Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

Identifica as principais características da filosofia 

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Textos

 

 

A filosofia não é criadora; é reflexão sobre a totalidade da experiência vivida. Aceitava de boa vontade a fórmula de Brunschvicg, a história é o laboratório do filósofo, com a condição de entender por isso tanto a história individual (todo o indivíduo é uma história) como a história geral. Pretender filosofar todo o tempo é típico do intelectual que se evade. Façam os homens o que fizerem, eles pensam para agir e enquanto agem. O filósofo é um homem como os outros, que pensa primeiro participando nos trabalhos e na dor dos homens. E filosofar será voltar seguidamente sobre este pensamento imediato e espontâneo, reflectir sobre ele para lhe descobrir ou lhe dar um sentido. A filosofia é transformação pelo espírito do acontecimento em experiência, entendendo por acontecimento o dado bruto, a sensação, a situação histórica, o esforço para viver e pensar, tudo o  que nos acontece interior e exteriormente, e por experiência a mesma coisa, mas reflectida pelo espírito que por essa operação se torna conteúdo significante. A verdade filosófica tem este duplo carácter de ser pessoal e universal, de elevar a personalidade à universalidade concreta. J. Lacroix, Interview, La Nouvelle Critique. 1972.

Os filósofos não brotam da terra como cogumelos, eles são os frutos da sua época, do seu povo, cujas energias, tanto as mais subtis e preciosas como as menos visíveis, se exprimem nas ideias filosóficas. O espírito que constrói os sistemas filosóficos nos cérebros dos filósofos é o mesmo que constrói os caminhos-de-ferro com as mãos dos trabalhadores. A filosofia não é exterior ao mundo. K.Marx, Artigo de fundo no 79 da Gazeta da Colónia .

 

 

Síntese da Matéria

Características do saber filosófico

 

           

           

          "Pintando o Universo",  Philipp Rietz

A filosofia implica uma atitude de procura de um saber que se deseja, mas não se possui. Mas que saber se trata? Como o podemos caracterizar?

Radicalidade .Inicialmente a palavra "sofia" tinha um sentido prático, mas por volta do séc. IV a.C adquiriu um sentido muito amplo de natureza teórica. O saber filosófico passa a ser identificado com um saber que resulta de uma procura das causas primeiras, o fundamento ou princípio de tudo o que é. Um nível de questões que ultrapassa as ideias feitas, o nível do senso comum. À filosofia interessa descobrir a natureza intima das coisas, a sua razão de ser. É intenção do filósofo ir à raiz dos problemas, e deste modo põe tudo em causa.

Universalidade. A filosofia visa compreender ou determinar o princípio ou princípios de todo o real. Mesmo quando um determinado filósofo incide a sua reflexão sobre um aspecto particular a experiência humana - a arte, a ciência ou a religião - o que em última instância procura compreender é a Totalidade e não simples casos particulares. As questões que coloca são gerais.

Um outro aspecto revela ainda a dimensão universal da filosofia: ao abordar questões que são comuns a todos os homens, o filósofo acaba por elaborar um discurso que se dirige a todos os homens. 

Autonomia. A filosofia implica uma atitude livre e todas as coerções e de todos os constrangimentos exteriores, sejam eles de natureza religiosa ou políticas. A reflexão filosófica recusa qualquer forma de autoridade no seu exercício. Ser autónomo (Auto+nomos = aquele que cria a sua própria lei), é a primeira condição do Homem enquanto ser racional. A legitimidade da filosofia  está nela própria. Neste sentido, é a expressão de um ser que pensa e age por si, procurando orientar-se por finalidades que ele próprio reconhece como suas. 

Historicidade .A filosofia, enquanto expressão de racional, é sempre um saber situado. Os filósofos partilham as preocupações do seu tempo, neste sentido todas as filosofias não deixam de reflectir a sociedade em que surgiram, inserindo-se igualmente numa dada tradição. A filosofia contudo, reclama um estatuto semelhante à arte: as grandes ideias como as grandes obras de arte transcendem o seu tempo, assim tenhamos nós capacidade para as apreender e sentir.

Saber Fundamentado. Não basta construir novas ideias sobre as coisas, o filósofo tem que apresentar os fundamentos do que afirma de uma forma coerente e sistemática, utilizando uma linguagem rigorosa.

Diversidade de Métodos. Cada filosofia tem o seu método. Perante a multiplicidade de formas pelas quais a totalidade da experiência humana pode ser encarada, cada filósofo elege não apenas o seu objecto de estudo, mas também traça o seu caminho (método), através do qual somos convidados a compreender a realidade. Ao fazê-lo apresenta-nos a sua visão particular da realidade, sustentada num conjunto de pressupostos teóricos e posicionamento no mundo e na comunidade filosófica. Ao fazê-lo transmite-nos igualmente o seu próprio entendimento da filosofia. É por esta razão que a  filosofia se apresenta um desconcertante conflito de interpretações das coisas.

Cada filosofia  é como que um sinal dessa permanente insatisfação humana, que nunca se contenta com nenhuma resposta e procura  atingir sempre novos horizontes.

 Carlos Fontes

Carlos Fontes

10º. Ano - Programa de Filosofia 

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