Carlos Fontes

Anterior

 

Rota Cisterciense

(Ordem de Cister)

.

 

Bernardo de Fontaine (Bernardo de Claraval)

Esteban Harding (Séc. XI-1134), o abade de Cister saudou efusivamente a entrada de Bernardo de Fontaine (1090-1153) para o mosteiro em 1112. Bernardo não entrou sozinho, com ele entraram também os seus quatro irmãos mais velhos, um tio e cerca de trinta membros da nobreza local. O seu irmão mais novo não tardou também a entrar no convento.

Esteban Harding, em 1115, decidiu enviá-lo com o seu grupo para fundar o Mosteiro de Claraval, junto à fronteira da Suíça, do qual foi nomeado abade.

Apesar da vida rigorosa imposta por Bernardo de Claraval não paravam de chegar novos candidatos a monges dispostos a segui-lo. De Claraval passaram a sair grupos de monges para fundar novas abadias, como o mosteiro de Trois-Fontaines (Chalons, 1118), Fontenay (1119), Foigny (1121), expandindo-se por outros reinos pela Alemanha, Inglaterra, Portugal e os territórios da atual Itália e Espanha. Durante o seu abaciado que durou 38 anos fundou 68 mosteiros.

Mosteiro de Alcobaça. São Bernardo defendeu uma arte e arquitectura austera e funcional, sem elementos que pudessem distrair os crentes da sua relação com Deus. O interior da Igreja de Alcobaça, como os manuscritos iluminados deste mosteiro dos séculos XII  e XIII são o melhor exemplo do espírito bernardiano.

O prestígio de Bernardo de Claraval cresceu de forma desmesurada despois da morte de Esteban Harding (1139). Nos mosteiros da Ordem defende uma estrita observância da Regra de São Bento, uma vida centrada na oração, austeridade e na produção dos bens necessários à auto-suficiência da respectiva comunidade de monges. Aspecto que D. Afonso Henriques, por  exemplo, procurou  tirar partido, na afirmação da independência de Portugal, na reconquista e no povoamento, concedendo aos monges brancos vastos territórios.

Adquiriu igualmente uma enorme influência junto da Santa Sé, nomeadamente nas suas disputas internas. Em consequência da morte do papa Honorio II (1139), por exemplo, dois papas disputaram a cadeira de Pedro: Anacleto II (cardenal Pietro Pierleoni, ?-1138) e Inocêncio II (Gregório Papareschi, 1081-1143), apoiado por Bernardo de Claraval. A sua intervenção junto dos reis de França, Inglaterra e o Imperador Alemão foi decisiva para a confirmação como papa de Inocêncio II.

Um antigo monge de Claraval, o papa Eugenio III (1080-1153), pediu-lhe inclusive para definir o papel e a função dos papas, o que Bernardo fez em três volumes...

Intervém inclusive em matérias de fé, como ocorreu nas controvérsias de Pedro Abelardo. Recusando outras fontes para a religião cristã que não fossem a Biblia e a tradição da Igreja, atacou de forma violenta Pedro Abelardo (1079-1142) que pretendia conciliar Razão e Fé (Historia Calamitatum,1132). Numa carta a Inocêncio II (Contra errores Petri Abaelardi, 1139), afirmou que só a fé devia ser aceite, tornando-se um dos fundadores da mística medieval.

Defensor de uma igreja militante e guerreira, leva-o a apoiar os templários. Hugo de Payens, fundador de los Templários, em 1127, solicitou ao Papa Honorio II o reconhecimento da organização. Bernardo de Claraval não só deu apoio a este objectivo, mas também redigiu a primeira Regra dos templários. Em 1130 escreveu  Elogio à Nova Milícia.

Foi o principal defensor e promotor da Segunda Cruzada (1145), defendendo uma Guerra Santa contra o Islão. A cruzada, como é sabido, redundou num completo desastre. O que muito contribuiu para o seu declínio político.

Os únicos resultados positivos foram a ajuda que os cruzados que passaram por Portugal deram a D. Afonso Henriques na reconquista de Lisboa (1145) e Alcácer do Sal.

Faleceu no mosteiro de Claraval a 20 de Agosto de 1153. Foi canonizado a 18 de Janeiro 1174 e declarado Doutor da Igreja Católica em 1830.

Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Retábulo do Transito de São Bernardo, em barro cozido. Construído durante o abaciado de Frei Sebastião de Sottomayor (1687-1690). S. Bernardo está deitado em agonia, tendo a seus pés os monges cistercienses em lamentações. À cabeceira músicos glorificam a sua ascensão aos céus. O conjunto é encimado pela Virgem Maria padroeira dos cistercienses (1).

 

Mosteiro de São Bernardo, Portalegre. Morte de São Bernardo, azulejos. Século XVIII.

 

  Carlos Fontes
 

.

Notas:

(1) Correia, V. -O Retábulo da Capela Mór. Imprensa da Univ. Coimbra. Coimbra. 1931

.