ou as polémicas
históricas. Tudo tratado de uma forma coloquial como se de uma conversa de
café se tratasse. Esta e muitas outras notícias espelham um dos
grandes pavores que percorre certas regiões do mundo dito desenvolvido: o
fim da Cultura dita "erudita "ou "superior" submergida
pela "diversão" de matriz norte-americana. Os "novos bárbaros"
, produto da nova economia, estão a invadir tudo. Têm em comum o modo como
devoram tudo o que encontram. Reduzem tudo a enlatados, seja a cultura ou a
comida. No fim só restará o vazio. A filosofia neste cenário têm os dias
contados. O tema não é novo, mas o movimento antiglobalização retomou-o
na sua luta contra o liberalismo desenfreado. Mas será que as coisas são
assim tão simples? Carlos Fontes
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