Titulares e Não Titulares Carlos Fontes |
1. Carreira Única O professorado em Portugal sempre teve uma carreira única mas com vários escalões, aos quais se ia acedendo através de provas (avaliações). A carreira única existe na totalidade dos países mais desenvolvidos do mundo, e tem como objectivo favorecer o desenvolvimento pessoal e o trabalho cooperativo entre os professores. 2. Divisão na Classe Em Janeiro de 2007 o Partido Socialista no Governo resolveu dividir a classe profissional dos professores em duas categorias: os titulares e os não titulares. O objectivo seria o de distinguir os bons professores dos restantes. Em teoria trata-se de criar uma elite de professores nas escolas, aos quais será confiada a função de controlo e coordenação pedagógica das mesmas. a ) Foi fixada uma quota máxima de titulares de modo a impedir que todos os professores possam aceder a esta categoria por mais provas que possam prestar e qualificações que adquiram. Mais de 2 terços dos professores ficam automaticamente excluídos de acederem à categoria de titulares. b ) O primeiro concurso para a o preenchimento dos lugares disponíveis de professores titulares, privilegiou apenas os 7 últimos anos e o exercício de cargos nas escolas. Um facto que provocou um enorme mal-estar nas escolas públicas, na medida que deixou de fora inúmeros professores altamente qualificados e que neste período não os haviam exercido. Esta divisão divisão artificial dos professores não corresponde ao reconhecimento de nenhuma qualificação especifica, trata-se de tão só de dividir uma classe profissional. 3. Desmotivação Num corpo altamente qualificado, como é o caso do professorado português, a distinção artificial provocou de imediato tensões entre os professores, começou a destruir o trabalho cooperativo nas escolas. A maioria dos professores sente-se injustiçada. Não é fácil aceitar esta diferenciação de estatutos quando o trabalho é igual, e os méritos dos professores titulares nem sempre são reconhecidos pelos seus pares, e frequentemente até possuem qualificações académicas inferiores aos dos não titulares. A existência de quotas para acesso à categoria de titulares é também um factor de enorme desmotivação profissional nas escolas. O mal estar docente está hoje generalizado nas escolas portuguesas. Um dos indicadores do mal estar reinante nas escolas públicas está no aumento exponencial dos professores que requereram a antecipação da reforma, sujeitando-se a penalizadas penalizações. 4. Avaliadores A avaliação dos não titulares pelos titulares, neste contexto, torna-se num processo desconfortável para todos os envolvidos. Os avaliados sentem que estão a ser vítimas de uma enorme injustiça, pois frequentemente não reconhecem qualquer legitimidade aos seus avaliadores. Os que foram arbitrariamente promovidos à categoria de avaliadores tem assumido diversas posições: a) Uns reconhecem publicamente que não têm qualquer competência para avaliar nestas circunstâncias os seus pares. b) Outros procuram defender a sua posição propondo complexas fichas de avaliação dos seus pares de forma a alimentarem a ilusão que a sua avaliação será "objectiva". c) Um grupo residual optou pela estratégia do "faz de conta". A avaliação dos seus pares é assumida como uma farsa que não dignifica nenhum professor. O resultado desta política educativa só agora se começa a tornar claro: as escolas públicas portuguesas estão a tornarem-se em espaços de luta dos professores contra a tutela e de relações tensas entre professores, em suma em locais onde reina um ambiente pouco condizente com a sua missão formativa. Carlos Fontes, Novembro de 2008 Carlos Fontes |