Carlos Fontes

Barbárie

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 Terrorismo islâmico 

ou a guerra que ainda não terminou ? 

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1. Memórias.  

Na Europa e nos EUA, as pessoas estão a voltar a olhar os muçulmanos da mesma como há cinco século atrás, quando o avanço do islamismo era considerado uma ameaça. 

Entre os séculos VII e o século XVI, os europeus não-muçulmanos olhavam para os povos islâmicos como um misto de terror e sedução. Terror pelo medo que causavam as suas incursões. Sedução pelo poder e conhecimentos que revelavam possuir. 

A Ocidente, o seu avanço pela Península  Ibérica só a custo foi sustido nos Pirinéus. Seguiram-se séculos de guerras para os dominar num território que os cristãos consideravam como seu. Só em 1492, com a conquista do Reino de Granada, as armas sossegaram, mas não as perseguições.

A Oriente, os muçulmanos e cristãos mantiveram-se em guerra até ao século XIX, quando se obteve algum equilíbrio com a derrocada do Império Otomano e o crescente poder dos países europeus não-muçulmanos. 

A barbárie praticada nestas guerras não teve limites. As memórias destes conflitos continuam muito vivas na memória colectiva dos povos europeus, alimentando inúmeras histórias e tradições populares.   

A expedição e as pilhagens do ditador Napoleão Bonaparte no Egipto, em finais do século XVIII, marcaram o início da grande humilhação do mundo árabe. Ficou então claro a enorme superioridade das potências ocidentais face aos reinos muçulmanos, profundamente decadentes. O século XIX e a 1ª. metade do século XX, marcou a grande investida das potências europeias nas regiões islamizadas que acabaram por ser transformadas em colónias. A memória desta humilhação persiste entre os muçulmanos até aos nossos dias.

2. Desilusão

Os povos muçulmano, após a 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), libertam-se do domínio colonial dos europeus. Era enorme a esperança num renascimento da cultura islâmica, impulsionada pelos novos países muçulmanos. 

Os que possuíam importantes reservas de petróleo, como a Pérsia (Irão), Iraque, Argélia, Líbia, Arábia Saudita afirmaram-se desde logo como os principais líderes do mundo islâmico. Outros, como o Kuwait, Emirados Árabes Unidos ou o Dubai, mantiveram-se na sombra para que as suas elites pudessem desfrutar discretamente os frutos das suas enormes riquezas petrolíferas. A afirmação dos discursos políticos sobre a unidade e a solidariedade da nação muçulmana estava na ordem do dia. Todos os líderes políticos muçulmanos usaram e abusaram deste tema. 

A verdade é que no final dos anos 70 do século XX, a desilusão era total: Os países islâmicos eram dominados por ferozes ditaduras, cujos dirigentes viviam num fausto insultuoso. Enquanto uma minoria delapidava enormes recursos económicos, a maioria da população vivia na mais extrema pobreza. Milhões de muçulmanos, sobretudo das regiões menos bafejadas pelo petróleo, não tardaram em emigrar para as terras dos "infiéis". 

3. Revolta

Perante a ausência de perspectivas sobre o futuro, milhões de muçulmanos descrentes dos elites dirigentes dos seus países, viram-se para os seus lideres religiosos. As suas ideias político-morais, forjadas ao longo de séculos na guerra santa contra os cristãos, são extremamente simples, mas muito eficazes.

O discurso destes lideres religiosos pouco mudou desde o século VII, quando os reinos cristãos eram vistos como a encarnação do mal. É para eles muito fácil, depois de tantos séculos de guerras entre cristãos e muçulmanos, reavivar a memória das antigas lutas e estimular ódios latentes. O seu argumento principal é muito simples: os males que padece a grande nação muçulmana estão no Ocidente, nos países onde predomina o cristianismo. 

As elites dirigentes são acusadas de não resolverem os problemas das populações, porque estão ao serviço dos infiéis (leia-se países ocidentais). O Egipto é neste ponto um caso paradigmático. Desde a independência nenhum presidente se reformou. Todos foram assassinados por elementos ligados a movimentos religiosos que os acusaram de estar ao serviço das potências ocidentais (EUA, Grã-Bretanha, etc). 

Devido à emigração, este discurso ultrapassou as fronteiras dos países muçulmanos.  A integração dos imigrantes muçulmanos em países cristãos nunca foi um processo fácil. O problema ultrapassa as diferenças religiosas. A questão de fundo está no próprio Corão que condena explicitamente esta emigração. Os líderes religiosos só a custo a aceitam, contribuindo desta forma para incentivar formas de auto-segregação. Este facto acabou por possibilitar que no interior dos próprios países ocidentais surgissem movimentos fanáticos muçulmanos que não se identificam com a cultura dominante e promovem o ódio contra os ocidentais.

Perante a ausência de perspectivas que se vive na maioria dos países muçulmanos, compreende-se porque estejam a emergir com tanta força movimentos religiosos que procurem reavivar antigas guerras, promovendo matanças indiscriminadas, contra aquilo que consideram ser o Grande Satã - o mundo ocidental -, responsável por todos os males que o mundo padece. 

Estas acções criminosas constituem uma forma dos próprios muçulmanos esconderem a sua própria incapacidade de porem fim à barbárie que reina nos seus países, ao atribuírem a outros responsabilidades que são suas. Um discurso promovido pelos líderes religiosos, mas que  agrada também às elites dirigentes muçulmanas. 

Carlos Fontes

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