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Carlos Fontes

 


A Crise da Filosofia

Os tempos estão maus para a filosofia, esta é a conclusão a que chegou um prestigiado jornal internacional. A razão é simples: Não há tempo, nem paciência para elaborar grandes ideias.

A receita para ter sucesso na filosofia é produzir ideias simples para servirem de entretenimento a leitores sem tempo para pensar.

As obras filosóficas que mais se vendem são uma espécie de manuais de auto-ajuda para espíritos despistados. Em letras gordas e capítulos curtos, arrumam-se umas quantas banalidades sobre a nossa existência, à mistura com tiradas psicológicas, cientificas e místicas, tudo tratado num tom ligeiramente irónico, para nada ser levado verdadeiramente a sério.

A alguma distância destas, estão as produzidas sobre "sábios virtuosos", ou os relatos vivos do seu testemunho. A forma como encararam a vida e a viveram ou vivem faz deles mestres incontestáveis para ensinarem o verdadeiro caminho aos desorientados. Cristo, Buda, Lao-Tsé, mas também Einstein, Elvis Presley, Dalai Lama e tantas outros mortos ou vivos, fazem parte de um imenso panteão capaz de iluminar o caminho à mais desorientada das criaturas deste planeta.

 Um último tipo de obras que ainda merece referência são as ruminantes. Estão destinadas permanecer durante muito tempo nas estantes das livrarias.

Numa época que exalta  a inovação, estas obras estão contra a corrente, retomam sem cessar velhas questões filosóficas: De onde viemos? Para onde vamos? O que nos é lícito fazer? O que o homem? etc. Perderam muito da erudição que fazia a delícia dos seus antigos leitores. As que conseguem algum êxito centram-se apenas nas "problemáticas" e ignoram os seus autores ou as polémicas históricas. Tudo tratado de uma forma coloquial como se de uma conversa de café se tratasse.

Esta e muitas outras notícias espelham um dos grandes pavores que percorre certas regiões do mundo dito desenvolvido: o fim da Cultura dita "erudita "ou "superior" submergida pela "diversão" de matriz norte-americana. Os "novos bárbaros" , produto da nova economia, estão a invadir tudo. Têm em comum o modo como devoram tudo o que encontram. Reduzem tudo a enlatados, seja a cultura ou a comida. No fim só restará o vazio. A filosofia neste cenário têm os dias contados. O tema não é novo, mas o movimento antiglobalização retomou-o na sua luta contra o liberalismo desenfreado. Mas será que as coisas são assim tão simples? 

Carlos Fontes

 

Retrato de Filósofo (c.1660), Luca Giordano

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