A Visão Tecnocrata da Educação de José Sócrates

Carlos Fontes

 

.

1. Caso da Licenciatura

Ainda está na memória de todos a história que veio a público, em 2007, da forma pouco "ortodoxa" como José Sócrates obteve a sua licenciatura em engenharia numa Universidade privada, a qual acabou por ser fechada por falta de credibilidade científica. A direita, através de jornais como o Correio da Manhã encarregou-se de passar a mensagem que para o actual líder do Partido Socialista o que contava era obter um diploma universitário, pouco importando o expediente seguido ou os saberes efectivamente adquiridos. O exemplo estava dado.  

2. Estatísticas. 

A política educativa do seu governo seguiu à letra esta lição. O que interessa são os resultados, as estatísticas. O melhor exemplo deste processo é o que está ocorrer no ensino não superior. Os professores têm sido compelidos de diversas maneiras a inflacionarem as notas dos seus alunos, secundarizando o seu efectivo aproveitamento. A consagração desta política facilitista é o actual modelo de avaliação, no qual os professores são obrigados a inflacionar as notas dos seus alunos para não serem penalizados na sua avaliação profissional. 

Os saberes transmitidos e assimilados pouco interessam, o que conta são os resultados estatísticos que o governo pode apresentar nos suas acções de propaganda.

3. Parafernália Tecnológica

A inflação das notas dos alunos tem limites, nomeadamente a consciência profissional dos professores. José Sócrates tem a clara noção deste facto, e os professores tem feito tudo para o lembrarem. 

A forma que encontrou para contornar a situação foi propagandear que as escolas públicas eram em tudo semelhantes a uma fábrica de salsichas. A produtividade podia ser aumentada através de um investimento massivo em modernas tecnologias. O "Plano Tecnológico" prevê a distribuição de computadores ("Magalhães") a todos os alunos, instalar quadros interactivos em todas as salas de aula, etc, etc.

Com estes avultados investimentos o governo acredita que não haverá razões que justifiquem que hajam reprovações ou os alunos não aprendem nas escolas públicas. Espera-se que desta maneira a produtividade nas escolas atingirá números históricos ! 

4. Trabalho Intensivo 

Assumindo uma lógica claramente mecanicista do ensino-aprendizagem, o novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) reduziu drasticamente o tempo que os professores tinham para preparar as aulas e se actualizarem, concentrando-os nas escolas em actividades ditas produtivas. O saber tornou-se um luxo, a que só alguns (poucos) podem aspirar fora das escolas públicas. 

Afim de melhor controlar este sistema produtivo os professores são agora obrigados definirem objectivos individuais mensuráveis, os quais são decalcados dos fixados em cada escola. No essencial, o que conta são dados para as estatísticas educativas, pouco interessa o que os alunos aprendem, os progressos efectivamente realizados, etc.

5. Controladores

José Sócrates percebeu que a única maneira para manter este sistema escolar-fabril sob controlo tinha que especializar as chefias intermédias, e nesse sentido dividiu os professores em duas categorias: os titulares (encarregados proletarizados do sistema) e os não-titulares (a esmagadora maioria dos professores). No topo da hierarquia colocou a figura de um Director-fabril. 

Resultados ?

A política que tem vindo a ser seguida pelo governo do Partido Socialista está a conduzir a escola pública para a sua completa degradação, onde a sua função de espaço de partilha e transmissão de saberes está secundarizada. A sua principal função passou a ser a de depósito de crianças e jovens até que tenham idade suficiente para se lhes poder atribuir um diploma qualquer. 

O ensino privado, neste contexto, surge perante a opinião pública como a única alternativa possível para as famílias que valorizam a educação e a cultura, desde que tenham posses para a pagar. O Partido Socialista, quando estamos prestes a comemorar 100 anos da implantação da República Portuguesa, assume-se hoje como o coveiro da escola pública portuguesa.

Carlos Fontes, Novembro de 2008 

Carlos Fontes

Navegando na Educação