Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

Somos Livres?

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Textos

 

"A experiência faz ver claramente como a razão que os homens que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes das suas causas e ignorantes das causas pelas quais são determinados.", Bento de Espinosa, Ética.

 

 

Síntese da Matéria

 

 

O problema da liberdade humano, pelas implicações que tem, nomeadamente na questão da responsabilidade, tem sido objecto de um longo debate, e tem originado várias posições teóricas.

Homem-Máquina (2005), Construção em 3D de Meats Meier

1. Determinismo Radical

Segundo a perspectiva determinista (radical) a liberdade é uma ilusão, resultante da ignorância que temos das causas que, em cada momento estão a determinar o nosso comportamento e aquilo que nos acontece.

A explicação para este determinismo está no facto de fazermos parte da natureza, e nada nela acontece ao acaso. Se admitirmos que na natureza tudo está determinado por uma série infinita de causas e efeitos, previsíveis, então temos que admitir que o mesmo acontece com os seres humanos. As acções humanas são determinadas por causas externas ao agente,  similares às que regem a sucessão dos fenómenos naturais. A causa de uma ação está fora do controlo do agente.

As decisões que o agente assume como suas, fazem parte de uma cadeia de causas-efeitos que o ultrapassam e lhe são anteriores.

Esta concepção no passado era identificada com Fatalismo, crença segundo a qual a ação humana é incapaz de influenciar o curso dos acontecimentos, nada mais nos restando do que aceitarmos um "destino" a que ninguém pode fugir.

Esta concepção determinista adquiriu uma enorme importância com a ciência moderna (séc. XVII), quando todo o Universo passou a ser encarado com um sistema submetido a leis invariáveis. Várias áreas da ciência actual, como a biologia, tendem a acentuar esta visão determinista que nega a liberdade humana.

Fatalismo (1893), Jan Toorop

2. Libertismo (libertarianismo)

Segundo a perspectiva libertista, o ser humano, embora seja condicionado, é uma excepção na natureza, porque tem capacidade de determinar-se a si próprio. O passado ou as condicionantes externas não pesam de forma esmagadora nas nossas decisões.

Na natureza podem existir múltiplas causas, mas nenhuma delas é suficiente determinante para nos impor um único caminho, logo em última instância, o caminho que seguimos é determinado por nós, pelas nossas escolhas (livre-arbítrio).

Esta concepção, no passado assentava na dualidade corpo-alma. Considerava-se que o corpo estava submetido às mesmas causas necessárias que regem os fenómenos da natureza, mas a alma era inteiramente livre, estando acima ou fora da causalidade do mundo natural.

Atualmente apoia-se em dois argumentos fundamentais: a consciência que temos da nossa própria liberdade e responsabilidade, e numa concepção indeterminista do universo, segundo a qual o acaso existe na natureza, sendo impossível prever todos os fenómenos por causas determinantes.

3. Compatibilismo (Determinismo Moderado)

Face às duas posições anteriores, surgiu uma terceira posição conciliadora. De acordo com esta perspectiva, determinismo e liberdade são conciliáveis. As leis naturais, físicas e psíquicas existem e traduzem-se em efeitos para o sujeito. No entanto, nós temos a capacidade (liberdade) de controlar os efeitos resultantes de factores externos. Em resumo: inúmeros factores influenciam a nossa acção, mas estes não são determinantes (constringentes), mas apenas condicionantes. A escolha é sempre nossa.

A partir daqui podemos distinguir dois tipos de acções:

As acções livres são determinadas por factores internos (vontade, desejos, crenças)

As acções não livres são determinadas por factores externos ao sujeito (imposições, obrigatoriedades legais, etc).

Carlos Fontes

Carlos Fontes

10º. Ano Programa de Filosofia

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