Górgias, de Platão

 

Estrutura da Obra

Personagens

1.Górgias: Sofista. 

2.Sócrates:. Personagem principal

3.Polo: Sofista, discípulo de Górgias.

4.Cálicles: Personagem fictícia de um político ateniense, defensor de ideias sofistas. Calicles encontra Querofonte e Sócrates convida-os a assistir em sua casa a uma palestra de Górgias sobre retórica.

5. Querofonte.

 

Género literário

Farsa

Cenário

Casa de Calicles

Data em que a cena se passa

No inicio da segunda metade do século IV a.c, logo após a morte de Sócrates (399 a.C.).

A obra no contexto da produção platónica

Górgias para alguns autores representa um momento de viragem na obra de Platão. Nela inicia um processo de afastamento dos ensinamentos do seu mestre (Sócrates), o que o levou à elaboração de uma filosofia muito própria expressa em obras, como a República.

 

Contexto Político Grego (Ateniense)

 

Quando Górgias foi escrito por Platão, Atenas vivia uma profunda crise económica e política. Após uma longa guerra contra Esparta (431-404), Atenas perde a guerra e o poder que tinha entre os gregos. O regime Democrático é substituído por uma Tirania (404-403) por imposição de Esparta. A Democracia que é restaurada, em 403, está mais frágil que nunca. Os recursos económicos dos atenienses só agora bastante mais escassos, a custo a cidade procura recuperar a sua prosperidade económica.  A antiga aristocracia culpa os oradores e os democratas desta perda do poder e exige um governo forte. No inicio do século IV a.C. devido ao elevado absentismo dos cidadãos nas sessões da Assembleia foi decidido remunerá-los sempre que o fizessem. A Assembleia, dirá Aristóteles, torna-se rapidamente num local de ociosos e cidadãos empobrecidos que dessa forma procuram adquirir algum sustento. O exercito passa a ser constituído por mercenários afastando-se dos cidadãos. As sucessivas guerras empobrecem ainda mais a vida dos atenienses. A Democracia continua resistir, mas a tendência é para a adopção de regimes fortes (tirânicos). No final do século IV a.C., Atenas deixa de ser Independente e a Democracia é substituída definitivamente por uma Oligarquia. 

  

Temas centrais 

1.A Retórica como arte e instrumento político

2. A avaliação dos que exercem esta actividade 

3.A Ética na Actividade Política

 

Estrutura do Diálogo

Este diálogo pode ser dividido em três partes essenciais de acordo com os principais interlocutores de Sócrates: Górgias, Polo e Cálicles. No final é narrado um mito sobre a Alma e o seu julgamento. 

Introdução 

(447a-449c)

O que é a Retórica ? 

Qual é a sua natureza?

O que professa?

O que ensina? (447c)

Diálogo Górgias-Sócrates

 (449c-457c)

Retórica: arte dos discursos 

Participa em todas as artes onde os discursos são importantes (449c-450c) 

Desempenha uma função essencial nos discursos políticos (450c-452d) 

Efeitos da Retórica

Produz persuasão

Gera crenças (454 b-e) 

Uso da Retórica

Muitos usam-na incorrectamente (455a-457c)

Pode alguém ensinar o que não sabe?

Pode alguém transmitir um saber que não possui? (458e-460b)

Indiferença perante as consequências do mau uso da retórica

Diálogo Polo-Sócrates

(462b-481b)

 

Retórica como Adulação

A retórica não é uma arte. É uma actividade empírica destinada a produzir adulação e prazer(462c)

A retórica está para a Justiça como a cosmética está para a ginástica, ou culinária para a medicina. A realidade é substituída pela ilusão, o Bem pelo prazer imediato.

Razão e Poder 

Os oradores são os mais poderosos de todos os homens na cidade (Polo) (466b) 

O poder reside em fazer tudo o que se quer(Polo), (466 c).

Os oradores são os menos poderosos dos homens na cidade, porque não usam a razão, nem sabem o que é o bem, julgando todavia conhecê-lo e agindo em função do msmo.(Sócrates) (468b).

O poder sem o uso da razão é um mal porque a todos prejudica.

O Melhor Bem e o Pior dos Males

A felicidade reside em agir de acordo com a razão (saber) e segundo a justiça (470 e).

Os oradores e poderosos que não usam a razão são ignorantes, mas também infelizes (471 a).

A injustiça consiste em agir sem razão, seguindo o prazer imediato em prejuízo da cidade (466a-472d)

O maior dos males é cometer a injustiça(469b), porque quem o faz não apenas prejudica a cidade, mas manifesta a imperfeição da sua alma.

 

Imperfeições da Alma

 

O homem injusto não pode ser feliz, enquanto não expiar a sua culpa. 

A maior das imperfeições da alma é a injustiça   

Cometer a injustiça é pior que sofrê-la, uma vez que se traduz num duplo prejuízo: para os outros e para o próprio (a alma).

Escapar à punição é pior que a sofrer, porque só a punição pode libertar o homem da injustiça, libertando a alma das suas imperfeições (477a).

O mais feliz de todos os homens é aquele cuja alma está liberta de injustiças (478 c).

Inutilidade da Retórica

Os oradores não visam melhorar os homens, mas adulá-los. Por isso a retórica é inútil.

Diálogo Cálicles -Sócrates

(481c-522e)

 

Natureza e Convenção

 

Cálicles:

Distinção entre Verdade, Justiça e Bem segundo a natureza e segundo a convenção (as leis e costumes da cidade). No primeiro caso temos aquilo que é natural (autêntico) e no segundo o que é artificial.

A Lei da Natureza determina que os mais fortes devem exercer o seu domínio sobre os mais fracos, à semelhança do que ocorre no reino animal.

A Lei das Cidades tem como objectivo impedir este poder.

Utilidade da Filosofia

 

Sócrates

 A filosofia segue apenas razão, lógica, Justiça e Bem. O que a filosofia procura é aquilo que é eterno e imutável 

As paixões produzem a inconstância nos homens, desviando-os da razão e  tornando-os incoerentes.

 

Cálicles

A filosofia é apenas útil na juventude como exercício mental (486c-486d)

É prejudicial na idade adulta expondo os homens à chacota dos seus semelhantes, distraindo-os com futilidades e sobretudo, afastando-os da vida prática e da política.

Os Melhores(1)

 

Cálicles

Os melhores são os mais fortes

 

Sócrates (Discussão Dialéctica):

O Povo (enquanto colectivo) é  mais forte fisicamente que qualquer homem isolado.

A Lei que expressa a vontade do Povo é mais forte que qualquer vontade individual

Logo, a Lei (democrática) emana do povo é,  nesta comparação, a melhor e a mais forte

Os Melhores(2)

 

Cálicles

Os melhores são os mais sábios (reformulação da afirmação anterior)

 

Sócrates

Um sábio tem sempre um saber limitado, dado que não pode dominar todos os assuntos.

Só o povo, porque reune todos os homens é sábio em todos os assuntos. 

Logo, é  melhor que qualquer homem isolado.

Os Melhores. Os Que Devem ter o Poder (3)

Cálicles

Os melhores são aqueles que se evidenciam pela coragem como lutam para satisfazer os seus desejos (hedonismo) (reformulação da afirmação anterior)

O prazer é o melhor dos bens

Sócrates

Quem procura o prazer pelo prazer jamais se sentirá satisfeito.

O homem só poderá ser feliz se aprender a dominar as suas paixões.

O prazer pode implicar dor, sofrimento, perjuizo. Quem o procura só pode encontrar infelicidade, sofrimento, fazendo também sofrer os outros.Nunca terá amigos, mas apenas aduladores ou os que o odeiam.

O Bem nunca implica o mal ou qualquer prejuízo, dor ou sofrimento.Quem procura o bem só pode encontrar a felicidade.

Logo, o bem é preferível ao prazer.

Os que devem governar a cidade são os que procuram o Bem e dominam os seus impulsos hedonistas (prazer). Só eles procuram melhorar os homens e  afastá-los do prazer e conduzi-los ao bem.

Os retóricos e os políticos nada fizeram para melhorar os homens, muito pelo contrário pioraram-nos.

Ética Política

Sócrates

A Aretê (Virtude) só se obtém através do auto-domínio das paixões e na procura do Bem

Os políticos devem ser corajosos em praticar o bem e a justiça

Só o homem bom é feliz, corajoso, forte, justo, etc.Nada teme.

Epílogo

(523a-527e)

 

Em Construção !

 

 

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Cálicles -Sócrates . Epílogo . Problemáticas . Glossário .Bibliografia

Carlos Fontes

Programa de Filosofia 12ª. Ano

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