Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

Quais os momentos fundamentais em que podemos dividir a ação humana ? 

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Textos

 

 

"Pondo de lado algumas utilizações puramente técnicas da palavra "ação" (por exemplo, acção como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra assenta na produção ou no causar um efeito. A palavra "ação" emprega-se, por vezes, para falar de animais não humanos (diz-se que a acção das cegonhas é benéfica para a agricultura) ou até, inclusivamente, de seres inanimados (diz-se que a gravidade é uma forma de ação à distância, ou que a toda a acção corresponde uma reação igual e de sentido contrário). No entanto, empregamos sobretudo a palavra "ação" para falar do que fazem os Homens. Aqui só nos interessa este tipo de ação, a ação humana  . As nossas acções (algumas) são as coisas que fazemos. 

Na realidade, o verbo "fazer" abarca um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo "acção". O latim distingue o agere  do facere, que em francês, por exemplo, dão agir e faire (em português "agir" e "fazer"). O substantivo latino actio , derivado do agere, deu  lugar ao substantivo acção. 

Tudo o que fazemos faz parte da nossa conduta, mas nem tudo o que fazemos constitui uma ação.

Enquanto dormimos, fazemos muitas coisas: respiramos, transpiramos, sonhamos, damos voltas e andamos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas fazemo-las inconscientemente. Fazemo-las, mas não nos damos conta disso, não temos consciência de que as fazemos, por isso não lhes vamos chamar acções. 

Reservamos o termo "ação" para aquelas coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos".

(...) Uma ação é uma interferência consciente e voluntária de uma pessoa (o agente) no decurso normal dos acontecimentos, os quais sem a sua interferência teriam seguido um caminho diferente. Uma ação consta, assim, de um evento que acontece graças à interferência de uma agente e de um agente que tenha a intenção de interferir de modo a que tal evento aconteça".

 J.Mosterin, Racionalidad y Acción Humana. Alianza Universidad. Madrid.1987  

 

Esquemas

 

 

Conceitos Básicos da Ação Humana

 

 

Síntese

Conceitos Básicos da Ação Humana

 

1. Acontecimentos e atos

Vivemos num mundo que não controlamos em todas as suas dimensões, mas que nos afecta de diversas formas e solicita continuamente a nossa resposta activa.

Designamos por acontecimentos, as coisas que ocorrem num dado momento e lugar.  Os acontecimentos, na sua maior parte, são eventos que nos afectam, mas cuja produção não dependem da nossa vontade, por exemplo, o que se está a passar à nossa volta: o carro que passa na rua, a chuva que está a cair, o barulho ao longe de um avião, etc.

Designamos por atos os movimentos ou gestos voluntários ou involuntários que são executados por quem os pratica.

2. Ação Humana

O conceito ação humana, envolve os atos praticados por um agente. Vamos aplicá-lo apenas às acções que são realizadas de forma consciente e voluntária por alguém, onde existe uma clara intenção de produzir um dado efeito (acontecimento). 

Neste conceito de ações humanas, por exemplo, não  podemos incluir comportamentos que realizamos de forma espontânea, reflexão, automática ou reactiva, tais como pestanejar, transpirar, digerir alimentos, ressonar, envelhecer, etc.  

3. Fazer e Agir

Entre as ações intencionais, podemos ainda distinguir as que visam "fazer" algo e o "agir". 

    Fazer: aplica-se à nossas ações em que temos em vista  a execução ou a produção de determinados efeitos num qualquer objecto. Trata-se de uma actividade centrada em objectos, que envolve uma série de ocorrências distribuídas no tempo, implicando frequentemente conhecimentos prévios de natureza técnica.

    Agir: aplica-se a todas a outras acções intencionais que livremente realizamos e de que somos facilmente capazes de identificar os motivos porque fazemos o que fazemos. Nestas acções sentimo-nos directamente responsáveis pelas consequências dos nossos actos. Estamos implicados nas escolhas que fazemos.

Os construtores (1950), pintura de Ferdinand Léger

4. Rede conceptual da Acção 

Na análise da acção humana, podemos descobrir um conjunto de momentos ou fases que constituem a sua estrutura ou rede conceptual: 

                   - consciência (percepção do sujeito ou agente como autor da ação)

                   - Vontade (capacidade de escolher, querer)

- agente (o sujeito, actor ou agente que pratica a ação)

- intenção (o que o agente da ação tem em vista atingir, o objectivo, propósito ou projecto)

- Fim ou finalidade (o objectivo último da ação, para quê é feita a ação)

- motivo  (a razão apresentada para justificar a ação)

- causa (a razão nem sempre evidente que motivou a ação)

- deliberação (a análise das condições da ação, dos seus objectivos, motivos, opções, vantagens e desvantagens).

- decisão (a manifestação de uma escolha ou opção). Momento fundamental do ato voluntário, quando a consciência determina a vontade.

- meios (aquilo a que o agente recorre para realizar ou atingir os seu objetivos)

- execução (a realização da opção escolhida)

- resultados ( o que o agente realizou ou conseguiu)

- consequências ( o modo como o resultado da ação afecta outros ou nós próprios)

Carlos Fontes

Só Deus (1856), Francisco Metrass

 

Não Aceita a Resignação, Nicola Bealing (1963-)

Carlos Fontes

10º. Ano - Programa de Filosofia

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